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A leitura em pé de guerra: um modelo polemológico

H ISTÓRIA E DISCURSO

I.1 História

II.1.4 A leitura em pé de guerra: um modelo polemológico

A constatação do valor não-nulo da materialidade do impresso revela uma nova série de relações de poder. A leitura passa a se parecer menos com uma forma de recepção de mensagens do que com uma espécie de combate em que o leitor, ao abrir o volume, se vê subitamente em terreno alheio, caminhando sobre as trilhas abertas por uma presença que habitou o espaço da página com suspeita antecedência. A leitura pode ser pensada, então, como um trabalho de localizar armadilhas e cada in-folio será um enigma em três dimensões, carregando consigo as marcas das mãos de muitos homens.

O livro sempre visou instaurar uma ordem; fosse a ordem de sua decifração, a ordem da qual ele deve ser compreendido ou, ainda, a ordem desejada pela autoridade que o encomendou ou permitiu a sua publicação. (Chartier, 1999b: 8)

Se outras disciplinas, como a própria análise do discurso, já se dedicavam a flagrar nas peripécias do autor o recursos de condução do público, a história da leitura chamará para o palco esta figura até então pouco notada: o editor. Este responde por um poder mais sutil que o do autor, visto que incide justamente no que vai às margens da atenção de quem lê. Ao lado

do autor, o editor ocupa este lugar privilegiado de onde pode preparar seus ardis sem ser visto pelo leitor e às vezes sequer pelo próprio autor. O impresso se mostra sob essa ótica como expressão material de uma relação de poder em que diversas posições se colocam em disputa.

Uma chave para a formalização desses conflitos é freqüentemente apontada em Michel de Certeau, que estabelece as bases de um modelo polemológico das apropriações culturais. A pedra de toque de tal modelo é a asserção da distância entre a produção de um objeto e seus usos efetivos: consumir não é um ato de submissão, mas uma prática de revolta silenciosa. A luta é desigual, e a vitória do usuário não é a aniquilação do oponente, a destruição do que lhe é imposto, mas sua apropriação, sua carnavalização, a arte tática do fazer com.

Falando de modo mais geral, uma maneira de utilizar sistemas impostos constitui a resistência à lei histórica de um estado de fato e a suas legitimações dogmáticas. Uma prática da ordem construída por outros redistribui-lhe o espaço. Ali ela cria ao menos um jogo, por manobras entre forças desiguais e por referências utópicas (...). Mil maneiras de jogar/desfazer o jogo do outro, ou seja, o espaço instituído por outros, caracterizam a atividade sutil, tenaz, resistente, de grupos que, por não ter um próprio, devem desembaraçar-se em uma rede de forças e de representações estabelecidas. Têm que ‘fazer com’. (1994: 79)

Dessa forma, de Certeau estabelece uma clivagem entre a produção de estratégias, que se dão a partir de lugares de poder e impõem objetos ou modelos, e as táticas do mais fraco, os fazeres ordinários que moldam a vida cotidiana conforme as oportunidades e a partir do que é recebido do outro como imposição.

Chamo de ‘estratégia’ o cálculo das relações de força que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder é isolável de um ‘ambiente’. Ela postula um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e portanto capaz de servir de base a uma gestão de suas relações com uma exterioridade distinta. (...)

Denomino, ao contrário, ‘tática’ um cálculo que não pode contar com um próprio, nem portanto com uma fronteira que distingue o outro como totalidade visível. A tática só tem por lugar o do outro. Ela aí se insinua, fragmentariamente, sem apreendê-lo por inteiro, sem poder retê-lo à distância. Ela não dispõe de base onde capitalizar os seus proveitos, preparar suas expansões e assegurar uma independência em face das circunstâncias. (ibid., p. 46-47)

A estratégia é da ordem espacial; a tática é da ordem temporal. A estratégia organiza topografias; a tática as percorre em zigue-zague. Com essa proposição, aliás, de Certeau favorece a aproximação que buscaremos levar adiante, no decurso deste capítulo, entre a

