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A organização da oferta de turismo na RTSE

Capítulo 6. Serra da Estrela: Pobre região rica

6.2 O turismo serrano

6.2.2 A organização da oferta de turismo na RTSE

Uma forma de avaliar até que ponto um destino tira partido dos seus recursos turísticos poderá ser através da análise das infra-estruturas de apoio ao turismo responsáveis pela fixação dos benefícios económicos do turismo numa região. Ora, a esse nível, o alojamento e a restauração serão talvez os mais importantes, dada a sua imprescindibilidade na criação de condições para o turismo.

Para avaliarmos a capacidade de alojamento, recorremos a um relatório que nos foi fornecido pela RTSE que, relativamente a 2006, descriminava a seguinte oferta licenciada:

Descrição Estabelecimentos

hoteleiros TER Total Parques de Campismo

Unidades 32 64 96 10 Capacidade (camas) 2.946 762 3.708 1500 % sobre a capacidade total 79,45% 20,55% 100%

Tabela 2 – Oferta de alojamento hoteleiro licenciado na RTSE em 2006

A esta data125, por consulta ao site da RTSE, foi possível identificar igualmente 32 estabelecimentos hoteleiros, 72 unidades de turismo em espaço rural, portanto, um acréscimo de 12,5%, e 11 parques de campismo. No que se refere à repartição por concelho, a esta data: os concelhos com mais estabelecimentos hoteleiros eram a Covilhã e Guarda, respectivamente com 25% e 15,6% do número total de estabelecimentos hoteleiros; em termos de unidades TER, os concelhos de Gouveia e Seia eram os que concentravam o maior número de unidades,

124 Gouveia, Seia, Manteigas, Belmonte, Covilhã, Castelo Branco, Idanha a Nova, Vila Velha de Ródão, Fundão 125 Outubro de 2008.

respectivamente, com 33,33% e 20,83%; em termos de parques de campismo, o concelho de Oliveira do Hospital, era o que possuía mais unidades, com 3 parques de campismo.

Recorrendo uma vez mais ao PETUR, cuja proximidade com a nossa região geográfica é grande, numa comparação da Serra da estrela com outros destinos da mesma natureza (Douro, Trás-os- Montes, Alto Alentejo e Alentejo Central), em termos de número de camas dos estabelecimentos hoteleiros, para o período 1996 – 2001, concluía-se que a Serra da Estrela era a segunda região com mais camas, mas aquela onde a taxa de crescimento era mais baixa, apenas 2% (Carvalho_(coord.) et al., 2006: 43).

Voltando ao relatório da RTSE, relativamente à dimensão da oferta e da sua qualidade, ali salientava-se que oferta de alojamento era “insuficiente para fazer face à procura crescente”, acrescentando-se que a mesma apresentava, naquela data126, “necessidade de remodelações profundas de modo a melhorar o nível de qualidade e conforto, bem como para modernizar as instalações indo ao encontro das cada vez mais exigentes normas de segurança”.

Para apreciar a oferta de alojamento, no relatório do PETUR, recorria-se à opinião dos autarcas (no período 2004 – 2005) dos municípios em análise127, e concluía-se que esta era satisfatória em Belmonte, Covilhã, Celorico da Beira e Guarda, onde se dava conta de construções recentes e renovações de equipamentos hoteleiros. Quanto aos restantes municípios, informava-se uma oferta deficitária, apesar da existência de novos projectos em andamento (Carvalho_(coord.) et al., 2006).

Numa análise ao investimento realizado em alojamento, no período 2000-2005, aquele relatório da RTSE, dava conta que 51% do investimento tinha sido concentrado no concelho da Covilhã, seguindo-se a Guarda com 14%, distribuindo-se o remanescente pelos restantes concelhos em percentagens muito baixas. No entanto, este relatório dava conta de um significativo conjunto de intenções de investimento em novos projectos na área hoteleira dispersos um pouco por toda a região.

