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A matéria narrativa: dos poemas ao Tristan en Prose

XLVII-LIV.

1.3. O Tristan en Prose

1.3.1. A matéria narrativa: dos poemas ao Tristan en Prose

As referências à paixão infeliz de Tristão e Iseu são tão numerosas na literatura medieval e estendem-se a um tão vasto e variado leque de obras e géneros que ninguém duvida de que se trata de um autêntico mito cujo «potencial estruturante»97 no

imaginário medieval (e provavelmente não apenas no imaginário da nobreza) só será comparável a outro mito - o do Graal. Os mais antigos testemunhos escritos da tradição tristaniana são poemas franceses do século XII. Têm em comum o facto de se encontrarem representados num número muito reduzido de manuscritos fragmentários e limitados ao domínio normando e anglo-normando, o que poderá indiciar que foram rapidamente suplantados devido ao enorme sucesso da tradição em prosa. Dos sete textos franceses em verso, cinco são simples cenas que relatam encontros furtivos entre Tristão e Iseu: segundo um modelo cuja difusão oral teria provavelmente antecedido a passagem à escrita, os encontros dos amantes e os diálogos que eles trocavam são um pretexto para rememorar os momentos-chave da sua história.98

Quanto aos dois romances que relatam a história dos amantes desde um momento anterior ao nascimento do amor até à trágica morte de ambos, existem apenas, em francês, em versões incompletas. O Roman de Tristan de Béroul" é representado por um único manuscrito muito lacunar que remonta a c. 1180. É a versão dita «comum»

Cf. M. R. Ferreira, «A sombra de Tristão: Do potencial estruturante da Matéria de Bretanha na mundivisão aristocrática do Portugal medieval», in Matéria de Bretanha em PortugaLActas do

colóquio realizado em Lisboa nos dias 8 e 9 de Novembro de 2001, coord. L. Curado Neves, M.

Madureira e T. Amado, Lisboa, Colibri. 2002. pp. 159-175.

'8 Trata-se da Folie de Oxford, da Folie de Berna, do Lai de Chievrefoil de Marie de France e de duas

narrativas encaixadas, correspondentes aos vv. 453-674 do Donnei des Amants (poema anglo- normando do séc. XII) e aos w. 3309-4832 da Continuation de Perceval de Gerbert de Montreuil (de c. 1230). Cf. Tristan et Iseut. Les poèmes trançais. La saga norroise, ed. D. Lacroix & Ph. Walter, Paris, Librairie Générale Française, 1989 (adiante designado «Tristan et Iseut») e E. Baumgartner,

da lenda, que a crítica em geral considera mais arcaica: a escrita descontínua, em quadros e cenas sucessivos, as incoerências no desenrolar temporal, as frequentes referências do narrador à situação de performance são marcas de oralidade que estão ausentes no Roman de Tristan de Thomas. Representado por alguns fragmentos, este texto remonta a c. 1172-1175, mas é menos arcaizante do que o romance de Béroul. É a versão dita «cortês», que revela uma maior preocupação com a coerência narrativa e uma certa tonalidade aristocrática na descrição dos requintados hábitos das personagens, para além da influência da retórica da fin 'amors nos longos monólogos dos amantes. Estas duas versões fragmentárias puderam ser reconstituídas graças a duas versões completas que subsistem em alemão. O Tristan de Eilhart von Oberg (1170-1190)100 é uma reescrita

feita, provavelmente, a partir da versão representada por Béroul, embora com algumas alterações. Por seu lado, já no início do séc. XIII, Gottfried von Strassburg fez uma adaptação fiel, ainda que inacabada, da versão de Thomas.

O essencial da intriga dos romances em verso pode resumir-se em poucas linhas. Tristão, sobrinho do rei Marc da Conualha, é o mais corajoso dos seus cavaleiros e liberta o país do tributo humano que o Morholt, irmão da rainha da Irlanda, exigia periodicamente, matando-o num duelo onde ele próprio é atingido por uma arma envenenada. Gravemente ferido, Tristão embarca só, à aventura, levando apenas uma harpa e uma espada. Aporta à Irlanda onde se diz jogral e é curado por Iseu102 mas parte,

temendo ser reconhecido.

Pouco depois do regresso à Cornualha, Tristão terá que partir de novo em busca de uma noiva para o rei Marc, que casará com a donzela a quem pertence um cabelo de ouro trazido por duas andorinhas. Uma tempestade leva-o até à costa da Irlanda, onde Tristão mata um dragão que devastava o país. Iseu encontra-o no local do combate e cuida da ferida envenenada que a língua do monstro lhe provocara na perna. Depois de curado, Tristão pede a mão de Iseu para seu tio, pois é ela a donzela dos cabelos de ouro.

