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A língua materna como abertura ao si próprio

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Cada elemento do mundo vivido expressa o modo de vida presente em certa sociabilidade e assim todos os objetos culturais (materiais e imateriais) são objetos falantes que expressam essa estada no mundo. Cada elemento fala por si, mas dentro de um fundo significativo que contextualiza o sentido percebido. Este não se encontra regido no sujeito, mas no mundo vivido, ele é presente para ser percebido por aquilo que expressa e comunica. Do mesmo modo, a “fala é um verdadeiro gesto e contém seu sentido, assim como o gesto contém o seu. É isso que torna possível a comunicação” (IBIDEM, p. 249).

Todos os objetos linguísticos pertencentes a um idioma, assim como as narrativas e objetos culturais existentes formam um arco intencional constituído na história dessa cultura e constituinte daqueles que a vivenciam. Assim os elementos de mundo absorvidos pelos viventes dessa forma de sociabilidade formam os membros dessa comunidade linguística, ou seja, os elementos culturais existentes no meio e as pessoas detentoras e falantes dessa forma de sociabilidade propagam essa cultura no mundo vivido, não apenas sendo constituídas pelo arco intencional dessa cultura, mas também o constituindo.

A língua vivida por uma comunidade linguística, o idioma, é a expressão de uma maneira de se direcionar ao mundo, sua estrutura de conjunto e organização de significados são resultados da comunhão dos falantes dessa língua rumo à consagração de seu modo de saborear o mundo. A língua possui um caráter estruturante para os membros que vivem em uma comunidade linguística. Embora esses falantes a recriem em todo momento ao lidar com os outros, as pessoas também se estruturam por meio desse modo de se designar os objetos no mundo (Rocha, 1997). Os viventes dessa comunidade linguística compartilham não somente

significações possíveis, mas o próprio modo de se flexionar a ação dita e designar objetos no mundo; comungam crenças silenciadas ao longo da sua história e também segredos sobre os modos de se indicar objetos no mundo104.

Tais crenças e segredos escondem-se na língua dado diferentes momentos e contextos vividos pela comunidade linguística. As línguas sofrem deformações por diferentes razões; Sem dúvida a passagem do tempo promove diferenciações na língua pelas mudanças na cultura vivida e também nos modos de produção, do mesmo modo a ocupação das populações ao longo da paisagem. Falantes de um mesmo idioma incluem novas significações linguísticas com o surgimento de novas dificuldades em se lidar com o meio vivido (uma população pode desenvolver todo um novo repertório linguístico com a necessidade de se ampliar os conhecimentos para a navegação, como exemplo, e do mesmo modo a comunicação por meio de tecnologias eletrônicas promoveu diferenciações na língua em período recente). A língua desenvolve-se na direção do aprofundamento de suas distinções rumo ao lidar com os dilemas vividos pela comunidade linguística (LE BRETON, 2016).

Outra possibilidade para alterações é o contato com sujeitos pertencentes a outras comunidades linguísticas que aprenderam o idioma, o contato ao longo do tempo pode levar a inclusão de termos estrangeiros ao idioma, do mesmo modo as dificuldades vividas por imigrantes em compreender o novo idioma pode levar a acomodação de novas significações ou expressões aos modos de se falar o idioma. Além disso, fatores relacionados a distinção de prestígio social também ocupam espaço nas possibilidades de mudanças dentro da comunidade linguística, sendo isso percebido, principalmente, por diferenciações de sotaque e acentuação na língua (CRYSTAL, 2005). Fatores linguísticos como as mudanças de articulação rumo à simplificação também operam como fator de mudança e evolução dentro da língua falada, os elementos também tendem a derivar dado ao fato de que estruturas irregulares da língua acabam por ser influenciadas pelas regulares, promovendo alterações no idioma, o que pode ser observado ao longo do tempo (IBIDEM). Contudo, as alterações na língua não operam pelo poder de significação de um termo, mas pelo seu valor de uso (MERLEAU-PONTY, 1984)

A língua então possibilita uma dupla percepção no tempo, se por um lado a transversalidade da língua revela o seu tempo presente, o modo nascente de como

104 Isso é apontado por Lauand (2015) em seus ensaios a respeito do ‘Mundo árabe e sistema língua-

se dá a língua no meio vivido, como gesto de apropriação e indicação de sentidos possíveis, o olhar longitudinal desvela aquilo escondido na própria história da língua, o momento nascente das habitualidades que estão presentes na língua (MERLEAU- PONTY, 1984).

