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ADVOCACY: OS RECURSOS PARA O BRASIL SEM HOMOFOBIA

por exemp lo, é u ma categoria presente na visão de mundo de ativistas, acadêmicos e gestores,

CAPÍTULO 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS

3.7 ADVOCACY: OS RECURSOS PARA O BRASIL SEM HOMOFOBIA

Em 2006, houve a primeira grande ação de ativismo sobre o orçamento da União por parte da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT). Motivado pela escassez de recursos destinados ao Brasil Sem Homofobia, o movimento LGBTTT optou pelo advocacy junto aos parlamentares do Congresso Nacional que podem, até os dias atuais, destinar emendas aos programas do Orçamento Público. As emendas parlamentares são enviadas à “Comissão   Mista   do  Orçamento”   (como   é   conhecida)   em  um   período   curto que antecede a aprovação da LOA, legislação operacional aprovada anualmente. Em 2006, o prazo para envio de emendas orçamentárias começou em 11 de novembro, permanecendo aberto por dez dias. Segundo a Câmara dos Deputados,

A Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização é responsável pela análise das propostas orçamentárias concebidas pelo Executivo. Além disso, deve acompanhar o desenvolvimento anual da arrecadação e da execução do Orçamento, fazendo eventuais correções ao longo do ano. A Comissão vota o Plano Plurianual, com metas a serem atingidas nos próximos quatro anos; a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece os parâmetros do Orçamento; e a Lei Orçamentária Anual, que organiza as receitas e despesas que o Governo terá no ano seguinte. Atualmente, o papel do Congresso é autorizar o Orçamento, ou seja, analisar os gastos propostos e aprovar sua realização.79

Se  as  “emendas  parlamentares”  são  destinadas  à  LOA,  é  na LDO que  se  busca  incluir  “programas  e  ações”,  uma  vez  que  é  esta  legislação   que possui as diretrizes, programas e metas do governo federal, tema

que gera tensão no programa Brasil Sem Homofobia. Como publicado no jornal Correio do Brasil, em 1º/10/2004,

é nessa comissão que os parlamentares do governo e da oposição definem os gastos e os investimentos que serão realizados pelo Executivo. A base desse trabalho é a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). [...] Cada deputado e senador tem direito de apresentar emendas individuais à proposta orçamentária do governo federal. Esse direito está definido no Regimento do Congresso.

Nesse sentido, o segundo semestre de 2006, momento em que se aprovava legislação orçamentária anual, foi marcado por uma grande ação de advocacy por emendas orçamentárias. Como me contou Caio Varella,

as entidades que têm o que chamamos direito a emendas   “carimbadas”   são   aquelas   que   têm   utilidade pública municipal, estadual e/ou federal. Corrigindo, todas têm direito, mas em geral, as que têm utilidade pública são as que garantem execução. Há uma grande discussão em torno dessas emendas, pois é exatamente assim que os parlamentares corruptos repassam dinheiro para organizações   “laranja”.   [...]  Os   valores  que  temos   aprovado nos últimos anos vão para as ações dos Ministérios e eles decidem em que tipo de projeto e em qual localidade aportarão os recursos. O mais específico que foi feito são emendas de recursos federais com alocação destinada para um estado. Exemplificando, a Dep. Maria do Rosário, do RS, fez há dois anos atrás uma emenda para a ação   de   “centros   de   referência”,   que   é   uma   ação   da SEDH, com recorte para Rio Grande, assim aquele valor, se liberado, seria investido para o combate à homofobia, mas teria que ser gasto apenas nesse estado [Diário de campo, 30.07.2007].

Esse advocacy, realizado por uma parcela pequena das lideranças nacionais   do   movimento   por   intermédio   do   projeto   “Aliadas”   e   do   projeto   “Observatório   do   Brasil   Sem   Homofobia”,   garantiu   recursos  

para as áreas de Cultura, Direitos Humanos e Educação. Analisarei a seguir essa situação específica de advocacy por recursos públicos, entendendo-a como a maior e mais transparente ação do movimento LGBTTT sobre o Orçamento brasileiro.

