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Interdisciplinaridade, Cultura e Identidade.

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Vanessa da Silva Pereira2

Resumo:

A abordagem didática e pedagógica referente ao tema América indígena nas escolas é feita de forma insuficiente. As maneiras pelas quais são transmitidas as informações por grande parte dos educadores acabam sendo feitas de forma esparsa na medida em que se relatam características humanas tão distintas. Nomeando-os somente por “índio” descaracterizam vários povos com estilos de vida singular. Assim, o presente trabalho se propõe a discutir formas para que estes conhecimentos sejam repassados não só com o intuito da percepção de uma identidade indígena pelos alunos, mas relatando principalmente a importância e a influência cultural e social desses em nossa comunidade.

Sendo a escola espaço político e social no meio em que se insere, trazendo em si as mais diversas discussões para sua comunidade, a valorização do magistério está intrinsecamente ligada ao principio da qualidade, o que acaba favorecendo a formação contínua dos educadores. Manter estes sempre atualizados com as mais recentes pesquisas, no entanto, parece pouco relevante por parte de algumas editoras de livros didáticos ou mesmo por alguns profissionais que se colocam na posição de autores.

Na medida em que se observam as explanações a respeito da temática indígena nos livros didáticos isso fica mais evidenciado. Assim, surge a proposta da aplicação prática em sala de aula do projeto3 desenvolvido pelo GEHSCAL – Grupo de Estudo em História Sociocultural da América Latina - que tem como objetivo inserir temas vistos nas aulas da universidade, como a cultura e a sociedade ameríndia, assunto este por vezes limitado nas instituições de ensino secundário.

As disciplinas de História da América do Curso de Licenciatura em História da Universidade de Pernambuco – Campus Mata Norte possuem atualmente um conteúdo

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Trabalho orientado pela Profª Draª Kalina Vanderlei Paiva da Silva.

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Estudante do 8º período do curso de Licenciatura Plena em História pela Universidade de Pernambuco/Campus Mata Norte. Atualmente trabalha como Monitora Voluntária nas disciplinas de História das Américas. Contato: vanessa.dspereira@outlook.com

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Título do Projeto: A História Da América Em Sala De Aula: Uma Associação Entre Conteúdo Disciplinar, Pesquisas De Iniciação Científica E Formação De Professores. Pesquisa financiada pela Pró-Reitoria De Graduação – PROGRAD e Programa de Fortalecimento Acadêmico – PFAUPE Inovação Pedagógica.

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programático que abrange desde a América Indígena Pré-Colombiana até a América Latina no século XXI, fomentando o conhecimento básico dos professores de História e a formação de professores em cidadãos socialmente conscientes desses povos. Desde 2004, essas disciplinas vêm servindo de base, também, para a pesquisa de Iniciação Científica, entretanto, foi a partir de 2010, com a aprovação do projeto de Monitoria pela PROGRAD/UPE, intitulado, A América Indígena Em Sala De Aula, que se pode dar maior visibilidade com o objetivo de ampliar especificamente o conteúdo das referidas disciplinas no que diz respeito à história indígena nas Américas, desenvolvendo as capacidades docentes dos alunos-monitores, ao mesmo tempo em que cria um grupo de discussão permanente entre os alunos da graduação.

Com base no sucesso desses projetos que envolvem alunos da graduação em História, a presente proposta busca aliar os resultados das pesquisas desenvolvidas pelo GEHSCAL, do conteúdo das disciplinas de História da América, com a formação de alunos-docentes e novas metodologias de ensino saídas do projeto de monitoria. Pretende-se assim promover uma proposta transversal entre graduação/pesquisa/extensão que leve as conclusões e análises dos alunos que integram o grupo de discussão criado pelo projeto de monitoria e as pesquisas do GEHSCAL para a sala de aula do ensino médio através dos monitores do presente projeto. Isto sendo feito, não apenas aprofunda o conhecimento de nós, alunos da graduação em História da Universidade de Pernambuco – Campus Mata Norte em uma discussão historiográfica mais recente sobre a História da América, mas também resulta na melhoria do ensino em nível médio ao levar - através de uma didática dinâmica - essas discussões para as escolas. Além disso, o presente projeto funciona de certa forma como laboratório para nós, futuros professores, que podemos assim nos relacionar em sala de aula através de uma prática que envolve os alunos sem deixar de lado as discussões profundas sobre a História da América Latina.

