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A Observação do Ensino

Dimensão Visível

1. A Observação do Ensino

Procurando melhorar o ensino a curto prazo, a investigação sobre o ensino começou por dedicar-se ao estudo empírico da eficácia do professor (Dussault, 1973). Baseando-se no pressuposto de que a eficácia era uma consequência das características do professor, é natural que procurasse identificar essas características; acreditando que era uma consequência dos métodos utilizados pelo professor, faz sentido que procurasse saber qual era o melhor método; pensando que eram os comportamentos do professor, necessários para que os alunos aprendessem, tem lógica que procurasse descobri-los; e considerando que dependia do repertório de competências do professor e da sua habilidade para as usar correctamente, entende-se porque o procurou descobrir (Peterson e Walberg, 1979; Medley, 1979). Tratava-se de estudar as características do bom professor, procurar o melhor método de ensino e descrever o comportamento dos professores e dos alunos (Carreiro da Costa, 1984, 1988).

Revisão da Literatura

Desde os anos sessenta, rompendo com a tradição daquela época, um movimento de investigação, centrado sobre o desenvolvimento dos acontecimentos da aula, tentou fornecer uma nova dimensão científica ao ensino. Debruçando-se sobre a análise do que se passa na aula, sobre a acção durante o processo de ensino- aprendizagem, interessou-se pela observação do comportamento dos professores, dos seus alunos e das interacções entre estes e aqueles. Tal interesse forneceu os dados descritivos que faltavam para esperar melhorar o ensino e permitiu uma reflexão profunda sobre o acto de ensinar. Pela observação sistemática desse acto, o metodólogo ultrapassou as suas impressões subjectivas e as descrições idealizadas que vinham directamente da teoria dos programas (Pieron, 1996).

Trata-se daquilo a que alguns autores chamam de dimensão visível da análise de ensino (Carreiro da costa, 1996; Januário, 1996; Pieron, 1996), onde deliberadamente se procura descobrir o ensino tal como ele parece ser, tal como é observável nas aulas reais, onde se debatem os professores e os alunos com os problemas da pedagogia e da aprendizagem.

Assim, desde aquela altura que a análise de ensino, encarada sobre esta perspectiva, se limita a dar uma imagem fiel do que se passa na aula, de modo a proporcionar ao professor um espelho do seu comportamento, de lhe proporcionar um feedback objectivo da sua actividade. De facto, os estudos que utilizam a observação sistemática procuram descrever e identificar comportamentos, habilidades e estratégias, utilizadas por professores e alunos. Não pretendem provar a superioridade de um método em relação a outro, ou identificar bons e maus professores, a sua finalidade é colher informações objectivas sobre o que acontece na aula, através de sistemas que abrangem diversas categorias de comportamentos (Petrica, 1993).

Para Pieron (1996), as suas principais funções são:

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- Fornecer ao professor uma imagem objectiva da sua prestação;

Na realidade, não basta que os programas preconizem o emprego de uma pedagogia por objectivos, ou de uma pedagogia não directiva, para que estes se transformem automaticamente em actos no domínio prático. O universo teórico por eles definido deve traduzir-se em termos de comportamentos observáveis sobre o terreno, e isso só é possível se observarmos o processo de ensino para, ao confrontar as observações com os princípios teóricos, verificarmos em que medida a teoria encontra lugar na prática.

Por seu lado, os professores deixam-se frequentemente embeber na rotina que os conduz a limitar consideravelmente a variedade das suas intervenções, para se refugiarem naquelas em que se sentem mais à vontade e que os fazem correr menos riscos, em termos de controlo da classe (Pieron 1986a).

É que, tão ocupado que o professor está com a sua acção e com as decisões urgentes que terá que tomar, que tem dificuldade em percepcionar correctamente a sua prestação. Na verdade, a interacção professor-aluno desenrola-se a um ritmo muito rápido, depois, o professor, na maior parte dos casos não foi preparado para observar, para analisar e para interpretar os seus comportamentos na sala de aula, e finalmente, ele está, normalmente, tão empenhado na leccionação, nas múltiplas decisões que terá que tomar, na reacção dos seus alunos a essas decisões, e assim por diante, que raramente consegue ter uma noção precisa sobre o que se passa durante a lição. De facto, quanto menor for a precisão dessa percepção sobre os seus comportamentos em aula, mais necessário se torna assegurar-lhe um feedback sobre a sua acção.

Os dados colhidos em relação a um professor dão-lhe a oportunidade de apreender melhor a sua maneira de actuar, de

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alunos e ele, de descobrir ele próprio a maneira de modificar o seu comportamento e através disso as suas atitudes (Postic, 1979,

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Na realidade, poderemos dizer que o grande objectivo da observação sistemática do ensino é identificar e caracterizar os estilos, os padrões e as intervenções dos professores, de determinar o seu impacto e a sua influência sobre os alunos, sobre o seu comportamento ou sobre as suas aquisições (Pieron, 1986a, 1996).

Ao nível da formação de professores, esse estudo parte da hipótese de que uma preparação com base na análise da interacção ou na observação sistemática, permitiria ao professor tornar-se consciente dos seus comportamentos e, ao mesmo tempo, o ajudá-lo-ia a utilizar um mais largo repertório de intervenções (Pieron, 1996). As competências, destrezas e habilidades de ensino a adquirir, desenvolver ou melhorar, dependem em grande parte, do conhecimento mais elaborado possível do que se passa realmente na aula (Pieron, 1983,1985), até porque, uma simples informação factual revela-se insuficiente para modificar os comportamentos.

O fenómeno pedagógico só poderá ser aprendido através de uma observação rigorosa e exaustiva, gradativamente mais complexa nos meios utilizados e mais fina nos resultados obtidos. Ou seja, através da utilização de metodologias de observação sistematizada e, simultaneamente, naturalista, que possibilitem a construção dos factos a partir da inserção de situações e comportamentos nos seus respectivos contextos. (Estrela, 1984:20)

A análise da dimensão visível do ensino propõe uma abordagem muito rigorosa do fenómeno educativo, não se baseando, nem sobre as opiniões, nem sobre qualquer tipo de influências, tenta utilizar meios científicos como a observação sistemática ou a experimentação (Swalus e al. 1988).

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