99 Béroul, «Le Roman de Tristan», in Tristan et Iseut, pp. 21-231.

100 Eilhart von Oberg. Tristan et Iseut, ed./trad. D. Buschinger e W. Spiewok, s.l., Labor, 1997.

101 Gottfried von Strassburg, Tristan with the «Tristan» of Thomas (trad. A. T. Hatto), London,

A rainha da Irlanda prepara um filtro de amor destinado a Iseu e Marc, mas na viagem para a Cornualha Iseu e Tristão bebem-no por engano e tornam-se amantes. Brangain (a aia de Iseu) substitui-a na noite de núpcias e os amantes iniciam uma relação adúltera que é em breve denunciada pelos barões de Marc. Tristão consegue fugir, mas Iseu é condenada à fogueira e depois a ser abandonada aos leprosos. No momento em que estes se preparavam para a levar, porém, a rainha é salva pelo amante.

Tristão e Iseu vivem na floresta do Morrois, afastados da sociedade. Um dia, Marc surpreende-os adormecidos mas, vendo a espada de Tristão entre os dois, substitui-a pela sua em vez de os matar, e parte. Este acontecimento, que coincide com o fim do efeito do filtro, leva os amantes a decidirem separar-se: Marc aceita Iseu de volta, mas expulsa Tristão da Cornualha. Tristão casa com a filha do rei da Pequena Bretanha, Iseu das Brancas Mãos, mas não consuma o casamento por não conseguir trair Iseu. Depois, visita Iseu incógnito por várias vezes: mascarado de leproso, de peregrino, de jogral, de louco...10.

Finalmente, vendo-se de novo gravemente ferido, Tristão envia um mensageiro em busca de Iseu: se conseguir trazê-la, o mensageiro deve mandar içar a vela branca. Iseu parte ao encontro de Tristão, mas Iseu das Brancas Mãos diz ao marido que a vela é negra e o estado deste piora significativamente. Quando Iseu chega é demasiado tarde: Tristão exala o último suspiro e Iseu morre de desgosto. Sobre o túmulo dos amantes, uma videira e uma roseira entrelaçam-se para sempre.

* * *

O Tristan en Prose é um longo romance biográfico que tem como modelos principais os poemas tristanianos (que fornecem fundamentalmente a história dos amantes ) e o Lancelot en Prose.10 Tal como neste último romance, as aventuras

cavalheirescas do protagonista multiplicam-se e entrelaçam-se com as de outras

Segundo Béroul, é a filha do rei que cuida de Tristão; segundo Thomas, é a rainha, também chamada Iseu, que o cura.

103 Trata-se das cenas narradas nos fragmentos acima referidos.

Como afirma E. Vinaver, TP seems to have known both the version used by Béroul and Eilhart and

personagens arturianas; tal como Lancelot, Tristão torna-se companheiro da Távola Redonda depois de se distinguir graças a extraordinários feitos guerreiros no reino de Logres; à imagem do amante de Genebra, transforma-se num cavaleiro cortês, perdendo as suas características arcaicas anti-heróicas; finalmente, acaba por se afirmar como o melhor cavaleiro do mundo ultrapassando o próprio filho de Ban e, tal como ele, ingressa na demanda do Graal.

Mas TP não se limita a conciliar influências várias; a criação de novas personagens, por exemplo, é um dos seus pontos fortes. As figuras mais interessantes são sem dúvida Palamedes, o cavaleiro pagão e eterno rival de Tristão, que tenta sem sucesso ultrapassá-lo em proeza e conquistar Iseu, e Dinadan, grande amigo do protagonista, que com o seu humor corrosivo vai pondo a nu as incoerências da ética cavalheiresca.106 Outras personagens, embora herdadas dos poemas, assumem

características próprias: a morte trágica de Kahedin e a vileza de Marc são importantes inovações do romance em prosa.

