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Parte II – Fundamentação epistemológica – Informação, Comunicação e Tecnologia

Capítulo 2 – Informação

2.1. Informação/conhecimento

Wersig (1997) ressalta a natureza da Ciência da Informação como uma ciência pós- moderna. A explosão da informação e a aspiração a novos conhecimentos provocam um novo entendimento e novos usos para a utilização do conhecimento, ou seja, o desenvolvimento de estratégias para resolver em particular aqueles problemas causados pelas ciências clássicas e pelas tecnologias. Wersig ainda define Ciência da Informação como o conjunto de modelos, desenvolvidos sob o ponto de vista do problema do uso do conhecimento nas condições pós- modernas de informatização.

Paiva (2003) ressalta que o avanço tecnológico e científico do século XX, levou ao surgimento de uma nova sociedade no início deste século XXI, cujos pilares estruturam-se na informação e no conhecimento, como elementos essenciais. Sendo, portanto, a Ciência da Informação, sob tais condições, um campo do conhecimento que discute, identifica e propõe os elementos intervenientes para a formação de um corpo orgânico de conhecimento.

A relação entre informação e conhecimento vem de Wersig (1997), para quem informação é conhecimento em ação, um conhecimento que se transforma em algo, – a informação – que apoia ação específica. Neste sentido utilizado pelo pesquisador alemão, o papel da Ciência da Informação é ajudar as pessoas a vencer a “confusão” do conhecimento na pós-modernidade, em que o papel desse conhecimento para o indivíduo, as organizações e culturas mudou de várias maneiras por muitos séculos, as mais aparentes a partir do século XX, principalmente depois dos anos 1960. Freire e Araújo (1999), em uma revisão dos conceitos que envolvem o campo da Ciência da Informação, ressaltam a responsabilidade social desta ciência:

fundamental que a ciencia da informac o aproxime-se do fenomeno que pretende estudar o encontro da mensagem com o receptor, ou seja, a informac o, seu uso, implicac es e consequencias. Embora a informac o sempre tenha sido uma poderosa forca de transformac quina, o poder de reproduc o e a capacidade de socializac o a esse potencial. (FREIRE; ARAÚJO, 1999, p. 13)

A mudança do papel do conhecimento, vista como evolucionária (WERSIG, 1997), se dá nas dimensões da filosofia e da tecnologia e o que é conhecido como sociedade pós- moderna pelo menos parcialmente pode ser descrito como mudança no papel do conhecimento. Há quatro traços básicos nessa mudança: despersonalização da sociedade de massa; credibilidade do conhecimento; fragmentação do conhecimento; racionalização do conhecimento. Por esta visão, a Comunicação, para a Ciência da Informação, é processo de redução da complexidade em que diferentes mecanismos participam: filtrar, raciocinar, modelar, significar e definir padrões.

Wersig (1997) também delineia a complexidade que envolve o uso do conhecimento atual: como lidar com a despersonalização do conhecimento, com o problema da natureza secundária e fragmentada desse conhecimento, e como desenvolver outros caminhos apropriados de racionalização abertos a todos os tipos de conhecimento. E observa que as pessoas precisam ser educadas a acreditar no ambiente de conhecimento e que há necessidade de definir regras e guias para estas pessoas, para os sistemas e outros sentidos, para ajudar as pessoas a encontrar o próprio caminho.

Saracevic (1995), aponta três características gerais da informação: é interdisciplinar; inexoravelmente ligada à Tecnologia da Informação; participante ativa e deliberada na

sociedade da informação. O conceito de “recuperação da informação” é cunhado no campo da Ciência da Informação inter-relacionado com o campo tecnológico: refere-se a capacidades de armazenamento, entrada de dados, transmissões externas, medidas em bits e megabytes e tem sua efetividade medida pela relevância dos documentos, o que se dá no campo do sentido. Nascida em torno dos anos 1950, a Ciência da Informação tem componente de ciência pura, na pesquisa dos fundamentos, e componente de ciência aplicada, no desenvolvimento de produtos e serviços.

Outra categorização importante para informação, nesta tese, vem de Buckland (1991). Ele considera a informação como coisa, como processo e como conhecimento. A informação como coisa, no sentido oferecido pelo autor, é a informação registrada, expressa ou apresentada de alguma forma física. Ele defende que o sistema somente consegue lidar com a informação como coisa, materializada em diferentes categorias físicas e que não pode ser recuperada de maneira igual. Os três conceitos de informação que norteiam este trabalho dizem respeito à informação como processo, que se refere a como ela é processada, em que meios e contextos; informação como conhecimento, intangível, pessoal, subjetiva e conceitual, expressos em meio ou forma física; e a informação como coisa, utilizada para designar coisas como dados, documentos, objetos, acontecimentos, o que pode ser acessado, recuperado, armazenado.

Para indicar a natureza e as características de informação como coisa, o autor faz uma abordagem invertida sobre quais coisas são informativas; levanta as variedades dessas coisas informativas – como dado, texto, documento, objeto, acontecimento; afirma que esta visão de informação como coisa inclui a comunicação, mas vai além dela; afirma que os sistemas de armazenamento e recuperação da informação só armazenam e recuperam coisas informativas, a informação como coisa.

Se inserido entre os três mundos de Popper (1975), o conceito de informação como coisa está no mundo1, onde se encontram os objetos ou estados físicos. Para o filósofo austríaco, naturalizado britânico, o conceito de conhecimento é intercambiável com o de informação e está localizado em três mundos: o dos objetos e estados físicos (1); da consciência ou estados psíquicos (2) e o dos conteúdos intelectuais, produtos da mente humana (3). No quadro 1 estes mundos são relacionados com os significados de informação.

