• Nenhum resultado encontrado

A LITERATURA ENSINA O DIREITO

No documento http://www.conpdl.com.br/anais5conpdl (páginas 123-130)

POR UM “DIREITO LITERÁRIO”

A LITERATURA ENSINA O DIREITO

A refl exão que se traçou até aqui sobre as potencialidades da escrita e da literatura, faz-nos pensar as lições que o fazer literário pode oferecer ao campo do direito. A ponte nos surgiu concreta- mente no seguinte trecho de uma frase de Deleuze (1997): “fi nalidade da literatura: é a passagem da vida na linguagem que constitui as Ideias” (p. 16).

O direito moderno só é moderno porque também é direito escrito. O uso da escrita para a inscrição de normas jurídica é antigo, mas é na modernidade que chega em sua mais alta escala. A lei racional é a lei racionalmente produzida e escrita. O processo de codifi cação do direito é selado por Napoleão, e, a partir de então, direito é o que está no código.

Assim, se a literatura faz passar a vida na linguagem por meio da escrita, o direito também o faz, isto é, faz passar a vida na linguagem, mas para estabelecer normas conduta. Legisladores são, nessa perspectiva, escritores que podem ou não estar escrevendo em “nome de um povo que falta”. Ou, o que também ocorrer, podem estar escrevendo normas apenas em benefício de um determinado povo, enquanto deveriam estar na obra de uma enunciação coletiva. E o curioso é que atividade legislativa nos Estados modernos por si só revela esse caráter de “um povo que falta”, na medida em que os legisladores estão no parlamento, justamente, como representantes, ou seja, para representar um povo que ali não está. Essa aproximação coloca em voga questões que tanto a literatura quanto o direito enfrentam. Questões como as que colocam Deleuze e Guatarri (1977), ao pensarem a urgência política de uma lite- ratura menor, para aqueles que vivem em terras estranhas:

Quantas pessoas hoje vivem em uma língua que não é a delas? Ou então nem mesmo conhecem mais a delas, ou ainda não a conhecem, e conhecem mal a língua maior da qual são obrigadas a se servir? Problema dos imigrados, e sobretudo de seus fi lhos. Problema das minorias. Problemas de uma literatura menor, mas também para todos nós: como arrancar a própria língua em uma

124

literatura menor, capaz de escavar a linguagem e de fazê-la seguir por uma linha revolucionária sóbria? Como tornar-se o nômade e o imigrado e o cigano de sua própria língua? (p. 30) Desse mesmo modo podemos perguntar: quantos hoje vivem sob uma linguagem jurídica ou sob um direito que não é o seu? Ou um direito que nem mesmo conhecem ou conhecem mal, apesar de serem obrigados a servir? “Problema das minorias.” Problemas de uma literatura menor, mas também problemas do direito: como escavar a linguagem jurídica e fazer o direito seguir por uma linha revolu- cionária sóbria? Como tornar o direito nômade, instrumento ressonante dos vários territórios, ou dos desterritorializados?

Esse desafi o da tarefa jurídica é o que atrai a urgência de uma aprendizagem a partir da litera- tura, e sobretudo uma literatura menor.

Não há direito sensível a alteridades e diferenças, sem legisladores e juristas que não se deixem afetar pelas marcas que nos faz outros no mundo invisível, no mundo da ordem do afeto. Sem a sensibi- lidade que faz criar novas esculturas para novas possibilidades de ser, o fazer jurídico se repete enquanto reprodução e conservação do que já estado dado. Sendo assim, quase sempre, tende ao recrudescimento, ao reacionário, e, assim, à exclusão do que se apresenta como diferença.

Precisamos, assim, de um direito com a consciência literária de que estamos tratando aqui. Um direito que assuma sua função de não se dizer a partir de um “Eu”. Um direito que se preocupe em escrever, legislar, por aquele “povo que falta”. Que deixe nascer um terceiro dentro de nós (não apenas “o meu direito”), e que carregue o compromisso ético/estético/político de dar lugar ao devir que pede passagem no tempo: devir-mulher, devir-negro, devir-afro, devir-homossexual, devir-transexual, devir- -periferia, devir-pobre, devir-fl oresta, devir-índio, devir-animal, etc.