Focados na discussão da realidade social da América Latina atual, e no processo histórico que levou à criação desse cenário, desenvolveu-se no Colégio Sandra Maria4 uma metodologia dinâmica que pode ser aplicada facilmente às diferentes salas de aula em contextos distintos, partir do trabalho com imagens, associados a questões discursivas levantadas por mim, a monitora-aluna-docente junto aos estudantes participantes. Todo esse processo de trabalho e aprendizagem deu origem à pesquisa para a construção deste artigo

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Escola particular de nível fundamental a médio - localizada em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes - Pernambuco. CNPJ: 11.573.375/0001-67 COD. do INEP. 261.385.65, dirigido pela diretora Sônia Costa, supervisionado pela coordenadora da instituição Maxcelândia Maria do Nascimento e tendo como professora da disciplina de História das turmas do Ensino Médio: Adriana da Silva Siqueira)

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com base na convivência em classe resultando no esclarecimento de alguns pontos importantes sobre a problemática a cerca do tema proposto.

Iniciando as aulas com a abordagem sobre o dia do índio e sua relevância para a atual sociedade, as conversas nas salas do primeiro e segundo ano deram sequência à discussão de temas como Cultura, Arte e do próprio termo “Índio”. A necessidade de contextualizar os fatos dentro da comunidade a ser explanada e demonstrar a partir do debate como não devem ser criados juízos de valores sobre esses povos, carregados de atributos próprios, veio a ser de vital importância para assimilação do conteúdo. Apontando ao longo da explicação os anacronismos que são feitos em muitas vezes por observadores leigos em relação, por exemplo, a objetos que serviam dentro dos grupos sociais, caso das ferramentas e utensílios utilizados, ajudou a demonstrar que a serventia destes variava de acordo com a necessidade coletiva. Com isto, a observação feita foi de grande utilidade para compreensão dos alunos de que se tratava de não apenas uma, mas de diversas populações convivendo entre si.

Tão complexo em termos de definição, já que como ciência é o principal fundamentador de áreas como a Antropologia, o conceito de Cultura foi o norteador do inicio das explicações da proposta para os alunos. Vindo a ser definido por um consenso como sendo algo que faria parte das sociedades humanas, tendo como função nortear os indivíduos em suas rotinas, os estudantes começaram a notar que a humanidade sempre esteve cercada de características próprias e que com as comunidades indígenas isto não iria ser diferente. Aos poucos se foi tirando a visão do exótico do imaginário desses estudantes na medida em que o dialogo foi construído, o que fez até com que muitos dentro de sala relatassem que compartilhavam de alguns elementos presentes em ambas as culturas, como os adornos por exemplo. (SILVA & SILVA, 2008, p. 85-88)

Passando para o próximo assunto em mais um dia de aula, a Arte foi definida com a ajuda dos próprios estudantes como sendo parte essencial da Cultura. Estes a apontaram como sendo um dos elementos fundamentais para a expressão das ideias coletivas, podendo vir de maneira material ou imaterial e tendo como objetivo provocar o outro seja pela beleza, pela repulsa ou até mesmo pela emoção. Foi descrito em sequência como as diversas sociedades buscarama sua maneira interpretar e registrar seu modo de ver o mundo ao longo das épocas. Em comunidades onde a escrita ainda estava em fase de estabelecimento, a percepção da arte foi de extrema importância para a realização desses objetivos, caso dos povos egípcios, gregos, romanos e também dos que viriam a serem trabalhados no projeto, os povos mesoamericanos como os maias, astecas além dos tupis e outras demais comunidades. Tendo

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assim na arte, segundo alguns, senão o único, o mais fiel registro dessas civilizações que não possuíam técnicas de escritas bem definidas. (GOMBRICH, 2011:50).