História e a Psicanálise. É que por trás do seu modelo militar ele mesmo sugere o vulto de uma atividade inconsciente tal como Freud a descreveu – esta presença que não se cansa de efetuar pequenas trocas, insinuar sentidos onde eles menos poderiam ser flagrados, compor sonhos e sintomas com a sucata de imagens do dia-a-dia. A Traumdeutung é dessa forma uma “máquina celibatária” e o inconsciente é o autor que escreve numa “língua sem terra e sem corpo, como todo o repertório de um exílio fatal ou de um êxodo impossível” (ibid., p. 243). Poder-se-ia pensar, por extensão, que as leis vigentes na vida onírica – o binômio condensação-deslocamento que Lacan (1966 [1998]b: 509-510) relê em metáfora-metonímia – legislam também sobre as apropriações ordinárias do dia-a-dia.

Um dos modelos da atividade tática propostos por de Certeau é a leitura. Com isso ele responde àquelas perspectivas que encaram o ato de ler como contraparte passiva de um procedimento supostamente ativo de escrita. Para Michel de Certeau essa concepção é antes de tudo resultado de uma pedagogia do escrito que instituiu o ensino simultâneo das habilidades de ler e escrever ao mesmo tempo em que fixou um valor e uma função para cada uma: “Escrever é produzir o texto; ler é recebê-lo de outrem sem marcar aí o seu lugar, sem refazê-lo” (ibid., p. 264). Seguindo uma orientação semelhante, outros pesquisadores vêm se debruçando sobre a leitura conforme os moldes de um modelo polemológico. Assim afirmam, por exemplo, A.-M. Chartier e Hébrard:

[A] subversão da oposição entre produção e consumo faz do ato de leitura o paradigma da atividade tática. O leitor caça em terras alheias, demarca com os olhos, com o dedo, com o franzir das sobrancelhas, com o sorriso, seus caminhos em busca de sentido. Sob a contingência, sem dúvida, e no espaço próprio do texto, ele elabora – como quer ou como pode – sua leitura do texto: um novo texto. Existem assim estilos de leitura, como existem estilos de lazer e de conversação. (1998: 33)

Mas há que examinar esta batalha mais de perto. Primeiro ponto: não crer na existência de estratégias puras, personificadas nos corpos daqueles que a representam. Uma forma de operar a chave leitura-escrita parte do pressuposto de que as estratégias do impresso constituem um conjunto de expedientes consciente e voluntariamente acionados por um autor ou editor. Sob essa perspectiva, corre-se o risco de vislumbrar na ponta distante das rédeas da estratégia um par de figuras tirânicas exercendo sobre o leitor alguma espécie de autoridade senhoral. Embora a metáfora tenha sua margem de aplicabilidade, no limite ela pode levar à idéia de que há um grau zero da leitura, uma “mensagem” cuja compreensão seria o objetivo

último do leitor, a quem caberia esquivar-se dos artifícios de autores e editores para obscurecê-la.

O que há de estratégico no poder não é apenas o fato de que dê a alguns as condições de fazer circular seus textos, expondo os demais à sua leitura, mas também o fato de que faça esses próprios autores e editores se reconhecerem nos textos que lhes levam o nome. O fato de acreditar-se como ponto emanador dos sentidos de seu texto é também uma forma de submissão – ponto que já foi bastante explorado na Análise do Discurso. Daí decorre que o estudo do impresso não se ocupa somente de um território dominado pelo outro-autor ou outro-editor, por ele armado e conhecido, mas também de um território imposto ao autor e ao editor, a eles alheio e em alguma medida estranho.