Necessitamos, assim, do que vamos chamar de “um direito literário”. Não um direito como litera- tura, a exemplo do que o teórico americano Ronald Dworkin (2007) propôs em sua metáfora do “romance em cadeias”, o qual acabou se afastando da literatura ao realçar, em sacrifício de uma potência criativa, uma caraterística pela qual a literatura não se defi ne enquanto tal: a coerência.

Mas também não é, ao contrário e por óbvio, uma literatura como direito. Enfatiza-se, portanto, aqui, para marcar essas diferenças, a ideia conceitual de um “direito literário”. Direito que seja direito, mas ao mesmo tempo literário. Nem somente um, nem inteiramente o outro. Nem analogia, nem dialé- tica, mas devir um e outro em movimento7.

Um direito assim é um direito que assume inteiramente o seu caráter fi ccional, enquanto é intei- ramente também real. E, por esse seu caráter fi ccional-real, sabe-se somente enquanto formulador de narrativas, que escreve apenas uma ou algumas das múltiplas narrativas possíveis. Não coloca a questão jurídica em termos de verdade. Tudo é narrativa, tudo é roteiro, nada é inevitável, tudo pode ser revisto em nome da multiplicidade da vida.

7 Homenagem a Viveiros de Castro (2015), sobre o devir de Deleuze e Guatarri: “Se as semelhanças seriais são imaginárias e as

correlações estruturais, simbólicas, os devires são, então, reais. Nem metáfora, nem metamorfose, um devir é um movimento que desterritorializa ambos os termos da relação que ele cria, extraindo-os das relações que os defi niam para associá-los através de uma nova ‘conexão parcial’, para falarmos como Strathern” (p. 184).

125 Um direito literário pode ser pensado como aquele “direito” concebido no movimento antropo- fágico, do qual Oswald de Andrade fala no início do “Manifesto Antropófago”, quando diz que a antro- pofagia é a “única lei do mundo”, e que: “só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago” (citado em Nodari, 2011, p. 125).

Interessante é que o “Direito Antropofágico”, expressão que aparece em edições da “Revista de Antropofagia”, segundo nos noticia Nodari (2011), tem seu principal mote na frase: “a posse contra a propriedade.”8 Essa frase é uma chave para denunciar o caráter fi ccional do direito. Baseava-se na explicação jurídica do instituto da posse, contexto em que sobressaia a fi gura do jurista Pontes de Miranda, adepto por longo período ao manifesto antropofágico. Conforme sintetiza Nodari (2011), para a tradição jurídica: Aquele que tem posse estaria num “estado de fato”, não-jurídico, em que teria o poder de agir como se fosse proprietário. Para defi nir a posse, Pontes de Miranda não tem outra opção a não ser enquadrá-la como um estado de fato cujas características remetem ao Direito. A posse é um fato, mas um fato particular, já que só pode ser defi nida a partir de um direito: “um poder como o que exerceria quem fosse proprietário”, ou seja, uma fi cção. (p. 136)

Assim, sendo a posse um conceito doutrinário defi nido como o estado de fato daquele que age “como se proprietário fosse”, ou seja, sendo a posse algo “como se fosse”, sendo, portanto, uma fi cção, muito mais o é a ideia de um direito de propriedade. Nesse sentido, fi ccional, portanto, é o próprio direito. Conforme escreve Nodari (2011), no Direito Antropofágico,

As potências fi ccionais do Direito – o ponto de contato entre Direito e Literatura – são erigidas contra o próprio Direito, contra a lógica da subsunção e da coisa julgada. Nas palavras de Silviano Santiago, o que o Direito Antropofágico mostra é que as “As escrituras falsas são” (SANTIAGO, 1989) – não só os textos literários, mas as escrituras públicas, por assim dizer. (pp. 137-138, grifo nosso)

