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3. AUTORRETRATO

4.2. Um Local Privilegiado ao Qual Chamamos Escola

De acordo com o dicionário português da Língua Portuguesa, a escola é uma instituição com o encargo de educar, que segue as diretrizes dos programas, com múltiplos alunos de distintas faixas etárias, sendo o edifício onde ocorre o ensino. Matos (2014) destaca que se trata de uma construção social, que ocorre dentro e fora das instituições escolares, plena de relações e interações humanas, orientando-se para o futuro. De facto, tal como enuncia Pedro et al. (2015), a escola é um meio privilegiado para o desenvolvimento da criança, em que se confronta a mesma com regras, comportamentos e exigências comuns, preparando-a para a vida e integrando-a num contexto real, tal como acontecerá na sociedade. Deste modo, é simples compreender que o professor possuí um papel de destaque, uma vez que a ação educativa só pode ser desempenhada por quem acredite que a mesma pode contribuir para a formação de seres humanos íntegros, não limitando as suas funções à transmissão de conteúdos programáticos (Queirós, 2014b), tal como eu procurei efetuar desde o primeiro momento.

‘’Quero que eles aprendam, quero ver evolução neles, quero que seja um ano pleno de aprendizagens para a sua vida futura e não consigo ‘’deixar’’ simplesmente andar, tenho de exigir e ir mais além.’’ / Espinho, 16 de novembro de 2018

O Homem, desde os primórdios, sempre procurou o conhecimento de tudo aquilo que se apresentava perante ele, tendo surgido a necessidade de o produzir e reproduzir, de o transformar e humanizar. Ao longo do tempo, o conceito de escola foi evoluindo e alterando em função dos objetivos a atingir. Inicialmente, eram os mais velhos que ensinavam os mais novos, desempenhado o seu papel na transmissão de ofícios, conhecimentos e socialização. Com o passar do tempo, passou a ser uma relação entre mestre e aprendiz, em que só alguns tinham acesso, por ser através da Igreja Católica. Seguiu-se um reconhecimento de que era necessário educar determinados parâmetros em função das necessidades da própria sociedade, ou seja, em

função as suas necessidades, criando e formando pessoas com as caraterísticas necessárias (Fino, 2001). Atualmente, vivemos numa instituição vista como a nova forma de socialização, caraterizada por ser gratuita, obrigatória, laica, universal e num local próprio, com especialização de tarefas e para o maior número de alunos possível. As orientações legislativas atuais para a educação – DL 55/2018 e DL 54/2018, de 6 de julho - apostam na direção de uma escola inclusiva, onde todos e cada um encontrem as respostas adequadas à suas potencialidades, expectativas e necessidades, potenciando uma diminuição efetiva do insucesso educativo. O trabalho das escolas deve ainda ter em linha de conta as aprendizagens essenciais das diferentes disciplinas e dos vários níveis de ensino, indo de encontro ao perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória1. Este assume uma natureza abrangente e transversal, respeitando a multiculturalidade presente nas múltiplas instituições e assegurando que a formação de cada aluno é orientada por um conjunto de princípios como o saber, a inclusão e a adaptabilidade e de valores como a excelência, a curiosidade, a cidadania e a participação, com todas as áreas de competência a desenvolver para a formação integral (Martins et al., 2017). Assim, percebe-se que a educação tem de considerar, em todos os momentos, os diferentes setores da sociedade, pela sua interdependência e necessidade de moldar à esfera escolar e aos respetivos intervenientes.

É simples compreender que a escola é um meio complexo e cultural, estabelecendo um entreposto cultural, ou seja, uma mediação de diferentes racionalidades culturais. Cada ser possui a sua própria “bagagem” cultural e académica, que transporta consigo para outros locais, havendo uma interação entre os vários intervenientes, negociando e emergindo uma cultura que os diferencia. Isto é, como advogam Alves et al. (2014), toda e qualquer escola possui uma cultura que lhe é caraterística, desenvolvida pela interação entre os seus atores, no seu contexto específico. Basicamente, estamos a falar de uma relação dialética que existe entre a própria estrutura e a ação, em que uma condiciona a outra. De facto, todo e qualquer pensamento não surge apenas das

condições objetivas dos regulamentos, mas também das interações humanas, dos comportamentos no campo. Assim, é fácil perceber que a escola não existe de forma isolada, mas numa comunidade dinâmica, em que todos os seus intervenientes interagem entre si. Falamos da cultura organizacional da escola, algo único, particular e individual, que permite a cada escola distinguir-se das restantes. De acordo com Carvalho (2006), esta diferenciação decorre da interação humana não estruturada, desordenada, aleatória e fluída, em que a totalidade dos elementos têm de ser equacionados não apenas na sua interioridade, mas também nas inter-relações com a comunidade envolvente. Deste modo, apesar de as organizações escolares estarem integradas num contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham, surgindo num determinado contexto e em função do mesmo.