Com isso, tendo a principio esclarecido esses pontos, a pergunta norteadora para todo o trabalho foi lançada para as duas turmas, 1º e 2º ano do ensino médio: O que se entende por “índio”? A primeira vista, o que se pode notar da reação dos alunos perante o questionamento foi a falta de debates sobre o tema, problema este que se perpetuou de tal modo durante a formação escolar que terminou gerando a transmissão de preconceitos ao longo do tempo. A visão desses povos segundo os mesmos se traduziam ou na forma clássica que os referiam como seres débeis, incapazes de gerir a si próprios ou de impotentes frente à chamada “conquista”, o que segundo Ribeiro tende a ser comum já que ainda hoje o “índio” é tido como cidadão por omissão que, por não ter sua situação juridicamente reconhecida termina sendo vitima de dezenas de problemas quando se tange ao seu espaço previsto em lei. (RIBEIRO, 1996:225).

Dessa maneira, buscando o entendimento dos mesmos sobre este ponto foi preciso desconstruir aos poucos a ideia de unificação das culturas e dos costumes das civilizações, fossem estas mesoamericanas ou não, exemplificando o quanto os elementos destes grupos ainda se encontravam no próprio cotidiano dos discentes. Apresentando-lhes, baseados em diversas leituras sobre estes, os antigos e atuais meios de avaliação do termo “índio” (MELATTI, 2007:32-37), pode-se ver os principais critérios utilizados para o debate:

1) O racial, onde o “índio” se limitava a traços e características físicas homogênicas, o que não poderia ser concebido já que esses indivíduos pertenciam a comunidades genéticas distintas.

2) O legal, sendo parte de um ranço da administração colonial que enquadraria o individuo autodenominado autóctone a partir de uma comprovação - fosse hereditária ou documental - de seu grau “indígena”.

3) O Cultural, sendo analisado de acordo com o conjunto de costumes a eles vinculados, o que mesmo sendo menos etnocêntrico ainda gera debates por unificar todas essas especificidades em um único diagrama para avaliação.

4) O étnico, tido atualmente como o mais apropriado para a percepção destes já que se basearia no acordado pelo II Congresso Indigenista Interamericano, ocorrido em 1949 e reunido em Cuzco – Peru, que agregaria características ao individuo os valores de “índio”, sendo estas: “[...] o descendente dos povos e nações pré- colombianas que têm a mesma consciência social de sua condição humana, [...] em seu sistema de trabalho, em sua língua e em sua tradição, mesmo que estas tenham sofrido modificações por contatos estranhos” (MELATTI, 2007, p. 37).

Continuando a apresentação, quando se questionou a respeito do modo de produção cultural tanto dos maias como dos astecas, a Escrita, o Calendário Maia e o Códice de Dresden foram apontados como exemplos na medida em que não só adornam os ambientes, mas principalmente por representarem essa reafirmação simbólica, trazendo consigo aspectos

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educativos para os povos submetidos a essas regras. A mitologia vem aqui na forma mais aparente tanto pelo visual quanto pelo educativo explicando mesmo aos leigos o que deveria se passar no território no qual se encontra.

