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5. PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DE UMA PINTORA APRENDIZ

5.5. Retoques Finais da Obra de uma Pintora: A Avaliação

Segundo Penney et al. (2009), a avaliação na EF é um elemento crucial para elevar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, devendo existir uma ligação entre todo o processo. O mesmo iniciou-se com um currículo a preto e branco, ficando marcado pelas múltiplas nuances ao nível do planeamento e da intervenção pedagógica. No final, foram efetuados pequenos retoques finais fruto da avaliação efetuada, culminando numa verdadeira obra de arte.

A verdade é que avaliar não é, e nunca será, um processo de simples realização. Trata-se, sem qualquer dúvida, de algo cuja dificuldade é elevada, não só para os professores, mas também para os alunos. No entanto, urge desmistificar este paradigma ao nível da avaliação, uma vez que a mesma não pode, nem deve, ser vista como potenciadora de stress e de ansiedade (Stiggins & Chappuis, 2012), mas sim como uma tarefa de elevado valor formativo e

propiciadora de evolução. Tal como enunciam Rosa et al. (2012), a Avaliação Formativa (AF) compreende o ato de avaliar como parte e não fim do processo de ensino e de aprendizagem. De facto, a avaliação não pode ser única e exclusivamente considerada em função do momento de Avaliação Sumativa (AS), devendo considerar todo o processo e empenho dos estudantes, tornando- se um elemento capaz de aferir o ponto em que cada um se encontra.

De acordo com Araújo (2017), atualmente é consensual a necessidade dos resultados da avaliação para nortear e regular o percurso de aprendizagem, efetuando os ajustes necessários para que o mesmo seja de qualidade, como se se tratasse de uma obra de um pintor. Deste modo, torna-se clara a importância não só da AD, como também da AF e ainda da AS para um processo com intencionalidade pedagógica, efetuado de forma consciente e ponderada.

Relativamente à primeira, esta articula-se com as restantes, representando um ponto de partida para as opções e para as decisões metodológicas (excerto dia 12 de setembro). Esta é, no meu entender, fulcral no processo de ensino- aprendizagem, permitindo articular todo o processo com as necessidades dos alunos, colorindo a tela de cada um deles, com cores capazes de a tornar única.

‘’Eu só posso falar por mim, mas considero que esta é fundamental para eu perceber o ponto de partida dos meus discentes, para compreender o que

ainda tenho de efetuar com os mesmos, até porque cada uma é uma turma e cada aluno um ser distinto.’’ / Espinho, 12 de setembro de 2018 No que diz respeito à AF, a mesma deve ser igualmente centrada nos discentes, nas suas dificuldades e potencialidades, tendo como objetivo cumprir e alcançar o propósito final. De facto, a AF incorpora esta vertente do aluno, que verifica a sua evolução e que lhes permite gerir a sua aprendizagem, em função dos objetivos finais a atingir (Araújo, 2017). No entanto, o mesmo autor destaca que a AF apresenta também uma vertente para o docente, permitindo-lhe orientar e regular o ensino, ajustando os planos ao processo dos envolvidos, efetuando pequenos retoques, como se de um pintor se tratasse na ultimação de uma obra. Tal como advoga Pacheco (1998), este tipo de avaliação

descrição e a compreensão, funcionando como uma prática de diagnóstico, de correção e de orientação. Como tal, durante o ano, a mesma realizou-se, continuamente, no meu diário de bordo, sendo um momento de reflexão e de constante avaliação do processo, tal como se observa no excerto que se segue.

‘’Por fim, mas talvez o mais importante, avaliar com uma reflexão, que deve ser efetuada com o máximo rigor para potenciar a nossa própria evolução.’’

/ Espinho, 24 de setembro de 2018

Ao nível do Ensino Básico e Secundário, Pacheco (2012) menciona que a avaliação das aprendizagens dos alunos balança entre as componentes formativa e sumativa, como se não existisse qualquer ligação entre as duas. No entanto, no meu entender, as mesmas devem estar em constante interação e ligação, tornando o processo mais positivo, tanto para os discentes, como para os professores, criando um verdadeiro clima de aprendizagem (excerto dia 9 de outubro). A verdade é que a avaliação não deve centrar-se única e exclusivamente numa sessão, devendo ser considerado todo o processo e evolução efetuados até ao momento (excerto dia 30 de outubro).