O resumo que a seguir apresentamos é uma versão muito simplificada da intriga de TP, já que acompanha a história dos antepassados de Tristão e Marc e depois as aventuras de Tristão, ignorando quase sempre as peripécias protagonizadas por outros cavaleiros. A verdade é que, sobretudo a partir do momento em que Tristão desembarca pela primeira vez no reino de Logres, as aventuras cavalheirescas do amante de Iseu e de muitas outras personagens - quase sempre cavaleiros arturianos - relegam a intriga amorosa para segundo plano e dão origem a um número tão elevado de fios narrativos que, como afirmou E. Baumgartner, TP deixa de ser um romance de Tristão para se transformar num romance da Távola Redonda.108 Limitar este texto luxuriante a um eixo

linear é obviamente redutor, mas parece-nos a única forma de procedermos a uma

105 Sobre a relação de TP com estes dois textos modelares, cf. E. Baumgartner, Essai, pp. 101-132. 106 Sobre Dinadan, cf. E. Vinaver. «Un chevalier errant à la recherche du sens du monde: quelques

remarques sur le caractère de Dinadan dans le Tristan en Prose» in A la Recherche d'une Poétique

Médiévale, Paris, Nizet, 1970, pp. 163-177 e K. Busby, « The likes of Dinadan: the rôle of the misfit in

arthurian literature», Neophilologus. 67. 1983. pp. 161-174.

107 Sobre Kahedin, cf. E. Baumgartner, «Le personnage Kahedin dans le TP», in Mélanges de Langue

et de Littérature du Moyen-Age et de la Renaissance offerts à Jean Frappier, Genève, Droz, 1970,

pp. 77-82 e M.-N Toury.. «De Kaherdin à Kahédin: l'invention d'une personnalité», in Et c'est la fin

pour quoy sommes ensemble. Hommage à Jean Dufournet, Paris, Champion, 1993, T. III, pp.1401-

primeira abordagem do seu enredo. Convém ainda ressalvar que na sinopse que se segue não damos conta das diferenças entre as numerosas versões que constituem a complexa tradição manuscrita de TP nem das várias fases de redacção que conseguimos detectar neste romance.109

Prólogo: Luce, senhor do Chaste/ del Gant, vai traduzir do grande livro em latim a história de Tristão.

Chelinde (bela filha do rei da Babilónia), que naufraga na costa da Grã- Bretanha, casa com Sador (sobrinho de José de Arimateia) mas é violada por Naburzadan, o cunhado. Sador mata Naburzadan e foge de barco com a mulher. Depois de perder o marido (abandonado num rochedo em alto mar), Chelinde aporta à Cornualha onde Canor (o rei da Cornualha) casa com ela. Quando Apolo, filho de Chelinde e Sador, nasce, Canor abandona-o para evitar a realização de uma profecia segundo a qual o recém-nascido o mataria mais tarde. Pouco depois, Chelinde é raptada por Pelias (rei do Léonois) e a disputa pela posse da bela rainha provoca a guerra entre os dois reinos vizinhos. Sador, excelente cavaleiro, começa por auxiliar Canor e depois Pelias, mas acaba por fugir com Chelinde quando reconhece a sua mulher desaparecida. Apolo, o filho de Chelinde e Sador, que fora educado longe da corte, mata, sem os reconhecer, Sador e depois Canor (cumprindo assim a profecia que Canor quisera evitar) e torna-se rei do Léonois. Casa com a mulher mais bela do reino - Chelinde, sua mãe. Santo Agostinho revela o crime aos esposos incestuosos: Apolo acredita e converte-se ao cristianismo; Chelinde persiste no erro e é fulminada pelo fogo divino.

Algumas gerações sucedem-se até que Marc sobe ao trono da Cornualha. Hélyabel, irmã de Marc, casa com Méliadus, rei do Léonois, e morre ao dar à luz. A segunda mulher de Méliadus tenta envenenar Tristão e, depois da morte do pai, este refugia-se, incógnito, na corte da Cornualha, onde aprende o mester das armas e revela os seus talentos. Quando o Morholt vem pedir o tributo que Marc deve à Irlanda, Tristão mata-o num duelo, mas fica gravemente ferido e parte numa barca à aventura. É acolhido pelo rei da Irlanda e curado pela sua filha, Iseu. Num torneio, Palamedes, um cavaleiro

108 Cf. Essai, p. 93.

pagão, cobre-se de glória e apaixona-se por Iseu: Tristão apercebe-se pela primeira vez da sua beleza e decide derrotar Palamedes no torneio e no coração de Iseu, mas apesar da vitória de Tristão, Iseu mantém-se indiferente. A rainha da Irlanda descobre que o jovem herói é o assassino de seu irmão (o Morholt) e Tristão é forçado a partir. Pouco depois do seu regresso à Cornualha, Marc ordena a Tristão que vá pedir a mão de Iseu ao rei da Irlanda. O cavaleiro, tendo substituído o rei num duelo judicial, consegue o seu perdão e leva consigo Iseu mas, na viagem para a Cornualha, ambos bebem o filtro destinado a Iseu e Marc e tornam-se amantes.