Ambas as visões são importantes ao se considerar o que há de estruturado nos membros de uma comunidade linguística, uma vez que essa se produz no meio vivido, pelas pessoas presentes nesse meio cultural. Carregada de uma série de momentos sincrônicos da apropriação do mundo pelos falantes da língua, essa oriunda da própria contingencia do viver em uma comunidade e se altera conforme a necessidade de se expressar novos sentidos para dizer o mundo. Nessa mesma condição formas de denominação caem em desuso por perder seu poder de expressão dentro da comunidade linguística, os elementos dentro do idioma se reorganizam rumo à atualidade do tempo vivido (IBIDEM). Esse movimento dado pelo valor de uso dos modos de expressão não se trata de uma adequação, isso seria entender a língua como uma relação passiva e secundária em relação ao mover-se e ao pensar, a língua é o próprio gesto de aproximação e de tomada. É tão parte do corpo como os braços ou os olhos, a língua vivida compõe a gestualidade de alcance ao mundo, ela é ao tempo aquilo que há de constituído e o movimento criativo da nascente de sentidos (MERLEAU-PONTY, 2006a).

Momentos sincrônicos sucessivos compõe a diacronia da língua. Em diferentes pontos da história, essa já foi um tempo presente, uma sincronia em determinado período. Essas sincronias passadas são a fonte de inúmeras intercorrências e causalidades que levaram a nomeação dos elementos que hoje são presentes na língua e é desse modo, enquanto fruto de inúmeras relações históricas que a língua alcança o sujeito falante, dotado de uma potência corpórea à linguagem e carente de um forro social linguístico que deve ser incorporado por ele e pelos outros para que a comunicação aconteça (MERLEAU-PONTY, 1984). O sujeito fala por sua necessidade de se comunicar com os demais, a palavra toca a sensibilidade corpórea, passeia sobre a capacidade de expressar sentidos carregados por uma história e significação encapsulada em cada palavra ou maneiras de dizer presentes no mundo próprio.

Tal como a pressão sobre a pele é sentida com o tato, a palavra emerge como presença sentida no espaço-tempo percebido, põe em contato sentidos nem sempre presentes ou concretos no instante-presente em que é declarada, emana também no

outro a capacidade de reconhecer seu sentido, criado no momento proferido e recriado ao ser percebido e interpretado. Este se dá entre o movimento sincrônico de um presente que se realiza na dialética com a situação, cujo fundo enraíza-se na história da língua, na sua diacronia (MERLEAU-PONTY, 1984). Assim a compreensão atual de uma expressão linguística não é possível sem um contato profundo com determinado idioma, com sua cultura (LE BRETON, 2016). Isso pode ser exemplificado nas dificuldades existentes em se compreender o cumprimento ou pedido de desculpas contido na leve flexão de tronco de uma pessoa de origem japonesa, cuja distinção encontra-se na duração e no grau da curvatura expressada no gesto. Do mesmo modo os longos abraços e contatos vividos pelo povo brasileiro são frequentemente vistos como excessivos por membros de outras comunidades linguísticas.

A cultura constitui-se na convivência dos membros dessa sociabilidade, ela forma-se entre as pessoas conforme vivem e ensinam seus modos de perceber a existência uns aos outros. Na ação educativa a cultura e a linguagem ungem o sujeito das nuanças existentes na cultura, tais como os modos de tratamento, vestimentas, habitualidades sociais, a própria compreensão do mundo. Fundamentada desde a materialidade vivida dos sentires corpóreos, o sentido apropriado nas vivências culturais expressa a continuidade histórica, a apropriação do mundo e de si próprio (LE BRETON, 2016).

