• Nenhum resultado encontrado

3. AUTORRETRATO

3.2. Perspetivas de um Quadro Colorido: Um Mundo por Descobrir

‘’As cores na pintura são como chamarizes que seduzem os olhos, como a beleza dos versos na poesia.’’ (Nicolas Poussin, quoted by Giovanni Pietro Bellori in Lives of the Modern Painters, Sculptors and Architects, 1672)

Iniciou-se, no dia 3 de setembro de 2018, uma nova etapa da minha formação, com muitos e novos desafios, motivações, perspetivas e, como sempre, com dúvidas e inseguranças. Esta fase denomina-se Estágio Profissional, onde o EE procura colorir, através da descoberta, o seu mundo de conhecimentos e saberes. Considero que se tratou, em grande parte, de um ano em que me coloquei, constantemente, à prova, como se se tratasse de um teste contínuo ao meu desempenho enquanto docente.

No que concerne a este estádio da minha vida, as expectativas iniciais eram muitas e bastante elevadas. Sempre estive consciente de que seria um percurso duro e um verdadeiro desafio, mas também senti, durante todos os momentos, que estava preparada para o enfrentar. Conhecendo-me como conheço, sabia que as crises existenciais não seriam poucas, mas também reconhecia qual era o meu sonho desde pequenina e desistir não era, não foi, nem nunca será opção. Acrescente-se que a minha vida é o Desporto e tudo aquilo que ele representa. É a minha paixão, é aquilo que me move.

É fácil perceber que esta experiência de estágio foi, sem qualquer dúvida, uma das partes mais importantes no meu processo de desenvolvimento e formação profissional. Tratou-se de aprender, em contexto real, com a imprevisibilidade e o meio envolvente a influenciarem toda e qualquer decisão. A verdade é que a aprendizagem acontece, efetivamente, com o contacto com a realidade, com outros professores e com os próprios alunos (Batista & Queirós, 2013). Ao princípio, tudo me parecia impossível de acompanhar. Contudo, com o passar do tempo, tornou-se uma rotina, um dia a dia comum, um sonho tornado realidade. Confesso que não sei, muito sinceramente, se algum dia terei a possibilidade de descobrir este mundo e as suas cores, face à conjetura atual do

A minha vida foi, até ao momento, pautada de vivências com outros professores, treinadores e também atletas. Considero que o facto de ter sido atleta durante muitos anos, de ser treinadora de Voleibol desde os meus 16 anos e ainda de ter uma professora em casa, com bastante experiência, diminuiu, consideravelmente, o choque com a realidade, comummente adjetivado de aterrorizador. Contrariamente a muitos dos meus colegas EE, lido diariamente com jovens e com os problemas inerentes à organização do processo de ensino- aprendizagem. Não quero com isto dizer que no princípio me encontrava apta e qualificada para a função que me tinha sido designada, muito pelo contrário. Sabia que ainda existia muito para aprender e variadas competências e capacidades para desenvolver. Reconhecia que as aprendizagens efetuadas no âmbito da disciplina de Educação Física poderiam tornar-se bastante úteis, nomeadamente no treino desportivo.

De acordo com Tannehill e Goc-Karp (1992), uma das questões capaz de influenciar o maior ou menor sucesso das experiências de ensino, em contexto real, são os elementos intervenientes em todo o processo: o Professor Orientador (PO), o Professor Cooperante (PO) e o EE, que se espera que venha a tornar-se professor. Confesso que a inexistência de uma relação com a minha colega de núcleo e com as professoras responsáveis me deixou, nos momentos iniciais, bastante recetiva quanto ao desenrolar do ano letivo. Tenho consciência de que tenho uma personalidade muito própria e que nem todas as pessoas são capazes de compreender a minha forma de trabalhar e de pensar. Porém, agora, no final de todo este processo, estou certa de que não poderia ter estado melhor acompanhada. Em todos os meus momentos de desvaneios, tive sempre alguém por perto, capaz de me orientar e confortar, capaz de me fazer ver que não há que ter medo e que os momentos menos bons fazem parte do processo de construção profissional. Neste contexto, é impossível não mencionar e destacar a alegoria da célula, efetuada por Rolim (2013). O autor fala de uma célula jovem, em constante crescimento, transformação e formação, que é, naturalmente, constituída por um núcleo e por um citoplasma. Os intervenientes no processo seriam os cromossomas e os organelos, assumindo múltiplas funções e responsabilidades para que a célula pudesse funcionar sem

constrangimentos e de forma plena, sobrevivendo, em equilíbrio. A verdade é que, quanto mais profícua for a cooperação, a partilha e a relação das estruturas da célula, melhor se espera que seja o resultado final, formando profissionais mais críticos, reflexivos, competentes, humildes, cultos, ponderados, responsáveis, curiosos, criativos, íntegros, disponíveis, altruístas e, acima de tudo, humanos. Neste quadro, é fácil compreender que o estágio deve ser um momento de partilha e, simultaneamente, de descoberta, em que os EE vão descobrindo e pintando o seu mundo, com as múltiplas cores existentes, como uma célula que cresce, de forma autónoma e responsável. Pois, eu cresci, juntamente com todos aqueles que me acompanharam e que tornaram este processo possível e, sem qualquer dúvida, feliz.

