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1 OS PROFISSIONAIS DE APOIO À INCLUSÃO ESCOLAR

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.3. a O município de Flores

Para a caracterização da educação especial dos municípios, é valido destacar a denominação dos PAIE em cada município, conforme será apresentado no quadro a seguir.

QUADRO 1 – Nomenclatura do PAIE por cidade

NOMENCLATURA DO PAIE POR CIDADE CIDADE FLORES Auxiliares /Estagiários

CIDADE SEXTO ELEMENTO Auxiliar de desenvolvimento infantil (ADI)

CIDADE LINCE Cuidador

CIDADE SANTA CLARA Auxiliar de vida escolar – AVE CIDADE CHICO LOPES Cuidador

Elaboração própria, 2017.

De acordo com o quadro 1, pode-se perceber a multiplicidade de denominações dadas aos PAIE em cada cidade. Das cinco pesquisadas em dois estados diferentes, duas cidades possuem a mesma nomenclatura, o caso de Lince e Chico Lopes. Cada município cria sua nomenclatura e define suas funções dentro das suas necessidades. Assim, como apresentado no quadro acima, no município de Lince, os PAIE são denominados de estagiários, em Sexto elemento, Auxiliar de desenvolvimento infantil (ADI), em Lince, cuidador, em Santa Clara, auxiliar de vida escola (AVE) e em Chico Lopes, cuidador. Após o conhecimento sobre as nomenclaturas utilizadas para os PAIE em cada cidade, é importante conhecer o contexto da educação especial em cada uma delas para melhor compreensão dos resultados da pesquisa.

2.3.a. O município de Flores

O município de Flores, localizado no estado da Bahia, possuía uma média populacional de 100 mil a 200 mil habitantes. No que se refere à Educação Especial municipal, o organograma da Secretaria Municipal de Educação possuía o setor responsável pela área, denominado de “Divisão de Educação Especial”, desde 2001, que tinha como intuito desenvolver ações e acompanhar todo o trabalho relacionado aos alunos PAEE e também alunos com TDAH. A gestora participante (GF) ocupava esse cargo há dois anos e meio, porém já trabalhava na rede como coordenadora dentro da própria Secretaria de Educação na área da Educação Especial. A Divisão inicialmente era formada por um grupo de

quatro pessoas, porém ao longo dos anos sofreu modificações e, no período em questão, atuava com duas profissionais da área da Educação Especial, a gestora e uma Pedagoga com especialização em Psicopedagogia, especialista em Atendimento Educacional Especializado, Neuropsicopedagoga e mestranda em Educação de Jovens e adultos.

A rede municipal de ensino possuía cerca de 200 escolas e aproximadamente 3.200 alunos PAEE com diagnóstico fechado, porém o número de alunos acompanhados pela Divisão de Educação Especial era bem maior do que esse, mas como nem todos alunos possuem o laudo médico, não foram contabilizados.

O município possui o trabalho com os auxiliares, estagiários de Pedagogia, desde 2015, e tinha no quadro de funcionários cerca de 300 pessoas atuando nessa função. Em relação a diretrizes e legislação municipal, a cidade de Flores não tinha nenhum documento específico sobre os PAIE. O último Plano Municipal de Educação3 previu a garantia do

profissional de apoio para alunos que possuam necessidade, mas não havia descrição do perfil e da função desse profissional.

Segundo a GF, o município seguia as orientações da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), embora as considerasse vagas, e mencionava ter dificuldade na implantação e suporte para os profissionais. A gestora relatou, ainda, que o município tinha interesse e pretendia elaborar uma diretriz para esses profissionais, pois acreditava que isso poderia facilitar na prática.

Quanto aos serviços de apoio para Educação Especial, a GF descreveu o Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos Multifuncionais, no qual os professores recebiam formação mensal e parcerias com cinco instituições especializadas, a existência de um espaço de atendimento psicopedagógico e o apoio recebido das Universidades, tanto Estadual quanto Federal do município, por meio dos grupos de pesquisa na área da Educação Especial e outras ações.

A gestora apontou também o trabalho articulado com outras secretarias, a exemplo da saúde, assistência entre outros. Além disso, avaliou como positiva a rede de apoio existente no município, mas sugeriu que este poderia ser ampliado na área da saúde, pois considera uma grande dificuldade do município os atendimentos da área médica utilizados pelos alunos PAEE.

3 Todos os documentos municipais citados não serão referenciados, para manter o sigilo de acordo com a

resolução 466/12 do Comitê de ética em pesquisas com Seres humanos da UFSCAR.