A constituição do si próprio se dá exatamente no interior desse mundo cultural em que se vive, o mundo da língua constituída junto aos outros. A apropriação de elementos existentes se dá por uma “operação sincrônica” (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 250) da intencionalidade vivida em relação aos objetos, dotados de significação a partir da vivência com o mesmo. O sabor do mundo é conhecido em seu modo de afetar a corporeidade, o outro é outro por sua conduta no mundo, assim como certos objetos o são por terem sido vividos de uma maneira específica. A abertura ao mundo próprio e seus contornos possibilita ao sujeito a conhecer e a viver o si próprio e sua potência, a apropriação do mundo é dessa maneira o caminho para a assunção da situação vivida, de quem se é no mundo junto aos outros.

A vivência do nome próprio de si, do outro e das coisas são consonantes a essa sincronização à existência. A vivência de si se dá na dialética da vivência com o outro no mundo. Cada elemento que o compõe é absorvido desde as primeiras experiências infantes e essas seguem em progressão durante todo o existir. Os cuidados para com

o corpo da criança, o modo como essa vive os jogos e possibilidades de explorar o entorno, formam a maneira como essa sente o mundo a sua volta. A linguagem já permeia o meio vivido e o corpo da criança-puer orienta-se pelos afetos que os toques, gestos e sons produzem em sua corporeidade, o próprio enlace existencial mãe-bebê forma-se no elo constituído na relação vivida por ambos.

As vivências da criança com a mãe e as demais pessoas, que participam de sua formação, possibilitam uma série de sínteses passivas, um contato de profundidade com os objetos que se dá no aprofundamento de certa experiência de mundo. O relacionamento com esses objetos oferece não a justaposição de diversas vivências, mas no alargamento da significação vivida com o objeto em questão (LANDES, 2013). O conhecimento de certo objeto de mundo, de um sentimento, de uma pessoa e até de si próprio passa por esse aprofundamento no curso do tempo, tratando então de uma eminencia passiva por compor algo fixado à memória, mas ativo por pertencer a um sentido atual quando se retoma o objeto em questão no vivido (LANDES, 2013). O bebê conhece os objetos que se tornam falantes para ele, e esses se tornam dessa maneira pelo contato, pela síntese formada entre ele e o objeto em questão. Assim, a bola para a criança se torna a junção do elemento do real e do nome que a representa, essa junção se encrava de tal modo entre o objeto e o nome próprio que o objeto é seu nome próprio. Um evoca o sentido do outro, sendo assim um mesmo objeto de mundo, cada um desses aspectos do objeto (nome e forma) compõe a “identidade da coisa” (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 252).

A mãe se torna mãe, o pai se torna pai e o nome próprio passa a referenciar a si próprio da mesma maneira: todos o são apropriados. O ser conhece o mundo a partir da afetividade vivida em meio à junção do que são os sentires vividos junto aos diferentes elementos de mundo presentes no meio. A maneira própria de ser passa a ser aquela sedimentada em meio ao vivido, a própria maturação das estruturas orgânicas, das palavras, dos nomes e do modo de ser vivido, por fim, a potência falante do ser se organiza a partir do sistema cultural e da língua materna.

A linguagem carrega entre suas funções a possibilidade da apresentação de objeto a si e ao outro, por meio dela é possível tocá-lo intersubjetivamente, assim como representar um objeto que não está objetivamente presente (MERLEAU- PONTY, 2006b). Contudo, outra função da linguagem se revela com a instituição das narrativas culturais, cada uma dessas revela certos sentidos a respeito dos sentires desse mundo vivido.

O arco intencional constituído na diacronia da cultura atinge sempre aqueles que a vivem em seu tempo presente, as formas de sociabilidade, assim como os valores sociais e morais são vividos por todos os viventes dessa comunidade linguística. Nascer nessa sociabilidade implica em viver as próprias intencionalidades corpóreas a partir daquilo que é apropriado dessa forma de sociabilidade.

