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5. A cooperação entre estados e municípios em quatro estados brasileiros

5.3. Pará

5.3.2. O relacionamento intergovernamental no Pará

Como foi apresentado, houve uma trajetória de municipalização no Pará caracterizada pela não cooperação entre os entes. De maneira abrupta, o governo estadual passou a maior parte das suas matrículas do ensino fundamental para os municípios. Foram então estabelecidos convênios entre eles para, principalmente, a cessão de prédios e de servidores estaduais aos municípios. O gerenciamento desses convênios e dos processos de municipalização é responsabilidade da Coordenação de Municipalização, ligada à Secretaria Adjunta de Gestão.

Além dela, outras duas Coordenadorias também são responsáveis por atividades que envolvem os municípios, são elas: o Núcleo de Planejamento, Pesquisa, Projeto e Avaliação e Diretoria de Ensino Médio e Educação Profissional, ambas ligadas à Secretaria Adjunta de Ensino. A primeira é responsável pelo acompanhamento dos convênios e termos de compromisso relacionados ao transporte, à merenda escolar, ao Pacto pela Educação do Pará

e de alguns programas federais e pela coordenação do PAR. A segunda coordena a oferta do ensino médio em módulos em comunidades de difícil acesso denominado Sistema Modular de Ensino do Campo (SOME).

Na merenda e no transporte escolar, assim como em outros estados, o governo estadual repassa os valores transferidos pelo Governo Federal aos municípios, que realizam esses serviços para as redes municipais e estadual. No entanto, o governo estadual não realiza nenhuma complementação do valor pago por aluno. O que, segundo os municípios, exige que esses paguem uma parte dos custos do transporte e da merenda para os alunos estaduais. Inclusive algumas municipalidades não renovaram os seus convênios com o Estado e estão realizando o transporte e fornecendo a merenda escolar somente aos alunos municipais.

O Pacto pela Educação do Pará envolve a articulação de atores estatais e não estatais, incluindo os governos estadual e municipais e as seguintes organizações privadas e não governamentais: Banco Interamericano de Desenvolvimento, Synergos, Instituto Unibanco, Fundação Itaú Social, BBA Itaú, Fundação Telefônica, Fundação Vale e Instituto Natura. Ele foi lançado oficialmente no início de 2013 e compreende

[...] um esforço liderado pelo Governo do Estado e conta com a integração de diferentes setores e níveis de governo, da comunidade escolar, da sociedade civil organizada, da iniciativa privada e de organismos internacionais, com o objetivo de promover a melhoria da qualidade da educação no Pará e, assim, tornar o Estado uma referência nacional na transformação da qualidade do ensino público” (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ, 2013).

Para o alcance desse objetivo mais geral, o Estado visa aumentar em 30% o IDEB no ensino fundamental e no ensino médio em cinco anos, ou seja, até 2017. Ademais, uma de suas metas também envolve a melhoria do desempenho dos alunos do ensino fundamental, o que exige necessariamente a cooperação entre o Estado e os municípios30.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação, há um Comitê Estadual, Comitês Regionais e Municipais que compõem a governança do Pacto. Ela ainda aponta que diversos programas fazem parte do pacto, como o Jovem de Futuro ou Ensino Médio Inovador,

30 As outras metas são: aumento do desempenho dos alunos do ensino médio; investimento na qualificação dos

profissionais da educação; renovação da estrutura física das escolas e melhoria dos recursos didáticos pedagógicos utilizados em sala de aula; aprimoramento da gestão da Secretaria de Educação em todos os níveis administrativos; envolvimento do governo, das escolas e da comunidade nas ações destinadas à melhoria das atividades educacionais, e fomento ao uso da tecnologia da informação para a melhoria da prática docente e da gestão escolar (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ, 2013).

realizado em parceria com o Instituto Unibanco e com recursos do MEC, que visa a reestruturação do currículo do ensino médio por meio da ampliação do tempo do aluno na escola e da diversificação das práticas pedagógicas; Sistema Paraense de Avaliação Educacional (SisPAE), avaliação externa realizada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, que avalia os conhecimentos em Língua Portuguesa e Matemática dos alunos do 4º e 8º anos do ensino fundamental e do ensino médio das redes estadual e municipais; e o Mais Escola, que consiste na reforma e restauração de escolas da rede estadual de ensino. Estão incluídos também alguns programas federais como o PNAIC e a formação de professores por meio das Universidades Abertas, o que foi chamado pelo Estado de Plano de Formação Docente do Estado do Pará.

