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5. Desenvolvimento Profissional

5.1. Construir e (re)construir a minha identidade profissional

O início do processo de desenvolvimento profissional começa mesmo antes da entrada para a escola, no entanto, é a partir desta formação inicial que o estudante adquire conhecimentos específicos da profissão e começa a construir as suas representações sobre o que é ser professor. Ao longo da vida, o professor constrói-se e identifica-se com aquela que considera ser a sua futura profissão. Segundo Resende, Carvalho, Silva, Albuquerque, Lima e Castro (2014), este processo começa a desenvolver-se antes da formação inicial, prossegue na formação inicial e percorre toda a carreira docente. Conjuntamente com esta evolução é desenvolvida e construída uma identidade profissional (IP).

Relativamente às identidades profissionais, Dubar (2005) refere que estas são identidades “especializadas” que dizem respeito a atividades, também elas especializadas, ou seja, respeitantes a mundos institucionais específicos ligados a saberes especializados e a papéis mais ou menos ligados com a divisão social do trabalho. Neste caso específico, falamos de IP do docente, nomeadamente, do docente de EF. Pimenta e Anastasiou (2002) afirmam que, a construção da identidade docente baseia-se nos valores de cada indivíduo, no modo como cada um constrói as suas histórias, no modo como cada um se situa no mundo enquanto professor, nas suas representações, nos seus saberes, nas suas angústias e anseios.

Giddens (cit. por Batista, 2014) menciona que a IP está indissoluvelmente ligada à prática profissional, à aprendizagem contínua e ao desenvolvimento profissional. Podemos, assim, considerar que a IP é construída ao longo da vida num percurso contínuo. A cada experiência vivida, as nossas conceções podem ser alteradas e, com elas, também a nossa IP. O EP foi o melhor exemplo desta situação. Com o decorrer do estágio, a prática profissional e toda a vivência na escola proporcionam-nos vivências que alteram a nossa IP. Todos os dias aprendemos a lidar com novas situações, tendo em conta os nossos ideais e as nossas conceções acerca do nosso papel como professores, que podem sofrer alterações.

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O EP foi sem dúvida uma experiência enriquecedora que me permitiu observar e refletir, não só sobre as minhas atitudes e a minha identidade, mas também sobre o comportamento de outros professores face à sua profissão. Através das observações das aulas dos meus colegas estagiários, da PC e de outros professores de EF, foi possível constatar que cada um de nós possui diferentes visões sobre a nossa profissão. As observações levaram, sobretudo, a uma reflexão sobre os comportamentos e as ações de cada professor face a uma determinada situação. Durante as observações, procurava discutir e refletir sobre o que eu faria em relação a cada situação que surgia, o que seria mais correto fazer ou dizer e se seguiria os passos do professor observado ou optaria por outras soluções. Cheguei à conclusão que, independentemente do que possa pensar como sendo certo, cada um de nós possui a sua própria IP, as suas próprias experiências, conceções e valores, por isso, para cada situação podem existir variadas respostas. Cabe a cada um de nós, enquanto profissional, agir em conformidade com os nossos ideais e os nossos valores profissionais, tendo sempre em vista a formação e educação dos nossos alunos e a melhoria das nossas escolas.

À medida que fui conquistando mais experiências e conhecimentos, ao longo do EP, cresci como pessoa e como profissional. O conhecimento profissional que adquiri foi, também ele, um sinónimo do meu desenvolvimento profissional. Este tipo de conhecimento pode ser definido como um conjunto de informações, aptidões e valores que os professores possuem, em consequência da sua participação em processos de formação (inicial e em exercício) e da análise da sua experiência prática, uma e outras manifestadas no seu confronto com as exigências da complexidade, incerteza, singularidade e conflito de valores próprios da sua atividade profissional, situações estas que representam, por sua vez, oportunidades de novos conhecimentos e de crescimento profissional (Montero, 2005). Por este motivo, considero que a minha IP está também ligada ao conhecimento profissional que fui adquirindo através da formação inicial e durante o primeiro ano de mestrado, mas principalmente, através da experiência prática que vivi durante o EP.

Hoje, e depois de toda esta experiência, considero que a minha IP esteve em constante mudança. Enquanto estudante, vivenciei um dos lados do processo de ensino desenvolvendo uma conceção e crenças acerca da

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profissão de docente, com basa nas minhas vivências. No EP, numa outra posição (professora), precisei de me moldar ao local e ao contexto onde estava inserida. Desta forma, tive de reajustar alguns conceitos e ideais que detinha sobre a profissão. Por exemplo, inicialmente, alterei a minha conceção relativamente à relação com os alunos. Sempre idealizei que uma relação de proximidade com o professor promoveria um bom ambiente de trabalho, no entanto, ao longo do EP fui percebendo que nem sempre esta situação se verifica. Por esse motivo, os momentos de maior afetividade acabaram por dar- se fora do contexto da sala de aula. Posteriormente, percebi o quanto exigente era a profissão docente. De facto lidar com tantos alunos ao mesmo tempo não era tão simples quanto idealizava.

A visão que tenho hoje é que, cursos que não possuam um confronto e a vivência com o contexto real de ensino e não solicite uma reflexão constante entre e teoria e a prática são, efetivamente, cursos mais pobres. Encaro, por isso, o EP como uma mais-valia e uma forma essencial de promover o desenvolvimento profissional dos candidatos a professores. No entanto, consciente de que o nosso desenvolvimento profissional não acaba juntamento com o EP, sendo um processo contínuo e inacabado. Afinal, como diz o ditado popular, “o saber não ocupa lugar”, e o professor, cada vez mais, deve procurar investir continuamente na sua formação seja através de palestras, seminários ou outro tipo de formações complementares, que elevem as suas capacidades e que o tornem uma pessoa mais competente profissionalmente.

Neste sentido, sempre que me foi possível, participei nos seminários promovidos pela FADEUP que abarcaram temas atuais e me conduziram ao desenvolvimento de entendimentos diferentes em relação às respetivas temáticas (e.g. abordagem de conteúdos nas aulas de EF). Além disso, participei também num debate organizado pela Associação de Profissionais de EF do Porto intitulado como “Noites Quentes - Para onde vai a Educação Física?”, em que foi debatida a importância da EF. Nesta sessão, confirmei a ideia de que não se está a dar a devida importância à disciplina, atestando-se que a mudança necessária parte, impreterivelmente, dos docentes da disciplina. Finalmente, já a pensar no meu futuro profissional, realizei um pré- curso de personal trainer, que alargou o meu conhecimento e a também a minha área de atuação enquanto profissional. Apesar deste curso não se

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relacionar diretamente com a docência, pode efetivamente apresentar alguns contributos para a área, nomeadamente, na prescrição de exercícios para alunos com algumas condicionantes físicas. Através deste tipo de cursos e formações, é possível alargar conhecimentos, que nos permitem adaptar alguns exercícios às necessidades dos nossos alunos.

Em suma, “tornar-se professor envolve, na sua essência, a

(trans)formação da identidade do professor” (Batista, 2014, p. 15), sendo esta

uma construção que ocorre desde a formação inicial, continuando ao longo de todo o nosso percurso profissional, para que possamos atingir, o exponencial do nosso desenvolvimento.

“Aprender è a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”

Leonardo da Vinci