por exemp lo, é u ma categoria presente na visão de mundo de ativistas, acadêmicos e gestores,
CAPÍTULO 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS
3.3 O ORÇAMENTO PÚBLICO
3.3.1 A participação popular
O tema da “participação popular” no campo do orçamento público se massificou no Brasil a partir de uma experiência intitulada “Orçamento Participativo”, da gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), na prefeitura de Porto Alegre (Olívio Dutra em 1989). Para Lígia Helena Hahn Lüchmann (2008), o “Orçamento Participativo” é um “modelo” que tem possibilitado várias ações de participação da sociedade civil na definição dos orçamentos públicos. Eduardo Matarazzo Suplicy e Bazileu Alves Margarido Neto (1995) apontam, no contexto do programa “Comunidade Solidária” do governo FHC, que a participação da sociedade civil nos processos decisórios dos orçamentos públicos é uma forma de “democratização do poder” e de “defesa de interesses comuns” de estados e municípios. Pedro de Carvalho Pontual, ao analisar o Orçamento Participativo em vários municípios brasileiros como um processo de “educação política e cidadã”, afirma que
as práticas participativas de modo geral e o Orçamento Participativo, em particular, têm sido considerados como significativa contribuição na constituição de uma nova concepção de espaço público e na promoção de um processo progressivo de publicização do Estado e de desestatização da sociedade. Tais práticas, desenvolvidas sobretudo em governos locais, buscam a superação de uma visão da relação
Estado e Sociedade Civil como polaridades absolutas em favor de uma visão mais dinâmica de relações de interdependência combinadas com o reconhecimento da especificidade e autonomia de cada ator (2000, p. 17).
Outras posições, como a de Martina Ahlert (2008), analisam a forma como a experiência de orçamento participativo também atuou na mudança de visão sobre o governo por parte de comunidades de camadas populares. A autora, que pesquisou uma experiência de assentamento durante um governo local do PT no Rio Grande do Sul, mostra que a desapropriação foi, em um primeiro momento, interpretada como “sofrimento” para, no momento de execução do assentamento, ser pensada pelas lideranças da comunidade como uma efetiva “participação popular”.
O governo Lula se instaura no Brasil, portanto, com essa perspectiva de “participação popular” nos processos decisórios dos orçamentos públicos. Como Lula representa a primeira gestão do PT no governo federal, essa perspectiva de participação da sociedade civil no orçamento está presente também na primeira gestão do governo federal, que passa a dialogar mais densamente as ações do governo com a sociedade civil com o objetivo de intensificar o processo de democratização das decisões orçamentárias também no âmbito federal. 3.3.2 A participação popular nos PPAs do governo Lula
Durante o período do governo Lula, foram aprovados dois PPAs, um para o período 2004-2007, outro para 2008-2011. Conforme apontam Antônio Carlos Lessa, Leandro Freitas Couto e Rogério de Souza Farias (2009), o primeiro PPA do governo Lula representou “a primeira transição de governo desde que se assumia o Plano Plurianual, além de um mero dispositivo constitucional, como o principal instrumento do planejamento brasileiro” (p. 97). Dessa forma, o PPA do governo Lula estava envolto em uma atmosfera de “transformação social” baseada, principalmente, na “participação popular”. Conforme afirmou o site do Palácio do Planalto, “o Plano Plurianual 2004/2007 foi definido por meio de um processo participativo que envolveu o governo e a sociedade. Foi uma iniciativa inédita que teve por objetivo democratizar a discussão do planejamento das ações governamentais no
Brasil”.74 Entretanto, como denuncia o INESC, “no PPA 2008/2011, o Executivo optou por não realizar nenhum processo efetivo de participação popular”.75 Em função disso, entre uma e outra gestão do governo Lula há diferenças fundamentais que se refletem, também, no orçamento da União. Refletirei, a partir de agora, sobre o orçamento da União focado na agenda anti-homofobia.
