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3. AUTORRETRATO

4.1. A Paleta de Cores do Estágio Profissional

O Estágio Profissional, para além de ser o ‘’último passo’’ nesta minha fase de desenvolvimento, foi também, no meu entender, a fase mais importante do programa de formação de professores, tal como indicam Santos et al. (2013). Para além de me ter permitido dotar e capacitar de múltiplas ferramentas para melhorar a minha prática enquanto docente, também me possibilitou a conquista de uma competência profissional.

Este é um terreno de constante construção profissional, em que o EE se pode desenvolver e, a pouco e pouco, integrar e fazer parte da comunidade educativa, sendo, provavelmente, a única experiência de ensino acompanhada antes do fim da formação inicial de todos os EE. Assim, é fácil perceber que constitui uma ponte entre o mundo académico e o campo profissional, marcada por uma (re)construção da identidade profissional, em função das múltiplas interações estabelecidas, tendo-me permitido formar enquanto docente. Neste ano letivo, criei as minhas próprias perspetivas, opiniões e crenças referentes a diversificados aspetos do ensino, nomeadamente ao nível da avaliação, da aptidão física, da importância da relação com os alunos... É um momento privilegiado de socialização na profissão, devendo ser vivido e sentido de forma intensa, com múltiplos dilemas e desafios, um verdadeiro ‘’choque com a realidade’’, tal como nos dizem Almeida et al. (2013). Esta denominação surge por se associar a um constante medo de falhar, da necessidade de bastante tempo para resolver problemas que docentes experientes resolveriam num ápice, de sentimentos de solidão. De acordo com o mesmo autor, o docente sente que, de um momento para o outro, deixa de ser estudante e passa a assumir todas as responsabilidades de um professor, com um turbilhão de emoções que inquietam qualquer um, mesmo que muito bem preparado, tal como eu me senti.

‘’Eu já esperava que estes primeiros dias fossem assim: de crise e de choque com a realidade, tal como é habitual nesta fase inicial de carreira (Souza, 2009). No entanto, nunca pensei duvidar tanto de mim e das minhas

capacidades enquanto futura docente. Todavia, tal como Souza (2009) indica, é um período de muito trabalho e descoberta, sendo frequente um professor iniciante sentir-se nervoso, estressado, angustiado, dominado pelo pânico.’’ / Porto, 3 de setembro de 2018

De facto, o contexto real dificulta a atuação de qualquer docente, sendo necessário um equilíbrio perfeito entre o saber teórico e prático, entre a razão e a emoção. Deste modo, e de acordo com Rolim (2013), é fácil perceber que o estágio deve ser entendido como um processo prolongado e demorado, mas igualmente consciente, que se constrói com o passar do tempo, com uns momentos melhores e outros menos bons, com avanços e recuos. O mesmo autor acrescenta ainda que é um momento de grande autonomia ao nível da atuação do estagiário, que permite uma certa liberdade de ação e um sentimento de completa realização. Contudo, a responsabilidade deve ser considerada em todos os momentos, uma vez que eu, enquanto EE tive, sempre, o papel de mediadora de todo o processo de aprendizagem, sendo responsável pela formação de futuros cidadãos. Tal como advogam Paixão e Jorge (2014), todos os professores se devem centrar na formação de cidadãos responsáveis, ativos e implicados na construção de uma sociedade sustentável e democrática, construindo-os de forma integral e eclética.

De acordo com Batista e Queirós (2013), independentemente de todos os constrangimentos que existem ou possam ser criados, naturais neste processo, a prática em contexto real é, inevitavelmente, um ponto de destaque e de reconhecimento, que deve ser aproveitado e explorado, ao máximo. Enquanto EE, não poderia ter desaproveitado esta oportunidade, rica em todos os campos do que é ser professor, profissão que ambiciono alcançar desde que me lembro de pensar. Silva et al. (2014) acrescentam que é na escola, num contexto ‘’verdadeiro’’, que o EE tem a oportunidade de mobilizar o que aprendeu até ao momento, com o intuito de se tornar um verdadeiro docente. A realidade da instituição e a complexidade das tarefas da profissão são elementos que só podem se explorados num contexto autêntico, sem nunca esquecer a importância de algo que norteie o caminho a seguir. De acordo com os mesmos

autores, existe um currículo estruturado capaz de fornecer aos intervenientes, os objetivos e as metas a alcançar, funcionando como uma bússola, que norteia o caminho a seguir, tanto do EE enquanto professor, como do estudante.

