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Discussão dos Resultados

II. PRÁTICA DE ESTÁGIO CURRICULAR

3. Estudos de Caso

3.2. Apresentação dos Estudos de Caso

3.2.1. Estudo de Caso I V.H

3.2.1.5. Discussão dos Resultados

Nas primeiras sessões de contacto com a V.H., esta recusou o apoio e o contacto físico com a estagiária (expressando-se através de gestos e tentativas de afastamento), apresentando uma postura rígida e de pouca predisposição para qualquer tipo de interação afetiva ou de cumprimento de instruções relacionadas com as tarefas da sessão.

Neste sentido e apesar de disponível para novas relações, a V.H. não aceitou uma aproximação imediata, tendo sido necessárias várias sessões para a sua progressão, onde, inicialmente, a distância proxémica era mantida de forma bem explícita, sem ser permitido o toque. A grande dependência afetiva que a V.H. apresentava em relação às figuras de referência (e.g. técnica), constituiu um dos desafios iniciais nesta intervenção psicomotora.

Foi então necessário desenvolver um trabalho no sentido da relação empática com a V.H. para que, progressivamente, a confiança, segurança e reciprocidade nas interações começasse a surgir e, assim, fosse possível o desenvolvimento de uma intervenção terapêutica.

O toque passou a ser tolerado, assim como a ajuda em algumas tarefas (sobretudo nas sessões de grupo), tendo sido utilizado o estímulo e reforço constantes ao longo das tarefas, incentivando-se todas as tentativas de comunicação e interação. As interações e as suas manifestações afetivas foram sendo cada vez mais frequentes, de forma intencional e espontânea (e.g. procurou o toque e o contacto visual da estagiária), demonstrando, de igual forma, um sentimento de segurança e confiança. A sua expressividade corporal e facial, inicialmente mais contida, passou a ser cada vez maior perante diferentes situações, tomando cada vez mais a iniciativa para comunicar de forma intencional, mostrando interesse e motivação por contar acontecimentos do seu dia-a-dia na escola e de eventos com a família.

A dependência inicialmente referida contribuiu para que a V. apresentasse algumas dificuldades em termos de autonomia nas tarefas e de reconhecimento das suas capacidades funcionais, sendo observáveis durante toda a sessão, apoio físico e feedbacks constantes.

Dado um dos objetivos de intervenção estar relacionado com esta dependência, procurou-se, com o decorrer das sessões, que fosse ela mesma também capaz de autoavaliar o trabalho desenvolvido, potenciando a capacidade de reconhecimento das suas capacidades funcionais e de aumentar a sua autonomia ao longo da tarefa; foi utilizado o diálogo no final de cada atividade, no sentido de perceber se os objetivos de desempenho de cada tarefa (acordados no início da mesma, entre estagiária e criança), tinham sido atingidos; foi notório o aumento da sua autoconsciência, expressando a sua opinião sobre o êxito da tarefa e apesar de continuar a procurar o feedback, a V.H fá-lo, agora, de forma mais controlada, sobretudo no final da tarefa, revelando uma maior capacidade de cumprimento de regras e de tolerância aos tempos de espera (observável sobretudo nas sessões de grupo).

A V.H. aceita bastante bem a dinâmica de interação um para um, razão pela qual esta dinâmica foi utilizada enquanto fator potenciador da intervenção, sendo considerado um ponto essencial a desenvolver no sentido da sua autonomia, segurança em si mesma e espontaneidade na interação com os seus pares. Assim, inicialmente, nas sessões de grupo a V.H. não aderia às dinâmicas de jogo lúdico e de interação, demonstrando sinais de desconforto, recusando a tarefa, sendo o colega quem assumia o papel principal de sugestão das atividades, baseadas no jogo simbólico, como ponto de partida para os momentos de interação. Perante as reações observadas, o momento final da sessão passou a ser reservado para o desenvolvimento do trabalho de interação entre pares, através do jogo.

Assim, a V. passou a demonstrar um interesse, motivação e bem-estar crescentes nestas atividades, tendo sido, inicialmente, necessário algum tipo de mediatização para que interagisse com o par, de forma mais espontânea e intencional, aderindo às diferentes dinâmicas. Importa ainda referir que este, de igual forma, constituiu um momento preferencial de interação entre criança e estagiária, no sentido do desenvolvimento da questão relacional; a V.H. passou a aderir às dinâmicas de jogo manipulativo e simbólico, inicialmente por um tempo reduzido e, posteriormente, sendo ela própria a dar sugestões e significado simbólico ao material (e.g. coroas, pulseiras). Através da mediatização dos objetos (e.g. argolas), a V. procurava o contacto com o corpo da estagiária (e.g. coloca argolas na cabeça, braços), apesar de, inicialmente resistir à reciprocidade na tarefa (recusa sejam colocadas argolas no seu corpo, retirando-as imediatamente, acompanhada por gestos de negação). Ao longo das sessões, a V. passou a aderir à reciprocidade na tarefa, aceitando o material no seu corpo, por um período de tempo cada vez maior.

Para além disso, devido às limitações ao nível da sua motricidade oro-facial (com consequências ao nível dos movimentos da língua e protusão labial), foi desenvolvido um trabalho constante relativo ao controlo respiratório, de acordo com as diretrizes do Método de Halliwick (Lambeck e Gamper, 2010 - e.g. soprar, cantar, lengalengas). Este foi um aspeto igualmente importante em termos de organização temporal, ritmo de trabalho e coordenação motora.

Importa ainda referir que ao longo de toda intervenção foi considerado o seu estado geral de bem-estar, uma vez que devido aos seus episódios de epilepsia, os seus níveis de fatigabilidade variaram bastante de sessão para sessão, sendo necessário adaptar e reajustar as tarefas (em termos de organização, frequência ou intensidade), de modo a não contribuir para o agravamento desse estado. Este foi um aspeto percetível sobretudo pelo seu estado tónico, variável, de sessão para sessão, sendo que, nos dias em que a V. se apresentava num estado geral de instabilidade

psicomotora, a sua predisposição para as tarefas foi menor; contrariamente, nos dias em que o seu grau de motivação, participação e interesse nas tarefas foi superior, a V. foi capaz de adaptar o seu tónus às diferentes atividades, facilitando todo o processo de intervenção.