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3.4 A Resolução CONAMA nº 1/86

3.4.4 A participação pública no processo de AIA

O acesso público à informação é um direito constitucional (Artigo 50). O artigo 10º da Lei 6.939/81 requer que os pedidos, concessões e renovações de licenças ambientais sejam publicadas em jornal local ou regional bem como no jornal oficial do estado. A Resolução CONAMA nº 6/86 estabelece normas para a notificação de concessões e renovações das licenças preliminar, de instalação, e de operação (Fowler e Aguiar, 1993). Os procedimentos para tornar público o EIA e seu RIMA envolvem:

a) acesso às cópias do RIMA em centros de documentação; b) divulgação da existência desse material;

c) uma fase de comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados; e

d) realização de audiências públicas para discussão do RIMA.

O Decreto 88.351/83 garante o acesso público ao EIA, e o artigo 11º da Resolução CONAMA nº 1/86 determina que:

“respeitado o sigilo industrial, assim solicitado e demonstrado pelo interessado, o RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão à disposição dos interessados nos centros de documentação da SEMA e do órgão estadual de controle ambiental correspondente, inclusive no período de análise técnica.”

Segundo Barbieri (1996), o princípio da publicidade plena admite restrição para os casos que contenham sigilo industrial, cabendo ao proponente do projeto ou empreendedor demonstrar a necessidade de resguardar tal sigilo. Trata-se de providência necessária para impedir que o proponente sonegue informações importantes para o EIA/RIMA sob a alegação de sigilo industrial. A possibilidade de restringir o acesso público aos segredos industriais também é uma tradição na legislação mundial. No entanto, Custódio (1995) afirma que é necessário reexaminar as normas que regulamentam os estudos de impacto ambiental para suprimir a exceção de publicidade referente ao “sigilo industrial”, uma vez que isto entram em conflito com os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.838).

Para assegurar a publicidade não basta apenas tornar acessível a documentação resultante dos estudos realizados, é preciso que as informações contidas no RIMA sejam apresentadas de forma objetiva e adequada à sua compreensão, como determina o artigo 9º da Resolução CONAMA nº 1/86. Portanto, as informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, para possibilitar o entendimento das vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação (Resolução CONAMA nº 1/86, art. 9º, parágrafo único).

Os comentários podem ser feitos por qualquer pessoa física ou jurídica interessada, tais como órgãos de classe, sindicatos, instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais, indivíduos, grupos e empresas. Também o próprio proponente pode comentar o RIMA concernente ao seu projeto. Os comentários devem ser feitos sempre por escrito e, dessa forma, anexados ao processo. A abertura da fase de comentários

deve ser precedida de comunicação em veículo de publicação oficial, como o Diário Oficial da União ou do estado, bem como em periódicos de grande circulação. A publicação do RIMA e de outras informações obtidas durante o processo de estudos e a participação do público, quer diretamente, quer através de representantes ou de órgãos públicos, complementam os estudos da equipe responsável pelo EIA (Barbieri, 1996).

A Resolução CONAMA nº 9/87 disciplina as audiências públicas previstas na Resolução CONAMA nº 1/86, abrindo um importante canal para a participação comunitária na aferição do conteúdo dos Estudos de Impacto Ambiental (Milaré, 1994). Seu objetivo é expor aos interessados o conteúdo do EIA e do RIMA correspondente, para esclarecer dúvidas e obter críticas e sugestões. Nos estados onde a legislação não estabelece a obrigatoriedade de audiência pública para todos os casos em que o EIA se aplica, a audiência poderá ser requerida, para cada caso específico, por entidade civil, pelo Ministério Público ou por um mínimo de 50 cidadãos. Havendo esse requerimento, a audiência torna-se obrigatória e qualquer licença concedida antes de sua realização não terá validade (Resolução CONAMA nº 9/87, art. 2º). Poderá haver mais de uma audiência pública, caso se constate a existência de vícios no RIMA ou nos procedimentos para torná-lo público, por exemplo, defeitos no edital de convocação; ou no caso da localização geográfica dos solicitantes ou a complexidade do tema exigirem (Fink, 1993). As atas das audiências, seus anexos e o próprio RIMA servem de base para a análise e o parecer final do órgão licenciador quanto à aprovação ou não do projeto (Resolução CONAMA nº9/87, art. 5º).

De acordo com Fink (1993), no caso do Estado de São Paulo a própria Constituição traz o dispositivo a respeito da realização de audiência pública para a execução de obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. O § 2º, do art. 192, estabeleceu que, quando da aprovação do EIA/RIMA, a este se dará publicidade, acrescentando que será “garantida a realização de audiência pública”. Desta forma, o Estado de São Paulo, ao contrário do estabelecido pelo CONAMA, por força de sua Constituição, não deixou margem à discricionaridade do órgão ambiental. “Quando previu a garantia da realização da audiência pública, a Constituição do Estado determinou que esse ato do procedimento de licenciamento fosse indispensável. E de fato o é.” (p. 266). Outros estados também adotaram a obrigatoriedade da audiência pública, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que neste último são

realizadas tantas audiências quantas forem necessárias (Duarte, 2002, informação pessoal).

Além da finalidade legal da audiência pública, positivada pela norma do art. 1º da Resolução CONAMA nº 9/87 (“expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito”), esse ato do procedimento tem outros objetivos. O principal deles é a participação direta da comunidade, afetada ou não pela obra ou atividade, na decisão da sua realização. Na audiência, além da discussão do RIMA, a Administração ou o empreendedor procurarão convencer os setores interessados da sociedade civil sobre a necessidade da obra. Outras questões poderão ser debatidas, tais como, o projeto e suas alternativas tecnológicas, como áreas de influência, matéria- prima e mão-de-obra; a validade do diagnóstico ambiental da área de influência feito pelo empreendedor; os impactos ambientais no tempo e no espaço; as medidas mitigadoras dos impactos e seus efeitos; o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais; e principalmente os impactos socioeconômicos para a população afetada.

O prazo de requerimento da audiência pública é de no mínimo 45 dias, contados a partir da publicação do edital pela imprensa local. No edital deverão constar os dados indispensáveis para a identificação do empreendimento, sua natureza e área de influência, do empreendedor, da existência do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental e outros dados que permitam à comunidade o completo conhecimento do empreendimento que se pretende realizar e os impactos dele decorrentes.

A não realização de audiência pública (nos casos em que ela é obrigatória) implica na invalidade da licença ambiental eventualmente expedida, ou seja, será nula a licença ambiental expedida nessas condições, podendo levar à paralisação da obra ou empreendimento, inclusive por decisão judicial (Fink, 1993).

Segundo Custódio (1995) deveria haver uma revisão adequada dos critérios e das diretrizes gerais para a AIA de forma clara e eficaz, para definir expressamente um processo efetivo de informação extensiva ao público e às pessoas legalmente habilitadas e interessadas (naturais ou jurídicas), para proporcionar o conhecimento de todas as etapas da AIA e do estudo de impacto ambiental de projetos através de meios de comunicação de massa (televisão, rádio, imprensa em geral, publicidade mediante a

fixação de anúncios em locais de fácil visibilidade), além do tradicional e restrito processo de comunicação pela imprensa oficial, com a previsão de prazo razoável e compatível com a complexidade da matéria e com as peculiaridades locais.