Em relação ao processo de Inclusão escolar do município, a GF relatou estar caminhando, disse acreditar na sua efetivação e que o município terá “bons frutos” com os investimentos realizados no presente, como as redes de apoio já citadas: [...] vai chegar o momento que não vai mais precisar de nada disso, auxiliar, nem de implorar por ordem judicial para estar matriculando os alunos [...]

Sobre os profissionais de apoio, a GF aponta

[...] Como é uma coisa nova no próprio município e tudo causa medo, a gente tem dado esse suporte ao professor, a escola, na parceria ao professor auxiliar para estar ajudando, mas é um caminho que a gente vai percorrer na Educação Especial, como Salamanca, Jontiem, tantos países, tantos estados, a gente tem que caminhar, tem buscado e a intenção da gente é a melhor, dar oportunidade a todo mundo, todo mundo tem direito de voar, cada um voa do seu jeito, mas todos têm o direito de voar, chegar lá, uns lentos outros mais rápidos [...]

A gestora fez críticas à ausência de políticas públicas mais eficazes e disponibilidade do professor na prática inclusiva. Ela acredita que o profissional precisa mostrar-se mais disponível para formação e colaboração, assim como a escola precisa se preparar para receber o aluno e acreditar na inclusão. Pontuou também sobre a importância da participação da família, demonstrou enxergar a inclusão como um todo, em que cada um tem um papel importante e criticou os “pacotes prontos” do Ministério da Educação (MEC), muitas vezes, elaborados por pessoas que “desconhecem o chão da escola”. Nesse sentido, a Gestora relata sua opinião sobre o processo de Inclusão escolar, com o foco nas possibilidades e oportunidades dos alunos:

Todos nós temos possibilidades de aprender, uns aprendem rápidos, outro menos, um tem habilidade para varrer, outro para cozinhar, outro tem habilidade para dirigir, então, assim, nós ditos normais temos essas habilidades, porque não oportunizar as pessoas com deficiência? (GF)

Dessa forma, a caracterização da Educação Especial do município de Flores apresenta um trabalho focado nos alunos PAEE, com práticas de implantação e supervisão de serviços a fim de melhorar a qualidade da inclusão escolar de Flores. O município possui uma rede de trabalho insuficiente nesse contexto, porém possui pessoas qualificadas no setor, embora seja uma equipe reduzida.

2.3.b. O município de Sexto Elemento

Localizada na Bahia, com média populacional entre um e três milhões, possui a Coordenadoria de Inclusão Educacional e Transversalidade, que faz parte da gerência de currículo ligada à diretoria pedagógica, dentro da Secretaria de Educação, setor responsável por alunos PAEE, aqueles em situação de risco, questões de violência, gênero e/ou etnia, ou seja, o município não possui um setor específico para a demanda da Educação Especial, mas sim para a atenção à diversidade.

A coordenadoria surgiu em 2015, com esta nomenclatura, porém já existia uma equipe que trabalhava com esse público, na qual havia chefes de grupo (Educação Infantil, Educação Especial e outros projetos), em que a gestora atual (GS) já era responsável. O município trabalha com o serviço de acompanhamento aos auxiliares do desenvolvimento infantil para inclusão escolar (AVE), segundo a gestora, desde 2010, quando este já era citado em um documento municipal. Atualmente, a coordenadoria possui uma equipe de pedagogas e pessoas terceirizadas, todos responsáveis por todo o público da diversidade. Em relação aos dados quantitativos, a informação foi solicitada, porém sem obtermos resposta.

O município não possuía um documento legal específico sobre os profissionais de apoio, porém havia alguns que descreviam a função e garantiam o serviço. No site da prefeitura, foi identificada uma cartilha sobre inclusão escolar que conceituava e citava as atividades a serem desempenhadas pelos profissionais de apoio, assim como uma Resolução Municipal que tratava de Inclusão Escolar e descrevia a função desses profissionais.

Como serviços de apoio na Inclusão Escolar, a GS cita o funcionamento de 43 salas de recursos, professores de AEE e instituições especializadas conveniadas, dando suporte às escolas. Foram citadas cerca de doze instituições que realizavam atendimentos multidisciplinares como serviço de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e algumas ofereciam AEE para os alunos que não tinham o atendimento em suas escolas. A gestora considerou a rede de apoio insuficiente, ressaltou a carência na área da saúde para atendimento do PAEE e acrescentou que as instituições citadas acima estavam “abarrotadas”, com grandes filas de espera.

Em relação à Inclusão Escolar, a GS avaliou que ainda não acontecia de forma efetiva e acreditava que não aconteceria apenas por força da lei, porém afirmou que existia ainda a necessidade de criação e efetivação de políticas públicas, um entendimento melhor, projetos e falta o município “enxergar bem, ver, ter seu projeto de inclusão. ” A gestora pensava ser