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CIDADE UNIVERSITÁRIA

A NOÇÃO DE CIDADE UNIVERSITÁRIA (1826-1940)

Apesar do tema das cidades universitárias possuir relação com o chamado modelo universitário norte-americano e de sua denominação vir de precedentes europeus, como os de Paris (1923) e Madri (1928), as cidades universitárias adquiriram um sentido próprio na América Latina. Planejadas em diversos países a partir da década de 1920, as cidades universitárias começaram a se tornar realidade na América Latina após a 2ª Guerra Mundial, em meio a uma série de eventos que marcariam suas concepções estéticas e urbanísticas. Nesse contexto, as cidades universitárias foram campos privilegiados de experimentação dos paradigmas da monumentalidade moderna e dos esforços da arquitetura e do urbanismo de adequação ao clima, integração à paisagem e síntese das artes.

Como obras públicas de dimensões urbanas, as cidades universitárias exigiram novas estruturas de planejamento e foram laboratórios de urbanismo moderno, permitindo exercícios de zoneamento setorial, sistema viário funcional, novas tecnologias de infraestrutura urbana (iluminação, sistemas hidráulicos e elétricos) e, principalmente, de desenho urbano integrado com a arquitetura.

A chegada e transmutação da ideia de cidade universitária na América Latina remonta ao papel que as universidades tiveram na modernização de seus países, durante a formação das Repúblicas nacionais, quando novas instituições foram criadas e as mais antigas universidades, como as do México (1551), Peru (1551), Equador (1586), Argentina (Córdoba, 1613), Guatemala (1676), Venezuela (1721), foram refundadas, desligando-se da

necessidades do Estado e da sociedade civil por quadros técnicos e políticos. Ainda que o modelo largamente adotado seja caracterizado pelo que Darcy Ribeiro chamou de “modernização reflexa”, baseado na reprodução de métodos e tecnologias estrangeiras1, e

mesmo com números muito deficitários em relação às sociedades ditas desenvolvidas, a renovação e multiplicação das universidades representou um grande esforço. Nesse cenário, não é difícil demonstrar que o Brasil se manteve atrasado qualitativa e quantitativamente, mesmo em comparação com a modernização tardia do ensino superior na América Latina.2

A primeira universidade brasileira, a Escola Universitária Livre de Manáos (1909), pagou o preço de se pioneirismo, fragmentando-se em unidades independentes no fim do ciclo da borracha.3 A reforma Rivadário Corrêa, de 1911, buscou ampliar as vagas no ensino

superior permitindo a existência temporária da Universidade do Paraná4 entre 1912 e 1915 e

da primeira universidade privada do país, chamada de Universidade de São Paulo5, entre

1911 e 1917.

A criação da Universidade do Rio de Janeiro6 a partir da reunião da Faculdade de Medicina,

da Escola Politécnica e da Faculdade de Direito, em 1920, iniciou um intenso debate sobre modelo universitário que deveria ser adotado no país. Esse debate, que atravessou toda a década de 1920, resultaria no Estatuto das Universidades Brasileiras, de 1931, e na criação de universidades estaduais, como a Universidade de São Paulo, em 1934.

1 Ver: RIBEIRO, Darcy. A universidade necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.

2 O ensino superior no Brasil foi deliberadamente evitado durante o período colonial brasileiro. Além a inexistência de iniciativas

oficiais, iniciativas privadas eram proibidas. Em contrapartida, a elite colonial podia receber bolsas da coroa ou pagar altos valores para estudar teologia, direito, medicina ou filosofia em Portugal. A Espanha, ao contrário, logo instalou oito grandes universidades e diversos centros de ensino superior por toda a América Espanhola, permitindo inclusive a imprensa de livros e jornais. O tímido avanço no Brasil se deve ao período em que os jesuítas tiveram autorização da coroa para fundar centros de formação leigos e religiosos para lecionar em seus dezessete colégios (1549-1760), que ofereciam cursos de Artes, Teologia, Ciências Naturais e Filosofia. Apenas com a vinda da família real, em 1808, o ensino superior ressurgiria, impulsionado pela imigração da alta burocracia civil, militar e eclesiástica e da nobreza lusitana, pela importação da Biblioteca Nacional e pela abertura dos portos (1817) que possibilitou a circulação de livros. Com a independência do Brasil, D. Pedro I fundou Faculdades Jurídicas em São Paulo e Olinda em 1827. Ver: RAMOS, Fábio Pestana. “História e política do ensino superior no Brasil: algumas considerações sobre o fomento, normas e legislação”. Para entender a história... Ano 2, série 14/03, março 2011, pp. 1-7.

