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O Paradigma dos Processos Mediadores ou Paradigma do Pensamento do Aluno

Do Paradigma Ecológico ao Paradigma dos Processos Mediadores.

1. Os Paradigmas de Investigação

1.5. O Paradigma dos Processos Mediadores ou Paradigma do Pensamento do Aluno

A utilidade de assumir que o ensino pode ser melhor compreendido, e melhorado, pelo conhecimento dos seus efeitos nos pensamentos dos aprendizes, que medeiam a aprendizagem, tendo em conta a transformação operada pelo aluno, resultante dos saberes transmitidos pelo professor, a partir de representações, de interpretações e de retratamento da informação recebida, deu origem a uma nova linha de investigação relacionada com o conceito de Mediating Processes (Doyle, 1978).

Segundo Levie e Dickie (1973), os mediadores são os processos humanos implícitos, que se interpõem entre os estímulos pedagógicos e os resultados da aprendizagem.

Les processus médiateurs, filtres intermédiaires entre lénseignant et l’apprenant. (Altet,1988 :238)

Do Paradigma Ecológico ao Paradigma dos Processos Mediadores

ao que se passa entre o estímulo e a resposta e, mais tarde, às aprendizagens dos alunos (Pieron 1996). Entre o estímulo e a resposta, colocam-se os processos mentais que tratam a informação fornecida. É necessário reconhecer os estímulos de ensino nominais, quer dizer, a mensagem emitida pelo professor e o que o aluno vai realmente tratar, o que ele percebeu. A selecção dos estímulos pelo aluno dependerá, especialmente, das exigências da tarefa.

O estudo do ensino, levando em linha de conta estes processos, tem vindo a ganhar importância. Trata-se de um modelo de investigação baseado na psicologia cognitiva, que parte do pressuposto que não existe uma relação directa entre o ensino e a aprendizagem. A percepção sobre a sua própria competência, a experiência, os conhecimentos prévios, a atenção aos docentes, as motivações e as atitudes perante a aprendizagem, são, para Carreiro da Costa (1996), elementos dos alunos que têm influência no seu potencial de aprendizagem ou rendimento. A percepção que os alunos têm dos seus professores, do processo de ensino, e o tratamento diferencial que os alunos recebem dos professores, parece mediar a aquisição escolar (Wittrock, 1986).

Constitui uma referência crucial do processo de pensamento dos alunos, o papel fundamental desempenhado pelo estudante na sua própria aprendizagem (Crahay, 1986; Carreiro da Costa, 1996), visto que, são estes que determinam quais os estímulos de ensino que são tratados, como o são e, naturalmente, quais os elementos do ensino que são integrados.

Em contraste com a investigação que estuda como os professores, ou os processos relativos à instrução, contribuem directamente para a consecução dos alunos, a investigação sobre os processos de pensamento dos alunos, segundo Wittrock (1986), examina como o ensino, ou os professores, influenciam o que os alunos pensam, acreditam, sentem, dizem, ou fazem, que afecta as suas aquisições.

Revisão da Literatura

Vários autores realçam a importância desta abordagem, designando-a por paradigma alargado processo-produto (Dunkin 1986; Gage1986), ou paradigma dos processos mediadores (Doyle, 1986).

Figura 4 - Paradigma processo-produto alargado por Doyle (1978).

The distinctive characteristic of the research on students’ thought processes is the idea that teaching affects achievement through student thought processes. That is, teaching influences student thinking. Students’ thinking mediates learning and achievement.

(Wittrock, 1986:297)

Como recorda Pieron (1996), trata-se de um paradigma introduzido no ensino em geral, mais particularmente, no domínio da aprendizagem da leitura e da escrita.

A recente investigação sobre os processos de pensamento dos alunos, estudou os efeitos dos professores e da instrução, nas percepções, expectativas, processos atencionais, motivações, atribuições, memórias, gerações, compreensões, crenças, atitudes, estratégias de aprendizagem, processos cognitivos e metacognitivos dos alunos que medeiam a consecução (Wittrock, 1986), seja a percepção dos comportamentos do professor, a percepção dos objectivos da disciplina, seja o auto-conceito (Pereira, 1995), ou até os aspectos afectivos (Lee, 1991).