No que se refere à ocupação daqueles estabelecimentos, recorremos aos dados estatísticos disponibilizados pelo INE, no entanto, a informação disponível era escassa, existindo apenas ao nível dos estabelecimentos hoteleiros e somente para 4 concelhos da nossa região. No ano de 2006, as taxas de ocupação cama líquida, variavam entre os 23,4% e os 33,6%. Sendo as taxas mais elevadas na Covilhã (33,6%) e Manteigas (25,6%), concelhos com maior proximidade à torre (INE, 2006: 327, 328). Tendo em conta a realidade que já conhecemos da região, daquelas baixas taxas de ocupação, será possível concluir, não tanto um excesso de oferta face à procura, mas graves problemas de sazonalidade, pela excessiva concentração do turismo na época da neve. Em termos de estadia média, uma vez mais o INE apenas disponibilizava informações para os estabelecimentos hoteleiros e para os mesmos 4 concelhos da RTSE. Ora, em 2006, a estadia média naqueles municípios oscilava entre as 1,1 e as 1,5 noites por estadia, sendo, uma vez mais, os concelhos da Covilhã (1,5) e Manteigas (1,4) aqueles que apresentavam melhores indicadores (INE, 2006: 327, 328). Logo estamos em presença de um turismo de permanência muito curta. Aquelas taxas de ocupação, bem como uma estadia média curta, não são indicadores benéficos para o impacto económico do turismo na região. Mas uma análise mais profunda implicaria também uma análise dos proveitos. Ora, sendo a informação escassa, recorremos ao PETUR, onde se disponibilizavam os proveitos por aposento, para os estabelecimentos hoteleiros, relativamente ao período de 2002, efectuando-se uma análise comparada com regiões de turismo semelhantes. Ali se concluía que, nos 5 destinos128 analisados, a Serra da Estrela surgia em 3ª

posição, com 6.464€/ ano, muito próxima do 2º, 4º e 5º lugares (Carvalho_(coord.) et al., 2006: 61). Porém, era o único destino onde os proveitos por aposento nas pensões eram superiores aos restantes tipos de estabelecimentos hoteleiros. Ali se concluía que dado, na sua maioria, as

126 2006

127 Das apreciações realizadas destacamos apenas os concelhos comuns à nossa região. 128 Douro, Trás-os-Montes, Alto Alentejo, Alentejo Central e Serra da Estrela.

pensões praticarem preços mais baixos, tal significaria que este tipo de alojamento teria um maior grau de utilização. Logo, dando uma ideia de que o segmento de mercado turístico que procura a região terá um menor poder económico, quando comparado com outras regiões equiparadas (Carvalho_(coord.) et al., 2006).

Pelos indicadores analisados, em termos de alojamento, parece-nos legítimo concluir que o turismo não está a produzir um impacto económico muito significativo na região. Sendo marcado por baixas taxas de ocupação, permanências curtas, um nível de proveitos pouco atractivo, indiciando um turismo de fraco poder económico, e muito concentrado apenas numa pequena parte da região. No entanto é importante analisar as restantes componentes da oferta.

Ao nível da restauração, a informação é ainda menos abundante. A um nível mais quantitativo, recorremos ao site da RTSE, onde recentemente foi publicada a recomendação do Guia do Expresso, para os restaurantes da região. Daquela consulta foi possível identificar um total de 17 restaurantes recomendados, sendo os concelhos com maior número de recomendações a Guarda (4), Seia e Gouveia (3 cada). No entanto, no relatório do PETUR inventariavam-se 450 estabelecimentos, sendo mais de metade nos concelhos da Guarda e Covilhã, seguidos dos concelhos de Seia e Celorico da Beira.

Sobre este tema, as opiniões dos autarcas apresentadas no relatório do PETUR assumiam que: nos concelhos de Gouveia e Oliveira do Hospital, a restauração era um vector essencial do turismo, onde o turismo gastronómico apresentava boas possibilidades, apesar de ser ainda pouco explorado em Oliveira do Hospital; nos concelhos da Guarda e Covilhã, a restauração era assumida como apoio essencial ao turismo, onde existia uma oferta razoável, apesar de se constatar, relativamente à Covilhã, a falta de restaurantes de referência nacional (Carvalho_(coord.) et al., 2006: 61). O mesmo estudo colhia também as opiniões de alguns agentes da restauração, sendo possível concluir quanto: a “dificuldades em recrutar e reter recursos humanos”; um “deficit de oferta de qualidade, sobretudo nos menus regionais”; a “proliferação de estabelecimentos pequenos e descaracterizados”; e a dificuldade em manter uma oferta de qualidade sem um aumento no turismo (Carvalho_(coord.) et al., 2006: 149).

Já o estudo de Vaz (2003) refere, relativamente à região analisada, uma “oferta alargada de estabelecimentos de restauração”, apesar de a maior parte não apostar na “oferta de pratos típicos”, reconhecendo, contudo, ser a gastronomia um factor favorecedor da imagem positiva da região (Vaz, 2003: 328, 329).