A língua institui no sujeito a distinção dos seres ao mesmo tempo em que é possibilidade de contato entre as pessoas que vivem no mundo. As pessoas que pertencem a uma mesma cultura podem declarar suas intenções vividas e é por sua potência de reconhecer, recriar os sentidos declarados dentro de si que o outro compreende aquilo que foi dito. Os próprios perfis das vivências e o seu modo de compreendê-las dentro de uma cultura (referindo-se aqui tanto ao nome relativo às cores ou ao que é amar, louvar, agradecer etc., toda essa gama de elementos intersubjetivos) são aquilo que consta constituído no forro estruturado da língua e da cultura e que é estruturante ao sujeito pertencente a essa comunidade linguística.

A narrativa vivida pelo sujeito, em seu momento atual, é consequência de uma narrativa de sua própria cultura. O corpo absorve em sua gestualidade os hábitos sociais de sua cultura, seus contos, crenças, costumes, expressões idiomáticas, assim como apreende a possibilidade de compreender a partir do outro aquilo que reconhece de sua própria cultura. É o reconhecimento de diferentes discursos no mundo cultural vivido, ainda que, por muitas vezes sejam concorrentes na constituição da narrativa do real, que conduz os sujeitos à possibilidade de compreender outras posições, produções dentro da cultura, assim como os outros enquanto seres diferentes de si mesmo. A ambiguidade existente dentro do horizonte cultural é que ali tudo é familiar. Ainda que existam pontos distintos, uma regra no interior da língua permite a presença daquilo que é diferente ou novo dentro da ordem do sistema da linguagem. O reconhecimento da novidade se dá por uma deformação coerente dos sentidos já presentes nessa composição de mundo. Assim, o outro é outro, reconhecido pela familiaridade dos gestos, o objeto desconhecido passa a ser conhecido pelas relações de sentido que são familiares ao sujeito.

A absorção da língua materna demanda toda a estrutura do ser no sentido de situar-se no mundo, com isso advém a inclusão das significações pessoais no próprio movimento de ser, suas maneiras de saborear o sentido sempre estão em dialética com os modos pertencentes ao geral dessa comunidade linguística. No entanto, compreender a linguagem desse modo não poderia levar a uma renovação das

propostas empiristas a respeito do apontamento em que todos os movimentos do sujeito se encontram determinados por aquilo que há no ambiente e que assim o mundo vivido nada é senão uma conjuntura de estímulos que reforçariam respostas orgânicas e assim, toda a ação humana não seria senão totalmente condicionada?

De fato, as significações de mundo constituem-se por um enlace do modo como é vivida a corporeidade, o sentido é apreendido nos movimentos do corpo diante dos elementos do entorno, todo ato intencional pressupõe a presença de uma percepção de mundo preenchida por uma intencionalidade operante, assim como seria possível se por além do completo determinismo? Merleau-Ponty propõe que é exatamente a possibilidade de significar a partir da corporeidade, da maneira própria de sentir o mundo, que é possível ao ser sedimentar a si próprio, passando a rumar pela existência a partir dos referenciais constituídos em seu arco intencional (LANDES, 2013). Considera-se assim que “nossas possibilidades atuais sofrem o peso do nosso passado.”105 (LANDES, p. 172). A liberdade é uma ambiguidade entre as instâncias

do passado e do presente, trata-se de uma movimentação dentre as possibilidades existentes na sociabilidade, ainda que, por vezes, se possa, a partir desses referenciais, extrapolá-las essas possibilidades (LANDES, 2013). Compreender a liberdade situada é entender o movimento das pessoas, assim como dos próprios movimentos históricos, não como a decisão intelectual que conduz a certo direcionamento, mas tais agires são ecos de uma motivação vivida (MERLEAU- PONTY, 2006a).

