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O mundo da língua estrangeira

No documento Download/Open (páginas 107-117)

O horizonte cultural e linguístico de uma comunidade estrangeira possui as mesmas raízes fenomenológicas daquelas que fundam nossa comunidade linguística. Nesse sentido, somos nós mesmos estrangeiros aos seus hábitos, costumes, crenças e valores. Toda a edificação cultural é o botão de diferentes flores que germinam em solo fértil e a própria existência dessas comunidades linguísticas só é possível por sua sustentação no mundo da vida. Cada uma, ao seu modo, envolve-se nas estruturas deste meio a fim de fazer brotar e florear a paisagem a partir das próprias maneiras de existir – a cultura é erigida pelos esforços de um povo em lidar com as intempéries

das regiões habitadas, tanto diante das dificuldades climáticas, como da provisão de segurança.

A compreensão do que é a existência presente em uma cultura é fruto de sua historicidade e habita o interior de todas as crenças, costumes e estereotipias que se desenvolveram no curso de sua formação.

Aliás, essas estereotipias não são uma fatalidade, e, assim como a vestimenta, o adorno, o amor transfiguram as necessidades biológicas por ocasião das quais eles nasceram, da mesma forma no interior do mundo cultural o a priori histórico só é constante para uma dada fase e sob a condição de que o equilíbrio das forças deixe subsistir as mesmas formas. Assim, a história não é nem uma novidade perpétua nem uma repetição perpétua, mas o movimento único que cria formas estáveis e as dissolve. (MERLEAU-PONTY, 2006a, p. 130)

Os nativos dessa comunidade linguística partilham mais que os termos que lhes são comuns. Esses compartilham a própria maneira de se viver a corporeidade em seu modo de explorar o mundo a partir de sua sensibilidade – e de sua sensibilidade corpórea – é fundada nesse interior e, com isso, todas as constituições de conhecimento posteriores têm esses elementos falantes de mundo como referência comparativa para se distinguir a novidade daquilo que já é conhecido. Conforme Le Breton, “ver é pôr à prova o real através de um prisma social e cultural, de um sistema de interpretação que carrega a história pessoal de um indivíduo imerso numa trama social e cultural” (p. 94), pois a participação em uma forma de sociabilidade é fundante dos modos de generalidade e homogeneidade de nossa percepção.

Os viventes dessa forma de sociabilidade possuem em seu mundo vivido a homogeneidade dos modos de ser no interior desse modo de se celebrar o mundo. Ainda que a formação do si próprio de cada pessoa dependa da narração vivida nessas culturas, solo de onde se define os aspectos daquilo que essa pessoa se identifica ou se desidentifica, a possibilidade de reconhecer os aspectos homogêneos que pertencem a essa forma de sociabilidade, em geral, se encontram presentes entre as apropriações de mundo vividas por esse sujeito. Sua participação nessa comunidade linguística se dá pela adesão aos seus sentidos de mundo, ainda que estes possam se alocar de diferentes modos entre as relações do que é preferido ou preterido por essa pessoa no curso da sua vida.

Conforme Le Breton,

entre o mundo e a língua se estende para cada sociedade uma trama sem costura que leva os homens a viver em um universo sensorial e semiológico diferente, e, portanto, habitar universos com traços e fronteiras nitidamente dessemelhantes, embora não deixam de comunicar (p. 30).

A formação no interior de uma língua e cultura se realiza com a inclusão de inúmeros elementos anônimos e presentes nesse horizonte, no modo de uma pessoa perceber o mundo. “Antes de ver é necessário aprender os sinais, assim como ocorre no interior de uma língua” (LE BRETON p. 97); os elementos culturais e linguísticos, que jazem na percepção daqueles que habitam em uma dada forma de sociabilidade, são instituições de verdades a respeito do como o mundo é entendido nesse meio (MERLEAU-PONTY, 1984). As pessoas que ali vivem, independente das interpretações e dos caminhos percorridos no interior dessa forma de sociabilidade, guardam em seu modo de ser a ambiguidade daquilo que lhes é próprio de seu modo de ser, assim como daquilo que pertence à sua comunidade, mas que elas não se identificam – trata-se da posse da generalidade do que é ser dentro dessa sociabilidade. É a experiência do munícipe da cidade de Franca, interior do estado de São Paulo, que apesar de não gostar do Basquetebol, como esporte, pode possuir um repertório de conhecimentos a respeito, por viver em uma localidade na qual esse esporte ecoa como elemento presente da cultura local. As especificidades são elementos anônimos de uma região, como também são as expressões linguísticas e os costumes. Todos esses elementos são generalidades do que é ser e pertencer a uma comunidade e cultura.