Deveremos assumir então que o impresso traz, além das marcas de um trabalho consciente de emolduração do leitor, também as marcas de outros processos inconscientes que têm força considerável na moldagem de sua produção. A estratégia não é o exército dos literatos, mas os usa como anteparo. O poder que é a posse dos maquinários, a posse das ligações com os nomes influentes, ou a posse das habilidades e dons da escrita – digamos, um capital econômico, um capital social e um capital intelectual, se quisermos nos valer dos termos de Bourdieu (1998a, passim) – este não é o poder propriamente dito, mas o precipitado decorrente de uma forma de execução das suas leis. O poder estratégico não é um poder instrumental, resultado da conquista de alguns lugares de vantagem ou privilégio; é a lei que, antes disso, organiza essas vantagens e privilégios dentro do corpo vivo de uma população. “Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros de outro (...)” (Foucault, 1979: 75). O autor caminha sobre esta corda bamba, na eterna iminência de reproduzir as palavras do seu ancestral que com isso o suborna e o faz artífice de sua própria manutenção.

Essa perspectiva não serve para fechar todas as portas, mas para abrir possibilidade de um estudo das ações táticas do próprio autor. Eis o segundo ponto: em certo sentido é possível pensar que o estilo, o tom, a cor que marcam a personalidade de algumas obras seja vestígio de uma atividade de apropriação. Talvez em tempos nos quais a escrita há muito deixou de ser exclusivamente segredo iniciático de uma casta social, a posse dos meios de produção da escrita – a folha em branco e o lápis – não são garantia de um lugar próprio. Também se movimenta pelo terreno do outro este autor moderno que encerra suas obras no segredo da gaveta ou as exibe em páginas da internet (e alguns de fato chegam às prateleiras). Numa sociedade que coage à palavra, e especialmente à palavra escrita, escrever é também uma forma de obediência, trilha pelo mundo já exaustivamente esquadrinhado da letra.

Há, portanto, uma forma de escrever que é produzida pela própria disseminação do ensino da escrita, à qual corresponde um escritor que, longe de armar espaços próprios, percorre a letra ao longo das latitudes temporais. É uma forma de escrita sem estoque, sem registro, sem grandes chances de produzir um saber. Uma escrita extemporânea, da ocasião, que brota aqui e acolá conforme seja solicitada apenas para preencher uma urgência. O exemplo lapidar é aquela redação do aluno que não domina bem a escrita culta, mas produz pequenas peças escolares em que a imita como sabe, sem contudo achar os meios de capitalizar sua produção dia após dia. Mesmo ao fim de anos este escritor não disporá de uma memória de escrita, mas apenas de um arquivo morto de folhas jogadas umas sobre as outras, insuficientes para conferir-lhe o trânsito pelas esferas da letra prometidas pela escola. A análise por vezes mostra como nesses textos podem-se vislumbrar indícios de uma rebeldia que certas formas de ensino aos poucos se encarregam de suprimir33: a voz de um sujeito que, por conta do ensino da escrita, desiste da escrita como lugar habitável, refugiando-se nesses pequenos acidentes que a linguagem nos reserva no cotidiano. Como considerar tal forma de escrita estratégica? Estratégica é, antes, a ação que determina a escrita como esse lugar a ser habitado, mesmo que à força, e que dá margem, justamente por isso, a mil artes de habitá-la, mil maneiras de fazer dela usos inesperados.

Restaria-nos a necessidade de demarcar a margem incerta que separa uma escrita efetivamente estratégica das formas táticas de escrever. Sobre este ponto, as considerações de Riolfi (2003) acerca do que ela chama de trabalho de escrita nos fazem lembrar que, se há formas de escrever vinculadas unicamente à repetição, uma ruptura total com os parâmetros de uma tradição não levaria jamais à originalidade autoral mas se tanto à palavra do louco. Para Riolfi, uma escrita original é sempre o resultado de uma indústria específica que ela descreve como

(...) um trabalho de ocultação, através do qual a matéria bruta fica ocultada por uma ficção textual (narrativa ou argumentativa). Estou chamando de ficção textual o processo através do qual um escritor, ao mesmo tempo que ficcionaliza para terceiros o percurso de seu pensamento pregresso ao texto,