Essa é a toada de um direito literário. Todavia, o que se quer enfatizar não é o caráter fi ccional puro e simples, e com isso uma suposta falsidade das “escrituras” jurídicas. Busca-se, pelo contrário, ativar o caráter criacional da literatura também no direito, pois, um direito que nesse sentido se sabe literário é um direito que está pronto para criar. Pronto, portanto, para equilibrar a certeza da reprodução com a necessidade constante de criação de novos corpos e modos de ser. Menos conservação. Mais possibilidade. Não se trata, portanto, de um direito sem rigor, assim como uma literatura menor não deixa de ser, a rigor, literatura. Um direito com consciência literária é, antes, aquele que, assim como a escavação da língua estrangeira (menor) na língua maior não signifi ca algo fora da linguagem, mas o seu fora (Deleuze, 1997), também não está situado fora do direito, mas é o seu fora, o seu devir, seu movimento-criação.

8 Complementa Nodari (2011): “A fórmula era enunciada exatamente como a “pedra do Direito Antropofágico”, ainda que

geralmente fosse acompanhada de negações da esfera jurídica, tais como: “Nenhuma convenção social”, “Toda legislação é perigosa”, ou então, “Ora, o que para mim, estraga o Ocidente, é a placenta jurídica em que se envolve o homem desde o ato de amor que, aliás, nada tem que ver com a concepção” (p. 135).

126

É o que se chama a atenção neste trabalho. Um fazer jurídico consciente de sua “potencialidade literária”, ou seja, consciente de que sua função é inscrever em normas textuais devires de seus desti- natários, e que, assim, imbuído dessa consciência pode manifestar o uso da inteligência a serviço da diversidade de outros modos de ser, e não como instrumento bloqueador de diferenças.

CONCLUSÃO

O presente trabalho, a partir de uma leitura esquizoanalítica, buscou abordar como a compre- ensão de que nossa existência é atravessada por uma dimensão invisível, na qual estamos sujeitos a fl uxos sensíveis que nos afeta e nos divide em nós mesmos, tem um papel crucial na atividade da escrita e, consequentemente, na literatura. Esse foi o trajeto percorrido para que, em seguida, fossem feitas refl exões sobre como tais compreensões podem ensinar o direito.

Foi dito, a partir do pensamento de Suely Rolnik (1993), que uma vez atravessados pelos refe- ridos fl uxos sensíveis, nosso plano de consistência se desestabiliza, o que nos coloca duas alternativas: a repressão, ou a saída de criarmos um novo corpo no que concerne ao modo de existir, sentir, pensar, agir, etc. E, quando isso acontece, instaura-se em nós a gênese de um devir, e esse devir é um “devir- -outro”, porque sempre se constitui como diferença.

Diante disso, foi colocado como a escrita se apresenta como uma das tarefas de se traçar esses devires. Assim, afi rmamos, com Deleuze (1997), que, ao escrever, estamos num processo de constante devir: devir-mulher, num devir-animal ou vegetal, num devir-molécula, ou até num devir-imperceptível. Neste ponto, introduziu-se o tema da literatura, pois ela é o lugar por excelência em que a escrita se faz carregada de multiplicidades. Assim, recorreu-se a Deleuze (1997), para quem a literatura começa ao nascer em nós um terceiro que nos destitui do poder de dizer somente a partir de um “Eu”. A literatura se mostra como “agenciamento coletivo de enunciação”, que tem como um de seus fi ns “escrever por um povo que falta” (Deleuze, 1997), ou seja, dar narrativa àquele que se apresenta como um povo menor, como aqueles não contados nas prosas ofi ciais.

A partir disso, conclui-se com refl exões sobre a aproximação entre a literatura e o direito, e como essa proximidade faz-nos pensar o papel da tarefa jurídica em nossa sociedade. Defendeu-se, assim, a idéia de um direito que chamamos de “direito literário”. Direito que seja direito, mas ao mesmo tempo literário. Nem somente um, nem inteiramente o outro. Nem analogia, nem dialética, mas devir.

