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EIXO TEMÁTICO 3: FUNÇÕES ATRIBUÍDAS E EXERCIDAS PELOS PROFISSIONAIS DE APOIO À INCLUSÃO ESCOLAR (PAIE)

Etapa III – Criação de relação entre os códigos

SEM ESPECIFICIFICAÇÃO DA NECESSIDADE

3.3 EIXO TEMÁTICO 3: FUNÇÕES ATRIBUÍDAS E EXERCIDAS PELOS PROFISSIONAIS DE APOIO À INCLUSÃO ESCOLAR (PAIE)

A função do PAIE tem provocado opiniões diferentes em alguns pesquisadores e profissionais da área de Educação em relação à necessidade de ter ou não esse espaço para atuação. Alguns gestores relataram acreditar que a escola deveria se organizar com o quadro de profissionais já existente para atender a demanda desse profissional, não sendo necessário contratar uma pessoa de fora para realizar as atividades que o PAIE exerceria. Principalmente relacionada aos cuidados pessoais dos alunos PAEE, como no caso em que a gestora de Chico Lopes, embora contasse com esse no município, comentou que se a escola tivesse outro formato, outra proposta, não seria necessário ter uma pessoa apenas para cuidar, pois defende que o cuidar é uma função interligada ao educar. Dessa forma, seria responsabilidade da escola cumprir essa obrigação com os profissionais existentes.

Ela pontuou também que talvez precisasse aumentar a quantidade de educadores e não de profissionais do cuidado, como se pode observar na fala

Se a escola de fato entendesse sua responsabilidade educacional na perspectiva da educação inclusiva e na diversidade, os cuidadores seriam desnecessários. Veja bem, o cuidado continua sendo necessário e a escola tem profissionais que deveriam ser formados para isso, já que o cuidar está inerente ao educar na contemporaneidade. Há que se pensar num perfil de equipe escolar que abrace tudo isso e talvez até a necessidade de um novo educador ou de mais educadores, o que não dá é para pensar num profissional que é apenas cuidador num espaço onde o objetivo é o desenvolvimento formal (GC).

A partir dessa fala, identifica-se a necessidade de transformação da escola para que se consiga alcançar o defendido pela GC, porém existem controvérsias sobre esse assunto. A demanda dos alunos PAEE tem aumentado cada vez mais, com especificidades que demandam disponibilidade para exercer as atividades em relação aos serviços relacionados a saúde, a locomoção, higiene, alimentação, ações que, muitas vezes, os profissionais que possuem formação acadêmica se negam a exercer por não fazerem parte do seu papel e por sentirem que há um desvio de função, que os diminui, de certa forma. Vale ressaltar que para atuar nessa função dos cuidados relacionados a saúde, a locomoção, higiene, alimentação, não é requisitada uma formação acadêmica no ensino superior, apenas à conclusão do ensino médio e a formação continuada de boa qualidade durante a atuação.

Dessa forma, há um grande desafio em atribuir funções de “cuidados básicos” para profissionais que possuem formação acadêmica e uma profissão que não prevê essas ações. A função do cuidar de uma forma geral é garantida apenas para os alunos da educação infantil que possuem, além da professora, uma pessoa responsável por esse cuidar complementar ao educar, mas os alunos a partir do ensino fundamental não têm essa garantia, assim, teria que existir um profissional específico para exercer essas atividades quando necessário.

Vale destacar que a estrutura tradicional mais antiga da escola, que é a que permanece até hoje, não foi pensada para os alunos PAEE. Sendo assim, são necessárias mudanças, conforme a fala de GSC

Quando as escolas foram pensadas não se pensava em ter alunos com deficiência, com toda essa limitação que nós temos hoje e os profissionais da educação, os professores, inspetores de alunos, pessoal da secretaria não tinha uma pessoa que fazia isso adequadamente então é muito constrangedor por uma criança, adolescente ser manipulada uma hora por alguém ora por outro, porque

as pessoas não têm isso incorporado na sua função não se sentem obrigadas a isso (GSC).

Assim, considerando a realidade das escolas atuais, o aumento das matrículas dos alunos PAEE e as necessidades de apoio apresentadas pelos alunos, aos poucos foi-se percebendo que o modelo tradicional existente na escola não estava conseguindo atender essa nova demanda e precisava de alguma providência, tanto na forma de pensar e lidar com a diversidade da equipe escolar, quanto com o perfil e quantidade de profissionais que nela atuam.

Neste estudo, a discussão se faz em torno do perfil e função dos profissionais que não necessitam de uma formação acadêmica para atuar e exercem atividades de “cuidados básicos” e auxílios em atividades nas quais os alunos possuam dependência, diferente do professor de apoio, citado também neste estudo. Porém este último não é personagem foco da pesquisa, não será analisado aqui esse professor que tem a responsabilidade de elaboração, planejamento, adaptações, entre outras atividades que demandam uma formação específica, como por exemplo, o professor de Educação Especial. Nesse sentido, vale destacar a importância da função dos dois profissionais, acentuando que deve haver uma diferenciação e critérios para essa atuação.