A existência do estrangeiro no mundo de uma cultura não se trata de uma presença nova. Praticamente todas as culturas vivem em maior ou menor grau contato e ampliação dos próprios horizontes. A herança histórica da formação dos países carrega a marca da relação com o estrangeiro tanto na sociabilidade como na presença de palavras vindas de outras línguas, uma importação de modos de ser que é muitas vezes é forçada pelo contexto. O risco desse contato com elementos externos é o emudecimento do jeito de se viver que são nativos de uma região; a entrada de novas formas de entretenimento e de se vestir, a imposição dos modos de se organizar enquanto sociedade pode ocorrer como processo de dominação de uma forma de sociabilidade às outras (LE BRETON, 2016). Muito por isso, o cuidado com

a presença do estrangeiro em uma dada cultura é importante frente ao risco de se tornar invisível os próprios hábitos e costumes (e mesmo comunidades inteiras) presentes no interior do mundo vivido.

O intenso desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação, assim como a facilitação e barateamento dos custos de transporte para o deslocamento, aumentou a necessidade da presença de falantes de mais de um idioma nos postos de trabalho e, com isso, a aprendizagem de determinadas línguas passou a ser entendida como essencial para o crescimento profissional de uma pessoa. Essas línguas e culturas passam a eclipsar campos linguísticos de outras línguas, impondo significações108 adentro do campo linguístico falado em certo

espectro do mundo vivido. O empobrecimento da língua falada em uma comunidade em função da importação constante das terminologias, dos hábitos de trabalho, de entretenimento e afins, pode mesmo influenciar a percepção dessa população diante dos falantes dessas outras línguas. O perigo aqui é o de se aceitar determinadas narrativas de mundo como naturais, como se determinados povos ou culturas detivessem certo direito sobre os demais, o que legitimaria certo movimento de dominação enquanto passos às supostas formas superiores de organização social.

Em um exemplo a respeito do perigo dessa dominação, tomamos a fala de Le Breton “a erradicação das culturas ou a aparagem de suas asas pela penetração dos valores de mercado e a americanização do mundo não elimina, entretanto, o caráter social, cultural e histórico da imagem” (p. 100). A percepção de mundo oriunda de uma cultura fica sempre a mercê da “intimidação da mercadoria e do modelo econômico ambiente” (LE BRETON, p. 100). A perda do sentido da palavra ou da própria concepção do que são os objetos culturais, do entretenimento ou os próprios referenciais de mundo é o risco imposto pelo “rolo compressor da técnica ocidental e [de] sua economia de mercado” (LE BRETON, p. 100).

No entanto, o intercâmbio cultural não pode ser entendido como um movimento necessariamente negativo entre as línguas e culturas. A presença de elementos do mundo estrangeiro no interior de uma língua e cultura deve enriquecer (e não emudecer) a língua e a cultura por meio do alargamento dos sentidos presentes

108 No campo do trabalho percebe-se a assunção de termos estrangeiros como feedback (resposta ou

retorno), call (ligação), meeting (reunião), breathing (introdução ou atualização de um tema) dentre outros. Essa tendência também se percebe no uso da palavra bow ao invés de tigela, cupcake (bolinho),

na língua materna e não pela desconstrução de certos campos semânticos. A convivência com o estrangeiro, seja por elementos culturais ou pela presença de pessoas que sejam oriundas de outra forma de sociabilidade, possibilita a mútua ampliação de sentidos de mundo – nesses encontros, cada um é estrangeiro ao mundo cultural do outro e todo o escambo de sentidos de mundo é frutífero às próprias formas de se enlaçar ao mundo da vida.