Acima de tudo, este processo é, ou deve ser, de caráter reflexivo, sendo o EE o principal impulsionador e propulsor da sua própria evolução. É imprescindível que o espírito crítico seja desenvolvido, indo muito para além do que se vê e observa, aprendendo através dos próprios erros. De facto, a reflexão é e foi, no meu entender, uma das palavras chave deste ano de EP, tendo-me permitido avançar e progredir no meu processo de formação, cruzando os meus próprios horizontes e potenciando o crescimento, dentro de mim, de uma ‘’personalidade docente’’, plena de cores e de sensações, de vivências e experiências.

‘’O caminho tem de ser para a frente, refletindo e progredindo a cada dia que passa pelas experiências vividas. Este é o professor que podemos e devemos ser: um professor, simultaneamente, resiliente e reflexivo. ‘’ / Espinho, 10 de setembro de 2018

Tal como enunciam Alves et al. (2014), é simples compreender a razão desta etapa ser a final da formação inicial de professores sendo reconhecida como um momento crítico, mas fulcral para o desenvolvimento profissional. Foi um tempo e um espaço privilegiado para a minha formação docente, que foi vivida de forma intensa e onde desenvolvi múltiplas competências. Foi impossível, para mim, ‘’não aproveitar’’ todo o potencial que me rodeava oriundo da minha colega de núcleo, da PC, da PO e também dos docentes que constituíam o grupo de EF. Fizeram, todos, sem exceção, parte deste momento da minha vida, tanto a nível profissional como pessoal, plena de momentos de partilha e de interação. Esta foi a forma que me permitiu, de verdade, ter consciência do papel do professor e da EF, em contexto escolar.

‘’Sempre soube o que era ser professor. Nunca tive dúvidas de que o queria ser. Além disso, a minha ligação constante à docência permitiu-me perceber

vários processos e dinâmicas estabelecidas, estando a par do funcionamento da mesma. Sabia da responsabilidade que carregaria sobre os meus ombros para formar seres íntegros e ecléticos, de fazer com que o seu processo de ensino-aprendizagem fosse recompensador. Ser professor é, inevitavelmente, uma responsabilidade enorme, onde, por muito que todas as cores existam, é necessário organizar as peças e encadeá-las da melhor forma, para que ganhem sentido (Lopes et al., 2015). Para mim, ser professor é responsabilizar-

me por um futuro melhor, procurando as estratégias mais indicadas e adequadas para cada situação, utilizando metodologias centradas nos alunos. A verdade é que os discentes são uma ponte entre mim e o futuro, estando a formar a futura sociedade e os seus respetivos cidadãos. Deste modo, a responsabilidade é acrescida, tal como supramencionado (Ferreira, 2013).’’ / Espinho, 14 de novembro de 2018

É do senso comum que os docentes são elementos fulcrais no desenvolvimento dos jovens, tanto a nível social, como pessoal, cultivando o gosto pela prática e transmitindo valores, que todo e qualquer ser humano deve possuir. De acordo com Oliveira (2001), o professor possui um papel ativo, devendo atuar como um verdadeiro agente, considerando os problemas da comunidade educativa em que se insere e orientando o trabalho em função das suas necessidades e aspirações, numa perspetiva de transformação positiva, orientado por uma reflexão crítica da realidade social.

O EP é, inevitavelmente, a etapa derradeira de formação enquanto docente, possibilitando a vivência da profissão num contexto único e autêntico, com professores e alunos reais. De acordo com Webster (2011a), o papel de qualquer docente é e será sempre fulcral para realizar mudanças na escola, com novas práticas e metodologias, indo de encontro às necessidades dos discentes em questão. Na verdade, a teoria é fulcral, mas a prática e a vivência na realidade são igualmente imprescindíveis. É, do conjunto destas três vertentes, que surge a criação de uma identidade profissional única e diferenciada.