A partir desse contexto, a função dos profissionais de apoio tem sido um tema polêmico, recente no cenário educacional e pouco discutido em âmbito acadêmico, embora a contratação desse profissional em alguns municípios já seja real. A partir da leitura de alguns documentos legais (BRASIL, 2001; 2008; 2010; 2015) e alguns dos poucos trabalhos encontrados (MARTINS,2011; LEAL,2014; ALMEIDA, SIEMS- MARCONDES E BOER,

2014), foi possível identificar a pluralidade de funções dos PAIE em diferentes contextos e a definição dessa atuação realizada de acordo com a política de Educação Especial de cada localidade, embasada nos conhecimentos e experiência dos gestores e nas demandas específicas de suas redes de ensino.

O eixo Função dos PAIE foi discutido com os dois grupos de participantes, os profissionais de apoio e os gestores de Educação Especial de cada município. Os questionamentos foram relacionados às funções atribuídas pelos órgãos responsáveis e as funções exercidas no dia a dia dos PAIE, com o intuito de analisar a atuação dos profissionais diante do cenário da inclusão escolar nos municípios e identificar se há concordância entre o que é suposto e o que é de fato realizado na prática por eles. Assim,

nesse eixo, os dados serão apresentados e discutidos separadamente, inicialmente as funções atribuídas, em seguida, as funções exercidas e a conclusão, realizando uma comparação entre as funções atribuídas e as funções exercidas.

3.3.1. Órgãos responsáveis pela atribuição da função dos PAIE

Nas cidades Sexto Elemento e Flores, onde os PAIE são contratados pela empresa terceirizada, os participantes relataram ter sido informados sobre o cargo e a função que iriam exercer, apenas ao chegarem na instituição para iniciar o trabalho. Dessa forma, os profissionais não tiveram contato inicial com o setor responsável pela Educação Especial do município e assumiram uma função sem ter conhecimento das atividades que iriam realizar e se teriam perfil para tal. Nessa situação pode-se perceber alguns riscos, principalmente, em relação ao perfil dos profissionais, que poderiam não ser condizentes com a função, o nível de qualidade da atuação, culminando na desistência do cargo por insatisfação.

Outra questão preocupante percebida foi a autonomia que o diretor da escola possuía em atribuir e orientar a função para os PAIE, cada um de acordo com seus critérios, convicções e necessidades da sua escola. Assim, essa ausência de atribuição padronizada pode causar diferentes formas de trabalho dentro de uma mesma rede de ensino, além de que, a falta de documentos norteadores, seja municipal, estadual ou federal, acentua mais esse risco, lembrando que os dois municípios citados possuíam o setor específico de Educação Especial.

No município de Lince, os profissionais relataram que antes de iniciar o trabalho se dirigiam ao setor de Educação Especial do município e, em conversa individual com um dos membros da equipe, recebiam uma ficha de encaminhamento contendo o nome da escola e as orientações das atividades que deveriam realizar. A ficha era um documento mais geral, embora tivesse os dados básicos de atuação do profissional, como a escola, a turma e os alunos que iriam acompanhar.

Em Santa Clara e em Chico Lopes, as funções foram atribuídas pela empresa terceirizada no momento da seleção, sendo assim, os PAIE já assumiam a função, cientes das atividades que iriam exercer. Em Santa Clara, no caso dos AVEs, após a contratação, os profissionais da empresa terceirizada, responsáveis pela seleção, acompanhamento e formação dos PAIE, promoveram um curso de formação de 15 dias antes de iniciar o

serviço, com orientações e informações relacionadas à função que esses deveriam exercer. No caso dos estagiários, a empresa terceirizada, especializada em estágio que informou sobre a vaga e a função, porém as orientações mais detalhadas eram dadas e no centro de acompanhamento de inclusão do município. No caso de Chico Lopes, havia uma pessoa da empresa terceirizada na Secretaria de Educação designada para selecionar e acompanhar o trabalho desses profissionais, dessa forma, ela que informou as funções no momento da seleção.

Assim, percebe-se que alguns municípios forneceram informação sobre a função antes de iniciar o trabalho (Lince, Santa Clara e Chico Lopes) e outros foram informados quando chegaram à instituição (Flores e Sexto Elemento). Assim, pode-se identificar aspectos diferentes entre as cidades, nesses casos, por quem atribuiu as funções no momento. Nesse sentido, é importante conhecer as funções que foram atribuídas para os PAIE nas cidades, identificando quais delas possuem funções em comum.

3.3.2. Função atribuída

As funções atribuídas foram sistematizadas no quadro 9 apresentado a seguir, o qual apresenta as funções que foram atribuídas para atuação do PAIE pelos órgãos responsáveis, assim como os documentos existentes que falam sobre o PAIE de cada cidade. Foram analisados os documentos, como o exemplo da ficha de encaminhamento, a cartilha e a resolução do Sexto Elemento, o jornal e o plano municipal de educação de Lince, a portaria e o decreto de Santa Clara, porém, no caso de Chico Lopes, o único documento que tratava sobre o PAIE era o projeto da empresa terceirizada em vigência, mas não foi possível acessálo e a gestora comentou que os PAIE não têm acesso a esse projeto.

QUADRO 9 – Funções atribuídas pelos gestores e documentos oficiais por município.