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DEMANDAS ATUAIS DO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR: A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PERSONAGEM NA ESCOLA

1 OS PROFISSIONAIS DE APOIO À INCLUSÃO ESCOLAR

1.1 DEMANDAS ATUAIS DO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR: A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PERSONAGEM NA ESCOLA

Considerando o grupo de pessoas com deficiência, um grupo heterogêneo e muito abrangente chegando à escola, Leal (2014) sugere urgência na discussão sobre o papel da escola comum em tempos de inclusão. Nesse sentido, vale discutir a legislação existente, a qual garante serviços e recursos para apoiar o acesso e a permanência dos alunos PAEE na escola comum. Destaca-se entre eles, a Constituição de 1988, a Declaração de Salamanca (1994), a Lei de Diretrizes e Bases (1996), a Convenção de Jontiem (1991), as Diretrizes Nacionais de 2001, a Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), até a mais atual legislação Lei Brasileira de Inclusão (2015).

A partir de 2008, a Educação Especial passou por grandes indicações de mudanças, com uma política que apresentou novos caminhos, exigências e discussões, vistos como progressos em alguns sentidos e alvo de críticas de outros. A Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) é um documento considerado como marco legal no cenário da Educação Especial, segundo Mendes (2010).

Considerando a legislação citada, é necessário pontuar contribuições importantes quando se pensa nas novas exigências das políticas atuais que objetivam oferecer serviços e redes de apoio para efetivação da educação de qualidade para os alunos PAEE. De acordo com Zerbato (2014), é necessário que exista o compromisso de todos envolvidos no processo e que cada um exerça seu papel e suas responsabilidades, a exemplo do governo, famílias, pesquisadores, professores e demais profissionais para que se efetive a inclusão escolar. Benitez e Domeniconi (2014) concordam e recomendam que esse tema deve envolver a participação de diversos agentes educacionais. Da mesma forma, Leal (2014, p. 116) afirma que “a inclusão do aluno com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), não se faz com

apenas um sujeito, mas requer o envolvimento de todos os profissionais que compõem a equipe escolar”.

Nessa perspectiva, é importante ressaltar a necessidade de ampliação de serviços e principalmente dos recursos humanos, para que possa ser construída uma rede colaborativa e unida de trabalho em todas as esferas. Corroborando com a ideia de colaboração, Mendes ratifica que o

[...] futuro da Educação Inclusiva em nosso país dependerá de um esforço coletivo, que obrigará uma revisão na postura de pesquisadores, políticos, prestadores de serviços, familiares e indivíduos com necessidades educacionais especiais para trabalhar numa meta comum que seria a de garantir uma educação melhor para todos. (MENDES, 2010, p. 35)

Dessa forma, identifica-se a importância do trabalho coletivo e colaborativo nas escolas em uma perspectiva de redes de apoio, com articulação de diversas áreas e profissionais, somando esforços, cada um com seu conhecimento e sua função. Nesse contexto, Leal (2014) afirma que a escola não tem mais como fugir do desafio de repensar e reestruturar a educação nos aspectos físicos, pedagógicos, atitudinais, entre outros, considerando a importância da formação de professores e todas as outras mudanças necessárias para garantia de uma educação de qualidade, inclusive as que estão previstas na legislação e que ainda não se efetivaram na prática.

Na busca para garantir uma educação de qualidade para os alunos PAEE, diversos autores ressaltam alguns desafios e dificuldades encontradas no dia a dia do processo de inclusão escolar. Desafios relacionados às questões econômicas (MENDES, 2006; RODRIGUES, 2006), ausência de recursos humanos e materiais (RABELO, 2012; MENDES, 2010), precarização dos profissionais da educação (MARTINS, 2011), entre outras questões, vêm sendo discutidas na literatura.

Entre os problemas persistentes nessa área, pode-se destacar, segundo Mendes (2010), a escassez de oferta de serviços de apoio e cursos de formação de profissionais especializados, baixo investimento em contratação de profissionais de apoio, professor de Educação Especial e/ou equipe multidisciplinar, além da ausência de recursos materiais e omissão do papel do poder público em todas suas esferas.

Rabelo (2012) pontua que ainda assim existem desafios principalmente, relacionados à prática solitária dos professores, caracterizando a forma de trabalho isolada em sala de aula como um problema, pois quando recebe um aluno que necessita de um trabalho mais

específico ou direcionado, o professor “não encontra o suporte, apoio, segurança, e condições de trabalho para escolarizar com qualidade seus alunos” (RABELO, 2012, p. 46).

Analisando essa realidade, vale destacar a necessidade de revisão, análise e ressignificação da prática educacional de forma geral, além de outros investimentos essenciais para a garantia da educação, como os investimentos em recursos humanos e criação de estratégias para dar suporte ao professor e acabar com a prática solitária. Considerando a necessidade de rever as práticas e a forma que tem se dado a inclusão escolar, Rabelo (2012) pontua como uma necessidade a análise permanente do modelo, das intencionalidades e da forma na qual vem se desenvolvendo a educação inclusiva, pois somente a partir daí, será possível identificar as possibilidades e/ou entraves para concretização dos princípios inclusivos.

