• Nenhum resultado encontrado

4. Relações entre estados e municípios na política educacional brasileira: diferentes

4.1. Os modelos de cooperação entre estados e municípios na Educação

4.1.2. Programas conjuntos

Essa categoria compreende a maioria dos estados: Acre, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Tocantins. Há diversos casos em que há vários frentes de cooperação entre estados e municípios, resultantes de pactos entre os municípios e os estados. Algumas dessas são: matrícula, formação, avaliação, transporte, merenda escolar, assessoria técnica e pedagógica, programas de alfabetização, permuta de servidores e cessão de prédios públicos. No entanto, essas experiências variam no grau de institucionalização, mas de qualquer maneira são mais institucionalizados do que as categorias posteriores. Ademais, elas envolvem a redistribuição de recursos humanos e materiais, incluindo algumas ações de profissionalização das burocracias locais.

O Quadro 4 sintetiza o conteúdo da cooperação entre estados e municípios nos estados supracitados. Os programas de transporte e de merenda escolar não foram elencados nesse Quadro, pois eles se repetem em todos os estados.

Acre

Assessoria técnica para a elaboração do PAR Avaliação

Formação inicial e continuada Matrícula conjunta

Ordenamento das redes

Permuta de servidores e cessão prédios públicos

de material didático e assessoria pedagógica Bahia

Assessoria técnica para a elaboração dos Planos Municipais de Educação e do PAR e reestruturação de Secretarias Municipais de Educação

Programa de alfabetização e programa de alfabetização para jovens, adultos e idosos com formação continuada

Goiás

Assessoria técnica para a elaboração dos Planos Municipais de Educação e do PAR e reestruturação de Secretarias Municipais de Educação

Avaliação (municípios devem pagar) Formação continuada

Matrícula conjunta Calendário conjunto

Permuta de servidores e cessão de prédios públicos Mato

Grosso

Assessoria pedagógica

Assessoria técnica para a elaboração do PAR Calendário comum

Formação continuada

Permuta de servidores públicos

Mato Grosso do Sul

Assessoria técnica para a elaboração do PAR e para adesão aos programas federais Calendário comum

Formação continuada

Oferta de cursos técnicos e profissionalizantes Permuta de servidores e cessão de prédios públicos

Programa de Alfabetização (Além das Palavras), inclui formação continuada e distribuição de material didático

Minas Gerais

Avaliação

Assessoria técnica para a elaboração do PAR

Permuta de servidores e cessão de prédios, equipamentos e mobiliários Programa de Intervenção Pedagógica, inclui assessoria pedagógica e técnica e avaliações

Renovação e manutenção da frota de veículos que realizam o transporte escolar

Pernambuco

Assessoria para a elaboração do PAR Avaliação

Construção de parâmetros curriculares comuns Fortalecimento dos Conselhos Escolares Permuta de servidores públicos

Programa de alfabetização (Programa Alfabetizar com Sucesso) com formação continuada e distribuição de material didático

Piauí

Avaliação

Assessoria técnica para a elaboração do PAR e para a adesão aos programas federais Formação continuada

Permuta de servidores públicos e cessão de prédios públicos

Programa de alfabetização (Palavra de Criança), inclui formação continuada, e Programa de alfabetização de jovens e adultos

Sergipe Assessoria técnica para a elaboração do PAR e para a adesão aos programas federais Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Educação

Tocantins

Avaliação

Assessoria técnica Formação continuada Matrícula conjunta

Programa para enfrentamento do abandono, evasão, defasagem idade-série e infrequência escolar de crianças e adolescentes de 9 a 14 anos inseridos no ensino fundamental

Quadro 4. Eixos de colaboração entre estados e municípios na política educacional Fonte: elaboração própria a partir de Abrucio (2014).

No Acre, a aproximação entre Estado e municípios é recente, surgindo a partir da eleição da Frente Popular do Acre no governo estadual e no governo municipal de Rio Branco. Esse processo começou em 2005 quando houve uma articulação entre o então Governador do Estado, Jorge Viana, o Secretário Estadual de Educação, Binho Marques, e o Prefeito do município de Rio Branco, Raimundo Angelim.

A colaboração começou, pois havia uma alta taxa de professores sem graduação. A partir disso, foi realizada uma parceria com a Universidade Federal do Acre para a implementação de um programa de formação inicial para professores da rede estadual e municipal de ensino. Em seguida, foi realizado um programa de formação continuada e as ações supracitadas, como reordenamento de redes, programa de alfabetização, permuta de servidores e cessão de prédios públicos.

Os casos da Bahia e de Goiás se destacam na medida em que buscam aumentar a capacidade institucional das Secretarias Municipais de Educação por meio de assessoramento para a construção dos Planos Municipais de Educação e do PAR e para a reestruturação administrativa das Secretarias Municipais de Educação. No segundo caso, em função da trajetória anterior de competição entre as redes estaduais e municipais de ensino, alguns municípios ainda não aderiram à colaboração com o Estado. Ações, como matrícula conjunta, formação, permuta de burocratas e cessão de prédios públicos, não são uniformemente realizadas com todos os municípios.