Em novembro de 2006, a ABGLT iniciou uma ação nacional intitulada   “Brasil   Sem   Homofobia   e   Orçamento   da   União”,   ligada   ao   projeto   “Aliadas”   e   ao   projeto   “Observatório   do   Brasil   Sem   Homofobia”.   O   projeto   “Observatório   do   Brasil   Sem   Homofobia”   foi   executado pelo Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual (RJ) e pelo  Movimento  D’ELLAS  (RJ)  e  buscou  “contribui[r]  para  a  criação  de   mecanismos de monitoramento, avaliação e mobilização comunitária para incidência sobre as políticas públicas existentes e o fomento de novas políticas para GLBT, através de ações visando à efetiva implementação e ampliação do Programa Governamental Brasil Sem Homofobia”   (Chamada   pública   para   voluntários,   em   15.05.2007).   Segundo informações publicadas em seu site,   o   projeto   “Aliadas”   é   “uma  iniciativa  da  ABGLT  [cujo]  objetivo é buscar a aprovação de leis que promovam e defendam os direitos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBT). Uma de suas ações de advocacy é contribuir para mudanças sociais que possam diminuir o preconceito e a discriminação contra este  segmento  da  sociedade”.80 A  ação  “Brasil  Sem   Homofobia  e  Orçamento  da  União”  se  justificou,  segundo  o  movimento,   pela escassez de recursos destinados ao programa. Como relatou Cláudio Nascimento,

Apesar do avanço com o seu lançamento em 25 de maio de 2004 e a implementação de algumas de suas ações em 2005 nas áreas de educação, cultura e direitos humanos, é preciso um maior incremento na implementação do Programa, dotando-o de mais recursos [Diário de campo, 16.11.2006].

Dessa forma, o movimento LGBTTT, em 2006, assumiu como parte de sua pauta a articulação com o Orçamento da União, avaliando a escassez   de   recursos   e   a   necessidade   de   seu   “incremento”.   Como   resposta a isso, convocou o conjunto de suas entidades a participarem da ação:

A ABGLT convida todas as organizações de ativistas GLTB e colaboradores, organizados por Estados para atuarem conosco articulando e negociando com os parlamentares o apoio para que os mesmos apresentem emendas individuais ao orçamento da União, beneficiando o Programa Brasil Sem Homofobia [Mensagem Pessoal, em 16.11.2006].

Assim, é por meio do advocacy do movimento LGBTTT que boa parte dos recursos públicos destinados ao programa Brasil Sem Homofobia são alocados.

Concretamente,  a  ação  “Brasil  Sem  Homofobia  e  Orçamento  da   União”  aconteceu  com  a  adesão  de  ativistas  ligados  às  entidades  filiadas   à ABGLT. Esses ativistas, em número reduzido (menos que 10) se deslocaram para Brasília/DF e se dividiram em duplas ou trios para “visitarem”   todos   os   gabinetes   de   deputados   em   dois   dias. As visitas foram previamente orientadas por documentos: 1) um ofício com informes e orientações (ANEXO F), 2) uma carta-modelo de emenda parlamentar, 3) as propostas de emenda já predefinidas para as áreas de Direitos Humanos, Cultura e Educação. Nos informes e orientações, a ABGLT ressaltara que tentara uma articulação com o governo para que este apresentasse a dotação orçamentária para o Brasil Sem Homofobia, tendo o movimento avaliado que os recursos seriam insuficientes. Essa escassez fez com que o movimento, com o auxílio dos parlamentares aliados,  tentassem  “rubricar”  mais  recursos:

Os recursos apresentados pelo Governo Federal em seu projeto de lei orçamentária para 2006, prevêem apenas um total de R$2.650.000,00 (dois milhões e seiscentos e cinqüenta mil reais) para o Programa Governamental Brasil Sem Homofobia, nas áreas de direitos humanos, educação e cultura. Este valor é a soma do total apresentado pela SEDH (Combate a Homofobia – R$400.000,00) +

Educação (Diversidade na Educação –

R$3.000.000,00 que será dividido para 4 segmentos, sendo então R$750.000,00 para GLBT) e Cultura (Diversidade e Pluralidade Cultural – R$4.500.000,00 que será dividido entre políticas para 3 segmentos, sendo então para GLTB R$1.500.000,00). (vide ANEXO F)

A priorização das áreas de Direitos Humanos, Cultura e Educação está em diálogo com as estratégias que vinham sendo implementadas por   essas   agências,   avaliadas   pelo   movimento   como   tendo   um   “maior   compromisso   com   o   Brasil   Sem   Homofobia”.   Segundo   o   movimento,   são essas   as   áreas   para  as   quais   os   “programas   orçamentários   contêm   rubricas comprometidas com a finalidade do Programa Brasil Sem Homofobia”.

No Congresso da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH), realizado na Universidade de São Paulo (USP) em setembro de 2008, tive a oportunidade de escutar Eduardo Santarella e Paulo Biaggi, ambos gestores da SEDH, falarem sobre o programa “Brasil   Sem   Homofobia”   e   as   políticas   anti-homofobia nesta agência. Na   mesa   “Retratos   da   Militância:   Atuação,   Direitos   Humanos, Conquistas – Programa  Brasil  Sem  Homofobia”,  coordenada  pela  Profa.   Berenice Bento (UFRN e então tesoureira da ABEH), os gestores abordaram o processo de construção de políticas públicas vinculadas ao programa  “Brasil  Sem  Homofobia”:

Eduardo começou um processo de historicizar os Centros   de   Referência:   “os   primeiros   centros   foram com ONGs. Logo em seguida entraram

alguns parceiros de governo querendo

implementar Centros de Referência. Eram seis, sete Centros de Referência em 2005. Em 2006 tivemos um boom de recursos que não vieram do orçamento em si. Os Centros de Referência não tinham seus recursos carimbados. Em 2006 essa chancela passa a existir. Com as emendas orçamentárias, aconteceu um boom de recursos. Fez abrir um leque bem maior de Centros de Referência, que também estavam na base da cartilha do programa. Houve edital, houve chamada pública. Tivemos um grande avanço em 2006”.   Eduardo   pontuou,   então,   outras   ações   vinculadas  ao  Brasil  Sem  Homofobia.  “Outra  ação   foram os Núcleos de Pesquisa. Trabalhar com a [universidade] federal é diferente de trabalhar com as [universidades] estaduais. As estaduais envolvem a burocracia mesmo. Com a universidade federal é como investir dentro de casa”.   “Ao   todo   foram   financiados   nove   núcleos  

de pesquisa,81 São Paulo e Rio de Janeiro não têm,

por exemplo. O objetivo do Núcleo é criar um espaço na academia. Que a academia tenha um espaço para pensar a homocultura e essas temáticas”.  “Em  2007  a  gente  teve  um  pouco  mais   de recursos, por conta das emendas orçamentárias. Mas a linha é diferente. Passam então a existir rubricas específicas para Núcleos de Pesquisa, Capacitação, etc. Essas coisas passam pela análise da   Casa   Civil   e   Planejamento”.   “Aí   a   gente   vai   criando raízes dentro do Ministério Público. Eles usam recursos de coisas genéricas, por exemplo, o MEC. O MEC tem uma rubrica para Capacitação em Temas Transversais. Aí o gestor decide onde vai   usar   o   recurso”   [Diário de Campo, 14.10.2008].