33 Este é, ao menos, a análise que faz Geraldi a partir da comparação entre dois textos em “Escrita, uso da escrita

e avaliação” (in: Geraldi, 2004). O primeiro texto não traz nenhum problema ortográfico, mas consiste em uma lista de frases sem outra conexão clara entre si que o paralelismo estrutural: todas são iniciadas por “A casa é...”. O segundo texto traz erros ortográficos de todo tipo, inúmeros problemas de segmentação e nenhuma pontuação, mas, diferentemente do primeiro, narra um episódio inteligível sobre uma epidemia de piolhos. Geraldi considera que o primeiro texto se constitui meramente pelo “preenchimento de um arcabouço ou um esquema” (p. 129), ao passo que o autor do segundo texto, a despeito dos erros, “usa a modalidade escrita para contar uma história” e “insiste em dizer sua palavra” (p.130), recusando-se a calar onde a primeira criança o aceita.

consegue, através deste esforço, recuperar para si próprio o inatingível processo de enunciação. (2003: 50)

Não cabe discutir esta questão a fundo aqui, mas em todo caso a noção pode nos ser de alguma valia. O trabalho da escrita reside em o sujeito poder ler no que escreveu algo diverso do que pensara ter escrito, ganhando aí a chance de ultrapassar-se e pôr em jogo o desconhecido no próprio conhecimento. Este parece um caminho para que o sujeito conquiste a patente de autor. Veremos que na história dos role-playing games esse trajeto parece ter sido percorrido algumas vezes por jogadores que conseguiram publicar títulos de certa proeminência, e se refaz constantemente, ao menos em ensaio, na produção anônima dos mestres manuscreventes. Será do nosso interesse pensar no surgimento de obras peculiares como O Desafio dos Bandeirantes, Vampiro: a Máscara, Arkanun e O Resgate de “Retirantes” como registro do andar de uma leitura que é ao mesmo tempo trabalho de escrita e não como mero advento de inventividade individual.

Por outro lado – será a leitura sempre tática? A existência de uma escrita sem “próprio” indica a possibilidade de uma estranha inversão, impensável ao lector medieval que bebia nas fontes de uma auctoritas vetusta: um leitor que, com sua força, reorganiza o próprio texto que lê, tirando-o de um modesto anonimato para alçá-lo a uma nova ordem, mas às custas de sua desapropriação. Este é o modelo de leitura da Psicanálise, que através do jovem Freud, confisca o discurso da histérica e faz dele seu próprio, forjando a teoria que fará circular seu nome pelo mundo – como veremos logo adiante, no item I.2.2. Por ora basta ver que uma série de nuanças atravanca a bipartição usual entre impresso-estratégia e leitura- tática. Seria preciso levar em conta pelo menos duas coisas:

1. Há uma leitura estratégica, capaz de fazer do texto do outro objeto seu. Tome-se, por exemplo, a possibilidade de que um leitor abandone a revista que vinha lendo desde o primeiro número, desiludido com alguma mudança editorial ou simplesmente cansado do estilo da publicação. Esse gesto de descarte pode ser sinal de um movimento de produção: o leitor que até então se envergava sob o imperativo da reincidência súbito perde o interesse, cancela sua assinatura, deixa de comprar livros de um certo autor ou sobre certo assunto. É possível que dali a algum tempo esteja lendo outras coisas, ou escrevendo suas próprias obras – mesmo que no silêncio do anonimato. Este leitor, ao que tudo indica, apropriou-se de um discurso, de tal forma que o acesso aos objetos em que este se presentificava não é mais tão

necessário quanto antes, pois o discurso está incorporado – feito corpo. Na passagem de um lugar ao outro ocorre, ao que parece, um trabalho de escrita34.