O forasteiro de uma forma de sociabilidade carrega elementos próprios de um mundo distante e do qual ele mesmo é representante. Essa pessoa carrega em seus referenciais de humores, gostos, hábitos e sentires, os modos de sua própria sociabilidade de origem. Como afirmado por Merleau-Ponty (2006a), nós não habitamos dois mundos ao mesmo tempo. Assim, o universo de outra cultura e língua nunca são plenamente absorvidos, como o são por aqueles que a vivem enquanto língua materna. Por isso, a compreensão do que é ser estrangeiro interessa a essas reflexões, uma vez que esse é mais um papel existencial que pode ser exercido – o de ser representante de uma cultura, ainda que se esteja habitando outra.

A experiência de ser estrangeiro trata da vivência de contato com uma comunidade linguística diferente daquela da qual o sujeito pertence. Uma ambígua vivência que considera um mundo próprio que não aquele habitado por nós, mas pertencentes àqueles que ali habitam e que são estrangeiros a nossa língua e cultura (LOHMAR, 1998). O mundo estrangeiro é dotado de uma forma própria de entrelaçamento com o mundo da vida, sendo munido de uma forma de sociabilidade e narrativa que lhes é própria; seus objetos culturais, hábitos e costumes podem mesmo frustrar aqueles que são oriundos de outras formas de culturais. Lohmar exemplifica essa frustração no seguinte exemplo:

Eu costumo esperar que as mulheres participem de todos os diálogos e das decisões cotidianas. Em uma família islâmica essa expectativa será frustrada, e, mais do que isso, essa expectativa é aniquilada pelo acordo tácito de todos os membros dessa família. Existem países em que eu posso me arrepender por expressar a vontade de estar sozinho. Aqui sou confrontado com um julgamento diferente daquilo que esperaria em minha própria comunidade.109 (LOHMAR, p. 216 – 7)

109 “I usually expect that women will participate in normal talk and everyday decisions. In an Islamic

family this expectation might be disappointed, and, even more, this expectation is nullified by the tacit agreement of all the members of the family. -There are countries in which I can immediately feel

Todos esses elementos falantes que se encontram em posse daqueles que habitam certa comunidade linguística, tornam a intersubjetividade possível por definirem os limites do visível e do invisível no encontro entre os habitantes de uma língua (LOHMAR, 1998). A vivência em uma cultura conduz a percepção do entorno segundo a onda significante presente no interior dessa forma de conhecer o mundo. O entendimento é tomado por essa razão de como é enlaçada a língua aos contornos percebidos do mundo. Para Le Breton, a visão (ou a percepção):

só apreende uma versão do acontecimento. O espaço é uma elaboração física ao mesmo tempo social e cultural. A apropriação visual do mundo é filtrada por aquilo que poderíamos denominar (...) uma “barreira de contato”, uma fronteira de sentido permanente recolocada em cena, um

containing, isto é, um capacitor, um monitor físico que filtra os dados a

ver e os interpreta de imediato. (p. 101)

Os sentidos presentes no mundo próprio se enlaçam ao “estoque visual” (ARHEIM, 1976, p. 101 apud LE BRETON, 2016, p. 98) ou perceptivo dos viventes de uma comunidade linguística. Trata-se de um movimento em que pessoas oriundas de culturas distintas e regiões diversas compreendem diferentemente o que está contemplado na percepção; isso é bem demonstrado na descrição de Carpenter ao notar que embora sua visão fosse perfeita, mesmo as crianças nativas da cultura Aiviliks possuíam mais facilidade em notar a presença de uma foca ou um golfinho a distância no gelo. Segundo o autor, isso não se dava pelos olhos dessas pessoas serem oticamente superiores, “mas suas observações são significativas para eles e que anos de educação inconsciente os treinaram nesse sentido” (CARPENTER, 1976, p. 26 apud LE BRETON, 2016, p. 98).

