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5. PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DE UMA PINTORA APRENDIZ

5.4. O Degradé de Cores da Intervenção Pedagógica

5.4.1. Das Cores Sólidas a uma Paleta Multicolor: A Relação

das minhas maiores dificuldades foi distinguir o contexto escolar em que me encontrava, bastante distinto do treino, ao qual me encontrava acostumada. A princípio, centrava a minha atuação no rigor e na exigência, pintando de cores escuras e sólidas a formação dos meus alunos, seguindo os princípios de um contexto competitivo. Todavia, na escola, o paradigma é, ligeiramente, distinto. A verdade é que nem todos os estudantes querem ter EF, sendo necessário conquistá-los e fazê-los ver as múltiplas vantagens da associação de uma vida ao desporto, pintando o seu mundo com um leque variado de cores.

Segundo Mesquita (2005), é importante definir objetivos exequíveis, meios de controlo para as tarefas definidas e, claro, manter os alunos motivados e empenhados nas várias tarefas, incutindo-lhes a responsabilidade de realizar os exercícios da forma correta. Do meu ponto de vista, este último aspeto é, indiscutivelmente, o mais importante, estabelecendo relações puras e marcantes para os envolvidos. A verdade é que os professores são elementos fulcrais no contexto escolar, possuindo um contacto único com os jovens, tanto dentro como fora do contexto sala de aula (Webster, 2011b). Correia et al. (2013) mencionam ainda que o docente deve valorizar este relacionamento interpessoal, estruturando a sua ação tendo em conta os interesses dos alunos, incentivando inclusive a própria família para as práticas desportivas escolares, fator que pode influenciar a motivação dos discentes.

No caso específico do docente de EF, este é visto, tal como indica Barros et al. (2012), como alguém capaz de motivar os seus alunos, estabelecendo uma relação próxima, que possibilita o afeto e a atenção. Os autores destacam ainda o facto de ser um exemplo a seguir, fruto do seu estilo de vida saudável, dentro e fora do espaço de aula. Como tal, é notória a importância que o mesmo possui

no contexto escolar, devendo assumir as suas responsabilidades e cumprir as suas funções da melhor forma possível, sob pena de a formação plena dos alunos ficar comprometida. De facto, no mundo da docência, os códigos deontológicos e éticos não podem ser esquecidos. Deve-se procurar formar integralmente todos os envolvidos, utilizando o desporto e os seus valores como base. A educação deve procurar formar cidadãos abertos à diversidade, responsáveis, autónomos e respeitadores de todos os direitos cívicos (Carvalho, 2014). Confesso que, durante este ano de EP, esta preocupação esteve presente desde o primeiro momento (excerto dia 25 de setembro) até ao final (excerto dia 3 de maio).

‘’O mundo atual requer que eu forme alunos autónomos e responsáveis, criativos e inovadores... O que vai muito para além da parte técnica e tática, frequentemente associadas, de forma redutora, à nossa disciplina. Vou sempre dar o melhor de mim e, da parte dos alunos, só posso esperar o mesmo. Vou ser exigente, sem deixar de ser amiga e vou participar ativa e interventivamente na formação integral dos “meus” alunos.’’ / Espinho, 25 de setembro de 2018 ‘’O desenvolvimento da personalidade deve ser favorecido, proporcionando valores, razões, motivos e saberes que permitirão nortear as suas vidas. Este tem sido o meu objetivo desde o primeiro momento, tornando-os seres autónomos, capazes de tomar as suas próprias decisões e de viver uma vida plena, em sociedade.’’ / Espinho, 3 de maio de 2019

Não tenho qualquer dúvida de que a ação educativa só pode ser desempenhada por quem acredite que a mesma pode contribuir para a formação de seres humanos íntegros, não limitando as suas funções à transmissão de conteúdos programáticos (Queirós, 2014b). E a verdade é a relação que se estabelece pode, em grande parte, potenciar este desenvolvimento. Confesso que este foi um dos aspetos em que mais cresci, neste ano de formação. Iniciei o EP com uma postura mais rígida e exigente, mas, com o passar do tempo, desenvolvi a minha segurança e confiança, destacando-me como docente da

turma e tudo se alterou. A utilização do AfL foi crucial para que tal sucedesse, potenciando uma melhor relação e interação entre todos os envolvidos, tanto aluno-aluno, como aluno-professora. Tal como enunciam Chng e Lund (2018), esta é uma das vantagens da utilização deste modelo, bem como os elevados efeitos positivos na aprendizagem.

De acordo com Lopes (2014), a docência possui caraterísticas únicas e particulares fruto, em parte, pelas relações que se estabelecem no meio. Como tal, é fulcral que todo e qualquer docente seja capaz de desempenhar múltiplos papéis: o de orientador, de amigo, de líder, de crítico, de facilitador, de formador... acima de tudo, importa que seja capaz de compreender qual deles interpretar, em cada momento (Barros et al., 2012), tarefa esta que nem sempre é facilitada. Neste caso em concreto, posso dizer que ser treinadora se tornou uma mais valia para mim, tendo potenciando múltiplos transferes do mundo do treino para o do ensino, tanto ao nível de qual a atitude a tomar (excerto dia 25 de setembro), como também da adaptação a realizar (excerto dia 14 de maio).

‘’Talvez o facto de ser treinadora há já alguns anos tenha sido uma mais valia, porque sabia, pela experiência, que esta seriam as melhores atitudes a tomar em cada momento.’’ / Espinho, 25 de setembro de 2018

‘’A capacidade de adaptação é uma caraterística que todos os docentes devem possuir, sendo capazes de se ajustar e de contornar as distintas adversidades com que se deparam. Penso que esta competência, não só durante este ano como também pela prática enquanto treinadora, se tem vindo a desenvolver e sinto-me, atualmente, capaz de ultrapassar as contrariedades que possam surgir antes ou durante o processo de ensino-aprendizagem.’’ / Espinho, 14 de maio de 2019

Não existem dúvidas de que um docente tem de ser alguém capaz de se adaptar, com rapidez, às dificuldades com que se depara. Porém, acima de tudo isso, está a importância de um professor não desistir dos seus alunos, das suas aprendizagens e vivências. A verdade é que nem sempre será um caminho de

a nossa própria aprendizagem ficar condicionada. Neste sentido, posso dizer, com toda a certeza, que através do meu caráter reflexivo me transcendi e possibilitei uma verdadeira abertura da paleta de pintor, deixando as cores sólidas e colorindo não só o meu mundo enquanto docente, mas também o de todos os meus discentes e o ambiente da própria escola.

A minha exigência constante, comigo e com os outros, o aproximar da utopia, da perfeição decorrem da minha vontade de querer sempre mais. É preciso ir além dos horizontes previamente traçados. É preciso brilhar, iluminar- se, iluminar e recolorir a vida dos alunos com as cores do saber.

‘’Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.’’ (Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, 1933)