Em São Paulo esse debate foi protagonizado pelo chamado “Grupo do Estado”, organizado em torno do jornal O Estado de São Paulo7 sob o comando de Fernando Azevedo, o jornal

promoveu um inquérito sobre a instrução pública em 1926. Conferências nacionais e outro inquérito sobre educação foram realizados no Rio de Janeiro, em 1927, pela Associação Brasileira de Educação (ABE), formada naquele mesmo ano como um braço do Movimento Renovador da Educação, liderado por Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Quando Getúlio Vargas chegou ao poder, em 1930, foi esse grupo que propôs a criação do Ministério da Educação e Saúde.

Os inquéritos sobre o ensino superior da década de 1920 explicitam visões divergentes sobre a universidade. Havia os que defendiam a adoção do modelo Alemão, como Alcides Bezerra; a experiência Argentina, constituída a partir de institutos já existentes, como Azevedo Sodré; o modelo norte americano, descrito por seus generosos campi, por seu cunho profissional e científico, pela ação ampla e receptora de todo progresso, como Alcides Bezerra, Raul Briquet, Luiz Frederico Carpenter e Hélio Lobo; e até mesmo os que defendiam um modelo próprio, adaptado aos nossos recursos e nossas necessidades, como Ferdinando Laboriau.8 Raul Briquet defendia o papel central da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras, em torno da qual orbitariam as escolas profissionais. Outras ideias recorrentes eram as de que as universidades brasileiras deveriam incluir museus, bibliotecas, jardim botânico, jardim zoológico, e uma série de outras instituições especializadas de pesquisa, lazer, cultura e esportes.

O que parecia unânime para aqueles debatedores é que a universidade brasileira deveria ter um papel ativo na formação e desenvolvimento da cultura nacional, promovendo um “sadio nacionalismo” e servindo de núcleo para ações sociais e políticas. Para isso, muito se falava na necessidade de um “espírito universitário”, formado pela convivência e pela colaboração. Tal objetivo deveria ser atingido através de um espaço adequado, amplo o suficiente para permitir a ampliação da universidade, concentrado para aproximar os cursos e facilitar a troca de conhecimentos, e ainda dotado dos mais diversos equipamentos, como teatros,

7 Grupo de intelectuais e políticos liderado pelo diretor do jornal O Estado de São Paulo, Júlio de Mesquita Filho, e por

Fernando de Azevedo, da Associação Brasileira de Educação. Durante a década de 1920 o grupo promoveu em São Paulo conferências e inquéritos sobre o problema universitário brasileiro. Ver, por exemplo: MESQUITA FILHO, Júlio de. “A crise nacional”, O Estado de São Paulo, 15 de novembro de 1925 . Artigo publicado no dia da Proclamação da República que propunha explicitamente a criação da universidade como “organismo concatenador da mentalidade nacional”, capaz de lançar um movimento de resistência às oligarquias da República Velha.

clubes, restaurantes e alojamento de estudantes e professores. Tudo dentro dos princípios da economia, da salubridade e da modernidade.9

Tanto a discussão sobre o ensino universitário quanto a busca por modelos de campus, contêm expressões análogas em diversos países da América Latina onde a criação e a reforma de diversas universidades haviam criado o desejo e a necessidade de unificar seus territórios, geralmente compostos por edifícios pré-existentes, isolados e concebidos para outros fins. Leis foram formuladas, terrenos foram adquiridos e planos urbanísticos foram apresentados em diversas cidades, como Córdoba (1909)10, San Juan (1924), Concepción

(1925)11 e Cidade do México (1928)12 no sentido de definir um território universitário. No

entanto, a maioria desses planos não prosperou naquele momento. Dependendo de grandes investimentos do Estado, teriam melhor sorte após a crise de 1929 e, principalmente, após a 2ª Guerra Mundial.

