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As políticas municipais de Educação e a cooperação nos municípios paraenses

5. A cooperação entre estados e municípios em quatro estados brasileiros

5.3. Pará

5.3.3. As políticas municipais de Educação e a cooperação nos municípios paraenses

Os municípios analisados no caso paraense foram Ourilândia do Norte e Canaã dos Carajás. O primeiro apresenta resultados educacionais melhores do que municípios semelhantes socioeconomicamente e o segundo, piores. Ambos os municípios estão localizados na Região de Carajás, sendo que Ourilândia do Norte encontra-se mais ao Sul do Estado. Ourilândia do Norte possui 27.359 habitantes e sua área é de 14.410,567 km² e Canaã dos Carajás, 26.716 habitantes e 3.146,407 km² (IBGE, 2010). As receitas de Ourilândia do Norte e de Canaã dos Carajás foram de 59.987.680,95 e de 75.440.079,83 reais em 2009, o PIB de 621.700 e de 3.118.591 mil reais e o PIB per capita de 21.775,08 e de 107.164,39 reais em 2012, respectivamente. E seus IDHs (2010) são: 0,624 (Ourilândia do Norte) e 0,673 (Canaã dos Carajás) (IBGE, 2015).

Na Educação, o IDEB de Ourilândia do Norte apresentou uma queda nos últimos anos no anos iniciais e finais do ensino fundamental. No primeiro, seu índice é de 4,7, acima da sua meta, e, no segundo, de 3,5, abaixo da sua meta. Ao contrário, o IDEB de Canaã dos Carajás apresentou melhora e está aproximadamente igual a sua meta. Nos anos iniciais, seu índice é de 4,2 e, nos anos finais, de 3,9 (INEP, 2014). Na distribuição das matrículas entre as redes estadual e municipais de ensino, ambos os municípios apresentam o ensino fundamental totalmente municipalizado (INEP, 2013).

Em seguida a essa contextualização sobre os dois municípios, suas relações com o MEC e as Secretarias Estaduais e suas políticas municipais de Educação são apresentadas. No que se refere à relação entre o MEC e as Secretarias Municipais, em Canaã dos Carajás, na gestão anterior, o município estava inadimplente em relação às transferências federais. Dessa maneira, a Secretaria Municipal não podia aderir aos programas federais e o PDDE estava bloqueado, ou seja, os gestores escolares não podiam movimentar os recursos. Na atual gestão, iniciada em 2013, houve uma renegociação da dívida e a situação do município foi regularizada. Os seguintes programas federais estão sendo implementados: PNAIC, Mais Educação, PDDE, Atleta na Escola, Escola Sustentável, Brasil Alfabetizado e PNDL. Além desses, são implementados programas em parceria com a Vale, como programa de educação ambiental e assessoria pedagógica executada pela CEDAC. Ademais, o município foi escolhido, assim como Cariacica (Espírito Santo) e São Luiz do Maranhão (Maranhão), para a

implementação de um projeto piloto de formação continuada para os professores que ministram aulas na Educação de Jovens e Adultos em parceria com o MEC, a Vale e a UNESCO.

Em Ourilândia do Norte, os programas federais implementados são similares aos de Canaã dos Carajás. São eles: PNAIC, Mais Educação, Trilhas, Atleta Sustentável, Água e Esgoto, PDDE Escola do Campo e PNLD.

Sobre a relação entre as Secretarias Estadual e Municipais, um dos entrevistados afirmou que é como se houvesse dois países dentro de uma mesma cidade. Conforme relatado, a única relação existente está relacionada ao fato de que os professores são os mesmos, isto é, têm cargos nas redes municipais e estadual. Ademais, as Secretarias Municipais recebem informações das UREs sobre a movimentação dos professores do SOME e as formações. Elas também recebem as transferências de recursos para realizarem o transporte dos alunos estaduais, que, como supracitado, contam com a utilização de recursos municipais. Isso ocorre, porque há linhas, principalmente, as noturnas, que só funcionam para transportar os alunos estaduais. E o valor repassado nunca está de acordo com o número de alunos reais. Esse valor é calculado com base no Censo Escolar feito pela Secretaria Estadual no ano anterior ao ano em que os valores são transferidos.

No que se refere aos programas e projetos próprios, diferentemente de Canaã dos Carajás, a Secretaria Municipal de Ourilândia do Norte implementa alguns programas próprios. Há um sistema próprio de avaliação interno, ligado a ele, há um projeto de coleta de dados sobre a proficiência em leitura e escrita realizado pelos professores com os alunos da educação infantil, do primeiro ciclo e dos primeiros anos do segundo ciclo do ensino fundamental e um sistema de metas, em que os melhores professores, os alunos e as escolas são premiados. Ainda, a Secretaria possui um projeto de escola de gestores escolares, na qual realiza formação continuada aos diretores e coordenadores escolares. Por fim, são realizados fóruns temáticos, como sobre educação do campo, e semanas temáticas, como sobre a consciência negra. Em Canaã dos Carajás, a sua atuação está restrita à realização de formação continuada aos professores e a um programa de aceleração de aprendizagem que já existia na gestão anterior.