De tais elementos é possível concluir quanto à abundância de oferta, mas, exceptuando alguns bons exemplos, com uma qualidade generalizada pouco interessante, em especial na gastronomia regional, segmento onde, afinal, a região apresenta uma boa notoriedade. A este respeito, pronunciar-nos-emos com maior detalhe a quando a análise dos dados da nossa investigação empírica.

Uma outra componente da oferta cada vez mais importante para a conversão de recursos turísticos em produtos turísticos refere-se à capacidade dos destinos produzirem animação. A este nível, recorremos uma vez mais ao relatório do PETUR, por nos parecer a fonte com informação mais completa.

À data daquele estudo existiam na região, em concelhos coincidentes com a RTSE, um total de 35 empresas de animação turística, sendo quase metade (12) localizadas no concelho da Covilhã, a que se seguia, o concelho de Seia, com 6 empresas. O relatório destacava ser este um fenómeno recente, mas já com uma oferta alargada, estando tais actividades na sua maioria ligadas a bares, cafés, discotecas e clubes já existentes, que se haviam modernizado para o efeito. As actividades oferecidas por este tipo de empresas eram ligadas ao turismo activo, na sua maioria “percursos turísticos motorizados ou pedestres que englobam de forma mais ou menos frequente a prática de actividades desportivas variadas” (Carvalho_(coord.) et al., 2006: 158). Era ainda focado o potencial de recursos humanos qualificados surgido das licenciaturas em desporto, apesar de dotados de menos competências na área da gestão e organização, conforme seria desejável.

Relativamente à oferta de Museus, a partir do site RTSE, inventariámos 16 unidades, dispersas um pouco por toda a região. No entanto, referia aquele relatório do PETUR que, exceptuando o Museu do Pão (em Seia), dos Lanifícios (na Covilhã) e Judaico (em Belmonte), de uma forma geral, todos, são pobremente divulgados e mal explorados.

É de destacar a recente abertura do CISE (Centro de interpretação da Serra da Estrela), com um serviço de qualidade ao nível da interpretação da serra da estrela e da organização de visitas turísticas acompanhadas por biólogos.

Para a prática do ski existe apenas uma estância localizada nas proximidades da torre (Skiparque), explorada pela empresa Turistrela (empresa que detém a concessão da actividade turística na cota superior da serra). No entanto, a crescente escassez de neve natural a que se tem vindo a assistir nos últimos anos, tem sido apenas escassamente compensada por canhões de neve artificial.

Tal como o PETUR constata, na região não existem parques temáticos.

Em termos de Golfe, na região existe um pequeno campo em Belmonte, cuja procura, segundo o PETUR, não é relevante.

Finalmente, para terminarmos este enquadramento da oferta turística na RTSE, pareceu-nos importante focar alguns aspectos relacionados com as infra-estruturas de apoio, mais relevantes para o turismo, pelo seu impacto na atractividade do turismo regional.

Um primeiro aspecto que surge como essencial são as acessibilidades, a este respeito, constata- se a quase exclusiva concentração na rodovia, recentemente melhorada através dos eixos estruturantes A25 e A23. No entanto, tal como referem os autarcas no relatório do PETUR, a região carece de uma ligação mais rápida a Coimbra e uma ligação norte-sul (Viseu – Mangualde – Gouveia – Seia – Covilhã). É ainda criticada necessidade de uma grande parte do trânsito inter- regional e intra-regional ter de passar pela torre, provocando graves problemas de congestionamento especialmente na época da neve. São ainda consensuais a necessidade de alternativas que permitam aquele trânsito a uma quota mais baixa e a restrição do acesso a cotas superiores, com alternativas de transportes públicos, do tipo autocarros, telecadeiras, etc. (Carvalho_(coord.) et al., 2006).

Finalmente, ao nível da informação turística, destacamos a existência de postos de apoio ao turismo em todos os concelhos da RTSE. Mas tal como referido no relatório do PETUR, em alguns locais, aqueles apresentavam deficiências em termos de horário de atendimento (por vezes encerrando ao fim-de-semana) e na qualidade da informação disponibilizada aos turistas.

Do exposto, concluímos que o destino turístico Serra da Estrela, muito embora rico em atractivos turísticos, ainda está longe de se apresentar como um verdadeiro destino turístico consolidado. São notórias algumas lacunas graves ao nível da oferta e parece excessiva a sua concentração num factor, cuja perenidade não está assegurada: a neve. No entanto, a nossa análise não ficaria completa sem a visão da procura, aspecto que nos propomos a abordar em seguida.