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CONSTRUÇÃO DA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA USP (1941-1958)

CIDADE UNIVERSITÁRIA

CONSTRUÇÃO DA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA USP (1941-1958)

Modelos incertos (1941-1947)

A ideia de uma cidade universitária da USP foi retomada em 1941, quando o presidente Getúlio Vargas nomeou seu ministro da Agricultura, Fernando Costa – engenheiro- agrônomo pela Escola Politécnica –, para governar o Estado de São Paulo. O interventor federal, por sua vez, nomeou Jorge Americano, da Faculdade de Direito, como reitor da USP e Anhaia Mello, da Escola Politécnica, como secretário de Viação e Obras Públicas. Nos quatro anos que seguiram foram realizados pelo menos quatro diferentes planos para a cidade universitária: o “Plano Whately”, de 1942, encomendado pelo reitor à firma do professor de Mário Whately, da cadeira de pontes e grandes estruturas da Escola Politécnica41; um plano realizado pela Secretaria de Viação e Obras Públicas em 1943; o

plano vencedor de um concurso realizado entre julho e setembro de 1945; e o plano desenvolvido pelo Escritório Técnico da Cidade Universitária, criado por pelo reitor em maio de 1945. Portanto, nesse curto espaço de tempo, houve não apenas quatro planos urbanísticos – com semelhanças e diferenças que não discutiremos aqui – mas também quatro formas de gestão do plano: por contrato direto, por órgão do Estado, por concurso de projeto e por Escritório Técnico da própria universidade.

Entre um plano e outro, Fernando Costa lançou o decreto n.124, de 16 de dezembro de 1941, destinando uma área de 411,4 ha da Fazenda Butantã para a instalação da universidade em 1941. Em fevereiro de 1944, transformou a USP numa autarquia, conferindo autônoma administrativa em relação ao Governo do Estado (embora continuasse financeiramente dependente). No mesmo instante, o governador lançou a pedra fundamental da Cidade Universitária em cerimônia oficial do início das obras do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)42 em uma gleba voltada para o loteamento industrial da

Sociedade Imobiliária Jaguaré.43 Por fim, em setembro de 1944, o governador ampliou a

área da universidade, decretando a utilidade pública de um terreno de 180 ha entre a nova e a velha estrada de Itu (atual Av. Corifeu de Azevedo Marques).

41 Tratava-se, a princípio, de projetos para a Escola Politécnica, o Instituto de Eletrotécnica e a Faculdade de Filosofia, Ciências

e Letras. Segundo Neyde Cabral, teria partido de Whately a necessidade de um plano geral. Ver: CABRAL, Neyde. Op. Cit. Como mencionado anteriormente, o engenheiro realizara um projeto para a FFCL em 1939.

42 O IPT, criado a partir do Gabinete de Resistência dos Materiais da Poli, havia se tornado uma autarquia independente da

USP, dotada de recursos próprios.

43 Entre 1937 e 1941, quando o terreno Butantã já estava indicado para abrigar a Cidade universitária, a Sociedade Imobiliária

do Jaguaré, de Henrique Dumont Villares, lançou o Centro Industrial Jaguaré em terreno contíguo. O loteamento industrial de 363 ha, “cientificamente planejado”, tinha área equivalente à da USP. A propaganda do empreendimento anunciava suas vantagens: vizinhança das áreas industriais já consolidadas, ônibus e trens de passageiros, proximidade com o centro (12 km),

Se as medidas para execução da Cidade Universitária revelavam certa independência em relação aos planos gerais é porque o debate de sobre o modelo a ser seguido ainda era incerto. Para definir esse modelo foi realizada, em outubro de 1944, a Semana da Cidade Universitária, uma iniciativa do reitor sob os auspícios do interventor federal, do prefeito municipal e presidente do Conselho Administrativo do Estado.44 Segundo o arquiteto

Eduardo Kneese de Mello, que participou do evento, o objetivo era definir o estilo arquitetônico da Cidade Universitária.45 Nesse período em que a arquitetura começava a

afirmar sua autonomia, a possibilidade de uma arquitetura moderna, já adotada no centro médico do Araçá46, não foi sequer considerada. A principal disputa se deu entre o ecletismo

sofisticado de Pujol Jr., defendido por Souza Campos, e um “neoclássico avançado”, defendido pelo reitor.47

Entre julho e setembro de 1945, quase um ano depois da Semana da Cidade Universitária, foi realizado um concurso público, cujo júri foi composto por Ernesto de Souza Campos, pelo prefeito Prestes Maia e presidido pelo reitor Jorge Americano. A proposta vencedora foi o plano ‘Accuratus’, dos arquitetos Hippolyto Pujol Jr. e Oscar Defilipi. O Escritório Técnico da Cidade Universitária, criado pouco antes, em maio de 1945, ficou responsável por desenvolver e executar o plano até 1947.48

Para acomodar visões tão distintas sobre a Cidade Universitária e sobre o método adequado para contratação de planos e projetos arquitetônicos, de modo a atender as complexas demandas políticas, programáticas, institucionais e artísticas que o empreendimento envolvia, prevaleceu o Escritório Técnico, composto pelo engenheiro-chefe José de Freitas Valle Filho49, pelo arquiteto Djalma Lepage, por dois desenhistas, um auxiliar

de desenhista, um topógrafo, uma secretária, um contínuo, um servente e seis operários. Mas esse modelo também não durou muito tempo.

44 Realizada na Galeria Prestes Maia. As conferências foram feitas por Jorge Americano, Luiz de Anhaia Mello, André Dreyfus,

Raul Briquet, Ernesto de Souza Campos, entre outros. Foram expostos planos universitários de diversos países, inclusive, os estudos feitos para São Paulo e o projeto Piacentini-Morpurgo para o Rio de Janeiro. Ver: CABRAL, Neyde. Op. Cit., p. 98.

45 MELLO, Eduardo Kneese de. “Porque Arquitetura Contemporânea”. Palestra realizada na Biblioteca Municipal de São Paulo

em 22 de agosto de 1946 apud CABRAL, Neyde., Op. Cit., p. 98.

46 A moderna Maternidade Universitária, no conjunto do Araçá, foi objeto de um concurso fechado organizado por Kneese de

Mario Whately. Projeto para Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Centro de São Paulo, novembro de 1939. Arquivo do Estado de São Paulo. Cortesia: Mônica Junqueira.

Retificação do Rio Pinheiros, década 1930. Arquivo: Fundação

Secretaria de Viação e Obras Públicas. Plano geral da Cidade Universitária de São Paulo, 1943. Publicado em O Estado de São Paulo, 20 de novembro de 1943.

José de Freitas Valle Filho e Djalma Lepage. Plano Geral da Cidade Universitária, outubro 1945.

Fonte AMERICANO, Jorge. “A universidade de São Paulo: dados, problemas e planos”. Revista dos Tribunais, 1947, p. 241.

José de Freitas Valle Filho e Djalma Lepage. Plano Geral da Cidade Universitária, julho 1947 Desenho Neyde Cabral, 2010, p. 105