Ainda que haja essas diferenças entre os municípios, os principais problemas enfrentados por eles são similares. O primeiro refere-se à grande variação no número de alunos em função da migração gerada pela mineração em ambos. Segundo relatado por Canaã

dos Carajás, como não há escolas suficientes para a demanda de alunos, a maior parte delas, incluindo as escolas que ofertam educação infantil, funcionam em quatro períodos: das 7:00 às 10:45, das 11:00 às 14:45, 15:00 às 18:45 e das 19:00 às 22:45. Além disso, foram adquiridos contêiners devidamente adaptados para a ampliação do número de salas de aula, uma escola foi inaugurada, outras foram ampliadas e estão sendo construídas mais duas escolas. Com esse quadro, os entrevistados afirmam que a educação integral ainda está muito distante de ser implementada no município.

O segundo problema diz respeito à falta de recursos. Ao contrário de outros municípios também analisados por esta Tese, isso não ocorre em função da falta de recursos. Os dois municípios possuem recursos próprios para além dos valores repassados pelo FUNDEB. Todavia, no caso de Ourilândia do Norte, 35% do orçamento municipal está comprometido com os gastos da Educação – isso porque os 25% determinados constitucionalmente não são suficientes para o pagamento dos professores.

Por fim, o terceiro compreende a não adequação entre o número de professores e alunos. Em Canaã dos Carajás, faltam professores qualificados, especialmente, para o segundo ciclo do ensino fundamental. Conforme relatado pelos entrevistados, os mesmos professores dão aulas nas redes municipais, estadual e privada. No entanto, eles apontam que já foi realizado um concurso para a contratação de professores. Em Ourilândia do Norte, há um número maior de professores do que necessário, pois, com o aumento de alunos gerado pela mineração no município, foram contratados um número maior de professores, que hoje não são mais necessários em função da queda do número de alunos.

Entre os casos analisados, o paraense é aquele em que há um menor grau de cooperação entre estado e municípios. Apesar de haver uma relação entre os entes, especialmente, na implementação do SOME, a relação é mais conflituosa e competitiva do que cooperativa. Isso se deve ao fato de que as Secretarias Municipais enfrentam diversas dificuldades na oferta da política educacional, como falta de recursos financeiros e profissionalização da burocracia, e a Secretaria Estadual demanda um esforço delas para a efetivação das suas próprias ações. Outro aspecto que resulta em conflitos é o fato de que não há canais de diálogo, negociação e coordenação entre as Secretarias Estadual e Municipais.

5.4. São Paulo

O Estado de São Paulo está situado na Região Sudeste do país e faz divisa com o Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. Sua população era de 41.262.199 habitantes em 2010 e sua área é de 248.222,801 km², composta por 645 municípios. Assim como no Ceará, a capital do Estado, São Paulo, concentra grande parte da população (27% da população total) e da atividade econômica do Estado (33% do PIB do Estado) (IBGE, 2010). Apesar disso, há outros municípios que também são relevantes demográfica e economicamente no Estado, como Campinas, São José dos Campos e Ribeirão Preto.

O IDH de São Paulo é de 0,783, o segundo maior IDH do país (PNUD, 2010). Na Educação, os resultados do IDEB da rede pública cresceram, mas com menor intensidade nos anos finais do ensino fundamental em 2013 (INEP, 2014). O Estado de São Paulo possui a maior rede de ensino do país com cerca de cinco mil escolas estaduais, ainda que tenha havido uma trajetória de municipalização assim como ocorreu nos demais estados. A rede estadual não oferta a maioria das matrículas do primeiro ciclo do ensino fundamental, mas a maior parte das matrículas do segundo ciclo (INEP, 2013).

A processo de municipalização foi o que envolveu mais cooperação entre as Secretarias Estadual e Municipais em São Paulo. Esse processo se iniciou em 1995 a partir da criação de um programa estadual e se intensificou com a aprovação do FUNDEF em 1997. Na atual gestão, ele não se destaca entre as prioridades da política educacional e, de maneira semelhante, não há programas que envolvam intensamente o relacionamento entre o Estado e os municípios. Apesar disso, destaca-se que muitas Secretarias Municipais implementam um programa estadual denominado Ler e Escrever.