Trata-se de um direito que assuma inteiramente o seu caráter fi ccional, enquanto é inteiramente também real. E, sendo assim, sabe-se enquanto formulador de narrativas que escreve apenas uma ou algumas das múltiplas narrativas possíveis. Desse modo, não coloca a questão jurídica em termos de verdade, pois entende que tudo é narrativa, tudo é roteiro, nada é inevitável, tudo pode ser revisto em nome da multiplicidade da vida.

Idealizou-se, portanto, neste trabalho, um direito que se sabe literário (fi ccional) e que, por isso, está pronto para criar. Pronto para equilibrar a certeza da reprodução com a necessidade constante da criação, em nome de novas esculturas de ser no tempo. Menos, portanto, conservação, mais possibilidade.

127

REFERÊNCIAS

Castro, E.V. (2015). Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify. Deleuze, G. (1997). Crítica e clínica. (P.P. Pelbart, Trad.). São Paulo: Ed. 34.

Deleuze, G., & Guatarri, F. (1977). Kafka: Por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago. Deleuze, G., & Guatarri, F. (2011). O anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo: Ed. 34. Dworkin, R. (2007). O império do direito. (2a ed.). São Paulo: Martins Fontes.

Gil, J. (s.d.) Fernando Pessoa ou a metafísica das sensações. (M.S. Pereira, & A.L, Faria, Trad.). Lisboa: Relógio d’Água. Guattarri, F. (1985) Revolução Molecular: Pulsações políticas do desejo. (S.B. Rolnik, Trad.). São Paulo: Brasiliense.

Lança, J.A.A., & Pereira, F.S.M. (2015). A linguagem estética como dano político em Jacques Rancière. In Direito, arte e

literatura (pp. 169-193). Florianópolis: CONPEDI.

Nodari, A. (2011). Lei do Homem. Lei do Antropófago: o Direito Antropofágico como Direito sonâmbulo. In L.C.C. Olivo (Org.).

Anais [do] I Simpósio de Direito e Literatura (pp. 125-145). Florianópolis: Fundação Boiteux.

Rancière, Jacques. (1996) O desentendimento: política e fi losofi a. Paris: Editora 34.

Rolnik, S.B. (1993). Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico. Cadernos de

128 128 128 12 128 1 128

PERSPECTIVA DE

GÊNERO NO SISTEMA

INTERAMERICANO

A PARTIR DO CASO

CAMPO ALGODOEIRO

Autora: Luíza Drummond Veado

Advogada formada pela Faculdade de Direito Milton Campos, mestranda da University of Essex..

RESUMO

O presente trabalho visa demonstrar o desenvolvimento da Corte Interamericana, e do Sistema Interamericano como um todo, relacionado à condena de Estados por serem responsáveis por violência de gênero contra mulheres. Assim, além de tratar das especifi cidades, os fatos e desenvolvimento do caso Campo Algodoeiro e sua respectiva sentença, o presente trabalho também analisa as sentenças posteriores emitidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, chegando até o caso Véliz Franco, para demonstrar o desenvolvimento no continente da temática da violência de gênero contra mulheres. Por tratar-se de um Sistema regional de proteção aos Direitos Humanos, o Sistema traz em suas divisões, análises de características específi cas relacionadas à questão de gênero existentes na América Latina e no Caribe.

Palavras-chave: feminicídio, violência de gênero, Sistema Interamericano de Direitos Humanos, Campo Algodoeiro.

ABSTRACT

This study aims to demonstrate the development of the Inter-American Court and the Inter- American System as a whole, related to helding States responsible for gender-based violence against women. So in addition to dealing with the specifi cs, the facts and the development of case “cotton fi eld” and their respective judgment, this paper also analyzes the later judgments issued by the Inter- American Court of Human Rights, to the case Valeiz Franco, to demonstrate the development of the theme of the continent of gender violence against women. Because it is a regional system of protection of Human Rights, the system brings in its devisões, analysis of specifi c characteristics related to the issue of existing gender in Latin America and the Caribbean.