Mostrando  como  é  “mais  fácil”  a  alocação  de  recursos  na  esfera   federal, Eduardo aponta a importância tanto da construção de programas como do advocacy por emendas orçamentárias. O sucesso da ação “Brasil   Sem   Homofobia   e   Orçamento   da   União”   passa   a   ser,   desse modo, celebrado pelo movimento LGBTTT.

O sucesso do advocacy da ABGLT por emendas orçamentárias em 2006 se tornou, assim, parte da pauta homossexual e anti-homofobia elaborada pelos movimentos LGBTTT nos anos subsequentes. Em 2007, momento em que se construía o PPA 2008-2011, o advocacy por recursos para o Brasil Sem Homofobia no Orçamento Público já era uma prática consolidada. O aprendizado do funcionamento do Orçamento da União iniciado em 2002 por um grupo restrito de ativistas colhera frutos em 2006 e, a partir disso, tornou-se prática corrente do movimento LGBTTT. O boletim   do   projeto   “Observatório   do   Brasil   Sem   Homofobia”   de   13/07/2007   incluía   na   pauta   a   necessidade   de   as   organizações locais intercederem sobre seus parlamentares, mas também nos orçamentos de estados e municípios, em prol de políticas anti- homofobia:

81 Conforme apontou o texto-base da I Conferência Nacional GLBT, sobre os nove núcleos

financiados  pela  SEDH:  “a  constituição  de  Núcleos  de  Pesquisa  nas  universidades  federais  vem   reforçar o papel da academia na produção de evidências e de conhecimento que possam subsidiar a implementação de políticas públicas inovadoras. Já as capacitações são fundamentais para promover articulações entre as lideranças do movimento GLBT – através do apoio e capacitação de suas entidades e organizações em defesa dos direitos humanos – com a comunidade   GLBT   e   co m   os   representantes   do   governo.”   (Disponível   em:   <http://portal.mj.gov.br/sedh/co/glbt/texbaglbt.pdf>. p. 13).

É cada vez mais patente a importância de garantir a criação de políticas públicas para GLBT. Para alcançar êxito nessa tarefa, é vital o conhecimento de todas as normas que regem a elaboração do Plano Plurianual 2008-2011 dos estados e da União. Pensando nisso, o projeto do Observatório Programa Brasil sem Homofobia (OBSH) lançou um conjunto de orientações para maior intervenção política no PPA 2008 a 2011. O prazo para o envio do PPA Federal ao Congresso Nacional é 31 de agosto. Já para os Estados, o prazo previsto nas constituições estaduais e regime interno das Assembléias Legislativas e dos municípios está nas leis orgânicas e nos regimes internos das Câmaras Municipais. Estes prazos geralmente têm como base o limite federal. Vale ressaltar que no caso de municípios será elaborado um novo PPA em 2010. Portanto, a atuação do movimento deve se concentrar no PPA federal e dos estados (Boletim do Observatório do Brasil Sem Homofobia, em 13.07.07).

A dinâmica de interferência nos orçamentos públicos, nos moldes da  “participação  popular”,  passou  a  compor,  na  segunda  gestão  de  Lula,   a principal ação dos movimentos LGBTTT.

Agora estratégia central da agenda anti-homofobia, o advocacy por emendas orçamentárias é mandatário nos períodos de elaboração do Orçamento Público e deve, conforme aponta o movimento, mobilizar seu   “aparato   nacional”,   nos   diferentes   níveis   de   governança   (federal,   estadual e municipal). Segundo Toni Reis (ABGLT), em nota oficial intitulada   “Aprovado   o   Orçamento   da   União”   (20/12/2008),   foi   bem- sucedida a ação das organizações LGBTTT no ano de 2008:

As emendas propostas pela ABGLT foram de caráter nacional e visavam alocar recursos para as Secretarias e Ministérios que executam o Programa Brasil Sem Homofobia (BSH). As propostas de emendas orçamentárias para o BSH também foram apresentadas ao relator geral do Orçamento da União/2009, Senador Delcidio Amaral (PT/MS). [...] O Projeto Aliadas incentivou e orientou Ongs LGBT a apresentarem

propostas de emendas individuais aos (às) parlamentares.