O programa “Brasil Sem Homofobia” foi lançado, como vimos, por um conselho vinculado à estrutura administrativa da SEDH, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD). Nos dois PPAs, em relação à SEDH, ações de combate à homofobia e de promoção da cidadania homossexual estiveram ligadas ao programa “Direitos Humanos, Direitos de Todos” (Ação 0157 – PPA 2004) e ao programa “Garantia e Acesso a Direitos” (Ação 0157 – PPA 2008). Foi o objetivo do programa “Direitos Humanos, Direitos de Todos” “promover e defender os direitos humanos, assegurando acesso aos mecanismos necessários para o exercício pleno da cidadania” (Mensagem Presidencial, PPA 2004, p. 158). Nesse sentido, o programa tinha como meta “a defesa de direitos tanto de grupos sociais vulneráveis, como de homossexuais, quanto a prevenção e repressão a violações de direitos específicos como o de não ser torturado, de possuir os documentos básicos da cidadania, entre outros” (idem, p. 158). Assim, a população de “homossexuais” figurava, no planejamento orçamentário de 2004 da SEDH, como uma das populações prioritárias para o programa:
são necessárias ações que visem a defesa de direitos de grupos sociais vulneráveis (no caso do programa, idosos e homossexuais, principalmente) bem como a prevenção e repressão a violações de direitos específicos (como o de não ser torturado, de possuir os documentos básicos da cidadania, entre outros).76
Foi objetivo do programa “Garantia e Acesso a Direitos” “atuar na construção de mecanismos institucionais de intervenção com vistas a garantir os direitos de cidadania” (idem, p. 8). É como uma ação deste
74 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/secgeral/ppa/ppa.htm>
75 Disponível em: <http://www.inesc.org.br/biblioteca/textos -e-man ifestos/a-participacao-
social-no-ppa-2008-2011>.
76 PLA NO Gerencial do Programa Direitos Humanos. Direito de todos. p. 18. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/spddh/Plan Ger_DHDT.doc>.
programa que o programa Brasil Sem Homofobia aparece pela primeira vez em um PPA: “o programa também abriga as ações do Plano Brasil Sem Homofobia e foi responsável pela viabilização da I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais” (idem, p. 8). As principais ações do programa 0157 do PPA 2008 ligadas à agenda anti-homofobia foram:
- 9A94 - Articulação Institucional para a Promoção da Cidadania Homossexual e Combate à Homofobia;
- 9970 - Implementação do Plano Brasil Sem Homofobia, de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual;
- 8810 - Núcleos de Pesquisa sobre Cidadania Homossexual e Combate à Homofobia; - 2D95 - Banco de Dados sobre Cidadania Homossexual e Combate à Homofobia. A ação 9970 do programa 0157, que trata especificamente do programa federal Brasil Sem Homofobia, tinha por objetivo “promover a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais” (idem, p. 11) e estava sob a coordenação dos gestores Perly Cipriano e Paulo Biaggi. A ação é descrita no Relatório de Gestão 2008 da SEDH como compreendendo o
fornecimento de apoio para a instalação e funcionamento de centros de pesquisa em universidades para realização e divulgação de estudos e pesquisas para subsidiar a atuação da sociedade e dos governos na garantia dos direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Tais núcleos atuarão em rede de forma complementar sob a coordenação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, desenvolvendo mecanismos de captação de informações, monitoramento de políticas públicas e da situação de violência contra homossexuais, realização de pesquisas específicas e difusão das informações obtidas a fim de subsidiar a construção de ações e políticas voltadas para o segmento (SEDH, 2008, p. 11).
Como a ação 9970 é “não orçamentária”, o programa Brasil Sem Homofobia, na SEDH, não recebia “recursos financeiros”, mas sim “recursos de pessoal”, sendo que o programa é implementado nas diferentes agências governamentais em programas específicos de cada secretaria.
3.4 A NOMEAÇÃO DOS “AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO