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3. Enquadramento da prática profissional

3.2. Enquadramento funcional do Estágio Profissional

3.2.3. A minha turma de 9º ano

Embora o núcleo de estágio tivesse ficado responsável pelo processo de ensino de uma turma do 2º ciclo (6º ano), sendo esta uma turma partilhada, cada PE assumiu uma turma do 3ºciclo de ensino, concedida pela PC (turma residente). A turma pela qual fui responsável faz parte de uma das seis turmas do 9º ano de escolaridade. Esta é uma turma constituída por 28 alunos, 15 do sexo masculino e 13 do sexo feminino. Na turma existe apenas um aluno repetente do 9ºano.

Os alunos possuem uma média de idades de 13,8, encontrando-se entre os 13 e os 15 anos, por isso, revelam ser um grupo com diferentes níveis de maturidade e desenvolvimento motor.

As doenças são um levantamento imprescindível para evitar sermos apanhados desprevenidos e colocarmos em risco os alunos, por esta razão procuramos atender também a esta componente nas fichas de caraterização dos alunos. A grande maioria da turma não apresenta problemas específicos que impeçam a realização das aulas de EF, encontrando-se dentro dos parâmetros normais. No entanto, importa salientar que, existem três alunos com diagnóstico particular, que apesar de não impedirem a realização das

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aulas, podem impedir a realização de alguns exercícios. Dois alunos apresentam um quisto sinovial e um deles padece também de problemas na coluna, já outro aluno apresenta problemas nos joelhos.

Dos 28 alunos existentes nesta turma, apenas 16 (57,14%) praticam atualmente alguma modalidade desportiva, enquanto 12 (48,85%) assumem não praticar qualquer tipo de modalidade. Destes 12 alunos, 8 afirmam que praticaram uma modalidade no ano anterior, revelando também a intenção de voltarem a praticar algum desporto. A percentagem de 57,14% alunos ativos da turma mencionou uma enorme variedade de modalidades praticadas: três alunos no Futebol e no Voleibol; dois alunos na Natação, Equitação e Ténis; e um aluno no Andebol, Surf, Hóquei e Rugby. Estes dados permitem constatar que grande parte da turma apresenta uma frequência de treino semana superior aos restantes alunos, uma vez que fazem parte de equipas federadas. Este tipo de informação pode ser vantajosa durante a preparação da PP, uma vez que me permite definir objetivos mais ambiciosos para os alunos praticantes das respetivas modalidades e usufruir da sua colaboração para o apoio necessário aos colegas menos capazes, ao longo do processo de ensino-aprendizagem.

O primeiro contato com a turma permitiu-me concluir que esta era uma turma barulhenta, desconcentrada e pouco cooperante com as ordens do professor. Ao longo das aulas foram necessárias várias chamadas de atenção e inúmeras repreensões, que exigiu, da minha parte, por vezes, a adoção de uma postura autoritária, algo que não se assemelha em nada às minhas caraterísticas, uma vez que sou uma pessoa extremamente afetiva.

Este primeiro confronto suscitou uma reflexão crítica do papel do professor como autoridade, em que a afetividade também deve marcar presença.

3.2.3.1. Afetividade vs. Autoridade: Que implicações?

Sempre pensei que a facilidade que tinha em criar afinidade com os alunos fosse uma das minhas pontencialidades. No entanto, com o decorrer do estágio, questionei-me: “Será que, o facto de, me mostrar demasiado próxima dos alunos, criando desde logo laços de afinidade, dificulta o reconhecimento

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da minha autoridade?” Na minha opinião, talvez o que eu considerava ser um ponto forte, se tornará imediatamente num dos pontos fracos.

Hargreaves (cit. por Fernandes, 2001) refere que, o comportamento dos alunos na aula é o resultado de interpretações que o professor faz do seu papel e do seu estilo de ensinar, prevendo que os alunos se adaptem ao professor em grau muito maior do que este se adapta aos alunos. Partindo desta ideia, seria verdade que se mais professores optassem por se ajustar às caraterísticas das suas turmas, criando uma boa relação com os alunos, estes respeitariam mais o professor, não só por serem uma autoridade, mas por sentirem que os professores também os respeitam e se preocupam com eles, sendo compreensível, assertivo e justo. Assim, a autoridade do professor seria reconhecida pela relação criada com os alunos, que lhe permitiria um melhor controlo da turma, sem que deixasse de ser afetivo.

Sanches (2001) refere que, a autoridade que o professor detinha, por ser sinónimo de conhecimento, deu lugar a uma autoridade que se conquista no dia-a-dia. Antigamente, a base da relação pedagógica residia na autoridade do professor, o que era visto de forma natural pelos alunos e aceite por todos, pois o professor era o detentor do conhecimento e do saber. Nos dias de hoje, este reconhecimento nem sempre é visto dessa forma. Tanto pela habitual falta de valores na maioria dos jovens, como pelo fácil acesso ao conhecimento disponibilizado na internet, desprezando, por vezes, o papel do professor. Por este motivo, considero que seja necessário valorizar o processo de aprendizagem, ou seja, a forma como o conhecimento é transmitido e adquirido pelos alunos, sendo o professor o detentor de competências necessárias para essa função.

No meu entendimento, importa que o professor consiga criar no aluno a vontade de aprender, para que ele próprio anseie as suas conquistas, com o auxílio do professor. Desta forma, o discente estará mais recetivo para as aulas e para aprendizagem.

O professor não pode ver o educando como mais um no seu caminho, a quem deve transmitir os seus conhecimentos, mas sim como uma pessoa próxima de si, alguém que lhe é entregue e que se entrega a ele, e se confia plenamente (Patrício, 1993).

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Nesta relação professor-aluno, importa perceber que "Segura de si, a

autoridade não necessita de, a cada instante, fazer o discurso sobre sua existência, sobre si mesma" (Freire, 1998, p.91). Ou seja, o professor não

precisa de ser uma pessoa que impõe autoridade, porque na verdade a sua autoridade deve ser conquistada. Para conquistá-la o professor pode recorrer à afetividade, mas num nível moderado, pois caso o professor seja demasiado afetivo este pode perder o respeito dos alunos e, consequentemente, perder o controlo da turma. Esta conquista é feita através do respeito mútuo e da negociação. Considero que, na minha turma, a afetividade teve alguns resultados positivos, mas também negativos. Dependendo dos alunos, nem sempre foi fácil criar esta ligação e fazer com que fosse entendida como algo que tem limites. Em alguns casos, os alunos com quem estabeleci uma relação mais afetiva, foram também os que se tornaram mais participativos e empenhados na prática. No entanto, existiam ainda outros alunos que aproveitavam esta relação para se desviarem dos objetivos da aula (e.g. parar de correr; fazer comentários inoportunos).

Um professor que promova um ambiente de aceitação, compreensão e preocupação com os problemas dos alunos vai potenciar um clima de adesão por parte deles (Rosado & Ferreira, 2009). No entanto, dentro desta relação de afetividade e compreensão é importante criar objetivos e estratégias para que o processo funcione. Pois, a afetividade pode influenciar a motivação e envolvimento dos alunos, nas relações com os grupos, na coesão e na gestão de conflitos, mas não soluciona os problemas de autoridade de um professor, quando eles existem. Assim, é essencial que o aluno perceba que um professor afetuoso não é um professor que permite fazer tudo o que ele quer.

Ao longo da minha PP foi importante perceber que a implementação de regras ajuda os alunos a perceber quais os limites. Além disso, percebi que é necessário mediar os níveis de afetividade junto dos alunos conforme as suas caraterísticas e os momentos de aula.

4. Realização da Prática