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Parte II – Fundamentação epistemológica – Informação, Comunicação e Tecnologia

Capítulo 3 – Comunicação

3.3. A comunicação como amálgama da rede

3.3.3. A organização da Comunicação

A compreensão das relações na rede e das necessidades e habilidades dos indivíduos que compõem esta rede possibilita desenhar estratégias complementares de ações de

comunicação e de informação. É possível criar plano de comunicação integrada para relações fluidas e horizontais (a rede em torno de um interesse comum), desde que se observe – a partir do indivíduo, a rede e as relações em rede – a organização do espaço digital: a definição dos objetivos da rede, dos elementos visuais para a rede, dos ambientes de acesso e acessibilidades, entre outros elementos.

3.3.3.1. A Comunicação organizacional

A comunicação nas organizações surge no final do século XIX, início do XX. Nasce por meio de ações pulverizadas e compartimentadas. É o instrumento do capital para a comunicação com a sociedade e com os trabalhadores.

Comunicação Integrada está ligada ao esforço de se utilizar a comunicação como ferramenta para harmonizar os conflitos internos da organização, sobretudo os que envolvem a tensão capital-trabalho, bem como tornar a imagem da organização aceita pela sociedade. (GERALDES, 2014, p. 134)

O conceito de comunicação integrada surgiu como contraponto às ações fragmentárias e compartimentadas da comunicação e na relação com a sociedade, além de ações positivas “também cabiam a mentira e a corrupção de jornalistas” (GERALDES, 2014, p. 134). Os boletins internos surgem como resposta ao crescimento dos movimentos sindicais em defesa dos direitos dos trabalhadores. A função destes boletins era fazer o empregado vestir a camisa da empresa. Era o último recurso, antes que a organização recorresse a demissões de repressão (GERALDES, 2014). A comunicação integrada também tem o sentido de complementaridade e diálogo entre as várias habilitações da comunicação. Como observa Geraldes, ao refletir sobre a esfera política na política de comunicação nas organizações nos tempos atuais, “ a integração exige que problemas e desafios complexos sejam abordados de forma também complexa” (Idem, p. 135).

Na visão de Kunsch (2003), é através das organizações o indivíduo consegue ampliar as aptidões, aproveitar melhor habilidades e conhecimento de cada um. Neste sentido, as redes digitais constituídas em torno de objetivos comuns podem ser consideradas organizações, pois que constituem “aglomerados humanos planejados conscientemente que passam por processos de mudanças e se reconstroem sem cessar e visam obter certos

resultados” (GOULART; CUNHA, 1999, p. 57). É preciso levar em conta os fatores condicionantes neste processo: as pessoas; a estrutura, com correspondentes hierarquias e divisão do trabalho, quando houver; a tecnologia do processo de trabalho; os objetivos desejados; o ambiente; as fontes e os receptores. Integrantes da Comunicação Organizacional, estes conceitos são fundamentais para a construção de ambientes que atendam às estratégias de ações de comunicação em rede nos ambientes digitais. A comunicação na rede, se observada como uma organização fluida e horizontal em que os indivíduos se relacionam por objetivos comuns, também pode ser contemplada pelo planejamento.

… m no ambiente das organizac es que se manifestam as interac duos, grupos sociais entendidos como organizac es voltadas para determinados fins experimentam o mundo e atuam nele a partir de interac licas, perpassadas pela linguagem, e as fronteiras (sub) culturais, que se inter- relacionam dinamicamente, em um movimento de organizac o/desorganizac veis. Esses grupos, por si , constituem-se como organizac es e, portanto, relacionam-se de novas formas, adaptadas a condic rias sociais, de trabalho e produc o. (GUAZINA; BELISÁRIO, 2012, p. 131)

Mesmo virtualmente, o indivíduo depende das organizações e é através delas que ele consegue ampliar as aptidões, aproveitar melhor habilidades e conhecimento de cada um. As organizações são formadas por pessoas com o próprio universo cognitivo, maneira própria de ver as coisas e a cultura organizacional deve estar neste contexto e ser analisada de uma perspectiva individual, grupal, organizacional e sociopolítica (KUNSCH, 2003). A forma de estruturação permite viabilizar a coordenação de atividades, gestão de pessoas e desempenho das organizações rumo aos objetivos traçados por elas. Este campo trabalha, em geral, com o que Habermas (2010) denomina comunicação para o sucesso, focada em atingir determinadas metas. Kunsch (2003) utiliza o termo “ad hocracia” cunhado por outros estudiosos do tema para definir as organizações (em contraponto ao tipo ideal, de Weber, de burocracia): estrutura grandemente orgânica; pouca formalização, grande especialização horizontal, tendência a agrupar especialistas em pequenas equipes; apoio nos instrumentos de interligação, que é chave para os mecanismos de coordenação intra e entre equipes; descentralização seletiva – dentro e para equipes, localizadas em diferentes pontos, com várias combinações de gerentes e peritos de assessoria e de operação.

O sistema organizacional se viabiliza graças ao sistema de comunicação para contínua realimentação e sobrevivência. A estrutura organizada da comunicação é fundamental para o processamento das funções administrativas internas e do relacionamento das organizações com o meio externo. Kunsch (2003) aponta alguns fatores que comprometem a comunicação: excesso de informação (e meios) e sobrecarga de comunicação. Ela também identifica os tipos de comunicação: intrapessoal, interpessoal, organizacional e tecnológica.

