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CIDADE UNIVERSITÁRIA

PROJETOS NA CIDADE UNIVERSITÁRIA 1941-

Edifício Arquiteto Projeto Construção Imagem

Pavilhões de Metalurgia s.i. s.d. 1944-1946

Administração e Laboratórios de Metalurgia [Sede do IPT] (1949) Autarquia financeiramente independente José Maria da Silva Neves 1945-1946 1947-1953 Acelerador Betatron Financiando pela Fundação Rockfeller

s.i. s.d. 1948-1951

(demolido na dec. 1970)

Essa tabela foi elaborada a partir da sistematização de dados dispersos na bibliografia. Algumas informações podem ser contraditórias.Imagens: América Magazine, n. 2, ano 7. São Paulo: Varta, 1962, e outros.

Primeiros planos modernos (1947-1954)

Com o fim do governo Vargas, em outubro de 1945, o novo governador, José Carlos de Macedo Soares (1945-1947), nomeou Antônio Almeida Prado, professor da Faculdade de Medicina e presidente da comissão de 1935, como reitor da universidade. O Escritório Técnico continuou gerindo as obras da Cidade Universitária e desenvolvendo o Plano Geral, que foi reapresentado em julho de 1947. Paralelamente, o reitor Almeida Prado nomeou uma comissão de engenheiros e arquitetos, a Comissão da Cidade Universitária (CCU), que, no entanto, só foi instalada (e ampliada) por seu sucessor, o reitor Lineu Prestes50

(1947-1949), da Faculdade de Farmácia e Odontologia, indicado pelo governador eleito, Adhemar de Barros (1947-1950).

A criação da CCU pode ser vista como uma resposta à reivindicação dos arquitetos de maior protagonismo nos planos para a Cidade Universitária. Entre abril de 1947 e setembro de 1948 – período que abrange a fundação das escolas de arquitetura da Universidade Mackenzie e da USP –, a CCU foi composta por Luiz Ignácio de Anhaia Mello (presidente), Henrique Jorge Guedes e José Maria da Silva Neves, todos professores catedráticos da Poli e parte do primeiro corpo docente da FAU. Foram também incluídos quadros externos à USP, como os arquitetos Christiano Stockler das Neves (fundador da Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie e Prefeito da cidade de São Paulo entre março e agosto de 1947); Eduardo Kneese de Mello, Elisiário da Cunha Bahiana e os engenheiros Francisco Teixeira da Silva Telles e Frederico Brotero, além do chefe do Escritório Técnico, Freitas Valle.

Sem Souza Campos para defender o projeto de Pujol Jr. e Defilipi, o único obstáculo para um plano arquitetônico e urbanístico moderno, alinhado às últimas tendências internacionais, era Stockler das Neves. No entanto, sem autoridade para elaborar um novo plano, essa Comissão apenas se manifestou favorável a um novo plano, e tendo deliberado sobre o assunto para o qual fora constituída, a comissão foi dissolvida.

Para resolver o impasse, o governador Adhemar de Barros constituiu por decreto uma nova CCU, de tamanho reduzido e diretamente responsável pelo plano geral, bem como pelo desenvolvimento de programas para os setores, projetos de edifícios e convênios com outros órgãos. Nessa reformulação os quadros do Escritório Técnico foram mantidos, mas passaram a servir a CCU. Os membros da nova CCU, a quem caberia a autoria do plano,

50 Lineu Prestes já havia sido diretor da Faculdade de Farmácia e Odontologia durante o primeiro governo de Adhemar de

foram nomeados em novembro de 1948. Eram eles: Anhaia Mello, Adriano José Marchini51,

José Maria da Silva Neves, Christiano Stockler das Neves52 e Ernesto Souza Campos,

escolhido presidente por indicação dos demais. Àquela altura, Souza Campos já se mostrava aberto a incorporar as novas ideias estéticas e urbanísticas, dada a repercussão positiva da arquitetura moderna brasileira.

O projeto de zoneamento e sistema viário desta comissão foi aprovado pelo Conselho Universitário em 12 de maio de 1949 e continuou sendo desenvolvido nos mesmos moldes até 1954. Com menção ao urbanismo moderno do CIAM em seu memorial, o novo plano definia setores funcionais ao invés da disposição concêntrica dos edifícios. A inversão do eixo da composição, originalmente perpendicular e voltado para o Rio Pinheiros e agora alinhado à via de acesso, definida em 1947, fez o rio – já poluído – um elemento secundário e uma barreira. Essa inversão somada às glebas independentes do IPT e do Instituto Butantã fazia com que a Cidade Universitária se configurasse em um território segregado da cidade – o que se agravaria com as propostas de cessão de novas glebas ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER)53, ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

(IPEN) e à Marinha do Brasil. A ligação com a cidade se faria por um parkway monumental, com 100 metros de largura, arborizado com palmeiras imperiais54, dando acesso frontal à

praça magna, formada por um campanário, pelos edifícios cívicos e culturais da universidade e pela reitoria.