129

A violência de gênero contra a mulher é um fato recorrente ainda existente nas sociedades atuais. Violência contra a mulher, dentro do Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos pode ser defi nida como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofri- mento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado” (Organização dos Estados Americanos, 1994, art. 1).

Em relação à análise de casos sobre violência contra a mulher peticionados no Sistema Interame- ricano, muito se fala sobre a resolução feita pela Comissão Interamericana na qual constatava violações de direitos humanos realizadas pelo Estado brasileiro no caso Maria da Penha Maia Fernandes (Comissão Interamericana de Direitos Humanos, 2001).

É inegável a importância de referido caso para o desenvolvimento dos direitos das mulheres no continente americano, por tratar-se de caso paradigmático da aplicação da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará (Organização dos Estados Americanos, 1994). Entretanto, é importante relembrar que existem casos que foram levados à Corte Interamericana e trouxeram consigo sentenças de execução obrigatória que abordam a importância da proteção da mulher e desenvolvem não apenas a jurisprudência da região, como a criação de novas políticas públicas para o fi m da discriminação e violência contra a mulher.

No ano de 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma sentença condenatória contra o Estado mexicano sobre o caso de três vítimas mulheres que foram assassinadas, e tiveram seus corpos encontrados em um campo algodoeiro na cidade de Juárez.

Tal crime ocorreu em novembro de 2001 e foi concebido como parte de um contexto generali- zado de violência contra a mulher por questão de gênero na região. A decisão da Corte Interamericana neste caso, de nome González et al vs. México, também conhecido como caso do “Campo Algodoeiro”, é paradigmática por tratar-se da primeira vez em que foi emitida uma sentença internacional em que se reconhece o termo “feminicídio”, referindo-se a violência generalizada contra mulheres especifi camente por seu gênero (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2009).

No ano seguinte, em 2010, a Corte Interamericana condena novamente o Estado mexicano no caso Fernández Ortega e outros vs. México. Novamente, trata-se de caso de violência contra a mulher, ao se julgar o caso da senhora Inés Fernández Ortega, uma mulher indígena, pertencente ao grupo indí- gena Me’paa, que se localiza na região mexicana de Guerrero, que foi violentada e agredida por militares dentro de sua própria casa, diante de seus próprios fi lhos.

Os fatos do caso ocorreram no ano de 2002, quando a região se encontrava em um importante contexto de forte presença militar motivada para a contenção do crime organizado em Guerrero. Um grupo militar invadiu a casa da senhora Fernández Ortega buscando informações e um deles, através

130 de coerção, a estupra. Apesar de ter recorrido ao poder judicial, o caso foi levado ao foro militar e a vítima nunca teve nenhuma resposta, nem mesmo sobre a investigação do caso (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2010).

Outro caso analisado no presente trabalho trata-se do caso Veliz Franco e outros vs. Guatemala. Os fatos deste caso ocorreram em 2001, em um contexto de aumento de violência contra mulheres na Guatemala no qual a existência de homicídios por razões de gênero não era excepcional.

María Isabel Franco Sandoval desapareceu em dezembro de 2001, e sua mãe, a senhora Rosa Elvira Franco Sandoval, fez uma denúncia de seu desaparecimento à polícia nacional. O corpo de María Isabel foi encontrado no dia seguinte mas as investigações realizadas pelas autoridades guatemaltecas tardaram excessivamente e tendo algumas nem mesmo chegado a ocorrer (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2014).

Estes três casos paradigmáticos sentenciados pela Corte Interamericana demonstram que há uma perpetuação da violência de gênero e que a proteção dos direitos das mulheres é em si mesma a proteção dos direitos humanos. Desta maneira, o presente trabalho pretende analisar as decisões de referidos casos e demonstrar como as mulheres ainda se encontram em uma situação de categoria vulnerável e necessitam uma proteção maior por parte do Estado.

No documento http://www.conpdl.com.br/anais5conpdl (páginas 123-130)

Documentos relacionados