‘’A minha ambição, enquanto docente, em fase inicial, é realizar a avaliação ao longo de toda a ED e, num momento formal final, esclarecer apenas dúvidas que possa ter. Isto traduz-se na melhoria da relação entre o professor e os respetivos alunos, na promoção do entusiasmo e também no aumento da vontade em aprender por parte dos dois, não se centrando num único momento avaliativo.’’ / Espinho, 9 de outubro de 2018 ‘’A verdade é que, por experiências várias da minha parte, nem todos os dias são bons para a prática de uma determinada modalidade, seja ela coletiva ou individual. Podem até ser pessoas que cedem facilmente à pressão e que se sentem, extremamente, nervosas, só pelo simples facto de saberem que é um momento avaliativo. Por outro lado, podemos ter discentes que só se empenham nestes momentos, porque pensarem que é o que irá ditar a sua nota. A meu ver, a avaliação sumativa deve ser apenas um momento para ‘’tirar certas dúvidas’’ quanto à nota de cada um, onde a participação e o

empenho devem ser, sem qualquer dúvida, valorizados. O ideal centra-se numa avaliação contínua que englobe o desempenho em todas as aulas, a evolução nas diferentes habilidades e os próprios conhecimentos específicos desenvolvidos, tal como pretendo realizar.’’ / Espinho, 30 de outubro de 2018

De acordo com Graça (2015), o docente deve apresentar tarefas, dar explicações, comunicar as exigências sobre o que deve ser feito, apoiar os discentes nas várias tarefas, estimular, orientar, supervisionar, regular e avaliar o rendimento dos alunos. Sem uma correta avaliação do desenvolvimento das competências motoras básicas, a intervenção no processo de ensino não será a adequada e colocará em causa a sua formação (Quintero et al., 2017). Todavia, tal como refere Bento (2003), a avaliação deve ir muito além da parte psicomotora, pressupondo uma parte cognitiva e afetiva. É simples compreender a sua complexidade, que tem vindo a gerar inúmera controvérsia e discussão, deixando-me com múltiplos receios e inseguranças na sua realização.

‘’No que à avaliação diz respeito, são ainda muitas as dúvidas existentes (ou inseguranças?). Através da avaliação diagnóstica, formativa e sumativa, terei de ser capaz de classificar os meus discentes com um mero número. Estou certa de que não será um processo simples, mas cada coisa a seu tempo.’’ / Espinho, 4 de outubro de 2018 ‘’Confesso que, para mim, este processo avaliativo me faz pensar bastante, sobretudo por estar receosa quanto à sua realização. Não me importo de dar todas as aulas do mundo, mas avaliar... Não quero atribuir uma nota, um valor, a um aluno. Acho que o seu processo é bem mais importante, bem como a sua evolução enquanto ser.’’ / Espinho, 24 de outubro de 2018

De acrescentar que, de acordo com Bratifische (2008), estes momentos de avaliação são, sempre, dependentes da sensibilidade dos professores e da sua capacidade de observar os alunos enquanto se encontram envolvidos nas diversas atividades, não sendo, de todo, uma tarefa de fácil realização. Deste modo, a filmagem tornou-se uma estratégia crucial para analisar, com rigor, as

‘’Optei por gravar a situação de jogo 3x3, para que, mais tarde, pudesse efetuar a avaliação de forma correta. Na prática, teria sido impossível observar todas as componentes, sobretudo para mim, uma docente ainda em fase de formação.’’ / Espinho, 12 de outubro de 2018

‘’Julgo importante destacar a utilização da filmagem, para, mais tarde, efetuar a avaliação ‘’propriamente dita’’. Caso contrário, tornar-se-ia impossível analisar todas as componentes de cada uma das técnicas, tendo em conta que são 22 os alunos da turma.’’ / Espinho, 12 de fevereiro de 2019

A verdade é que, tal como refere Mendes et al. (2012), a avaliação deve considerar todo o processo de ensino-aprendizagem e requer algum rigor e consistência por parte de quem avalia. Mais do que simplesmente olhar, é necessário captar os diferentes significados dessa visualização porque irá variar de sujeito para sujeito. Isto é, diferentes observadores percecionam e entendem as mesmas coisas de forma distinta, não só pela experiência, como também pela sua própria atenção seletiva ou ainda fruto do objetivo da atividade e do ambiente em que se encontram. Além disso, antes do momento avaliativo, o professor deve saber o que vai avaliar e possuir um conhecimento profundo acerca do que pretende, efetivamente, observar, bem como depois, utilizar, sempre, uma grelha bem definida e estruturada (Mendes et al., 2012). Contudo, segundo Stiggins e Chappuis (2012), as questões a que um professor se deve colocar são como seremos, verdadeiramente, capazes de ajudar os alunos a aprender e a acreditar nas suas capacidades, tendo sido esta uma das minhas dificuldades, neste EP.

Através da utilização do AfL, considero que evolui e me transcendi ao nível da avaliação, incluindo-a como algo ‘’mais banal’’ mas, igualmente, essencial no dia a dia de um professor e da sua turma. De acordo com MacPhail e Halbert (2010), a avaliação deve ser uma parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem, afirmação com a qual não poderia estar mais de acordo. Através da utilização desta metodologia, os alunos reconheceram os objetivos e também os critérios de avaliação, efetuando análises contínuas ao seu progresso, bem como aos dos seus colegas. Esta transparência de todo o processo é essencial, tal como enuncia Pacheco (1998). Stiggins e Chappuis

(2012) acrescentam que este conhecimento sobre o processo se tornou uma ajuda crucial para os discentes elevarem a sua confiança e motivação, envolvendo-se no processo e propiciando aprendizagens de sucesso.

