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Parte II – Fundamentação epistemológica – Informação, Comunicação e Tecnologia

Capítulo 3 – Comunicação

3.2. Comunicação Extensiva no universo multimodal

Elemento fundamental ao utilizar o Modelo para planejar a ação comunicativa e de informação nas redes é a linguagem plástica da informação em um processo que orienta as ações verificadas no contexto da comunicação eletrônica em rede, que Simeão (2003, 2006) denomina Comunicação Extensiva, que se caracteriza por ser processo aberto, cooperativo, horizontal e instável com o objetivo de solucionar problemas que atingem emissores e receptores de conteúdo. Esta comunicação transitória tem regras flexíveis; a interação emissor/receptor se dá pela lógica hipertextual, pontual e com objetivo em metas; e a interação emissor/receptor é efêmera, sem estoques, em constante mutação.

Simeão (2006) criou três grandes indicadores que orientam a política de informação e acervamento, bem como a construção de tal processo: a interatividade, a hipertextualidade e a hipermidiação. Em seu Modelo de Comunicação Extensiva também considerou que contexto e ambiência podem ser analisados em pesquisas que se propõem avaliar produtos ou serviços de informação. De acordo com a autora, o indicador da interatividade estaria vinculado aos serviços que agregam os usuários e grupos de pessoas, os dois seguintes são atrelados à pratica de formatação de documentos e organização e uso dos conteúdos multidimensionais disseminados.

Diante dos padrões orientadores que tentam estabelecer a igualdade nos procedimentos das redes virtuais mais formais, por exemplo, é preciso observar a diversidade que caracteriza seus integrantes e também os objetivos e interesses que os motivam a permanecer naquele sistema ou rede. No modelo de Comunicação Extensiva proposto por Simeão (2006), as trocas são realizadas em um campo de interação e de compartilhamento de dados multidimensionais. Sem hierarquias permanentes, a comunicação tem fluxo horizontal, ocorrendo basicamente a partir de dispositivos técnicos que dependem da internet. Apoia-se em ferramentas e recursos de acesso (principalmente aberto) à informação, em caráter coletivo, e só evoluem com a adesão e competência de seus usuários. Os atributos da

Comunicação Extensiva, segundo a autora, são: interatividade, vista como a possibilidade de diálogo entre o usuário e o sistema e de usuários entre si através do sistema; hipertextualidade, que refere-se à possibilidade da interconexão de conteúdos múltiplos; hipermidiação, uma combinação da informação em suas múltiplas dimensões – texto, áudio, imagem estática e em movimento combinam-se para gerar um conteúdo de lógica discursiva não linear.

É importante associar os indicadores exemplificados a partir do modelo de Comunicação Extensiva com propostas de análise de redes. Esta definição de rede, inserida no Modelo de Comunicação Extensiva, diz respeito à rede completa e complexa em sua possibilidade máxima de interação. Mas a rede também é fragmentos, sub-redes, ou clusters, como denominam Wasserman e Faust (2009). Muitas dessas redes menores são fortemente relacionadas com os modelos tradicionais de organização, hierarquizada em organogramas e submetida a planos e metas. Essa forma de organizar relações, que não tem a horizontalidade como única forma de estruturação ainda é forte e contamina as novas propostas de organização em coletivos, ou em atuação individual.

Também é importante refletir e planejar para a ação de comunicação contemplando a decomposição da informação como documento em seus elementos constitutivos (MIRANDA; SIMEÃO, 2003). Este modelo de interação de documentos se aplica em todos os campos, e não apenas no da Ciência da Informação e deve-se levar em conta que o conjunto de documentos, com sua diversidade de tipos, conteúdos, formato e suporte.

Figura 4 – Constituição da informação como documento. Fonte: Simeão e Miranda, 2003.

Tipo – Tipologias, Nomenclaturas, chamadas que predeterminam os modos de produção e uso (individual e coletivamente).

Conteúdo – Parte substantiva do documento predeterminado pelo seu tipo, conformado às normas e condições de produção.

Formato – Programas de tratamento e exposição de dados que facilitam tanto a produção quanto a leitura dos documentos pelo público acostumado com códigos pré-estabelecidos.

Suporte – Parte visível e manipulável do documento, ou o documento propriamente dito, no senso comum. É a sua coisificação ou expressão física como produto, pode ser um impresso, ou uma rede eletrônica. (MIRANDA; SIMEÃO, 2003)

3.2.1. Animaverbivocovisualidade – o AV3

Além dos três indicadores de Simeão (2006), a questão da Comunicação Extensiva também deve ser observada a partir de outros elementos, que constituem indicadores complementares, característicos da comunicação presente, que Miranda (2012) denomina animaverbivocovisualidade (AV3): a hiperatualização, a mobilidade, a ubiqüidade, a multivocalidade e o hibridismo (MIRANDA; SIMEÃO, 2013)36. Segundo Miranda (2009) a verbivocovisualidade nasceu de idéia dos poetas concretistas na década de 1950, pela integração das artes e a hibridização dos recursos de criação literária, uma nova linguagem,

36 Slide de apresentação “Comunicação Extensiva: o hibridismo e a animaverbivocovisualidade (AV3)

Antonio Miranda e Elmira Simeão Salvador, agosto de 2013”, no XI Cinform – Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação.

que exige a combinação de texto, voz e imagens numa mesma edição. A atual convergência tecnológica tornou isso banal e/ou mandatório.

Revistas que se apóiam em programas avançados de hipermidiação (a exemplo da linguagem Hypertext preprocessor ou PHP, que geram bancos de dados e buscadores) permitem a associação obrigatória de textos, de som e de uma infinidade de imagens estáticas e em movimento, fundamentais para o registro do conhecimento de áreas, como física, matemática, artes, sobretudo, música e artes plásticas. Enfim, todos os campos da pesquisa científica dos tempos atuais, no que agora convencionaremos intitular era hipermoderna, no lugar da pós-modernidade. (MIRANDA, 2009)

Castells (2012) também classifica de multimodal a comunicação em ambientes digitais, o que permite fazer uma referência constante a um hipertexto global de comunicação, que pode ser mesclado pelo comunicador (qualquer indivíduo) segundo seus projetos concretos de comunicar.

Em artigo onde consolidam os resultados de dez anos de pesquisa em torno da questão teórica da Comunicação Extensiva, Miranda e Simeão (2014, p. 50) definem o AV3 como “um tipo de linguagem que se apresenta por meio da convergência tecnológica complementada pelo hibridismo de formatos e registros que desperta uma ação criativa e integradora de sentidos”. Por meio desta linguagem se constróem estruturas encantadoras, mas complexas em termos de conteúdo (e tudo o que envolve o acervamento para acesso permanente, em um contexto de mudanças constantes das tecnologias). No planejamento das mensagens, os elementos desta linguagem compõem o que os pesquisadores denominam “arquitextura”, uma combinação estética dos elementos criativos movidos pela ânima – a dupla relação entre o estético/criativo e a animação dos elementos mediados pela tecnologia.

3.3. A comunicação como amálgama da rede