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Os Produtos Agro-alimentares Regionais da Serra da Estrela

Capítulo 6. Serra da Estrela: Pobre região rica

6.3 Os Produtos Agro-alimentares Regionais da Serra da Estrela

Como vimos no ponto anterior, na amostra analisada no PETUR, o nível de despesa turística em compras de produtos regionais da Serra da Estrela era pouco expressivo. No entanto, numa região onde um produto regional – o queijo da serra – é o seu cartão de visita e onde existe uma grande diversidade de produtos regionais de elevada qualidade, este resultado pode ser considerado relativamente surpreendente.

De facto, no site da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI)132, por consulta ao livro Produtos tradicionais e pratos típicos da Beira Interior, foi possível confirmar a riqueza de produtos agro-alimentares regionais locais, onde identificámos os produtos com tradição na RTSE, cuja caracterização apresentamos na tabela seguinte (Borges_(coord.), 2001).

PAR Caracterização Proveniência

Borrego da Serra da

Estrela (DOP) Originário da raça Bordaleira; alimentação exclusiva de leite materno; abate no primeiro mês de idade; peso até 7kg; carne macia e saborosa.

Celorico da Beira; Fornos de Algodres; Gouveia; Manteigas; Seia; e parte dos concelhos da Covilhã, Guarda e Trancoso. Borrego da Beira (IGP) Originário das raças: Churra do

Campo, Churra Mondegueira, Merino da Beira Baixa e seus cruzamentos; em pastoreio extensivo; abate entre os 40 e os 45 dias de idade; peso inferior a 12kg

Meda; Figueira de Castelo Rodrigo; Pinhel; Almeida; Sabugal; Belmonte; Fundão; Penamacor; Idanha-a-Nova; Castelo Branco; Vila Velha de Ródão; Proença-a-Nova; Oleiros; Sertã; Vila de Rei; Mação; e parte dos concelhos de Trancoso, Guarda e Covilhã.

Cabrito da Beira (IGP) Raças: Serrana, Charnequeira e seus cruzamentos; alimentação leite materno; carcaças com peso até 6kg; carne rosa pálida, tenra e gosto suave aleitado.

Toda a Beira Interior, com maior tradição no Sabugal e zona do Pinhal.

Azeite da Beira Alta

(DOP) Variedades: Galega, Cornicabra, Carrasquenha, Negrinha, Madural e Cobrançosa; coloração amarela ou amarela clara, levemente esverdeada; aroma “sui generis” e sabor a fruto.

Meda; Figueira de Castelo Rodrigo; Pinhel; Guarda; Fornos de Algodres; Trancoso; Celorico da Beira; Seia; Gouveia; Manteigas e Almeida.

Azeite da Beira Baixa

(DOP) Variedades: Galega, Bical e Cordovil; coloração amarela clara, levemente esverdeada, a amarela clara; aroma “sui generis” e sabor a fruto.

Sabugal; Covilhã; Belmonte; Fundão; Penamacor; Idanha-a- Nova; Castelo Branco; Vila Velha de Ródão; Proença-a-Nova; Oleiros; Sertã; Vila de Rei; e Mação.

Queijo Serra da

Estrela (DOP) O mais antigo dos queijos portugueses; fabricado a partir de leite cru estreme da raça Bordaleira da Serra da Estrela e infusão de cardo; cura de 40 dias; pasta semi-mole, amanteigada, de cor branca ou ligeiramente amarelada, com poucos ou nenhuns olhos; diâmetro entre 15 a 20cm e altura entre 4 a 6 cm; peso entre 1kg e 1,7kg; aroma “bouquet” suave; sabor limpo, ligeiramente acidulado.

Carregal do Sal, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Mangualde, Manteigas, Nelas, Oliveira do Hospital, Penalva do Castelo e Seia; Algumas freguesias dos concelhos de: Aguiar da Beira, Arganil, Covilhã, Guarda, Tondela, Trancoso e Viseu.133

Queijo Amarelo da

Beira Baixa (DOP) Fabricado a partir de leite de ovelha cru ou mistura de leite de cabra e ovelha, por coalho animal; maturação de 40 dias; pasta semi-dura ou semi-mole,

Castelo Branco; Fundão; Belmonte; Penamacor; Idanha-a- Nova; Proença-a-Nova; Oleiros; Sertã; Vila de Rei; Vila Velha de Ródão; e algumas freguesias da

132http://www.netsigma.pt/drabi/

PAR Caracterização Proveniência ligeiramente amarelada, com

alguns olhos irregulares; crosta semi-dura, cor amarela ou amarelo torrada; aroma intenso e agradável; sabor limpo, ligeiramente acidulado.