Tal parece ser, também, um dos modelos da leitura científica ou universitária. Espera- se que o pesquisador, tomado como leitor das obras de relevo na sua área, delas se aproprie de maneira estratégica, percebendo-as como constructo de um enunciador muitas vezes afastado no tempo e no espaço, apropriando-se delas ao mesmo tempo em que as desmonta e refaz. As ciências da linguagem aos poucos incorporaram essa forma de ler, a uma só vez construindo e validando tal forma de relação com o texto. Trata-se de uma leitura capaz de fazer das palavras alheias um território próprio, confiscando-as ao autor e ao editor e produzindo a partir delas algo como o comentário de que fala Foucault (1970 [2003]: 21 e ss.). Toda análise de cunho literário, textual, lingüístico ou discursivo que faça do texto ou do impresso objeto de conhecimento, de desfrute, de ponderação, enquadra-se aqui. O texto alheio é refeito em si mesmo, redividido, repartido, ressignificado, transformado em outra coisa. Tal confisco só é possível porque está sustentado em outros discursos. Há um terreno farto de exemplos à nossa disposição – basta tomar o caso das Sagradas Escrituras que, ao longo desta era, tiveram seus sentidos confiscados por leitores tão diferentes quanto Lutero, Kardec e Mark Rein Hagen35.

2. Há uma escrita tática, para qual a possibilidade de estoque de saber oferecida pela superfície de impressão (o papel, a tela) não consegue se fazer aproveitar. É uma forma de escrever que, incapaz de enlaçar o leitor, porque não consegue romper sua servidão ao tempo, perde-se no abismo do imediato presente e jamais consegue reclamar seu território no espaço da folha. Essa forma de escrita, pelas razões explicitadas acima, não parece jamais ganhar momentum. O advento da informática, ao que parece, vem permitindo que esse tipo de escrito ganhe publicidade e circule de maneira nunca antes experimentada, alçando um infinito de textos aos domínios da internet, mas por estranha ironia o mesmo veículo que os leva ao redor do mundo é também seu ponto de fraqueza, pois o texto eletrônico não sustém senão uma autoria frouxa e uma materialidade evanescente, fugindo à percepção com o desligar de uma chave. O mesmo talvez seja o caso dos manuscritos e mesmo dos impressos que não chegam a fazer mais do que reproduzir modelos organizados em outro lugar que não na escrita daquele que os assina, colocando em circulação uma cascata de papel cujo destino pode não ser muito melhor que o de uns bits eletrônicos.

34 Mas é verdade que isto implica levar em consideração uma noção de “letra” como a de Lacan. Chegaremos a

este ponto em breve, no item I.2.2.

35 Sobre isto, ver a questão do surgimento de símbolos religiosos e paródias bíblicas em livros de RPG. Ao que

Ao fim e ao cabo, pensar a leitura desde um viés histórico propõe uma série de questões relacionadas ao sentido e à linguagem. Como os leitores deste e de outros tempos vêm conferindo significado a um texto no íntimo dos seus quartos ou no círculo estreito de suas amizades? Como ter acesso a esses sentidos que parecem nunca chegar a se imprimir sobre qualquer superfície material? Ou talvez melhor – qual é a superfície, o suporte no qual saberíamos ler as marcas desses sentidos produzidos por uma leitura? Além disso, de que forma o trabalho de editores, impressores, distribuidores, livreiros e outros profissionais pode determinar não apenas a configuração final do objeto que porta um determinado texto, mas também a acessibilidade a esse texto e, portanto, as condições de sua leitura em uma dada época e lugar?

Os Capítulos II e III estão alicerçados preponderantemente nas considerações que fizemos até aqui. Lá descreverei os impressos de RPG, as práticas de leitura e os regimes de circulação que os afetam. Antes de passar a isso, no entanto, será preciso acrescentar alguns apontamentos que também norteiam as análises deste trabalho e preenchem o intervalo da ausência de um conceito formal de discurso no trabalho do historiador. Os dois itens seguintes dedicam-se a isso, tratando especificamente do problema do poder e, em seguida, do sujeito.

I.2 Discurso

O modo como a História aborda o fenômeno da leitura requer que se considere