Quadro 1 – Os mundos de Popper e a informação

Modelo de três mundos de Popper Três significados de Informação Material e humano (mundo dos objetos ou

estados físicos) informação como coisa

Conhecimento subjetivo (mundo da consciência ou estados psíquicos)

informação como conhecimento

Conhecimento objetivo (mundo constituído de signos)

informação como processo

Em artigo de revisão bibliográfica Capurro e Hjørland (2007) observam o conceito de informação em Ciência da Informação a partir da perspectiva de relações interdisciplinares, opção metodológica justificada pelo fato de que muitas teorias e abordagens em Ciência da Informação vêm de outras áreas do conhecimento. Os autores recuperam o uso cotidiano do conceito de informação, de conhecimento comunicado; localizam o surgimento da Ciência da Informação, nos anos 1950, com destaque para a Teoria Matemática de Shannon e Weaver, de 1949, que dá à informação o significado de comunicação/transferência física de conhecimento. No que diz respeito ao uso da palavra nos períodos Moderno e Pós-Moderno, os autores destacam a relação com a matéria, forma e objetos do mundo. Quase toda disciplina científica usa o conceito de informação, seja no campo das ciências naturais, seja no das ciências humanas. No primeiro caso incluem-se a matemática (com ênfase na teoria de Shannon), a física e física quântica, a biologia. No segundo, as disciplinas focadas no papel do indivíduo e da sociedade na seleção interpretação e conhecimento. Os autores destacam o papel da Ciência da Informação no trabalho em rede de disciplinas e metadisciplinas que lidam com comunicação, tecnologia, sistemas e processos.

Na Ciência da Informação – Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação – o termo informação está fortemente relacionado com o conceito de recuperação da informação, com visões muito diferenciadas no próprio campo no que diz respeito à recuperação de documentos e recuperação de fatos. A Ciência da Informação também utiliza o conceito de informação a partir da divisão científica do trabalho (na própria CI e em comparação com outras profissões).

Ao analisar mudanças históricas e aspectos sociais relacionados com o conceito de informação, Ørom (2000) ressalta que a Ciência da Informação parece estar em uma

encruzilhada: de um lado está a visão cognitiva (que considera bem estabelecida) e de outro, o crescimento da complexidade do conhecimento e a diversificação da informação, ambos de natureza social. O conhecimento contemporâneo tem como características, para este autor, o crescimento incessante do volume de informação, a despersonalização e a fragmentação, provocada pela especialização e distribuição por diferentes canais (eletrônicos ou impressos).

Outra abordagem, mais social, parte de Martín-Barbero (2008) que procura relacionar informação, comunicação e tecnologia – sem enveredar pelo caminho de dizer sim ou não à relação entre tecnologia e cultura – com a discussão sobre o acesso a esta informação. Para o autor, está em gestação uma nova sociedade, em que se assiste a uma progressiva abolição do político e o desenvolvimento da tecnologia social: “o domínio da técnica se converte em terreno de luta, de luta para se fazer ouvir” (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 190).

Segundo Martin-Barbero (2004), pesquisador da comunicação, as pessoas podem gravar e distribuir – multiplicar – a experiência da aldeia. Podem usar a tecnologia para aprender a falar. Defende, ainda, que se deve estudar o novo das tecnologias não apenas pela inovação tecnológica, mas em relação ao movimento social e que o novo, nesta nova etapa, são as tecnologias operarem ativamente sobre a realidade socioeconômica que a demanda e desenha. A eclosão das redes sociais é fruto da multiplicação de possibilidades e facilidades de utilização de suportes com conexão imediata em tevês digitais, smartphones e tablets, por exemplo. É possível acessar informação em tempo real, interagir com ela, – comentar e compartilhar. Também é possível dedicar-se ao exercício lúdico de interagir em grupos mundiais de jogos eletrônicos.

Entre os impactos da tecnologia, Martín-Barbero (2004) ressalta o surgimento de uma consciência que transcende as culturas particulares, tradições e identidades nacionais – seja para vencer barreiras de identidade excludente, seja como forma de suicídio cultural. Ele também insere no rol dos impactos a questão do tempo, a dissolução de um modelo de programação homogênea, a fragmentação dos públicos, multiplicação de canais, segmentação de consumos, individualização da demanda de dados. Os suportes estão preparados para a interação: as fotos produzidas a partir das câmeras dos celulares podem ser publicadas em redes como Facebook e Google +, no Twitter, no Orkut, no Twoo, em redes especializadas em fotografia, como Instagram e Selfie, ou em um blog ou sites noticiosos, ou mesmo ser enviadas por e-mail, ou por algum aplicativo como WhatsApp e Messenger, por exemplo. Um mesmo conteúdo, múltiplos suportes, diferentes formatos.

Neste novo sistema de mídia, a mensagem é o meio, pois as características da mensagem, explica Castells (1999, p. 415), é que moldarão as características do meio. O autor trabalha aqui com os mesmos conceitos cunhados por McLuhan a quem chama de “grande visionário, apesar das hipérboles”. E ao conceito mais difundido – e não necessariamente compreendido – do autor canadense, de que a tecnologia nos traria a aldeia global, contrapõe: “Não estamos vivendo em uma aldeia global, mas em domicílios sob medida, globalmente produzidos e localmente distribuídos.” (CASTELLS, 1999, p. 426)

A informação/comunicação é o nó górdio, é o emaranhado em que os aspectos vindos da Teoria Matemática são apenas a superfície, que não abarcam o caráter multifacetado dessa informação/comunicação, que ora é memória, ora é saber, ora é mensagem, ora programa, ora matriz orgânica. (MORIN, 2011)