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Os impactos económicos do Turismo

Capítulo 3. O Turismo enquanto estratégia de Desenvolvimento Rural

3.1. Os impactos económicos do Turismo

Para melhor compreensão do impacto do turismo em espaços rurais, antes de mais importa perceber a importância económica que normalmente é atribuída ao turismo independentemente do seu contexto (rural ou urbano). Se desenvolvimento é muito mais que rendimento e emprego, sem crescimento económico também não nos será possível conceber o desenvolvimento.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), “ao longo das décadas o turismo tem vindo a crescer e a diversificar-se, tendo evoluído para um dos sectores de crescimento mais fortes do mundo, tornando-o num sector chave para o progresso socioeconómico”48. De 1950 a 2005, as

chegadas internacionais cresceram a uma taxa anual de 6,5% ao ano, de 25 milhões para 806 milhões de viajantes. No mesmo período, o rendimento gerado por tais chegadas cresceu a uma taxa ainda superior, de 11, 2%. E apesar da recente incerteza49 causada pela crise mundial que vivemos, aquela organização mantém as suas estimativas de crescimento do indicador chegadas internacionais numa taxa de 4,1% até 2020, o que corresponde a um volume de chegadas internacionais superior a 1,5 bilhões de pessoas em 202050.

Num contexto nacional também é possível confirmar a importância económica do turismo. Segundo o Plano estratégico Nacional de Turismo (PENT), o turismo é um dos principais sectores da economia portuguesa. Os indicadores relativos ao ano de 2004 são prova disso mesmo (M.E.I., 2007: 15, 16):

48 Extraído em 24/09/08 de http://www.unwto.org/aboutwto/why/en/why.php?op=1 (traduzido e adaptado)

49 Note-se que tal como períodos de maior abundância económica são favoráveis ao turismo, em períodos de crise, este é

um dos primeiros sectores a ser afectado, pelo que, não sendo passageira, a crise que vivemos na actualidade pode afectar de forma muito profunda todo o funcionamento e evolução do sector nos próximos anos.

ƒ as receitas do turismo naquele ano representavam 6,3 milhões de euros, ou seja, 11% do PIB, apresentando uma tendência de crescimento;

ƒ o emprego afecto ao turismo correspondia a 10,2% da população activa, o que o torna num dos principais sectores geradores de emprego;

O turismo é ainda um importante gerador de investimento na economia nacional. Para o período de 2000-2006, estimava-se que o investimento público e privado no sector tivesse totalizado 4 mil milhões de euros (M.E.I., 2007: 16).

Apesar da relevância daqueles indicadores, para se perceber a sua verdadeira dimensão é importante compreendermos um pouco mais a natureza deste sector.

O turismo é uma actividade económica muito especial, uma vez que a classificação de produto turístico depende, não da natureza do bem, mas do estatuto do seu consumidor (Tribe, 2005). Tal significa, entre outros aspectos, que medir o impacto económico do turismo exige medidas especiais, como as Contas Satélite do Turismo51, uma vez que o seu contributo resulta não só das actividades que trabalham especificamente para o turismo (ex. os operadores turísticos), mas de todas as actividades de suporte, que não trabalham exclusivamente para o sector (ex. os restaurantes). Este aspecto é importante, pois daqui resulta que o rendimento gerado pelo turismo propaga-se de forma muito abrangente pela economia, interferindo directa e indirectamente com diversos sectores, nomeadamente, o agrícola52, gerando rendimento e emprego.

Reconhece-se ainda que, sendo o turismo uma actividade de trabalho intensivo, é um importante gerador de emprego, muitas vezes compensando sectores com emprego em declínio, absorvendo a mão-de-obra em excesso, apesar de a um nível salarial frequentemente inferior (Tribe, 2005). Também em termos fiscais o turismo é uma importante fonte de receitas para o estado, provenientes maioritariamente do rendimento, apesar da existência de taxações específicas, como é o caso das taxas de aviação (Tribe, 2005).

Um outro factor benéfico do turismo resulta do facto de este constituir uma importante fonte de exportações, através da captação de rendimentos dos turistas provenientes de outros países ou regiões, logo contribuindo positivamente para a Balança de Pagamentos.

Tais impactos económicos do turismo são passíveis de ser analisados numa perspectiva estática (como é o caso nas Contas Satélite do Turismo), mas também numa perspectiva dinâmica, constatando-se o seu efeito “multiplicador”53 na economia, cujo impacto se verifica de forma

directa, mas também indirecta, ao longo de um intervalo temporal. Todas as despesas efectuadas por turistas entram num fluxo dirigido a montante na economia, de fornecedor em fornecedor, num efeito multiplicador que afecta o fluxo circular do rendimento. As despesas iniciais são geradoras de novas despesas, portanto multiplicando o rendimento (Cai, Leung, & Mak, 2006; Tribe, 2005). Pelas razões já expostas, o efeito multiplicador no caso do turismo tende a ser, economicamente falando, bastante benéfico. No entanto, factores como as importações de produtos directa ou indirectamente consumidos pelo turismo, constituem fugas ao fluxo económico, reduzindo aquele impacto multiplicador. Diversos autores apontam para a importância de tais fugas, nomeadamente, através da importação de produtos agro-alimentares (Bowen, Cox, & Fox, 1991; Cai et al., 2006; McBain, 2007; Telfer & Wall, 1996, 2000; Torres, 2003; Tribe, 2005). Este aspecto permite perceber a importância de se reforçarem as ligações entre o turismo e a economia local, em particular, com o sector agro-alimentar, problemática que constitui uma das grandes preocupações da presente investigação e que abordaremos no capítulo 4.

51 As Contas Satélite recorrem a inquéritos realizados junto dos turistas, inquirindo-se sobre a sua despesa turística para

estimar o impacto directo do turismo no Produto Interno - Bruto (Tribe, 2005)

52 Pelo consumo de bens agro-alimentares pelos turistas.

53 Um mecanismo simples para perceber este efeito é fornecido pelo multiplicador Keynesiano, que iguala as variações na