Brangain, aia de Iseu, substitui-a na noite de núpcias; Tristão e Iseu continuam a viver em segredo o seu amor. Temendo que Brangain a denuncie, Iseu manda matá-la, mas os seus servidores, com pena da donzela, deixam-na na floresta. Palamedes encontra-a e entrega-a a Iseu (que já se arrependera da sua cruel atitude) em troca de um dom em branco.110 Na corte de Marc, exige o dom prometido e leva a rainha, mas

Tristão ataca-o em frente da torre onde Iseu se refugiara. Esta interrompe o duelo e ordena a Palamedes que deixe a Cornualha; Palamedes parte, desesperado. Tristão e Iseu passam três noites juntos, mas Tristão acaba por entregar Iseu a Marc e os encontros furtivos recomeçam. Andret (sobrinho de Marc) consegue surpreender os amantes em flagrante delito e estes são condenados à morte, mas Tristão escapa à fogueira saltando através do vitral de uma igreja e Iseu é salva pelo amante de ser abandonada aos leprosos. Refugiam-se na floresta do Morois onde vivem felizes até que Marc rapta Iseu e a leva de volta para o castelo.

No mesmo dia em que Iseu regressa à corte, Tristão é ferido por uma flecha envenenada e parte para a Pequena Bretanha onde a filha do rei Hoël (Iseu das Brancas Mãos) o cura. Tristão auxilia Hoël na guerra e casa com Iseu, mas o casamento não é consumado pois o noivo não consegue trair a amada. Um dia, uma tempestade lança Tristão, Iseu das Brancas Mãos e Kahedin (cunhado de Tristão) no Pays de Servage

O «dom em branco» ou «dom que obriga» é frequente no romance arturiano: o doador promete que há-de satisfazer o pedido que lhe fazem embora não saiba de que se trata; mais tarde, aquele que fizera o pedido vem exigir algo extremamente precioso (como a mulher do rei ou a coroa, por exemplo), deixando o doador dividido entre duas atitudes igualmente condenáveis. Nos textos mais arcaicos a promessa nunca é quebrada, pois a palavra é sagrada.

onde, com a ajuda de Lamorat e Segurade, libertam os habitantes de Logres que ai estavam aprisionados; o país chamar-se-á Franchise Tristan.

Segue-se um longo encadeamento de aventuras cavalheirescas protagonizadas por Lamorat, Belinant, Frolle, Lancelot e o Valei a la Cote Mautailliee.

Respondendo a um apelo de Iseu, Tristão parte para a Cornualha com Kahedin. Os amantes vivem o seu amor em segredo, mas Kahedin apaixona-se por Iseu e escreve- lhe uma carta a que ela responde, reconfortando-o. Tristão interpreta mal as palavras de Iseu, pensa ter sido traído e foge para a floresta, onde enlouquece. Quanto a Kahedin, regressa à Pequena Bretanha e morre de amor.

Nova sucessão de aventuras cavalheirescas do Valet a la Cote Mautailliee.

Tristão acaba por ser acolhido em Tintagel, onde Iseu o cura da loucura, mas é expulso de novo. Parte com Dinadan (cavaleiro que o admira) para Logres. Sucedem-se diversas aventuras de Tristão incógnito, onde a coragem / temeridade de Tristão contrasta com a sensatez / cobardia de Dinadan, personagem cómica cujo bom senso põe em evidência algumas das incongruências da ética cavalheiresca. Lancelot e os cavaleiros da sua linhagem partem em busca de Tristão, cuja excelência surpreende todos embora a sua identidade se mantenha desconhecida, mas não conseguem encontrá-lo. No torneio do Chastel des Puceles, Tristão derrota Palamedes. Sucedem-se muitas aventuras que contribuem para a glória de Tristão,1" mas o herói é aprisionado por Morgana, que o

obriga a levar ao Torneio de Roche Dure um escudo que incrimina Lancelot e Genebra. Tristão vence o torneio e parte. Mais tarde, salva Palamedes de Brehus sans Pitié, mas ao reconhecer o rival desafía-o. Palamedes, ferido, pede que o combate seja adiado por quinze dias, mas é Lancelot quem comparece, na data fixada, ao encontro no Perron

Merlin. Segue-se um duelo duríssimo, que é interrompido no momento em que cada um

Entre o torneio do Chastel des Puceles e o torneio de Roche Dure (Lõseth, § 184) tem início o ms. 757, que marca o momento em que a versão única de TP dá lugar à subdivisão em duas versões manuscritas principais (TPI e TP2). O resumo que se segue é uma reconstituição muito simplificada da intriga comum às duas versões.

dos contendores revela a sua identidade.112 Lancelot leva Tristão até Camalot e este

toma posse do seu lugar na Távola Redonda - o mesmo que outrora fora ocupado pelo Morholt.