Não posso deixar de mencionar que a AS se torna, em parte, um elo de ligação entre a escola e o Encarregado de Educação. Segundo Pacheco (1998), a classificação final obtida é a expressão última da notação e dos procedimentos avaliativos, correspondendo a uma formalização do resultado escolar. Araújo (2017) corrobora a ideia destacada, acrescentando que a AS permite um balanço final das aprendizagens, sendo o culminar de um percurso de aprendizagem. No entanto, do meu ponto de vista e de acordo com Betii e Zuliani (2009), a avaliação não deve ser baseada num só momento, mas contínua, compreendendo as várias fases da mesma, desde a diagnóstica até à sumativa. Além disso, o ato de avaliar deve ser considerado como formativo, com uma verdadeira ligação e interação entre professor-aluno, estando todos conscientes do que será observado e de como deve ser realizado, culminando num processo único e inesquecível, como uma verdadeira obra prima.

Por fim, considero importante destacar um dos momentos vivenciados com os alunos da turma residente, no primeiro período, na modalidade de Badminton. No dia da AS, optei por indicar um árbitro e um avaliador. Cada um deles teria de avaliar outro colega, segundo os critérios enunciados no início da sessão. Segue-se o excerto de dia 4 de dezembro, onde tal experiência aconteceu, com as respetivas ilações retiradas.

‘’No final da sessão, ao conversar com os discentes sobre a avaliação, decidi questionar se tinha sido fácil avaliar os seus colegas. Todos responderam, prontamente, que não. Eu acabei por dizer ‘’E vocês só avaliaram um aluno, durante 20 minutos...’’. Foi bastante engraçado ver a resposta de uma das alunas dizendo, de imediato, que eu sou professora e que sou experiente. A verdade é que eu posso ter os conhecimentos necessários para efetuar uma avaliação de forma mais rápida e simples, mas a experiência é inexistente. Aliás, é neste ano de EP, que me tenho vindo a construir profissionalmente, conhecendo os contornos da profissão e tornando-me, a pouco e pouco, um

as folhas, por eles preenchidas, foram várias as impressões com que fiquei. Se, por um lado, alguns dos alunos têm uma elevada facilidade em atribuir a classificação máxima aos colegas, outros nem tanto. Acabam, inclusive, por classificá-los com notas bastante inferiores às que eu própria atribui, tal como demonstrado no exemplo abaixo. Penso que esta foi uma excelente estratégia para os colocar a refletir, de forma consciente e ponderada, e que me ajudou a perceber a sua própria perceção das classificações finais.

AVALIAÇÃO EFETUADA POR UM ALUNO

TÉCNICA (1 - 5) TÁTICA (1 – 5)

SERVIÇO ENCOSTO LOB CLEAR AMORTI REMATE Desloca-se

para o volante Procura o espaço vazio Adequa o batimento 4 4 4 4 4 4 4 5 4

AVALIAÇÃO EFETUADA PELA DOCENTE

TÉCNICA (1 - 5) TÁTICA (1 – 5)

SERVIÇO ENCOSTO LOB CLEAR AMORTI REMATE Desloca-se

para o volante Procura o espaço vazio Adequa o batimento 5 4, 5 4 4 4 4 5 5 4

Concluindo, esta análise do processo de ensino-aprendizagem é, sem qualquer dúvida, fundamental para potenciar a mudança e/ou a melhoria. A avaliação pode ser feita tanto relativamente ao meu desempenho como ao dos discentes, levando a uma melhor apreciação quanto à eficiência e eficácia da atuação de ambos.’’ / Espinho, 4 de dezembro de 2018

A avaliação permite aferir o trabalho e a evolução dos discentes, mas também potencia uma autoavaliação ao próprio docente. Os resultados daqueles dependem muito do investimento que foi efetuado. A vontade de fazer mais e melhor, por parte dos alunos, está estreitamente relacionada com o desempenho do orientador das várias tarefas propostas, aula após aula.

Assumo que o meu esforço foi contínuo, tanto ao nível do conhecimento das múltiplas modalidades lecionadas, como do ato de avaliar, da utilização de grelhas de avaliação objetivas e ponderadas e da própria valorização da observação das mesmas para desenvolver competências neste campo, diminuindo a angústia de avaliar de forma injusta os meus jovens aprendizes.

Estou certa de que o bom professor é um facilitador das aprendizagens, um motivador que eleva o nível de empenho, de trabalho e de desempenho dos alunos. Muitas vezes ouvi dizer que os bons alunos aprendem independentemente dos professores que têm, mas considerando que a escola é inclusiva todos têm o direto de aprenderem, a ritmos diferentes. Por isso, o bom docente é aquele que, com os conhecimentos necessários, se dedica aos seus alunos, se preocupa com eles, enquanto alunos em processo formação.

5.6. Avaliar para Aprender numa Unidade Didática de Ginástica