Segundo Lohmar,

o sentido cultural não é comunicado somente na articulação explicita, mas também de forma implícita. Por exemplo, quando nós falamos a respeito de uma floresta nos arredores, o sentido cultural da floresta existente é sempre implicitamente envolvido pelos caminhos de significação de nossa comunicação e comportamento. Falamos da floresta como um caminhar descompromissado, como uma mata sem valor, componente comercial ou como biótopo. Sem menção explicita da possibilidade indicada ou do contexto nós podemos tocar implicitamente

resentment if I say that I would like to be alone. Here I am confronted with a valuation that I could not expect in my own home-world.”

o significado do objeto mencionado. Primeiramente, nós encontramos o significado cultural nessa enigmática e implícita maneira de se comunicar. A comunicação implícita não é a sumamente interessada na informação explícita. O fato de que a comunicação implícita ocorre trivialmente e pelo frustrante fato de que o sentido cultural não pode ser explicitamente mencionado, mostra sua validade intersubjetiva110

(LOHMAR, p. 216).

A distinção do visível e do invisível, daquilo que é explicito e implícito, se encontra em dissonância ao se entrar em contato com o mundo estrangeiro, pois os objetos culturais de que nos servimos, todas as generalidades que esperamos no contato com os outros, são postos em uma condição de desencontro às expressões presentes nessa forma de sociabilidade. No interior do mundo próprio, “diante de si desenrola-se uma história evidente, um mundo já conhecido e do qual o indivíduo busca os sinais, abandonando os que fogem de seu reconhecimento” (LE BRETON, p. 98). Já no contato com o estrangeiro, a interpretação vigente de nossa percepção se confunde com os elementos de mundo que não lhe conduzem aos elementos perceptivos dos quais o sujeito tem posse.

Se transpormos esse entendimento ao encontro com mundo-vivido- estrangeiro, compreendemos reflexivamente que nossa expectativa concreta do sentido cultural é atada ao nosso mundo-vivido”111

(LOHMAR, p. 217).

É nesse sentido que Merleau-Ponty (1984) nos relembra a compreensão de Saussure de que “temos o sentimento de que nossa língua exprime totalmente” (p. 134) e a amplia em seguida: “mas não é nossa porque exprime totalmente, e sim cremos que exprime totalmente porque é nossa” (p. 134). A relação ambígua e a necessidade de interpretar o que é dito é o que torna a comunicação possível, pois sempre haverá um contexto implícito e o explicito aponta sua direção ao ouvinte

110“The cultural sense is not only communicated in explicit articulation but also in an implicit way. For

example, when we speak of a nearby woods then the cultural sense of this concrete woods is always implicitly involved in a meaningful way in our communication and behavior. We speak of the woods as a relaxation promenade, as a useless thicket, as a component of trade or as a biotope. Without explicitly mentioning the connected possible use and the context we are able to grasp implicitly the meaning of the object mentioned. First and foremost we encounter the cultural sense in this enigmatic, implicit form of communication. Implicit communication is not in the first instance interested in explicit information. In the fact that implicit communication trivially passes by and in the irritating fact that precisely the cultural sense does not have to be mentioned explicitly, it shows its intersubjective validity.”

111“If we transfer this insight to the encounter with a foreign home-world, then we reflexively comprehend

(MERLEAU-PONTY, 1984, 2006a). Cada gesto (e por consequência a palavra) expressa conforme elege os objetos culturais comuns dentro de um horizonte cultural e linguístico, esses elementos energizam a intenção que inicialmente é vazia, mas que se nutre dessas significações de mundo disponíveis.

A língua estrangeira se fundamenta em outra organização de mundo, cujas instâncias implícitas se escondem como nos jogos de linguagem que guardam as narrativas vividas na história de um grupo de amigos e que deixam as pessoas não participantes do grupo alheias ao contexto. A distância existente entre as formações das comunidades linguísticas funda modos que são próprios de sua historicidade e que a mera aquisição de termos não resolve a questão da comunicação. É preciso que as espessuras culturais sejam tocadas para que um estrangeiro possa se comunicar na língua alvo – esse fenômeno se mostra facilmente entre estudantes da língua inglesa que possuem relativa facilidade em se comunicar com pessoas da mesma comunidade linguística empregando a língua estrangeira, mas possuem dificuldade em tocar os sentidos pretendidos aos nativos dessa língua. A forma de se viver, os humores e os amores devem ser tateados para que o falante se aproprie dos modos de ser nessa cultura.

