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5. A cooperação entre estados e municípios em quatro estados brasileiros

6.4. O papel dos governos estaduais na redução das desigualdades educacionais

Dos quatro estados analisados, o caso cearense é o que há um maior entrelaçamento entre os estados e os municípios. Nesse caso, o estado exerce um papel de coordenador estadual, similar ao modelo de coordenação federal. Isto é, o governo estadual busca reduzir diversidades de acesso e qualidade da política a partir do estabelecimento de condições institucionais por meio de padrões mínimos em todos os municípios. Isso tende a diminuir a desigualdade de resultados da política.

No Ceará, a coordenação estadual não envolve apenas a política de Educação. O governo estadual tem realizado projetos de desenvolvimento regional em outras áreas, como Saúde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico. Na Educação, pode-se afirmar que há uma coordenação estadual, na medida em que esse caso compreende, dentre outras ações, redistribuição de recursos financeiros, construção escolas, elaboração de currículos, distribuição de materiais didáticos e formações de servidores.

A Secretaria Estadual de Educação distribui a cota-parte do ICMS segundo o desempenho dos alunos municipais. A Secretaria por meio da COPEM também premia as

melhores escolas municipais, que devem auxiliar a melhora do desempenho de outra escola para receberem o recurso total. Além disso, a COPEM atua na construção de Centros de Educação Infantil, coordena os programas de merenda e de transporte escolar, que inclui a distribuição de ônibus escolares, assessora os municípios na elaboração dos PARs municipais e na implementação dos programas federais e implementa o PAIC.

O PAIC compreende ações de elaboração de currículo, elaboração e distribuição de material didático, incluindo acervos literários, realização de avaliações estaduais e formação de professores alfabetizadores, de matemática e língua portuguesa, de gestores de sistema e de escolas. Na pesquisa empírica realizada nos municípios cearenses, observou-se que a aplicação do currículo comum era especialmente importante para os entrevistados. Essas ações abrangem todos os municípios, nesse sentido, um dos entrevistados afirmou que os alunos do município de Salitre tem que ter os mesmos direitos dos alunos de Fortaleza. Isto é, há um consenso entre os entrevistados de que o PAIC estabelece padrões mínimos de qualidade de Educação em todos os municípios cearenses.

Outro resultado do PAIC nas Secretarias Municipais está relacionado com a profissionalização da burocracia. Além das formações em gestão de sistema e gestão escolar, a COPEM repassa recursos para o pagamento de bolsas aos servidores responsáveis pelo Programa nas Secretarias Municipais. Isso influencia a diminuição das diversidades institucionais entre as Secretarias Municipais.

É importante apontar que há uma variação na implementação do PAIC entre eles. A diferença dos resultados educacionais entre os dois municípios analisados parece estar ligada à aderência dos municípios ao Programa e ao modo como ele é coordenado aos programas próprios e aos programas federais. Destaca-se que o município que apresenta piores resultados não possui programas próprios, segundo relatado, pela falta de recursos financeiros para isso.

Ainda que o caso cearense seja o que mais inclui mecanismos de coordenação estadual, há uma fragilidade nesse modelo para a redução de desigualdades intermunicipais na Educação. A redistribuição de recursos por meio do ICMS não visa reduzir as desigualdades educacionais intermunicipais. Essa redistribuição beneficiou os municípios de menor porte, pois antes da mudança, os recursos eram destinados segundo o número de matrículas e, portanto, Fortaleza recebia a maior parte dos recursos. No entanto, a sua distribuição ocorre segundo o desempenho dos alunos. Ademais, as entrevistas mostram que o ICMS não

representa um grande incentivo às equipes das Secretarias Municipais para a melhoria do desempenho; nos municípios visitados, o Prêmio mobiliza mais as equipes.

Nos outros três casos analisados, a atuação governos estaduais não é de coordenação similar ao caso cearense, ainda que haja programas e ações em cooperação com os municípios. Entre os três casos, o Mato Grosso do Sul é o que apresenta um grau maior de cooperação e institucionalização. Ele envolve a assessoria técnica aos municípios, que é fundamental, na medida em que as escolas que apresentam os melhores resultados também são aquelas que acessam a um número maior de programas federais (FARIA & GUIMARÃES, 2014). Essa assessoria pode também resultar em um aumento da profissionalização das burocracias municipais, pois os técnicos das Secretarias Estaduais informalmente capacitam os das Secretarias Municipais. No entanto, conforme apontado pelos entrevistados, a alta rotatividade dos cargos comissionados e a falta de uma burocracia própria das Secretarias Municipais impede que a assessoria seja incorporada por elas.

O Mato Grosso do Sul, o Pará e o São Paulo não se aproximam do modelo de coordenação estadual adotado no Ceará, ainda que o caso do Mato Grosso do Sul seja o mais institucionalizado e fortalecido entre os três. Além disso, assim como no Ceará, no Mato Grosso do Sul, o discurso é de que a Educação pública tem que ser entendida como única no Estado, na medida em que os alunos municipais serão alunos estaduais no futuro. Isto é, a ideia é de que deve haver uma coordenação entre as duas redes de ensino.

Diferentemente, São Paulo e Pará efetivaram relações intergovernamentais mais claras em determinados programas, mas que não se caracterizam por uma forte institucionalização e entrelaçamento entre os entes. Nesses casos, as entrevistas mostram que há uma forte duplicidade entre as Secretarias Municipais e Estaduais, um dos grandes problemas do federalismo educacional brasileiro. No caso do Pará, os entrevistados afirmam que isso precisa mudar, mas, no caso de São Paulo, isso não parece ser uma prioridade para as Secretarias Municipais. Isso indica que a coordenação estadual pode ser mais importante em estados que apresentam uma maior desigualdade entre as políticas municipais.