O engajamento existencial em certos direcionamentos sociais e culturais são motivados dentro da narrativa vivida e em relação à compreensão das narrativas presentes na cultura vivida. O ser vive aglutinando diferentes narrativas no seu curso de existir, constituindo assim uma narrativa própria. A apropriação das narrativas nesse curso pessoal conscientiza o sujeito de suas possibilidades de ser, narrar-se significa a possibilidade de compreender a si próprio em sua existência, enquanto a possibilidade oposta implica simplesmente em ignorância.106

A conjuntura das narrativas vividas leva o ser no mundo a empreender-se assim em um estilo de ser que não é simplesmente pensado, mas orientado por todas as

105“our present possibilities are weighed upon by our past”

106 CF Josgrilberg (texto não publicado) a etimologia do termo narrativa encontra-se no idioma grego

noein e também em gnose. Conhecer significa gnose, enquanto o contrário de ignorante significa gnarus. A supressão da letra “g” forma o termo narrativo. Assim, narrar é um conhecimento que se conta, tendo no seu oposto a ignorância. O ignorante seria aquele que não possui uma narrativa própria.

referências que o constituem. Esse estilo tange as percepções de mundo dentro da cultura e a apropriação dos discursos, das motivações do outro, assim como os modos de expressão são impregnados por esse estilo vivido. O termo estilo é compreendido por Husserl como um modo para se indicar como um conjunto de atos ou de objetos pode indicar a essência de um ser ou de um modo de ser em um dado período de tempo, o filósofo ainda indica a existência de estilos pessoais que podem ser percebidos pela expressão de seus atos, tais como o modo de se mover, da entonação da fala, assim como características particulares do modo de se expressar (COHEN; MORAN, 2012). A assunção de um estilo expõe o modo de ser se engajar no mundo, influindo assim no modo de seu pensar e agir, as próprias escolhas no mundo são influenciadas por essa maneira de ser, assim entende-se que as essas escolhas não são simplesmente pensadas dentro de uma racionalidade objetiva e pura, mas o próprio pensar é motivado por todas as instâncias do horizonte cultural. É por seu estilo de ser, por seu modo de engajar-se no mundo que o ser se direciona nas diferentes dimensões da sociabilidade vivida, assim como da produção cultural, social, tecnológica etc.

Essas dimensões da sociabilidade vivida tocam o sujeito e são ampliações da sua própria linguagem, seu estilo de ser e de se apropriar do mundo, passa a incluir os conhecimentos adquiridos e produzidos nesses nichos do contingente social. Tais dimensões são tratadas por Husserl como “ontologias regionais”107 (MORAN;

COHEN, 2012, pp. 277-278). Campos como o científico, artístico são partes dessas regionalidades distintas da ontologia formal, ou seja, da natureza das coisas (MORAN; COHEN, 2012). A absorção dessas regionalidades da cultura, ao ampliar os conhecimentos do sujeito, também amplia a capacidade distintiva de sua percepção das coisas, assim uma criança que aprende os signos do alfabeto passa a ser capaz, em determinado tempo a olhar o mundo e reconhecer na paisagem a presença desses símbolos. Do mesmo modo, é na apropriação de discussões que envolvem o preconceito que possibilita a pessoa a perceber elementos de mundo que poderiam ser invisíveis a ela em outros momentos.

Embora a língua não apreenda todas as relações possíveis da realidade e encontre dificuldades em explicitar algumas características do real (tal como o sabor ou o que é cansaço, por exemplo) e a percepção seja soberana enquanto ato de

apreender interpretativamente o mundo, a língua materna é estruturante até mesmo desse modo de perceber e interpretar, pois ela se encontra embrenhada em meio a todos os demais gestos que possibilitam a apreensão do que é a sociabilidade e a cultura. A língua materna é sincrônica ao meio vivido, a região de mundo habitada e a maioria dos elementos de mundo pertencentes a essa regionalidade. Mesmo o nome recebido pelos familiares, e o deles próprios, se encontram envolvidos pelas relações de reconhecimento existentes nessa maneira de viver a linguagem.

O mundo próprio é um mundo onde a língua materna é soberana, ela se trata mesmo de uma fonte de verdades que são vividas. Todo o percebido é como tal esse

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