A educação é, inevitavelmente, um processo de socialização, com necessidades distintas, com interesses da sociedade dispares e com conteúdos escolhidos de forma diferenciada, tal como nos indica Matos (2014). Contudo, os jovens têm o direito e o dever do acesso à escola, sendo o principal meio de socialização e de promoção do desenvolvimento individual. De acordo com Pereira (2018), a educação é um direito efetivo de todos e não um privilégio de alguns, pois garante as melhores aprendizagens. Como tal, é um local privilegiado para desenvolver os valores necessários para formar uma sociedade de qualidade. Segundo Martins et al. (2017), não existem dúvidas de que a escola deve ser e é um local propício à aprendizagem e ao desenvolvimento de competências, incentivando e cultivando a qualidade e a excelência. Como tal, devem existir projetos interdisciplinares, com uma articulação clara entre as disciplinas, trabalho colaborativo e a promoção dos valores de cidadania e desenvolvimento. Além disso, com a implementação de modelos curriculares flexíveis e com a monitorização sistemática da eficácia das intervenções, pretende-se que os alunos adquiram uma base comum de competências, valorizando as suas potencialidades e interesses. Contudo, a escola é um local mutável, que se vai moldando e ajustando à sociedade em que se insere, para responder às necessidades de todos e de cada um.

‘’A verdade é que somos todos diferentes, com várias caraterísticas pessoais que nos distinguem, algumas delas mais simples e fáceis de alterar, enquanto outras nem tanto. No entanto, estas não podem ser motivo de “não-ligação”. No contexto escolar, e mesmo fora deste, há a necessidade de nos relacionarmos, constantemente, com pessoas diferentes. Esta imprescindibilidade trespassa para o mundo profissional. Assim, do meu ponto de vista, a escola assume um papel de destaque neste sentido, devendo promover a relação, contribuindo para a formação global dos alunos. ‘’ / Espinho, 18 de janeiro de 2019

A sociedade em que vivemos é distinta das de outros países, requerendo uma escola igualmente diferente, com professores diferenciados e, como tal, de uma formação de docentes adequada a estas necessidades (Lopes, 2014). Porém, e, de acordo com Pereira (2018), somos enriquecidos pela diferença. A heterogeneidade é o que mais se aproxima da realidade em riqueza e diversificação. Tomando como referência Albuquerque et al. (2014) e a sociedade heterogénea em que vivemos, entende-se que a formação dos docentes deve ser orientada para que os mesmos sejam capazes de intervir em contornos distintos e imprevisíveis. De acordo com os mesmos autores, os professores têm a exigência de participar na formação integral da criança, bem como no desenvolvimento da sua personalidade e a respetiva inclusão na sociedade, preparando para a vida. Além disso, devem orientar a sua prática pedagógica com vista a atingir uma educação inclusiva, que se carateriza pelos princípios da educação universal, da equidade, da inclusão, da personalização, da flexibilidade, da autodeterminação, do envolvimento parental e da interferência mínima.

Queirós (2014b) refere que as inúmeras transformações verificadas nos últimos tempos na sociedade, transformaram a escola num local cuja exigência de atuação profissional é elevada, sendo, simultaneamente, um palco de incertezas. Esta ideia é facilmente entendida se pensarmos no reduzido tempo que a generalidade dos pais possuem, nos dias de hoje, para os seus filhos, ganhando importância o professor no seu papel de educador (Albuquerque et

al., 2014). Basicamente, a escola tem funcionado como um prolongamento da educação recebida em casa, sendo uma criação do espírito humano, configurando-se como uma atividade indissolúvel de teoria e prática, de conhecimento e ação (Bento, 2014), sendo a forma escolar de educação.

Acima de tudo, importa que a escola do Século XXI se mantenha aberta aos desafios que lhe são colocados, como é o caso da crescente globalização e do aparecimento de novas tecnologias. Nogueira (2014) reporta que se estas são realidades que se afirmam no dia a dia, a escola não pode ficar alheia a esta transformação, nem se desresponsabilizar. Cabe à escola proporcionar momentos únicos aos seus discentes para que estes a considerem importante e sintam que vale a pena apostar, preparando-os para a vida futura, procurando que, mais tarde, atuem de forma responsável e criativa, na sociedade.

Aos alunos, tal como destacam Martins et al. (2017), o mundo atual coloca novos desafios ao nível da identidade e da segurança, da sustentabilidade, da interculturalidade, da inovação e da criatividade. Urge, assim, formar uma instituição que responda às novas perspetivas de ensino que emergem da atualidade (Nogueira, 2014), sendo a escola uma organização idiossincrática, com caraterísticas bem distintas das restantes, o produto de um conjunto de processos históricos complexos e nunca neutros.

De acordo com Pereira (2018), a instituição deve garantir, à saída, que todos alcançaram aquilo a que tinham direito, ou seja, um perfil humanista, ancorado no desenvolvimento de valores e de competências, tornando os jovens aptos ao exercício de uma cidadania ativa, proporcionadora de bem-estar. Deste modo e, tal como destacam Batista e Queirós (2015), é simples compreender que a instituição escolar, em função das mudanças sociais, legislativas e também ideológicas, tem vindo a transformar-se. Isto implica uma aposta decisiva na autonomia das escolas e dos seus profissionais, em termos da gestão dos currículos, respeitando as orientações emanadas para a educação.