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O Comportamento de Gestão do Tempo de Aula

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4. Os Comportamentos de Ensino

4.1. O Comportamento de Gestão do Tempo de Aula

Uma primeira habilidade de ensino do professor, e particularmente do que lecciona a Educação Física, é a sua capacidade para gerir o tempo de que dispõe para conduzir cada uma das aulas.

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Como sabemos, nem todo o tempo de que o professor dispõe pode ser utilizado para a transmissão de conteúdos ou para os alunos praticarem as actividades propostas, pois algum terá que ser gasto na colocação e na arrumação do material, na formação de grupos de trabalho, nos deslocamentos para os locais de trabalho, ou para os alunos poderem descansar do esforço que acabaram de fazer.

Para Carreiro da Costa (1984a), os professores mais eficazes são igualmente bons gestores, sabem aproveitar bem o tempo de que dispõem para dar as suas aulas, por isso, se queremos conhecer melhor a forma como os professores conduzem o processo de ensino, importa conhecer o modo como, nas aulas de Educação Física, utilizam o tempo de aula.

As noções de tempo têm sido alvo de numerosos estudos3, e em todos eles, por vezes com designações ligeiramente diferentes, mas significando, no essencial, a mesma coisa, aparecem os conceitos de tempo programa, tempo útil, tempo de

informação, tempo de transição, tempo disponível para a prática e tempo passado na tarefa.

O tempo programa, também chamado de tempo horário por carreiro da Costa (1994a) e por Swalus e al. (1988), corresponde ao tempo definido pelos poderes públicos, nos horários escolares, para cada uma das aulas de Educação Física. No nosso país, corresponde a cinquenta minutos.

O conceito de tempo útil merece a mesma designação em quase todos os estudos e corresponde ao tempo que os alunos passam, realmente, na aula. Scheiff e Renard (1991, 1992a) e Swalus e al. (1988) utilizam ainda a noção de tempo útil para os

exercícios, que corresponde ao tempo que resta, deduzindo do tempo útil o

princípio da aula, as organizações importantes das sequências de actividade e a

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reunião final. É, portanto, o tempo que sobra para o ensino e a aprendizagem, propriamente ditos.

O tempo de informação e o tempo de transição correspondem, respectivamente, aos períodos passados a apresentar as actividades e a informar os alunos, e aos períodos gastos na colocação do material, na formação de grupos, ou para os alunos descansarem do esforço desenvolvido (Pieron, Cloes e Dewart,1985; Pieron, 1986a, 1996).

O tempo disponível para a prática, também chamado nos estudos de Scheiff e Renard (1991, 1992a) e Swalus e al. (1988), de tempo oferecido, é o tempo que sobra ao tempo útil, ou ao tempo útil para os exercícios, depois de lhe ter sido efectuada a subtracção do tempo de informação e do tempo de transição.

Finalmente, o tempo passado na tarefa (Pieron, 1982, 1984a, 1986a), tempo

potencial de aprendizagem (Carreiro da costa, 1984a), ou o tempo de ocupação possível (Scheiff e Renard, 1991, 1992a; Swalus e al., 1988), corresponde ao

tempo que os alunos passam a executar as tarefas de aprendizagem e depende directamente da percentagem de alunos colocados simultaneamente em actividade. Esta noção varia, essencialmente, segundo o tipo de organização e o modo de funcionamento proposto. Resulta na taxa de ocupação possível, expressa em percentagem, que pode coincidir totalmente com o tempo de empenhamento motor (100%), se todos os alunos praticarem ao mesmo tempo, ou não coincidir totalmente (20%), se apenas pratica um aluno em cada cinco. Do empenhamento motor dos alunos falaremos detalhadamente mais adiante.

Os valores relativos a estas variáveis vão decrescendo à medida que partimos do tempo programa até chegar ao tempo passado na tarefa. Esta diminuição gradual dos valores de tempo constitui aquilo a que Metzler (1979) chama de funnelling

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representativas do ensino primário na comunidade Francesa da Bélgica, em que o tempo útil atingia 74% do tempo programa e o tempo disponível para a prática rondava os 60% do tempo útil.

Mais tarde, Scheiff e Renard (1991, 1992a), utilizando as variáveis de tempo para estudar o ensino da Educação Física, em noventa e cinco classes de outras tantas escolas da Bélgica Francófona, constataram que, a partir de uma duração horária de 50 minutos, não sobravam mais que 38 a 40 minutos de presença na sala, com 15 a 30 minutos como ocupação possível para a prática, dos quais, cerca de 13 minutos de ocupação motora real, pelo aluno.

Quando procurávamos conhecer a estabilidade dos comportamentos de gestão do tempo de aula em dois professores, um do ensino Básico e outro do ensino Secundário (Petrica, 1989), verificámos que o tempo de informação médio era de 33,7% do tempo útil, no primeiro, e 33%, no segundo; o tempo de transição de 21,9% e 15,5%; e o tempo disponível para a prática de 44% e 50,8%, respectivamente, para as doze aulas em que foram observados.

Por seu lado, Pieron e Piron (1981) verificaram, em situação de microensino, que as classes com níveis de progresso superior passaram menos tempo em transição e mais tempo a receber informação relacionada com o conteúdo de ensino. No que respeita à prática da habilidade motora em causa, aqueles autores descobriram que as classes de maior progresso passaram 42,9% do tempo útil e 61,7% do tempo disponível para a prática a repetir o exercício, enquanto as classes menos eficazes passaram 29,5% e 40,4%, respectivamente. Este estudo veio confirmar a relação existente entre os comportamentos de gestão do tempo de que os professores dispõem para dar a aula e a eficácia no ensino das actividades físicas.

De facto, tornar o tempo útil da aula o mais elevado possível, utilizá-lo de forma adequada, reduzindo ao mínimo indispensável os tempos de informação e de

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de molde a evitar tempos de espera prolongados e comportamentos desvio, aproveitando ao máximo o equipamento disponível e tornando produtivos os tempos de espera, parecem constituir, segundo Carreiro da Costa (1984a), condições de sucesso no ensino das actividades físicas.

Para Pieron (1984a), o tempo de apresentação das actividades raramente deveria exceder os 15% do tempo útil, e conseguir disponibilizar para a prática um tempo da ordem dos 70% a 80% daquela variável, parecem valores bastante razoáveis na metodologia do ensino das actividades físicas.

Aquele autor recomenda, em termos metodológicos, para aumentar o tempo útil da aula, incrementar o interesse pelas actividades, a colocação rápida do equipamento e a redução, ao mínimo, das rotinas administrativas, acelerando-as. Para aumentar o tempo disponível para a prática, organizar a aula no sentido de reduzir o tempo de transição e informar os alunos de uma forma precisa, concisa e específica. Finalmente, para incrementar o tempo passado na tarefa, escolher actividades bem adaptadas ao nível de habilidade dos alunos, efectuar uma parte da aula em trabalho conjunto, para conseguir sempre um nível mínimo de actividade, controlar a actividade regularmente, relançá-la através de intervenções colectivas e individuais, e estabelecer um clima positivo.

Parece-nos, portanto, que conhecer o modo como os professores de Educação Física gerem o tempo de que dispõem para dar a sua aula poderá constituir um primeiro indicador da eficácia do seu ensino, antes de procurarmos descrever as diferentes funções e intervenções específicas de ensino-aprendizagem que estabelecem na interacção com os seus alunos.

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4.2. O Comportamento Relacionado com as Principais Funções de