Apesar de envolver outros programas, somente três programas foram citados pelos municípios como programas realizados em parceria com eles: o SisPAE, o PNAIC e a formação de professores por meio da Universidade Aberta do Brasil. Conforme relatado pelos entrevistados das Secretarias Municipais de Educação, a adesão dos municípios ao SisPAE foi automática, de modo que eles não puderam escolher se queriam aplicar ou não a avaliação nas suas redes. Ademais, foi apontado que a Secretaria Estadual solicitou que os gastos referentes à aplicação das provas fossem responsabilidade dos municípios, o que foi contestado e esses gastos estão sendo pagos pelo Estado. Em relação aos outros programas, há uma relação entre Estado e municípios, na medida em que os governos estaduais são os coordenadores regionais desses programas. No entanto, não há nenhuma cooperação para além das atividades exigidas pelos programas.

Os programas federais e a coordenação do PAR citados pelo Núcleo de Planejamento, Pesquisa, Projeto exigem uma assessoria técnica aos municípios. O que se observa é que esse Núcleo não é entendido como um órgão de assessoramento a eles, como a Coordenadoria de Apoio aos Municípios no Mato Grosso do Sul. Isto é, ele não tem outras funções e ele somente realiza o assessoramento quando os municípios o procuram. No entanto, os entrevistados ligados às Secretarias Municipais de Educação desconhecem esse Núcleo. Quando necessário, eles se relacionam com a Secretaria Estadual por meio das UREs.

O SOME consiste na oferta do ensino fundamental e médio na modalidade modular em comunidades de difícil acesso, incluindo rurais, ribeirinhas e indígenas. Nessa modalidade, as disciplinas são ofertadas em módulos, ou seja, elas são ministradas de maneira intensiva. Esse Programa foi criado em função da ausência de professores qualificados nas

disciplinas específicas do ensino fundamental e médio nessas comunidades e da dificuldade de transportá-los para essas comunidades todos os dias.

Os professores ficam alojados nessas comunidades durante o período pelo qual ministram suas aulas. Os alojamentos, transporte e alimentação são fornecidos pelas Secretarias Municipais de Educação, assim como são cedidos os prédios nos quais as aulas serão ofertadas, que geralmente são prédios em que já há a oferta do ensino fundamental pelas redes municipais. A Secretaria Estadual fica, portanto, responsável pela contratação e pagamento dos professores, que recebem gratificações para o ensino em área remotas, pela distribuição de material didático, que é o mesmo distribuído para o ensino regular da rede estadual, e pelo acompanhamento pedagógico realizado por meio das UREs.

Esse é o Programa que envolveria de maneira mais intensa a relação entre o Estado e os municípios. No entanto, a relação é mais conflituosa do que cooperativa. As Secretarias Municipais de Educação se sentem obrigadas a cooperar com a Secretaria Estadual para a oferta do ensino médio nas comunidades de difícil acesso, porque entendem a importância disso. Contudo, alegam que as UREs não realizam o acompanhamento do SOME nessas comunidades. Elas exemplificam dizendo que, em alguns casos, os professores não cumprem o calendário escolar e o currículo. Ademais, no caso do ensino médio, os entrevistados apontam que eles têm que realizar gastos para cumprir responsabilidades que são constitucionalmente do Estado.

Assim como no transporte e na merenda escolar, alguns municípios, como Marabá, não continuaram os convênios para a implementação do SOME e eles implementam os seus próprios programas de ensino em comunidades de difícil acesso.

Segundo os entrevistados ligados às Secretarias Municipais, não há cooperação entre o Estado e os municípios no Pará, ainda que haja uma relação entre eles nos programas citados. E apesar de haver órgãos que tratam de questões relacionadas aos municípios, não há um órgão específico que seja responsável pelo relacionamento intergovernamental. Os municípios não se dirigem à Secretaria Estadual com frequência e, quando isso ocorre, a relação é mediada pelas UREs, que não tem nenhuma estrutura específica para lidar com eles, como ocorre no Ceará.

5.3.3. As políticas municipais de Educação e a cooperação nos municípios