Prática do professor Rendimento e atitudes do aluno Respostas mediadoras do aluno Índices de que dispõe

o aluno e interpretação que lhe dá

Do Paradigma Ecológico ao Paradigma dos Processos Mediadores

O paradigma dos processos cognitivos mediadores ou de pensamento do aluno é, também, para Carreiro da Costa (1996), uma linha de investigação que tem inspirado alguns estudos sobre o ensino da Educação Física no nosso País.

Procurando verificar de que forma o ensino, ou o professor, influenciam o que os alunos pensam, crêem, sentem, dizem e fazem, o estudo recente destes processos trazem uma perspectiva distinta ao entendimento dos efeitos do professor na aprendizagem, ao desenvolvimento de teorias de ensino, e ao projecto e análise do ensino (Wittrock, 1986).

1.6. Conclusão

Em resumo, de acordo com Carreiro da Costa (1996), as referências conceptuais e metodológicas que têm inspirado a investigação sobre o ensino em Educação Física, no nosso país, assentam fundamentalmente nos três grandes paradigmas: o paradigma presságio-processo-produto; o paradigma dos processos de pensamento e acção do professor; e o paradigma dos processos cognitivos mediadores ou de pensamento do aluno.

Apesar das limitações, se queremos estudar o ensino no seu ambiente real, não poderemos deixar de ter em conta o paradigma ecológico para o estudo das relações entre as situações da aula e a maneira como os indivíduos aí respondem (Doyle,1986).

A análise integrada dos processos de pensamento dos professores e dos alunos, com os comportamentos e efeitos na sala de aula é, de acordo com Januário (1996), uma via privilegiada de estudo, permitindo aumentar o nosso conhecimento sobre o processo de interacção pedagógica e melhorar o serviço que

Revisão da Literatura

O estudo do comportamento do professor na sala de aula só pode ser genuinamente intencional na medida em que essas acções se encontram ligadas a pensamentos e decisões que guiam essa intervenção. (Januário, 1992:1)

Se queremos ter em conta os processos interactivos ensino-aprendizagem, na sua reciprocidade e dinâmica, o paradigma de investigação processo-produto deve ser alargado, para deixar mais lugar aos processos vindos dos alunos e das variáveis de contexto, nas quais esses processos se realizam (Altet, 1988).

Se em relação à interacção na sala de aula, à observação de professores e alunos, há grande produção de conhecimento, e em relação ao contexto psicológico do ensino, existe, também, um corpo apreciável de estudos e de conhecimentos, integrados na área de investigação denominada pensamento do professor, já a relação entre esses dois aspectos, pensamento e acção, é uma via menos estudada, tanto no ensino em geral, como no ensino em Educação Física, por isso,

acreditamos que a ligação entre pensamento e comportamento é uma via promissora para a compreensão do processo de ensino/aprendizagem. (Januário,

1992:1)

Não querendo ir tão longe como Altet (1988), ao propor uma nova abordagem paradigmática, constituída por um modelo integrador, pluridimensional, do processo de ensino aprendizagem que, no fundo, traduz a conjugação de paradigmas, nomeadamente, a do paradigma processo produto com o paradigma dos processos mediadores, pensamos que o presente estudo se fundamenta em quatro paradigmas distintos: o paradigma ecológico, por se desenvolver nas condições naturais em que se processa a formação de professores e a sua preparação prática para a profissão; o paradigma presságio – processo – produto, por se pretender analisar o processo de ensino à luz da observação do que fazem professores e alunos na sala de aula; o paradigma do pensamento e acção do

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podem influenciar a sua acção ou ser influenciados por esta; e o paradigma dos processos mediadores, por se pretender conhecer os processos mentais dos alunos que se podem interpor no processo de ensino – aprendizagem e, desse modo, condicioná-lo.

Capítulo II