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3. AUTORRETRATO

4.6. Modelos Vivos de uma Pintora Aprendiz: Os Alunos

4.6.3. Verde: A Vitalidade e a Liberdade do 6º Ano

A turma do 6º ciclo foi, desde o primeiro dia, um verdadeiro desafio. Esta foi uma das turmas partilhadas, sendo constituída por trinta alunos, doze alunos do sexo feminino e dezoito do masculino. A heterogeneidade da turma nas várias competências marcou-me pela sua diferença face restantes. A verdade é que os alunos demonstraram níveis de aptidão física muito distintos, como se tratasse de quadro pleno de cores diferenciadas que se completam. Porém, a elevada predisposição para a prática destacou-se como um ponto positivo, tendo contribuído para aprendizagens em todas as modalidades, sem exceção. Além disso, considero que se tornou um ótimo momento de prática para o meu crescimento, tendo aprendido através do planeamento, da lecionação e da interação com os alunos. A verdade é que os níveis de ensino são distintos, bem como as turmas, requerendo do professor a tarefa árdua de adequar os conteúdos às necessidades e potencialidades de cada um. Neste caso, a turma sempre foi, para mim, cheia de cor verde, plena de vitalidade e de liberdade, com um enorme potencial e capacidade para aprender.

De acordo com Albuquerque et al. (2014), sempre que os EE iniciam a sua formação inicial aportam consigo várias ideias pré-concebidas acerca da EF e da forma como a mesma pode e deve ser lecionada. A verdade é que eu não fui, nem sou exceção. Pensava que lecionar aos mais jovens, alunos deste nível de ensino, era efetuar um conjunto de jogos lúdicos, aula após aula. No entanto, após um reduzido número de sessões, rapidamente me apercebi que era necessário ir muito além do típico jogo formal, era necessário percorrer as várias etapas, ultrapassado os desafios que surgissem pelo caminho. De facto, esta faixa etária corresponde ao momento em que se deve fomentar e desenvolver o gosto pelo desporto e pelo exercício físico, mas não só. É fulcral, neste momento de formação e de crescimento, criar rotinas e dinâmicas de turma, ensinando-os a trabalhar em grupo e a saber ser, competências que vão de encontro ao perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória.2

Um dos aspetos que considero importante mencionar diz respeito à conduta dos discentes. Apesar de cumpridores e de demonstrarem reduzidos comportamentos desviantes, foram crescendo ao nível dos conceitos psicossociais. De facto, esta foi uma das nossas preocupações (minha e da minha colega de estágio), desde o primeiro momento. Apesar de o nível de assiduidade e pontualidade terem sido positivos durante todo o ano letivo, a falta de atenção e de concentração e as constantes conversas paralelas foram situações em que atuamos de uma forma mais efetiva. Guimarães et al. (2001) enfatizam que o currículo da EF pode e deve abordar aspetos ao nível das atitudes e dos valores, fundamentais para o desenvolvimento integral de todo e qualquer aluno. Destaque-se ainda que, tal como enuncia Novais (2007), todo e qualquer docente deve conhecer os comportamentos que as crianças e os jovens podem demonstrar, no decorrer das várias atividades, potenciando intervenções adequadas, no momento certo e, acima de tudo, a utilização de estratégias preventivas de possíveis incidências. De facto, o meu desenvolvimento foi sobretudo neste campo, tendo aprendido a lidar com cada individualidade da maneira que cada uma delas necessita, indo de encontro às suas necessidades e utilizando as estratégias mais adequadas para tal. Além disso, a própria duração das sessões foi um aspeto distinto do habitual e ao qual me tive de adaptar.

‘’Foi a minha primeira experiência numa aula de 45’. Senti que não há tempo para instruções prolongadas, devendo ser sucinta e clara na descrição dos exercícios e nos objetivos para cada um deles. Caso contrário, tornar-se-á difícil lecionar os conteúdos planeados. ‘’ / Espinho, 9 de janeiro de 2019

Naturalmente, existem sempre dias melhores e dias piores, sobretudo no que concerne ao comportamento da turma. Considero, inclusive, que o próprio estado do tempo influencia a postura e a forma de estar dos alunos. Isto é, quando estava sol, os alunos tendiam a estar extremamente ativos, frenéticos e motivados, com bastante energia e sem querer parar de correr. No entanto, em dias de chuva e/ou mais sombrios, sentia, quase sempre, os alunos mais desconcentrados, criando dificuldades ao processo de ensino. Oliveira (2001)

destaca a importância de fornecer experiências de qualidade e de prazer aos alunos para que os mesmos possuam iniciativa e responsabilidade pelas suas aprendizagens, o que requererá um bom comportamento da sua parte.

‘’Bento (2013) refere que ser professor possui uma regra fulcral: a de ensinar bem, ou, pelo menos, o melhor possível. O mesmo acrescenta ainda a regra do estudante: a de aprender, ou, pelo menos, ter vontade de o fazer. Como tal, quando ambas as regras se cumprem, o processo de ensino-aprendizagem é facilitado e propicia momentos de aprendizagem únicos e verdadeiros, como se sucedeu hoje, com a turma do 6º4.’’ / Espinho, 5 de março de 2019 A verdade é que os alunos apresentavam, num primeiro momento, múltiplas dificuldades, em vários os aspetos do jogo, tanto a nível da defesa como do ataque. A própria relação com bola parecia não existir, demonstrando que o caminho seria árduo e longo, como se sem fim, com muito trabalho pela frente. Foi através de estratégias de responsabilização e de crescente autonomia dos alunos, com a definição de capitães de equipa, que o processo se tornou distinto e agradável para todos. Foi, indubitavelmente, um percurso pleno de aprendizagens, tanto para os alunos, como para mim. É uma faixa-etária difícil de controlar e de transportar para a outra margem, sendo difícil fazê-los compreender a importância da EF. Porém, penso ter sido capaz de o efetuar, cumprindo os objetivos definidos e cultivando o gosto pelo Desporto. A formação é isto mesmo: virar e reinventar as mais variadas metáforas de inovação e renovação do ensino da aprendizagem, do professor e da própria escola (Graça, 2014a). Senti-me, durante o processo, a transformar e a formar, como pessoa e profissional, e não há nada melhor do que esta sensação.

Segundo Batista et al. (2014), são várias as etapas dos docentes para ‘’aprender a ensinar’’, com exigências pessoais e profissionais, diferentes e específicas. Trata-se de uma profissão que requer uma constante procura e readaptação de conhecimentos, estratégias e métodos. Naturalmente, é um processo complexo e exigente para quem o efetua, sobretudo no mundo de constante mudança em que vivemos.