No Mato Grosso, o atual regime de colaboração entre Estado e municípios não tem sido implementado como o projeto inicial, que consistia na construção de um sistema único. Em 1989, no Governo de Carlos Gomes Bezerra, uma proposta de sistema único foi introduzida na Constituição Estadual. Em 1996, no Governo de Dante Martins de Oliveira, foi realizada uma Conferência Estadual de Educação, na qual foi referendada essa proposta de implementação de um regime único e, em 1998, a Lei Complementar nº 49 regulamentou o sistema único. Essa proposta surgiu do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público do Mato Grosso e da Universidade Federal do Mato Grosso.

[...] para que se tivesse uma única forma de contratação, um único piso salarial, uma única fonte empregadora, uma única fonte gestora do sistema, de maneira a garantir, de forma equânime, que cada cidadão mato-grossense tivesse acesso à educação, independentemente de sua realidade socioeconômica ou da rede administrativa a que se encontrasse vinculado (p. 225).

Apesar da institucionalização do sistema único na Constituição Estadual e na Lei Complementar, atualmente, somente 14 municípios25 não têm redes próprias e participam da

rede estadual. Na maioria dos municípios, não há um sistema único, mas há uma gestão compartilhada entre Estado e municípios, com as ações colocados no Quadro 4.

No Mato Grosso do Sul, o regime de colaboração surgiu com a entrada da atual Secretária Estadual de Educação, Nilene Badeca, que havia ocupado o cargo de Secretária Municipal de Campo Grande (1997-2004). Em 2007, foi criada a Coordenadoria de Apoio aos Municípios e envolve a realização de diversas ações, mas, assim como o caso baiano, a Coordenadoria dedica bastante esforço à assessoria aos municípios para a construção do PAR e para a adesão aos programas federais.

No caso de Minas Gerais, a trajetória da colaboração também é recente e ainda pouco institucionalizada, mas compreende um maior número de ações conjuntas do que os casos anteriores. Essas ações são implementadas por diferentes órgãos da Secretaria estadual e muitos deles já eram implementados na rede estadual de ensino. Esse é o caso do Programa de Intervenção Pedagógica (PIP), implementado desde 2006 na rede estadual de ensino, sendo objeto de colaboração entre o Estado e os municípios desde 2012. O Programa visa melhorar o desempenho dos alunos por meio de intervenções pedagógicas nas escolas, feitas por uma equipe da Secretaria estadual a partir dos seus resultados nas avaliações. A Secretaria estadual auxilia os municípios na estruturação e capacitação das equipes do PIP municipal e oferece material de apoio.

Além disso, os municípios podem participar das avaliações estaduais, que são: avaliação interna da escola, Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar, Programa de Avaliação da Alfabetização e Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica, e a Secretaria Estadual cede e permuta mobiliários, equipamentos e profissionais às redes municipais, realiza a manutenção e a renovação da frota de veículos e dá orientação aos municípios na elaboração e execução do PAR.

Em Pernambuco, a colaboração envolve diversas frentes, como colocado no Quadro 4. Destaca-se a construção de parâmetros curriculares comuns, o que não ocorre em nenhum outro estado, algo que é responsabilidade da Gerência de Articulação Municipal, mas é principalmente resultado da articulação com a seccional da UNDIME no Estado. A Secretaria objetiva ainda ampliar a colaboração para aumentar a capacidade de gestão das Secretarias Municipais de Educação.

No caso do Piauí, há colaboração na alfabetização de crianças e de jovens e adultos, permuta de servidores públicos, cessão de prédios públicos, formação continuada e assessoria técnica para a elaboração do PAR e adesão aos programas federais e avaliação. O Programa de Alfabetização Palavra de Criança foi inspirado no caso cearense e é implementado em parceria com a UNICEF. Além disso, a colaboração nesse Estado é diferente entre os municípios. Algumas ações envolvem todos os municípios e outras, apenas os prioritários, que apresentam baixo desempenho no IDEB, como de alfabetização de jovens e adultos e outras que repassarão recursos para reforma de prédios e aquisição de equipamentos.

No Tocantins, foi criada a Assessoria aos Sistemas Municipais de Ensino em 2004. Apesar disso, somente a partir de 2011, com o Secretário Estadual de Educação Danilo de Melo Souza, antes Secretário Municipal de Palmas e presidente da seccional da UNDIME no Estado, é iniciada uma política mais consistente de colaboração. Essa política se baseia em um termo de colaboração e de ações conjuntas entre Estado e municípios, que envolve avaliação, serviços de inspeção das unidades escolares das redes municipais, sistema de gerenciamento escolar com matrícula informatizada, termo de cooperação entre governo estadual, municípios e Ministério Público para enfrentar o abandono, a evasão, a defasagem idade-série e a infrequência escolar de crianças e adolescentes de nove a 14 anos inseridos no ensino fundamental, programa de formação continuada na modalidade à distância e assessoria técnica aos municípios são implementadas por meio das Coordenadorias Regionais de Ensino e da seccional da UNDIME no Estado.

O caso de Sergipe é o que há menor grau de cooperação. No entanto, há uma coordenadoria que assessora os municípios, especialmente, em relação à elaboração do PAR e à adoção dos programas federais.

Alguns casos apresentam, no geral, ainda uma fragilidade na institucionalização da colaboração entre estados e municípios, o que pode ser resultado do modo mais horizontal de construção do regime de colaboração neles. Era comum nos questionários a afirmação de que

o regime de colaboração ainda necessita avançar nos estados e se institucionalizar. Apesar disso, em um grupo expressivo deles, há órgãos específicos nas Secretarias Estaduais de Educação responsáveis pela relação entre estados e municípios.