Nesse contexto ainda precário, têm surgido algumas possibilidades de melhorias dessa prática. Embora necessite de ajustes, surge um novo personagem considerado como serviço de apoio recente no cenário escolar. Trata-se de um profissional que, de acordo com a análise dos documentos oficiais, passou por modificações de perfil e função ao longo dos anos e que apresenta indefinições de perfil e função, equívocos na atuação, além de diversas denominações (MARTINS, 2011).

Em cada cidade e cada região é atribuído um nome para esse profissional.

Martins (2011) optou pelo termo Profissional de Apoio; Almeida, Siems-Marcondes e Bôer (2014) preferiram adotar o termo cuidadores; Araripe (2012), em uma perspectiva psicológica, optou por Acompanhante Terapêutico; Leal (2014) e Duque (2008) usaram o termo Agente de Inclusão. Outros nomes foram identificados na prática das escolas, tais como: profissional de apoio pedagógico, auxiliar de ensino, estagiário de inclusão, mediador, entre outros. Na literatura estrangeira, Gardou (2009) apresenta a denominação utilizada na França, auxiliares de vida escolar, e nos Estados Unidos, Giangreco (2010) e Macvay (1998) se referem ao termo paraprofissional (Paraprofessional).

Conforme exposto, são diversas nomenclaturas existentes para se referir a esse profissional, o qual possui função semelhante em algumas realidades e em outras, funções distintas, por questões específicas dos contextos educacionais de cada município.

Leal (2014) relatou a experiência do município de Teresina em relação aos profissionais de apoio e pontuou a dificuldade de denominar esses profissionais, acrescentando ainda que esse fato causava inúmeros equívocos. A autora encontrou diversas nomenclaturas existentes no mesmo município, valendo destacar que essa função era exercida por estagiários de

pedagogia e de psicologia, sendo que cada um atuava na sua respectiva perspectiva. A primeira denominação foi a de professor auxiliar, porém foi questionado se as responsabilidades de planejamento pedagógico e substituição do professor ficariam sob esse profissional, o que não seria o seu papel. Sendo assim, o município modificou o termo para Acompanhante Terapêutico (AT), porém com o tempo foi identificado que esse nome remetia a prática clínica, gerando dúvidas sobre a atuação. Após muitas discussões e consensos, o termo final adotado naquele contexto foi o de Acompanhante Pedagógico (AP).

Na pesquisa sobre Profissionais de Apoio de Martins (2011), realizada no estado de Santa Catarina, apareceram também diversas denominações, sendo que cada município apresentava uma nomenclatura diferente, além de funções variadas. Identificou-se diversidade de atuação entre os profissionais de cada cidade diferenciada a partir do critério do profissional (participar ou não do planejamento), adaptações e flexibilizações junto ao professor do ensino comum. Esse conjunto de ações será denominado de “responsabilidade de planejamento e ensino”, para uma melhor compreensão da diferenciação das funções dos profissionais, assim, toda vez que esse termo aparecer estará relacionado às atividades citadas.

Nesse sentido, os municípios que possuíam os profissionais com caráter de

“Responsabilidade de planejamento e ensino”, na pesquisa de Martins (2011), foram denominados como profissionais bi docente, professor de apoio pedagógico e auxiliar de ensino, os quais exerciam o único serviço de apoio à sala comum para dar suporte de maneira geral para os alunos PAEE, tinham como função além das atividades relacionadas a planejamento e ensino, o auxílio aos alunos que possuíam dependência nos cuidados pessoais. O outro perfil de profissional apresentado nos demais municípios possuía a função de apoio a cuidados e necessidades básicas aos alunos dependentes, nesses casos, eram denominados cuidadores, profissionais de apoio, estagiário e entre outros.

Na legislação brasileira, a denominação desses profissionais também é apresentada de diversas formas, como pode-se observar na Resolução 02/2001 que, apesar de não serem os Profissional de Apoio, propriamente dito, pode-se considerar um profissional de suporte ao professor do ensino comum, apresentado nesse documento como professores especializados (BRASIL, 2001). Na política da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), o termo citado é cuidador ou monitor (BRASIL, 2008), na Resolução 04/2009, são descritas as funções, porém não é definido um nome que se refere a esse profissional e consta a descrição também outros profissionais. A nota técnica 19/2010 já faz referência aos profissionais de apoio, na Lei de proteção à Pessoa com autismo é citado como acompanhante

especializado (BRASIL, 2012) e na Lei Brasileira de Inclusão (2015), o termo Profissional de Apoio é retomado.

Diante do contexto apresentado, o termo adotado no presente estudo foi o de Profissional de Apoio à Inclusão Escolar (PAIE), o qual se refere a um serviço de apoio à Educação Especial, atua em escolas comuns e dão suporte aos alunos PAEE, ajudando nas atividades de cuidados pessoais básicos, assim como escolares, nas quais os alunos possuírem dependência para realizá-las ou necessitem de ajuda para participar efetivamente de uma delas , assim como dá suporte ao professor em situações que não seja de “responsabilidade de planejamento e ensino”, mas fica disponível para qualquer auxílio em sala de aula.