Covilhã.

Queijo Picante da

Beira Baixa (DOP) Fabricado a partir de leite cru de ovelha ou cabra ou em mistura, por coalho animal; pasta dura ou

semi-dura, branco-sujo acinzentado, sem crosta, textura

fechada, sem olhos ou com pequenos olhos irregulares; maturação durante, pelo menos, 120 dias; diâmetro entre 10 a 15cm e altura entre 3 a 5cm; peso entre 400gr e 1kg.

Coincide com a região do Queijo Amarelo da Beira Baixa, estendendo-se à totalidade do distrito de Castelo Branco, exceptuando apenas algumas freguesias da Covilhã.

Cereja da Cova da Beira (IGP)

Originária de muitas variedades, destacando-se as autóctones: De Saco – cor vermelho vivo a vermelho-púrpura, calibre grado, peso de 6 a 7gr por fruto, sabor muito doce –; Morangão – cor vermelho vivo na face exposta ao sol e alaranjada na oposta, calibre médio a grado, peso entre 7 a 10gr por fruto –; Napoleão Pé Comprido – uma das variedades

mais antigas, em desaparecimento devido ao baixo

calibre.

Fundão; Covilhã; e Belmonte.

Maçã da Cova da

Beira (IGP) Variedades existentes em maior abundância: Golden Delicious e Red Delicious; deve as suas características às condições edafo-climáticas da região.

Fundão; Covilhã; e Belmonte.

Pêssego da Cova da Beira (IGP)

Variedades existentes em maior abundância: Dixired, Red Top, J. H. Hale, Merril Franciscan, Black, Rubidoux, Carnival e Hallowen; na sua maioria, produzem frutos de polpa amarela; perfumado; muito sumarento; e saboroso.

Fundão; Covilhã; e Belmonte.

Maçã da Beira Alta

(IGP) As variedades mais importantes são: Golden, Gala, Red Delicious, Starking, Jonagold, Granny Smith, Jonared e Reinetas; distinguem-se das suas similares pelo sabor “sui generis”, elevado teor de açúcar, consistência e coloração acentuada.

Almeida; Celorico da Beira; Figueira de Castelo Rodrigo; Fornos de Algodres; Gouveia; Guarda; Manteigas; Meda; Pinhel; Sabugal; Seia e Trancoso.

Maçã Bravo de

Esmolfe (DOP) Variedade originária da aldeia de Esmolfe; Epiderme esbranquiçada, eventualmente,

com manchas rosadas; forma oblongo cónica; calibre médio a pequeno; aroma intenso,

Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Fundão, Gouveia, Guarda, Manteigas, Pinhel, Seia e Trancoso.

PAR Caracterização Proveniência agradável e “sui generis”;polpa

branca, macia, sucosa e doce, simultaneamente doce e ácida. Castanha dos Soutos

da Lapa (DOP) Proveniente as variedades Martainha e Longal; cor castanho claro, brilho médio; sabor “sui generis”; em média 60 a 70 frutos pesam 1kg.

Na região da Beira Interior abrange o concelho de Trancoso.

Mel da Serra da

Estrela (sem certificação de origem)

Mel de montanha produzido a partir da flora da região, principalmente estevas; sabor “sui generis” bastante agradável; cor acentuadamente escura; aroma muito agradável.

Todo o Distrito da Guarda e os concelhos de Belmonte e Covilhã.

Morcela da Guarda (sem certificação de origem)

Feita a partir de carnes difíceis de conservar e sangue de porco como elemento de ligação; um aroma intenso proveniente da utilização de cominhos como condimento.

Guarda.

Pão de Centeio do Sabugueiro (sem certificação de origem)

Forma circular convexa; cor branco pérola escuro; crosta relativamente estaladiça; interior de aspecto seco e porosidade grosseira; sabor “sui generis” bastante agradável.

Concelho de Seia, essencialmente Sabugueiro.

Sardinhas Doces de Trancoso (sem certificação de origem)

Especialidade deixada pelas Irmãs do Convento de Santa Clara; feitas à base de ovos, amêndoa, chocolate, açúcar, azeite, sal, canela e óleo; forma semelhante às sardinhas; com crosta relativamente estaladiça, de cor escura; interior amarelo ovo, pastoso; sabor “sui generis” a canela e amêndoa, bastante agradável.

