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A Intervenção Psicomotora na DID

I. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3. A Intervenção Psicomotora e Contextos

3.1. A Intervenção Psicomotora na DID

De uma forma mais específica, e realizando um paralelismo com a população-alvo da presente prática de estágio, a intervenção psicomotora é uma prática interventiva essencial na população com DID, ao ter como ponto central o movimento consciente e pensado, sendo que, através deste, da ação, da experimentação, do investimento corporal, é privilegiada a experiência concreta, podendo, posteriormente, ser atingido o plano do abstrato e do simbólico (Valente, Santos e Morato, 2011). Deste modo, o indivíduo com dificuldades psicomotoras, de incidência corporal (e.g. dispraxias, instabilidade postural, perturbações do esquema corporal), relacional (e.g. agressividade, instabilidade, dificuldades de concentração) ou cognitiva (e.g. défices de atenção e memória), tem a oportunidade de se organizar, de (re)encontrar um equilíbrio para as suas ações e reações, atitudes, posturas e relações (Boscaini, 2004; Martins, 2001).

Esta intervenção potencia, assim, o desenvolvimento dos sete fatores psicomotores (tonicidade, equilibração, lateralidade, noção do corpo, estruturação espaciotemporal, praxia fina e praxia global) e, paralelamente, da capacidade atencional (essencial para a memorização), da consciência do “eu”, das capacidades comunicativas, relacionais e de ajustamento ao meio e, ainda, da criatividade, para que, concomitantemente, seja maximizada a capacidade da Pessoa ser, agir, estar, participar e se adaptar aos vários contextos da sua vida (Fonseca, 2007; Martins, 2001).

Para Fonseca (2007), seguindo esta lógica de influência recíproca, no caso da existência de dificuldades psicomotoras na infância, estas terão consequências nos vários domínios da vida da criança, desde os aspetos mais básicos, até às questões mais complexas, como a plasticidade/flexibilidade no planeamento motor e, portanto, no movimento intencional, comprometendo, consequentemente, a capacidade de se (re)ajustar a diferentes situações contextuais, devido a um défice na generalização dos padrões motores. Daí que uma intervenção atempada, na sua vertente reeducativa e terapêutica, terá resultados positivos em termos desenvolvimentais, refletindo a necessidade de prestação dos apoios necessários que tem vindo a ser referida até então, para minimizar as dificuldades e potenciar a capacidade adaptativa e funcional (Valente et al., 2011).

Neste âmbito das crianças e adolescentes com dificuldades, mais especificamente com DID, a intervenção psicomotora desenvolve-se segundo a vertente reeducativa e

terapêutica, uma vez o comprometimento existente na dinâmica desenvolvimento-

aprendizagem destes indivíduos, trazendo uma série de consequências em termos de problemas psicoafetivos, de base relacional. Este é um trabalho que se baseia, sobretudo, em propostas de caráter motor, sempre acompanhadas pelas componentes comunicativas verbal e não-verbal, de modo a que vivenciem de forma harmoniosa todas as potencialidades do seu corpo, numa relação constante consigo mesmo, com o outro e com o meio, maximizando o seu desenvolvimento global. Trabalha-se no sentido da estimulação global das vias sensoriais e percetivas (visual, auditiva, tátil, vestibular e cinestésica) para que, assim, a capacidade de processamento da informação seja potenciada e, consequentemente, a resposta seja adaptada, promovendo, assim, toda a capacidade de aprendizagem, funcionalidade, adaptação e qualidade de vida (APP, 2012).

Em termos de prática de estágio, tal como já referido, a CerMov, embora inserida numa cooperativa com as características da CERCICA, procura dar estas respostas desde as mais tenras idades (ver informação Capítulo II - Prática de Estágio

Curricular), altura em que as primeiras necessidades de apoio começam a surgir, no

sentido da estimulação, da prevenção e da minimização de todas as dificuldades e, sobretudo, da maximização do potencial psicomotor dos seus clientes, com vista a repercussões positivas, tanto a curto, como a longo prazo.

Os indivíduos com DID vêem-se confrontados com uma série de dificuldades no seu dia-a-dia, em termos de funcionalidade, capacidade de adaptação e utilização de estratégias que lhes permitam ultrapassar esses obstáculos, pelo que a intervenção psicomotora surge como um apoio essencial, cabendo-lhe, portanto, o papel de identificar e compensar as condutas desadaptativas e de estimular as competências de autonomia e autodeterminação para a participação ativa na comunidade. Assim, através de uma intervenção no e pelo corpo, a pessoa vai ser igualmente capaz de explorar as suas funções tonicoafetivas e cognitivas, através das experiências concretas e reais que lhes permitirão reconhecer em si o seu espaço, o tempo, a comunicação, os afetos e a relação com o outro, auxiliando, portanto, esta construção de um ser mais funcional (Novais, 2004).

Neste sentido, se, por um lado, na intervenção as características individuais da pessoa constituem o ponto central, por outro lado, este trabalho não poderia ser realizado sem

se enfatizar também o papel que o contexto desempenha na sua vida, tal como referido anteriormente, aquando da abordagem da DID na atualidade. Ou seja, à Psicomotricidade, enquanto intervenção reeducativa e terapêutica, importa que esta visão sistémica constitua a sua base, ao ter em consideração a forma como a pessoa se adapta às exigências e parâmetros sociais em vigor, bem como a forma como o contexto se adapta à diversidade, no sentido da organização dos seus recursos para a prestação dos apoios necessários (Mckenzie, 2013; Santos, 2003).

Para isso, a família e os serviços têm um papel fundamental em termos da criação de condições para a sua participação ativa. A CERCICA-CerMov é um exemplo desta rede de apoios que se estrutura de forma a caminhar no sentido da maximização do potencial adaptativo, nos diferentes contextos em que a pessoa se insere, numa interação entre as componentes física, psicológica, emocional e social, tornando-a mais funcional, autónoma, participativa e, consequentemente, aumentando a sua qualidade de vida. Aqui, cada caso é encarado como único e específico, com capacidades possíveis de serem potencializadas, sempre com vista à maximização da sua identidade, de forma a promover a sua autoestima e, paralelamente, as suas respostas motoras e capacidade de interação, capacitando o indivíduo para a resolução de problemas através de estratégias mais ajustadas (APP, 2012). O ponto de partida desta intervenção é a pessoa, nas múltiplas vertentes da sua vida, trabalhando-se sempre com base na sua história individual, nos acontecimentos da sua vida, em tempos e espaços específicos (Martins, 2001).

Assim, na CERCICA-CerMov, o plano de intervenção psicomotora utilizado caracteriza-se por ser individualizado e adequado às características e reais necessidades de cada um, desenvolvido numa política transdisciplinar, com um procedimento metodológico devidamente estruturado, desde a fase de observação e avaliação até à intervenção. Neste sentido, seguidamente serão apresentados, de uma forma mais específica, alguns dos principais tópicos presentes na literatura que sustentam estas diferentes fases da intervenção psicomotora.

3.2. A Importância da Observação e Avaliação no Processo de Intervenção