No Brasil, enquanto o debate era promovido nos jornais e institutos especializados, o prefeito do Rio de Janeiro, Antônio Prado Junior (1926-1930), convidou o urbanista francês Alfred Agache, secretário geral da Societé Française des Urbanistes, para elaborar um plano de remodelação urbana da cidade. Agache contribuiu para a discussão dos modelos universitários ao incluir em seu plano de “Remodelação, Extensão e Embellezamento” do Rio de Janeiro (1930) um centro universitário para a Universidade do Rio de Janeiro na Praia Vermelha. Sua proposta, chamada de Cité Universitaire, baseava-se no fácil acesso a partir do centro, no aproveitamento dos edifícios que já sediavam as faculdades da universidade – todos a cerca de 4 km da Praia Vermelha –, e de uma “situação pitoresca maravilhosa ao pé do Pão de Açúcar”.13 O Plano Agache foi o primeiro a empregar o termo

“cidade universitária” no Brasil, em provável referência à Cité Internationale Universitaire de Paris, fruto de um convênio entre a universidade e a prefeitura de Paris, precipitado pela

9 O tema do culto à saúde física e ao corpo na universidade é recorrente e destacado em toda a bibliografia sobre campus. Ele

aparece no início do século XX como uma questão de saúde e chega a ser mencionado como estratégia decisiva para a vitória norte-americana na 2ª Guerra. Ver: CAMPOS, Ernesto de Souza. Cidade Universitária da Universidade de São Paulo: aspectos gerais do planejamento e execução. São Paulo: Comissão da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo, 1954.

doação de 10 milhões de francos feitos por Émile Deutsch de la Meurthe em 1921, sendo que seu primeiro edifícios foi inaugurado em 1925.14

A cidade universitária do Rio de Janeiro, concebida por Agache, seria constituída por edifícios da administração, edifícios de ensino, uma biblioteca, um museu, um auditorium, e dotada de equipamentos socais e esportivos (inclusive náuticos), além de moradia, que cada estado do país construiria para abrigar alunos e professores, de forma análoga ao que se fez em Paris.15 Tudo isso num terreno de aproximadamente 45 ha, que segundo Agache,

deveria ser preparado de modo a garantir comunicação fácil entre todos os grupos e contribuir para o aspecto grandioso do conjunto.16

Enquanto isso, o mesmo movimento que deu origem ao Ministério da Educação, promoveu o Estatuto das Universidades Brasileiras, promulgado pelos Decretos Federais 19.851 e 19.852, de 1931, que estabeleceram, respectivamente, as condições legais para a criação de universidades estaduais – como a USP (1934), a Universidade de Porto Alegre (1934) e a Universidade do Distrito Federal (1935)17, além da inclusão da Universidade de Minas

Gerais (1927) no sistema federal – e a reorganização da Universidade do Rio de Janeiro. Tais instituições deveriam contar com uma administração universitária, composta por reitoria, conselho universitário, diretoria de unidades, congregações, e outras instâncias, e possuir pelo menos três faculdades dentre as de Direito, Medicina, Engenharia e Educação, Ciências e Letras.18 Estes decretos, também regulamentaram a autonomia administrativa,

didática e disciplinar e a manutenção do regime de cátedras.

Foi neste contexto, e sob esta base jurídica, que a USP foi criada em 1934, durante o governo de Armando Salles de Oliveira (1933-1935), sócio do jornal o Estado de S. Paulo e cunhado de seu diretor, Júlio de Mesquita Filho. A nomeação de Salles de Oliveira como interventor federal do Estado de São Paulo foi uma estratégia bem-sucedida de Vargas para

14 A Cité Internationale Universitaire de Paris é uma fundação privada que reúne um conjunto pavilhões de moradia para

estudantes estrangeiros, financiados por mecenas ou governos estrangeiros. Ver: BLANC, Brigitte. “La constitution du domaine de la Cité internationale universitaire de Paris”, In Situ, reveu des patrimoines, n. 17, 2011. Disponível em <http://insitu.revues.org/855>.

15 AGACHE, Alfred apud CABRAL, Neyde., Op. Cit. p. 52. 16 Idem.

17 A Universidade do Distrito Federal, funcionou no Rio de Janeiro entre 1935 e 1939, liderada por Anísio Teixeira, diretor do

Departamento de Educação do Distrito Federal. A proposta da UDF era pioneira por manter desde o início cursos de graduação e pós-graduação em cinco escolas não tradicionais: Escola de Ciências, Faculdade de Economia e Direto, Faculdade de Filosofia e Letras, Instituto de Artes e Instituto de Educação. Lecionaram na UDF importantes intelectuais e artistas, como Mario de Andrade, Cândido Portinari, Jorge de Lima, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Villa-Lobos, entre outros. Após a Intentona Comunista de 1935, Anísio Teixeira e vários professores foram demitidos. O restante do quadro docente foi incorporado ao da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.