Marc toma conhecimento do sucesso de Tristão e, temendo que, com a ajuda de Lancelot e da sua linhagem, ele venha roubar-lhe Iseu, parte para Logres com o intuito de o matar à traição, acompanhado por dois cavaleiros e duas donzelas. Mata um dos cavaleiros (que se recusara a trair Tristão) e é acusado perante Artur pelas donzelas. Na corte de Artur, Marc vence o duelo judicial apesar de ser culpado, mas Lancelot consegue que ele confesse o crime e se identifique.

Sucedem-se diversas aventuras de Palamedes, Dinadan e Lamorat; este último é aclamado na corte de Artur, o que enfurece Galvão e seus irmãos pois o pai de Lamorat - Pelinor - matara o rei Lot, pai de Galvão (e fora por sua vez morto por este último, que vingara assim o homicídio do pai). Além disso, Lamorat tornara-se amante da viúva de Lot, a rainha de Orcanie. Artur força Marc e Tristão a reconciliarem-se e ambos partem para a Cornualha. Perceval (irmão de Lamorat) é armado cavaleiro. Gaeriet assassina a mãe, que surpreendera dormindo com Lamorat, mas poupa o cavaleiro. Galvão, Mordret e Agravain matam à traição Lamorat e Drian, seu irmão.

Artur envia a Marc uma missiva em que ameaça atacá-lo se ele fizer mal a Tristão; Marc responde, sugerindo que Artur é um marido enganado (mas este não compreende as insinuações) e injuriando Genebra. Dinadan, furioso, compõe o Lai Voir

Disant em que acusa Marc de perfídia e cobardia. Os Saxões invadem a Cornualha e

Marc pede ajuda a Tristão, que salva o reino. Um harpista profissional toca o Lai Voir

Disant na corte de Marc. Este, convencido de que o autor da peça é Tristão, aprisiona-o.

Depois de muitas vicissitudes, Tristão acaba por fugir com Iseu para o reino de Logres.

Tristão derruba catorze cavaleiros da Távola Redonda em frente de Camalot. Lancelot vai ao seu encontro, reconhece-o e leva-o para a Joiosa Guarda pois Tristão não quer ir com Iseu à corte. Os amantes vivem alguns meses de felicidade. Palamedes é

112 Tal como os duelos com Palamedes. lambem o duelo com Lancelot é interrompido sem que haja um

recebido na Joiosa Guarda e vai com eles até ao torneio de Louvezerp com a secreta esperança de suplantar o rival, mas Tristão vence o torneio e Iseu é considerada a mais bela das senhoras presentes: é o momento de glória absoluta do par Tristão-Iseu. Os amantes passam um verão e um inverno na Joiosa Guarda. Tristão parte só para a corte de Artur, onde jura a demanda do Graal com os outros cavaleiros, no dia de Pentecostes.

Seguem-se as aventuras dos cavaleiros da Távola Redonda durante a Demanda do Graal. Algumas das aventuras são comuns à Queste do Pseudo-Boron, outras são próprias de TP. A versão longa de TP insere, a partir deste ponto, longas passagens de QV.113

Marc alia-se aos Saxões e invade o reino de Logres. Rapta Iseu e ataca Camalot, mas Palamedes e Galaaz derrotam-no. Sucedem-se aventuras de Galaaz e de outros cavaleiros. As feridas de Tristão reabrem-se quando lhe dizem que Iseu está de novo na Cornualha. Depois de curado, o cavaleiro vive uma série de aventuras e regressa a Tintagel, onde continua a encontrar-se com Iseu em segredo. Marc ataca Tristão com uma lança envenenada que Morgana lhe dera (era a lança com a qual Tristão matara o seu amigo) e depois mantém Iseu afastada do amante moribundo impedindo-a de o curar, mas acaba por se apiedar dos amantes infelizes e permite um último encontro. Iseu abraça Tristão que, ao morrer, a sufoca. Marc manda sepultar os amantes no mesmo túmulo e Sagremor leva o escudo e a espada do herói até Camalot.

Seguem-se as últimas aventuras da Demanda (entre as quais, a conversão e morte de Palamedes). Boort relata as aventuras do Graal em Camalot e Galvão confessa os seus crimes.

Epílogo assinado por Hélie de Boron (apenas em alguns manuscritos).