Já no caso dos tupis, procurou-se descrever seus rituais funerários, mais especificadamente o da aldeia de Araruama e as diferentes perspectivas sobre a relação vida- morte. Para tal, utilizou-se como ilustração o exemplo das urnas utilizadas para o enterro, que se compunham de estruturas funerárias compostas de tampas, tigelas pintadas e fogueiras cerimoniais. Contudo, antes de serem usados com essa finalidade os vasilhames serviam de reserva para o preparo do cauim, bebida típica indígena produzida pelas mulheres e composta principalmente de mandioca, milho ou frutas como caju. Após intensas duvidas entre os estudantes os mesmos acharam interessante a forma desta preparação onde logo após cozidos, os ingredientes eram retirados do recipiente e mastigado e cuspido em outro recipiente para que a saliva expelida ajudasse na fermentação. Era consumida em grande intensidade nos rituais. Essas bebidas fermentadas, assim como era o cauim, mas que possuíam em outras tribos diversos nomes de acordo com o lugar de onde provinham, celebravam a vida e a morte (STRAUSS, 2004, p.101).

Os discentes foram apresentados também a outros aspectos culturais como a presença das pinturas corporais, dos grafismos, do jogo de bola maia e de como essa arte simbolizava nos adornos, tanto dos maias como para os tupis, a religiosidade contida fosse durante as festividades originadas pelas crenças religiosas como também o próprio ciclo da vida. Sobre estas, foram apresentadas não só as figuras de Quetzalcóatl, divindade das culturas Mesoamericanas em especial do estado asteca, venerada também pelos toltecas e maias, bem como Maíra e Sumé, os gêmeos criadores do mundo segundo a mitologia tupi, mostrando assim o quanto o mito se faz importante nos meios sociais inseridos afinal, não se tratam especificadamente de uma mentira e sim de uma ampliação da realidade. “Nada garante que assim seja, isto é, que não haja racionalidade e verdade nos mitos por operarem com a emoção e uma linguagem sensível.” (SILVA, 1995, p. 323).

E sobre este tema, quando se trata de descrever sobre a cultura dessas comunidades o principal elemento que poderia não só revelar traços do surgimento bem como exemplificar o modo de vida e produção dessas comunidades parece ser descartado por parte dos estudiosos, como vem a ser o caso dos mitos. “O mito trata do desconhecido; fala a respeito de algo que inicialmente não temos palavras.” (ARMSTRONG, 2005, p.09).

Tido como ampliação de uma realidade, pois é com a ajuda do mito que se poderia construir uma noção de representação sobre os episódios vividos pela humanidade e sendo

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estes contados de forma mais abstrata, ao longo da história e através do recebimento e transmissão oral o mito poderia muito bem ser utilizado em sala de aulacom o objetivo de vir a se tornar base para fomentação do chamado “caráter imaginativo”, dando significado aos fatos na medida em que a racionalidade não definisse precisamente. (SILVA, 1995, p.321)

Ao segundo dia, iniciada a aula falando sobre as divisões humanas vista dentro da sociedade, a abordagem sobre o conceito de Tribo e sua diferenciação de outros grupos humanos como os bandos, chefias e estados foi de grande relevância. Estes, por serem compostos de vários clãs agrícolas e sedentários distintos que convivem harmonicamente entre si, faz com que as tribos se tornem grupos autônomos, não necessitando para o convívio de nenhuma forma de estratificação social nem de uma figura de liderança. (SILVA & SILVA, 2008, p. 410)

Com a ajuda ainda de outros conceitos como os de Civilização e Estado, foi-se edificando a ideia e o motivo pelos quais os europeus, - baseado em suas premissas de identidade – julgaram e quiseram impor o que consideravam como correto aos primeiros habitantes desses territórios. Assim sendo, a aula procurou abordar a respeito das estruturas sociais dos povos mesoamericanos mostrando de que forma era constituída esta organização estatal. Ao explicar a posição dos Astecas enquanto um império, os alunos não tinham o conhecimento de como parte desses povos mesoamericanos se expandiam e que em muitas vezes esta ampliação vinha através das guerras.

Foi trazido para tal, informações sobre a concepção de algumas cidades Maias como foi o caso de Tenochtitlán e como esta serviu de palco para a mistura de vários povos muito embora se tivesse noção da presença da estratificação social. “O antigo estado maia não se apoiava na teocracia ou na democracia, mas sim numa classe social com grandes poderes políticos concentrados nas mãos de uma elite hereditária.” (COE, 1996, p.151).