neutralizar sua oposição em São Paulo.19 Por causa da relação conflituosa do Grupo do

Estado com o governo de Vargas a origem federal da USP muitas vezes foi ofuscada. “Vencidos pelas armas, sabíamos perfeitamente que só pela ciência e pela perseverança no esforço voltaríamos a exercer a hegemonia que durante longas décadas desfrutáramos no seio da federação. Paulistas até a medula, herdáramos da nossa ascendência bandeirante o gosto pelos planos arrojados e a paciência necessária à execução dos grandes empreendimentos. Ora, que maior monumento poderíamos erguer aos que haviam consentido no sacrifício supremo para preservar contra o vandalismo que acabava de aviltar a obra de nossos maiores, das Bandeiras à Independência e da Regência à República, do que a Universidade?” 20

O Decreto Estadual 6.283, de 1934, amparado no regime universitário federal, reuniu praticamente todas as instituições de ensino superior e pesquisa do Estado de São Paulo, incluindo a Faculdade de Direito, federal, e alguns institutos independentes, para criar a USP. Além das unidades existentes, o decreto criou a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL), o Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais, implantado em 1946, e a Escola de Belas Artes, que nunca saiu do papel.

“A originalidade desse sistema criado em 25 de janeiro de 1934, de acordo com o decreto federal, que então entrou realmente em execução, foi não somente a incorporação, no organismo universitário de uma Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, que passou a constituir a medula do sistema, como também a preocupação dominante da pesquisa científica e dos estudos desinteressados, dentro aliás do espírito da lei federal que regulou as universidades brasileiras. O Governo Provisório da República instituiu em 1931 o regime universitário, mas foi São Paulo que tomou em 1934 a iniciativa de executá-lo em sua plenitude”.21

Nutridos pelo positivismo, os idealizadores da USP acreditavam que a reunião dos institutos sob uma administração centralizada permitiria eliminar cadeiras duplicadas e bibliotecas redundantes, resultando em economia e eficiência. A FFCL faria a integração entre as

escolas profissionais e os institutos especializados, oferecendo cursos de literatura, filosofia, sociologia e também de física, química, matemática e outras ciências puras, com o intuito de propiciar a todos os alunos da universidade, uma formação científica e humanista.

A ideia de um espaço próprio, que reunisse todas as unidades dispersas da universidade, reunidas por decreto, se propagou desde cedo. A situação da FFCL, central na proposta da universidade, representava concretamente a fragmentação da universidade, ficando cada uma de suas cadeiras (Química, Matemática, Física, Filosofia, Letras) alojadas num dos edifícios das outras escolas. Mas, para além da racionalidade administrativa ou da questão do ensino, um campus integrado deveria contribuir para a formação do “espírito universitário”, definido no decreto da fundação da USP como:

“A aproximação e o convívio dos professores e alunos das diversas Faculdades, Escolas ou Institutos serão promovidos especialmente: a) Pela proximidade dos edifícios e construções de vilas universitárias; b) Pela centralização administrativa da universidade, em tudo que respeite ao interesse comum; c) Pela criação de cursos comuns, que atendam às necessidades de alunos de diferentes Faculdades, Escolas ou Institutos; d) Pelo regime de seminários, centros de debate e trabalho em cooperação; e) Pela prática de atividades sociais em comum, pelos alunos das diferentes Faculdades, Escolas ou Institutos; f) Pela organização de sociedade e clubes universitários, de estudo, de jogos e de recreação; e) Pela prática habitual de esportes, jogos atléticos e competições de que participem universitários das diferentes Faculdades, Escolas ou Institutos”.22

Ainda em 1934, o presidente do Grêmio Politécnico, José Luiz de Almeida Junqueira convocou os demais centros acadêmicos e lançou a ideia da criação de um ‘bairro universitário’, que foi apresentada, afinal, como reivindicação dos estudantes ao Governo do Estado, dando origem à ideia de uma cidade universitária.23

