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5. A cooperação entre estados e municípios em quatro estados brasileiros

5.3. Pará

5.3.1. A trajetória de municipalização no Pará

Assim como no caso do Ceará, a maior parte das matrícula de todo o ensino fundamental foi municipalizada no Pará. Apesar dessa semelhança, no Pará, não houve uma trajetória de municipalização como no Ceará. Ela correu mais tardiamente com a aprovação do FUNDEF e da LDB e a criação de um programa estadual em 1998.

Em 1994, o Plano Decenal de Educação para Todos foi concluído pelo Governo Estadual. O Plano definiu como meta prioritária a oferta de oportunidades educativas com qualidade às crianças, jovens e adultos, que também se tornou uma meta no Plano Estadual de Educação - 1995/99. A municipalização foi considerada uma solução para a alcance dessa meta de melhoria da qualidade do ensino no Estado. Um dos entrevistados da Coordenação de Municipalização da Secretaria Estadual de Educação inclusive afirmou que a motivação da municipalização era a priorização do ensino médio pelo Governo Estadual na tentativa de melhorá-lo. Acreditava-se também que a proximidade dos municípios às demandas da comunidade seria importante para a melhoria da Educação. Segundo um documento publicado pela Secretaria Estadual de Educação em 1996,

vários fatores levaram a SEDUC a considerar este projeto como estratégico e fundamental:

a) Com uma rede de 3.206 escolas em funcionamento torna-se extremamente difícil gerenciar escolas distantes da capital, que no entanto estão próximas das sedes das prefeituras municipais; nos muitos Estados onde o sistema foi implantado, o resultado tem sido mais satisfatório que o sistema anterior sob este aspecto;

b) Com a responsabilidade de uma rede tão extensa, a SEDUC fica impossibilitada de gerenciar com (competência e aumento de qualidade) o 1º Grau maior (5ª a 8ª série) e o 2º Grau;

c) Com a unificação das redes estadual e municipal das escolas com pré- escola e turmas de 1ª a 4ª série, as matrículas e o planejamento escolar como um todo, além dos procedimentos ligados à melhoria da qualidade do ensino e suas relações com o desenvolvimento do Pará, poderão ser planejados com maior eficiência porque este conjunto de escolas estará sob a jurisdição da prefeitura e não mais partilhada entre Estado e Município; a descompressão administrativa resultará numa liberação de energia no campo da qualidade (LOUREIRO, 1996, p. 8)

Porém, somente em 1997, a Secretaria Estadual de Educação em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Tucuruí implementou um projeto piloto de municipalização. E em 1998, institucionalizou um programa estadual para a municipalização

do ensino fundamental em todo o Estado, denominado de “Política Estadual de Municipalização do Ensino”. Além do programa estadual, os entrevistados apontam que a aprovação do FUNDEF também influenciou esse processo.

O processo de municipalização no Pará atingiu todas as etapas do ensino fundamental na maioria dos municípios paraenses, que foi caracterizado pelos entrevistados como uma ruptura radical. Naquele momento, havia 143 municípios paraenses e apenas 42 não aderiram ao processo. O que foi relatado é que as Secretarias Estadual e Municipais não realizaram um diagnóstico ou um levantamento das condições das redes estaduais e municipais para organizar esse processo. Ademais, de acordo com o atual Projeto Político Pedagógico da Municipalização,

[...] muitas prefeituras viram na Municipalização a possibilidade de aumento de sua receita, sem observância da capacidade de atendimento da demanda de alunos nas redes municipais de ensino. Com isso, dois problemas básicos foram gerados em cada esfera: o município por um lado, não tinha onde colocar seus alunos e; o Estado não tinha onde lotar os servidores, principalmente professores de séries iniciais que poderiam ficar em disfunção e ter perdas salariais, apesar de possuir as instalações prediais das escolas” (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARÁ, 2009, p. 2).

A partir disso, foram estabelecidos convênios de cooperação técnica e termos de cessão de bens e uso móveis e imóveis. O Governo Estadual cedeu prédios e servidores, principalmente, professores aos municípios. Esses, por sua vez, passaram a pagar os salários dos servidores estaduais, que não necessariamente recebem os mesmos salários que os seus servidores, e quando esses servidores se aposentam, eles recebem pelo sistema de previdência estadual. A despeito de não haver mudança salarial, os servidores municipalizados não recebem outros benefícios, como vale alimentação, o que gera um certo conflito. Ademais, alguns desses servidores não possuem nível superior, somente magistério e, em alguns casos, eles não participam de formações estaduais e nem municipais, pois nenhum dos dois entes se responsabiliza efetivamente por eles.

A própria Secretaria Estadual afirmou que o processo de municipalização se caracterizou pela desresponsabilização estadual da educação infantil e do ensino fundamental, na medida em que houve a transferência dos servidores, bens móveis e imóveis e recursos do FUNDEF sem o incentivo à constituição dos Sistemas Municipais de Educação em colaboração com o Estado por meio, principalmente, da criação de Conselhos Municipais de

Educação e da elaboração de Planos Municipais de Educação. A partir disso, a Secretaria propõe que sua atuação deve enfocar a formação de servidores que atuam nas etapas do ensino municipalizadas, a reorientação curricular e o incentivo a projetos educacionais nessas etapas do ensino, assessoramento técnico-pedagógico aos municípios e acompanhamento dos convênios e termos de cooperação técnica (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ, 2014).

Na atual gestão, a municipalização é realizada a partir da demanda dos municípios, isto é, de uma solicitação das Secretarias Municipais de Educação à Secretaria Estadual por meio de um ofício. O que é seguido de um levantamento técnico em relação ao número de alunos, professores, servidores administrativo e de apoio e prédios. E esse processo é intermediado pelas Unidades Regionais de Ensino (UREs).

O fato é, para além dessa mudança no processo de municipalização, nenhuma dessas ações propostas estão efetivamente sendo implementadas pela Secretaria Estadual. Não há um regime de colaboração institucionalizado no Estado do Pará, ainda que haja relações entre os governos estadual e municipais.