Trancoso.

Tabela 4 – Inventário dos produtos tradicionais existentes na RTSE, a partir do livro Produtos tradicionais e pratos típicos

da Beira Interior

Àquela já abundante relação de PAR, é necessário acrescentar ainda o Requeijão Serra da Estrela, produto com Denominação de Origem Protegida, proveniente da mesma região do Queijo Serra da Estrela, cuja certificação ocorreu apenas em 2005. Sem certificação de origem, mas com comercialização associada à região, a partir do site dos Artesãos da Serra da Estrela134, foi ainda possível identificar produtos como: compotas, enchidos diversos, broa, aguardentes de mel e zimbro, jeropiga, vinhos, chá de carqueja, etc.

Apesar daquela riqueza de recursos, como vimos anteriormente, estes não parecem estar a atrair verdadeiramente o mercado turístico para a despesa em compras. Por outro lado, como pudemos constatar durante o nosso trabalho de campo, na sua maioria, tais produtos continuam circunscritos a uma comercialização de nível local e sem grande expressão económica. Na origem de tal incapacidade de projecção comercial poderão estar debilidades semelhantes a algumas das identificadas por Alberto (2001), relativamente ao sector agro-alimentar da Serra da Estrela135: um “envelhecimento da população activa agrícola e dificuldades na instalação de jovens agricultores”;

134http://www.assestrela.com/

uma “fraca qualificação técnica dos produtores”; a existência de “unidades de transformação de baixo nível de incorporação tecnológica”; “dificuldades no abastecimento de matérias-primas”; a “desorganização dos circuitos comerciais”; e a “inexistência de estruturas de investigação na área das tecnologias alimentares”, aspecto que não favorece a evolução e inovação de tais produtos (Simões et al., 2001: 11).

Também a adopção de um grande número de certificações de origem, salvo poucas excepções, não parece estar a contribuir para a sua projecção e dinamização, ao contrário do que seria de esperar. Aliás, a quando o nosso trabalho de campo, foi surpreendente verificar que algumas daquelas certificações de origem existem apenas ao nível dos seus cadernos de especificações, não estando a ser adoptadas no circuito comercial, como é o caso das Castanhas dos Soutos da Lapa. Por outro lado, não deixa de ser paradigmático o facto de o produto que mais projecta a Serra da Estrela no país e no mundo ser aquele onde a denominação de origem menos parece aproveitar a quem a adopta, resultando num baixo nível de adesão de produtores. Como refere Dinis (1999), relativamente à certificação do Queijo Serra da Estrela, “na situação actual do processo, a melhoria do rendimento como resultado directo da instituição da denominação de origem, é mais relevante enquanto ideia preconcebida do que na realidade” (Dinis, 1999: 45). Na base daquela performance das certificações de origem, bem como, do desinteresse por parte dos produtores em adoptá-las, durante o nosso trabalho de campo encontrámos dificuldades de natureza comercial, uma baixa cultura associativa por parte dos produtores e, em alguns casos, como refere Dinis (1999), algumas debilidades ao nível da gestão da própria certificação.

Relativamente ao baixo nível de despesa turística em tais produtos, e para além das dificuldades atrás apontadas que, de certo, contribuirão para uma menor capacidade na sua colocação no circuito turístico, parece-nos encontrar-se um baixo nível de ligação entre o sector turístico e o sector da produção de PAR. Só assim, se poderá explicar a relativa ausência de tais produtos no site da Região de Turismo da Serra da Estrela, onde apenas o “Queijo da Serra” e alguns vinhos merecem um destaque especial, não existindo, por exemplo, referência a locais de compra relativamente aos restantes produtos tradicionais. Ou a preferência por “galos de Barcelos, barros alentejanos e produtos “made in” China e Índia, como os que se encontram no centro comercial da Torre e nas inúmeras lojas dos aglomerados urbanos por onde passam as estradas que atravessam o espaço serrano” (Simões et al., 2001: 13).

Foi precisamente sobre aquela ligação entre os PAR e o sector turístico que incidiu a nossa investigação, pelo que nos próximos capítulos procuraremos aprofundar aquelas e outras questões associadas.

Capítulo 7. Desenvolvimento ao “sabor” do turismo? O caso