A elaboração de um plano de comunicação integrada, na construção coletiva de uma rede – em geral, iniciada informalmente e depois mais estruturada em torno de temas e regras de convivência coletivos – trará melhor qualidade para a troca e produção colaborativa e democrática de informação e de conhecimento. Nesse plano cabem a organização do espaço digital, a definição de objetivos comuns, a escolha dos elementos visuais que representam este querer. Para definir os ambientes de acessibilidade universal em que a informação estará disponível, Miranda et. al (2012) consideram obrigatório responder às perguntas:

1. O que une as pessoas nesta rede? 2. Qual o interesse comum?

3. O que podem/fazem juntas?

4. O que cada indivíduo autônomo pode/quer fazer pela rede?

As redes têm como característica ser espaço que ultrapassam a delimitação desenhada pelo capital, pelas finanças, sendo lugar de encontro das minorias, de comunidades marginalizadas, de comunidades de pesquisa e trabalho educativo, artístico (MARTÍN- BARBERO in MORAES, 2004). Vista a partir da Comunicação, a solidariedade entre indivíduos na rede desemboca na construção de uma ética que se encarrega do valor da diferença, articulando a universalidade humana dos direitos, à particularidade dos modos de percepção e de expressão. Esta ética da comunicação (MARTÍN-BARBERO, idem, p. 74), está na linha traçada por Habermas e traz a possibilidade de encontro de luta contra a exclusão – social, política e cultural – que se impõe às maiorias pobres e às minorias étnicas.

Uma rede sem fluxo de informação não existe, está morta, ainda que muitas vezes mantenha-se estampada em um site que se assemelha a um poster digital, um retrato na parede virtual. A elaboração do plano de comunicação coletivo da rede digital deve ter como foco definir bases de funcionamento – ético, estético, organizacional e funcional – dessa rede e

pode se utilizar de instrumentos da comunicação institucional (KUNSCH, 2003), como: a administração dos fluxos de informação; a utilização do modelo jornalístico (narrativa e organização de produção coletiva) para publicação de informações e contato com o público; o contato com a mídia tradicional/profissional; o uso da propaganda institucional, quando se fizer necessária pois é paga, para divulgar as realizações institucionais; a criação de imagem e identidade da rede; a editoração multimídia, com padronização visual para fortalecer e fixar a imagem e a identidade da rede; a criação de espaços (e produtos, também) para o aprender a aprender, a formação permanente de competências instrumentais, cognitivas e sócio- comunicacionais. Há necessidade de um novo tipo de planejamento:

A ideia tradicional de planejamento de Comunicac

veis de complexidade da sociedade contemporanea, o que indica a necessidade de criarmos novas formas de ac o e reac

pria concepc o. Consideramo o das interac es culturais entre os diferentes grupos sociais e as diferentes organizac es, e de definic mais significativo para as

organizac es em determinado , em condic

rias de atuac o. (GUAZINA; BELISÁRIO, 2012, p. 135)

Geraldes (2014) observa que as Políticas de comunicação são fruto da transformação de valores, princípios e diretrizes das organizações em fundamentos da comunicação dessas instituições. Ela categoriza quatro questões básicas que envolvem a construção desta política: a relação da organização com a sociedade, com o Estado, com o cenário e com os diferentes setores/segmentos com quem ela se relaciona. Estas questões apresentadas para as organizações, também são pertinentes para o planejamento na rede. A pesquisadora considera que há três esferas que envolvem pensar e planejar a Comunicação nas organizações: 1) tático-operacional, que diz respeito ao fazer; 2) estratégica, referente ao planejar; e 3) política, que é o espaço da negociação, onde o conflito é parte integrante.

A terceira esfera, para ser viável, defende Geraldes (2014), deve se apoiar em ações de educação para a comunicação e para isto é necessário abrir espaço para a escuta. Ela propõe que se deve educar para os meios, ou leitura crítica da mídia; que se deve estimular a relação dialógica, à fala de todos. Esta comunicação deve incluir a criação de espaços e de mecanismos para questionamentos, críticas, comentários. A pesquisadora considera que

quando a organização é generosa em dividir informações, ela colabora na formação de profissionais mais envolvidos, e que isto significa estimular um público crítico.

3.3.3.2. Organizar a Comunicação Extensiva na complexa (des)organização da rede

Planejar para a teia horizontal e sobreposta é organizar as arquiteturas de comunicação voltadas à promoção do entendimento e à oferta de serviços que orientem e facilitem a busca, acesso, uso da informação com ética e visão de pertencimento planetário. Este planejamento deve se apoiar no contexto oferecido pela Comunicação Extensiva (SIMEÃO, 2003; 2006) e pela linguagem do AV3 (MIRANDA et al, 2012); deve considerar, também, que os indivíduos trocam e se ocupam da produção e do intercâmbio de informação e de conteúdo simbólico em todas as sociedades: “Das cavernas ao chip, a produção, armazenamento e circulação de informação e de conteúdo têm sido aspectos centrais da vida social” (THOMPSON, 1998, p. 19).