O processo de aproximação do mundo da língua estrangeira atravessa o desencontro dos contornos de mundo percebido, a proximidade entre as pessoas nas relações de amizade, as expressões de carinho, o jeito de se flertar com o outro, não são vividos de um mesmo modo. O mundo estrangeiro esconde, para além da epiderme das palavras, o contexto falante de sua onda significativa. A aquisição dos termos em um nível técnico não possibilita o diálogo fluído no idioma (muito por isso que as abordagens comunicativas de ensino de língua inglesa se ocupam mais com a fluidez do que com a precisão da fala). O alcance da expressão de sentidos na língua estrangeira sofre uma espécie de modelagem, pois os signos linguísticos desse horizonte rumam aos modos de como se dá a percepção de mundo na língua alvo.

Apesar dos desencontros existentes entre os sentidos de cada horizonte cultural constituído, ambas as constituições culturais – acima disso, todas as constituições culturais possíveis – são edificações realizadas no entrelaçamento das pessoas com o mundo da vida (MERLEAU-PONTY, 2006a). Por essa razão, podemos reconhecer o mundo vivido de outras comunidades linguísticas como um mundo próprio daquela forma de sociabilidade. Como consequência, podemos nos aproximar

das raízes intersubjetivas do que é ser no mundo e aprender sobre esse outro horizonte cultural (LOHMAR, 1998).

Cada cultura é dotada de um arco de intencionalidades que resume, naqueles que participam de sua constituição, todas as generalidades relativas aos elementos de constituem esse mundo (MERLEAU-PONTY, 2006a). A participação em uma forma de sociabilidade já implica a adesão aos sentidos de mundo presentes nessa formação cultural, contudo, o fato de nossa corporeidade estar encravada no mundo da vida, em nossa experiência fenomenal do sentido de existir, possibilita a nossa aproximação dos sentidos de mundo presentes no horizonte estrangeiro a partir de uma perspectiva mais fundamental.

Todos os seres humanos têm em comum o fato de que eles agem de acordo com necessidades básicas, como comer, beber, dormir, etc., isso é chamado por Husserl de “arco generativo” [das Urgenerative, Hua XV, p. 433 – 426]. Nós compreendemos essas ações por compartilhar uma mesma organização corporal. Acima disso, o agir livre de conflitos junto com seus gestos característicos de acordo, humor e seriedade, excitação e desapontamento vivido no cotidiano, provem as primeiras pistas para a compreensão do sentido cultural dos objetos no mundo estrangeiro. Antes de toda a comunicação por meio da linguagem, nós já compreendemos uns aos outros por meio dos movimentos corpóreos.112

(LOHMAR, p. 215)

A própria vivência de formação dentro de uma comunidade linguística, da posse de uma língua carregada de significações voltadas à expressão na sua comunidade nativa, facilita a ampliação dos sentidos vividos no contato com o mundo- estrangeiro. Para Le Breton,

se as percepções visuais (ou auditivas, olfativas, táteis ou gustativas) são marcadas pelo selo de uma pertença cultural própria à singularidade do indivíduo, elas jamais são imutáveis. O homem que se desloca de sua língua materna ou de sua cultura, que faz um intercâmbio com os outros,

112 “All human beings have in common the fact that they act according to regular needs like eating, drinking, sleeping, etc., which Husserl calls the "arc-generative" [das Urgenerative, Hua XV, 433-436]. We understand this kind of actions because we share the same organization of our body. In addition, the conflict-free acting in concert with its characteristic gestures of agreement, laughing and seriousness, excitement and unexcited passing of everyday actions, provide the first clues for understanding the cultural sense of objects in a foreign world. Prior to all communication in language

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