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REALIDADE INTERNACIONAL DO PAIE: FRANÇA E ESTADOS UNIDOS

1 OS PROFISSIONAIS DE APOIO À INCLUSÃO ESCOLAR

1.3 REALIDADE INTERNACIONAL DO PAIE: FRANÇA E ESTADOS UNIDOS

Na realidade da França, Gardou (2009) descreve a diferença entre duas funções existentes no contexto da inclusão escolar, a do professor especializado, também denominado como professor de apoio ou de ensino, um profissional que complementa o trabalho do professor da sala comum nas questões pedagógicas, e o outro profissional, os auxiliares de vida escolar, que não possuem qualificação pedagógica, realizam o acompanhamento de forma individual ou coletiva e garantem o acompanhamento contínuo entre escola, transporte e vida cotidiana, para os alunos que apresentam necessidade de tais serviços. Essa realidade se diferencia da realidade brasileira, principalmente, pelo caráter contínuo extraescolar do acompanhamento desse profissional, como o próprio autor comenta, na realidade brasileira, este serviço é restrito apenas no ambiente escolar.

Considerando a discussão, Gardou (2009) define as competências dos auxiliares e ratifica a não exigência da qualificação pedagógica nas ações, afirmando que a função existe há 20 anos na França e que o número de Profissionais só aumenta. Vale ressaltar que o autor defende que essa função deve ser estendida para além da vida acadêmica, a exemplo da vida social e profissional. Dessa forma, o autor caracteriza como competências dos auxiliares:

Contribuir para a acessibilidade das situações de aprendizagem, otimizando as suas condições materiais, técnicas e humanas: ajuda na escrita, acompanhamento fora dos tempos da classe, realização de gestos técnicos que não exijam conhecimentos médicos ou paramédicos específicos, etc. (GARDOU 2009, p. 37)

O autor ainda cita como função dos auxiliares a colaboração com o professor para favorecer a autonomia dos alunos, como sinônimo de parceria e suporte. Tannus- Valadão (2010), em sua pesquisa, apresenta o AVE como uma ajuda nas atividades educacionais, para tornar a vida do estudante mais fácil. Esses profissionais, segundo a autora, trabalham

sobre a responsabilidade do professor e do diretor da escola, em uma perspectiva interdisciplinar que objetiva prevenir possíveis dificuldades posteriores.

Na realidade dos Estados Unidos, de acordo com o relatório sobre as melhores práticas dos assistentes da Educação Especial, elaborado pelo grupo de pesquisa Hanover Reserarch, em Washigton (2010), identifica-se a atuação também de dois tipos de profissionais no apoio aos alunos com deficiência, que se assemelha com a realidade da França. O grupo cita o termo paraprofissionais (Paraprofessionals), nomenclatura utilizada nos Estados Unidos, que possui uma função sem exigência de certificação acadêmica, para se referir aos responsáveis por auxiliar nas questões denominadas que podem ser pedagógicas, porém sem serem responsáveis pelo planejamento desse ensino, pois esse seria o papel de outros profissionais. Dessa forma, esses profissionais são considerados como um tipo de serviço de Educação Especial e trabalham sob supervisão e em parceria com o professor especializado com certificação específica.

O cenário da escola comum, na perspectiva da inclusão, é composto pelos professores regentes, responsáveis pela elaboração das questões pedagógicas, pelos professores com certificação específica da Educação Especial, que supervisionam e auxiliam a prática pedagógica e os profissionais sem certificação, que são os paraprofessionals que auxiliam na execução das atividades pedagógicas, com distinções claras do papel de cada profissional. No relatório, são descritas as funções desses profissionais a partir da fala dos pais dos alunos que listam quatro principais funções, como por exemplo, a de “conector”, que liga a cultura interior a exterior da escola; a de “membro do time”, que colabora com os professores e pais para melhorias da aprendizagem; “instrutor” que ensina os estudantes sob a supervisão de um professor especializado; de “cuidador/prestador de serviço de saúde”, assistindo os alunos com necessidades de saúde. Ao analisar a fala dos pais, foi possível identificar atribuições diversificadas em quase todas as áreas do desenvolvimento e participação de forma supervisionada, garantindo a qualidade do acompanhamento.

Nesse relatório, o grupo relata uma experiência com situações de suporte na aula de Educação Física, um exemplo que se pode caracterizar como diferente também da realidade brasileira, destacando a quantidade de profissionais capacitados e envolvidos no processo. Na aula de Educação Física, desde o seu planejamento até a execução, está presente no processo o professor de Educação Física, o professor de Educação Física Adaptada, professor de Educação Especial e os paraprofissionais São profissionais que desempenham o trabalho de forma articulada com participação de todos, mas cada um com sua função

definida de forma clara e diferenciada, existindo uma comunicação entre eles, o que facilita a garantia da realização e participação dos alunos nas atividades. Nesse contexto, o grupo aponta que mesmo com a equipe em articulação, é indicado investimento contínuo em formação de todos os profissionais para melhorias nas práticas, pois mesmo com uma equipe formada com diversos profissionais, ainda existem conflitos e problemas.

McVay (1998), por sua vez, discute também a realidade dos Paraprofessionals nos Estados Unidos e os caracteriza como profissionais que trabalham em colaboração com outros profissionais, mas que não podem ser efetivados se não possuírem o acompanhamento dos professores treinados na sua atuação. A autora acrescenta que os professores do Ensino Comum e os professores da Educação Especial elaboram estratégias para trabalhar em parceria com os paraprofessionals, o que facilita a definição e o limite de cada profissional em sala. A autora descreve como principais funções dos paraprofessionals tarefas como instruir pequenos grupos formados pelo professor; recolher materiais; fornecer assistência para cuidados pessoais e outras necessidades físicas; auxiliar os estudantes para completar instruções dadas pelo professor; facilitar interações entre estudantes; adaptar lições sob a orientação do professor; ver tarefas importantes para comunidade da sala de aula, entre outras.

Nesse ponto de vista, MvVay defende a cultura colaborativa dentro da escola, o que considera fator importante para delimitar a atuação de cada profissional e garantir com sucesso o desempenho de cada função. Vale ressaltar que, de acordo com a autora, o paraprofessional deve trabalhar na perspectiva de apoio para a turma inteira e não apenas para um aluno, concordando com o autor Giancreco (2010) que critica o trabalho desenvolvido de um paraprofessional para cada aluno. Sendo assim, o profissional é direcionado para a turma do aluno que apresenta a necessidade, porém a perspectiva de apoio é para turma de forma generalizada.

Considerando ainda a realidade dos Estados Unidos, Giangreco (2010) apresenta, em um dos seus estudos, uma crítica ao excesso de contratação e confiança nos

paraprofessionals, apontando que o número desses profissionais é mais alto do que número

de professores de Educação Especial. O autor os caracteriza como profissionais com baixos salários, com competências insuficientes para o cargo, inadequadamente treinados, que assumem papeis inapropriados e são vistos como soluções rápidas no processo da inclusão escolar. O autor ainda acrescenta que o uso inadequado desses profissionais pode gerar consequências negativas nas crianças.

1.4. PROBLEMAS E RISCOS DECORRENTES DA ATUAÇÃO DOS PAIE NO