Em junho de 1935, o governador Armando Salles de Oliveira nomeou uma Comissão encarregada de estudar a localização da já intitulada Cidade Universitária – presidida pelo reitor Reynaldo Porchat e composta por Ernesto Leme (Direito), Alexandre Albuquerque (Politécnica), Ernesto de Souza Campos (Medicina), Fernando Azevedo (Educação), Afrânio do Amaral (Butantã) e Mário de Andrade (Departamento de Cultura). Durante três meses, diversas opções foram consideradas e disputas foram travadas entre escolas tradicionais, que resistiam a sair de suas instalações. A comissão concluiu por recomendar a localização

da Cidade Universitária no vasto setor da cidade compreendido entre a Faculdade de Medicina e o Instituto Butantã, justificando a decisão pelo aproveitamento das instalações já existentes.24 Naquela ocasião, o perímetro ou o custo das desapropriações não foram focos

de discussões. A comissão apenas mencionava que a área da cidade tinha ocupação rarefeita e a maior parte dos terrenos pertencia ao Estado, à Prefeitura ou à Cia City.

Nesse mesmo momento, sob a retórica nacionalista, a noção de cidade universitária ganhava novos contornos na Europa. O primeiro caso foi o do plano para a Cidade Universitária de Madri (1928), elaborado por Modesto López-Otero, diretor da faculdade de arquitetura, por incumbência do rei Afonso XIII. A construção do empreendimento de 360 ha, localizado nos arredores da capital espanhola, ganhou força em 1931, durante a Segunda República, quando foi criada a Junta Construtora da Cidade Universitária de Madri.25 O

conjunto, marcado por uma racionalidade austera, serviu como exemplo de monumentalidade fascista para a revista italiana Architettura, do Sindicato Nacional Fascista de Arquitetos.26

O segundo caso, inaugurado logo em seguida, em 1935, foi o da Cidade Universitária de Roma, que obteve um resultado estético ainda mais contundente que o espanhol e consolidou uma concepção monumental de cidade universitária. Localizada em um terreno de apenas 44 ha e relativamente central, a menos de 4 km do Panteão, essa cidade universitária planejada por Marcelo Piacentini, arquiteto de confiança de Mussolini, se caracterizou pelo rigor geométrico do conjunto, pelas colunatas retas do portal de entrada e do edifício da reitoria e pelo controle da perspectiva feito a partir do cruzamento de dois eixos de circulação perpendiculares, onde se encontra a figura de Minerva em frente ao palácio da reitoria. O plano de 1932 contou ainda com a colaboração de diversos arquitetos racionalistas, como Gio Ponti, que projetou o edifício da Matemática.27

Na América Latina, o plano do arquiteto austríaco Karl Brunner (1887-1960) para o Bairro Universitário de Concepción, no Chile, de 1931, foi provavelmente o primeiro a sair do papel. A Universidade de Concepción foi excepcional em muitos aspectos. Privada e localizada na província, seu campus foi implantado nos arredores da cidade, privilegiando grandes

reitor Enrique Molina Garmendia (1861-1964), que dizia basear-se no modelo universitário norte-americano, sobre o qual publicou um livro.28 O plano chileno seguia rigorosamente a

concepção Beaux-Arts do arquiteto francês Henri Jean Émile Bérnard, vencedor do concurso para o campus de Berkeley em 1899. Em Berkeley, como em Concepción, a tradição americana da vila acadêmica de Thomas Jefferson, foi integrada numa situação suburbana com edifícios de arquitetura eclética. Os campanários foram elementos centrais das composições e tornaram-se símbolos de ambas as universidades. O campus da Universidade de Concepción passou a ser denominado cidade universitária em 193829, ao

mesmo tempo que os casos de Roma e Madri ganhavam repercussão e a América Latina flertava com o nazi-fascismo. De fato, podemos observar que algumas estratégias monumentais de Piacentini seriam incorporadas posteriormente em Concepción, como o edifício-portal conhecido como arco da medicina, projetado em 1948.

Em Bogotá, o arquiteto judeu alemão Leopoldo Rother (1894-1978), funcionário do Ministério de Obras Públicas, foi responsável pelo plano de 1937 para a Cidade Universitária, apelidada de Ciudad Blanca. Com 116 ha e um traçado simétrico em estilo cidade-jardim, os edifícios foram dispostos ao redor de uma grande praça elíptica que articulava o conjunto.30 Os edifícios projetados por Rother e outros arquitetos no início da

década de 1940 inauguraram uma nova concepção estética de cidade universitária, alinhada à nova objetividade alemã.

No Brasil, Ernesto de Souza Campos (1882-1970), foi o personagem central dos rumos que as cidades universitárias tomariam.31 Professor da Faculdade de Medicina, tornou-se um