Relativamente às minhas expectativas.... Esperava encontrar, nas minhas turmas, alunos apaixonados pela EF, como eu sempre fui. Queria ser capaz de alterar alguns dos hábitos de vida que possuíssem. Queria, tal como enuncia Marinho (2013), ir para além da técnica e da tática e ensiná-los a estarem sempre predispostos a um aperfeiçoamento e a um aprimoramento do espírito. e acordo com a autora, educar supõe a formação de um ethos íntegro e integral, devendo o professor cuidar da integridade do educando, tal como eu pretendia fazer, desde o primeiro momento. Estava consciente de que liderar uma turma com 22 alunos, durante um ano letivo, não seria tarefa fácil, mas ansiava, igualmente, fazer parte da formação dos jovens que, num futuro próximo, farão parte da sociedade. Esta possibilidade fez recair uma responsabilidade acrescida sobre os meus ombros. Além disso, considerava que a relação que eu estabelecesse com eles iria influenciar todo o processo, já que, como advogam Almeida et al. (2013), se a mesma for positiva, a probabilidade de existir aprendizagem aumenta. A meu ver, o processo foi pleno de aprendizagens e de conquistas, de formação e de transformação individual, não só da minha parte, mas também de todos os meus pupilos. Foi, indiscutivelmente, um verdadeiro arco-íris, vivido de forma incessante por uma pintora à procura deste mundo por descobrir.

Pretendia ainda integrar, de forma dinâmica, um grupo disciplinar de Educação Física e esperava que o mesmo estivesse disponível para ajudar. O papel que os mesmos desempenhariam seria, do meu ponto de vista, de

destaque na minha experiência, uma vez que, se esta fosse positiva, influenciaria a minha atitude perante o ensino e a profissão. Tal como mencionam Morgan e Hansen (2008), são vários os docentes com múltiplas memórias negativas passadas, dizendo, inclusive, que nada lhe havia sido ensinado. Contudo, a minha relação e ligação a este grupo foi excecional. Esta situação pode ter surgido devido ao facto de possuir uma personalidade extrovertida, permitindo-me brincar com todos aqueles que fizeram parte deste percurso. Naturalmente, alguns professores marcaram-me pela sua boa disposição, outros pela sua devoção à profissão, pelo gosto de ensinar, pela constante vontade de ajudar. Todos diferentes, mas igualmente fulcrais para o meu crescimento. Posso dizer, com toda a certeza, que cada um deles coloriu um bocadinho do meu mundo.

Desejava, com todas as minhas forças, que a minha relação com a colega de núcleo fosse boa, de verdadeira partilha, tal como supramencionado pela alegoria da célula. Ambicionava que se criasse uma amizade pura, de partilha e de ligação, o que nem sempre é fácil pela personalidade e gostos que cada ser possui. No entanto, penso que os nossos ‘’feitios’’ se encaixaram na perfeição, fomos aprendendo a lidar uma com a outra, nas várias situações, mantendo-nos prontas para ajudar, sempre que possível e necessário.

Esperava que a ‘’minha’’ PC me apoiasse e ajudasse sempre que possível, mas também me desafiasse, potenciando o meu desenvolvimento e fazendo-me sair da “caixa do conforto”, que tantas vezes nos impossibilita ir mais além. A verdade é que foi ela, juntamente com a minha colega de núcleo, quem lidou comigo diariamente, presenciando todos os momentos e ajudando-me a superar as mais diversas adversidades, tendo, como tal, uma influência significativa na minha evolução. Confesso que me surpreendeu bastante, pois foi capaz de me transportar para a outra margem, de forma gradual, fazendo-me passar de uma participação periférica, para uma participação interna, ativa e autónoma, tal como refere Batista (2014) que deve ser efetuado.

Além disso, acreditava que a PO fosse estar sempre presente, tornando- se uma parte importante deste puzzle, com experiência, conhecimento e, como tal, com capacidade para facilitar todo o processo de ensino-aprendizagem. Era

alguém que já conhecia, com quem já trabalhara e sabia que o seu profissionalismo e competência seriam uma mais valia no meu crescimento. De facto e tal como destaca Silva (2014), a sua constante exigência, elevou a fasquia do meu esforço e dedicação, procurando concretizar as várias tarefas cada vez melhor, permitindo a transmissão de conhecimentos académicos.

No que só a mim diz respeito, esperava transcender-me, ultrapassar todas as barreiras e vencer as minhas maiores inseguranças. Estava consciente de que seria um ano de conhecimentos e de sentimentos, isto é, de razão, mas também de emoção, o que nem sempre é simples de conciliar. Porém, as duas devem coabitar em perfeita harmonia e eu esperava ser capaz de alcançar este ponto de equilíbrio, potenciando o gosto dos alunos pela EF e motivando-os para a prática de atividade desportiva fora do contexto escolar.

Acima de tudo, desejava tornar-me uma profissional capaz de gerar não só novos conhecimentos, mas também novas competências, nos alunos e em mim mesma. E, estava certa de que, a minha formação passaria bastante pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico e por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. De acordo com Batista e Queirós (2013), o meu verdadeiro crescimento aconteceria e aconteceu, sem qualquer dúvida, na prática, baseada na experiência refletida e com significado, compreendendo todo este quadro colorido que é o ensino.

Foi um ano de aprendizagens e descobertas, o culminar do processo de crescimento e desenvolvimento profissional, o término do meu percurso académico. Confirmando o veiculado por Ferreira (2013), estes 9 meses passaram como um comboio, cheio de pressa e sem paragens obrigatórias, tendo em conta todo o trabalho desenvolvido e modo como o realizei. De uma coisa estou certa: sonhei mais alto que as nuvens e dei o melhor de mim, em todos os momentos, para atingir esses ideais. Vivi, de forma intensa, a variabilidade de situações, juntamente com os meus discentes, com a minha colega de núcleo, com as PC e PO, com todos partilharam este meu caminho.