Durante a gestão do reitor Luciano Gualberto (1950-1951), da Faculdade de Medicina, a CCU foi renomeada de “Comissão do Plano e Execução da Cidade Universitária” e no lugar de Souza Campos e da vaga deixada por Stockler das Neves, foram nomeados Bruno Simões Magro e Zeferino Vaz. A presidência foi atribuída a Anhaia Mello, que além de dirigir a FAU foi nomeado vice-reitor da universidade. Com a indicação de Simões Magro, os três arquitetos catedráticos da FAU (sendo os outros dois Anhaia Melo e José Maria das Neves) passavam a estar representados na Comissão. Já a indicação do médico Zeferino Vaz, diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, deve ter levado em consideração a construção do campus de Ribeirão Preto (inaugurado em 1952).55 Afinal, além da criação da

FAU e a incorporação do Instituto Oceanográfico (1951), a lei 161/48 impôs novos desafios ao planejamento da USP, criando a EESC, a FMRP e a Faculdade de Odontologia de Bauru no interior do Estado de São Paulo.

Nesse momento, a Cidade Universitária foi considerada como uma opção para abrigar a Exposição Internacional do IV Centenário da cidade de São Paulo.56 O atraso das obras de

urbanismo e a distância em relação ao centro da cidade, no entanto, levaram ao descarte dessa possibilidade. Esse breve episódio, no entanto, evidenciou a necessidade de maior empenho do Estado, que passou a dispensar mais verbas para a construção da Cidade Universitária. Com isso, foi realizada concorrência para a terraplanagem e, em fevereiro de 1951, foi iniciada a construção do edifício da reitoria, projetado por José Maria da Silva Neves. O Instituto de Aperfeiçoamento do Professor, órgão federal ligado à universidade, recebeu um projeto de arquitetura de Alcides Rocha Miranda (professor contratado da FAU) e José de Souza Reis, em 1951.

Com mais recursos provenientes do Governo do Estado, o Escritório Técnico, agora dirigido pelo arquiteto Djalma Lepage, foi ampliado com um setor administrativo, um setor de engenharia e um de arquitetura, formado por Oscar Gutierrez, Cássio P. Gonçalves, Vicente de Paula Collet e Silva e Tácito Brito de Macedo, além de contar com mais vinte auxiliares. O escritório foi responsável pelos projetos do Pavilhão de Alta Tensão e dos edifícios de Zoologia, de Botânica e de Física Experimental, todos de FFCL. Porém, mesmo ampliado, o Escritório Técnico era insuficiente para projetar todos os edifícios e os planos setoriais da Cidade Universitária, além dos projetos de adaptação do prédio da reitoria na Rua Helvetia, da FFCL na Rua Maria Antônia, da ampliação da Faculdade de Medicina Veterinária na Rua Pires da Mota, e do centro médico do Araçá. Não bastasse a grande demanda de projetos as obras de urbanização e infraestrutura, incluindo uma dispendiosa movimentação de terra (pois os planos foram pouco adaptados à topografia), consumiam a maior parte dos recursos.

Em meados de 1951, Anhaia Mello e Zeferino Vaz se afastaram da Comissão. Para substituí-los, o então reitor Ernesto de Morais Leme, da Faculdade de Direito, trouxe de volta o professor Ernesto de Souza Campos, que, por sua vez, conseguiu contratar a consultoria de Hippolyto Pujol Junior para elaborar estudos para o Setor de Engenharia. Em novembro de 1951, Pujol apresentou sua proposta, uma composição urbana acadêmica com arquitetura eclética. No ano seguinte, o arquiteto faleceu e o professor Souza Campos e o engenheiro Freitas Valle se aposentaram. O Setor de Engenharia recebeu novo estudo

de José Maria das Neves, que projetou um conjunto composto por blocos isolados e eixos ortogonais, aprovado pela Congregação da Escola Politécnica em outubro de 1952.

Apesar do empenho de Souza Campos, nenhum projeto de Pujol foi realizado na Cidade Universitária. De todo modo, a decisão de contar com projetistas externos pode ter dado início a uma mudança na política de projetos para a Cidade Universitária. A partir de 1952, a CCU passou a contratar projetos junto a escritórios particulares. Ariosto Mila projetou o edifício do Laboratório de Hidráulica; Ícaro de Castro Mello assinou um grandioso setor esportivo; Plínio Croce, Carlos Millan, Roberto Aflalo e Galiano Ciampaglia projetaram o conjunto da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1953) e fizeram o replanejamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (1954); Gio Ponti projeta a Faculdade de Física Nuclear (1953); Rino Levi e Roberto Cerqueira César projetaram o Centro Cívico (1952-1953), com paisagismo de Roberto Burle Marx, e um conjunto residencial para dois mil estudantes, com restaurante, clube, salão de festas e bar.57

Esses e outros projetos foram incorporados aos planos gerais, atualizados em 1952 e 1954. Contudo, como as obras superavam em muito a capacidade de investimento do Estado, apenas a primeira parte do Laboratório de Hidráulica começou a ser construída. Em meados de 1954, acompanhando o clima de incerteza causado pelo suicídio de Getúlio Vargas, todas as obras foram paralisadas.

Cristiano Stockler da Neves, Ernesto de Souza Campos, José Maria da Silva Neves e Luiz de Anhaia Mello, Systema de vias principais e zoneamento da Cidade Universitária, maio 1949.