Indo adiante, abordou-se a respeito das divisões de tarefas dentro do grupo, e como cada um seria colocado de acordo com certos critérios. Havia distinções de caráter social, nos rituais e nas tradições a serem seguidas podendo ser estes pelo sexo e/ou pela idade visando o aproveitamento dos indivíduos na conjuntura social da melhor forma possível. Utilizando como exemplificação as tribos tupis, a colaboração das mulheres na agricultura foi citada como sendo de fundamental importância dentro das comunidades em que se inseriam já que estas desempenhavam todas as funções ligadas ao plantio, colheita e preparo dos alimentos. Quanto aos homens caberiam a tarefa de se dedicar a caça e a abertura de novas áreas de cultivo. Ainda se falou sobre a presença dos idosos nessas sociedades e sobre sua função de manter e preservar a historia através da oralidade. (FERNANDES, 2003, p. 66)

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Unindo os diálogos e construções propostas, procurou-se fazer uma reflexão a respeito da importância de cada tecnologia de acordo com os lugares observados. Ao perceber que seriam as necessidades enfrentadas por cada grupo local os norteadores para a criação desses elementos, demonstrando assim que as fontes de pesquisa não podem limitar-se ao espaço físico em forma de organismos edificantes; os alunos puderam enxergar mais a frente o contexto daquelas estruturas citadas, constatando que não seria pela ausência de grandes complexos arquitetônicos que se poderia julgar a posição social de um grupo. Dessa forma, viu-se que esta não seria justificativa para classificar um povo como mais primitivo, entendendo assim que não é pelo critério da falta que se compreende a sociedade.

Exemplificando este debate com a ajuda da mitologia Tupi foi visto um dos motivos pelos quais estes não se organizaram como um Estado. Por se tratarem de grupos nômades onde a única pretensão era atingir a terra-sem-mal, - lugar segundo sua crença onde todos gostariam de retornar já que longe dela a vida era tida como ruim -, eles buscavam andar sempre em frente, escolhendo um local e se fixando para sua estadia. Entretanto na medida em que as aldeias aumentavam populacionalmente se dividiriam com o intuito de seguir até este lugar e alcançar seus objetivos. Mecanismos como estes acabaram impedindo, indiretamente, uma acumulação de excedentes, inibindo a formação de um estado e repelindo dessa forma a estratificação social, além de povoar toda a costa do litoral brasileiro, pois segundo o mito esta terra prometida ficaria sempre na direção norte. (CLASTRES, 2003, p. 229)

A terceira aula procurou voltar-se para a percepção desde Novo Mundo a partir da visão do conquistador, no caso os europeus. De um modo geral pode-se constatar o quanto estes na medida em que se firmaram no território recém-descoberto desprezaram as culturas e costumes dos povos Mesoamericanos, isto tanto da parte dos franceses e portugueses para com os tupis e as demais tribos do Brasil, quanto dos espanhóis com os Maias e os Astecas. O motivo para tal adviria do fato dos colonos colocarem-se em um patamar de superioridade frente a esses primeiros habitantes, qualificando-os em seus relatos como bárbaros, primitivos ou selvagens, descaracterizando todas essas populações com critérios de vida tão singulares entre si, e generalizando por vez seus costumes, unificando-os de maneira grosseira sem analisar mais profundamente seus traços. (SILVA & SILVA, 2008, p. 222).

Por fim, a última aula vista pelas duas turmas tratou de demonstrar a maneira de se portar e vestir dos habitantes dos três grupos priorizados no trabalho. Esclarecendo a importância das cores como método para a distinção social e explicitando as vestimentas tanto do guerreiro jaguar, e sua representação para o estado asteca, tendo por este uma estrutura

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essencialmente militar, quanto a figura do guerreiro águia que além de tudo representava uma