A dinâmica  “inventada”  em  2006  pela  ABGLT,  fruto  do  primeiro   aprendizado do funcionamento do Orçamento da União em 2002, em curso realizado no INESC, foi se tornando, ao longo do período do governo  Lula,  a  estratégia  que  coroa  o  processo  de  “colaboração”  entre   o movimento LGBTTT e o Estado.

Neste   tópico,   tentei   argumentar   sobre   uma   “nova”82 estratégia

política no âmbito do movimento LGBTTT: o advocacy por recursos públicos. Apesar de esta prática ser corrente em outros movimentos sociais, como o caso do movimento feminista (RODRIGUES, 1999) e do movimento negro (ROLAND, 2000), é apenas a partir da década de 2000 que esta prática se torna parte da pauta homossexual e anti- homofobia, incentivada pela organização nacional dos grupos LGBTTT e anualmente performada.

Entretanto, há que atentarmos que os recursos destinados ao programa  “Brasil  Sem  Homofobia”  vêm  das  emendas,  mas  não  só.  As   agências   governamentais   também   destinam   recursos   ao   “combate   à   homofobia”  por  meio  de  seus  programas.  Um  exemplo  é  o  caso  do  curso   de formação   de   professores   “Gênero   e   Diversidade   na   Escola”,   no   âmbito do Ministério da Educação (MEC):

O Ministério da Educação, signatário do Programa Brasil Sem Homofobia, por meio da Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade – SECAD, com o apoio das demais secretarias do Ministério, assumiu o compromisso de apoiar ações de capacitação de profissionais da educação, de todos os níveis de ensino, para o combate à homofobia. Para tal ação, o MEC dispunha de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), alocados   na   ação   “Apoio   à   Qualificação   de   Profissionais da Educação em Educação para a Diversidade  e  Cidadania”  (09HS),  gerenciada  pela   SECAD, não se tratando, portanto, de recursos de emendas parlamentares. A ação integra o Programa   “Educação   para   a   Diversidade e Cidadania”   (Ação do Orçamento do Ministério da Educação nº 1.377).

82 Lembro que ações de advocacy já vinham sendo praticadas pelo movimento feminista desde

Dessa forma, cabe salientar que o advocacy por emendas orçamentárias é uma prática que garantiu recursos, mas que houve, ao mesmo   tempo,   “compromisso”   do   governo   federal   na   destinação de recursos dos programas das agências governamentais. O movimento avaliava   a   necessidade   de   “incremento”   do   programa   Brasil   Sem   Homofobia  na  medida  em  que  se  diagnosticava  “escassez”  de  recursos.   Essa dinâmica de alocação de recursos públicos foi, portanto, um foco de tensão na relação de colaboração entre o movimento LGBTTT e o Estado durante o período do governo Lula.

Os recursos para o Brasil Sem Homofobia foram motivo de conflito durante a implantação do programa. Não havia recursos (havia inclusive  “ações  não  orçamentárias”)  e  as  ações  eram  – com exceção do Programa Nacional de DST/HIV/Aids do Ministério da Saúde – segundo o que chamaria o ativismo de esquerda norte-americano, de gorilla style, ou seja, fundadas no ativismo engajado e no capital simbólico e nas habilidades de indivíduos específicos. Se, em um primeiro momento, tinha sido acordado que o Programa Nacional de DST/Aids sugeriria à SEDH e aos ministérios que apresentem propostas de ementas orçamentárias para o governo federal focando no programa Brasil Sem Homofobia; em um segundo momento (um mês depois), foi o movimento social que garantiu junto a parlamentares do Congresso Nacional os recursos para o programa. Quando os debates sobre recursos alcançaram centralidade na agenda do programa, a categoria dos movimentos  já  não  era  mais  “implantação  do  Brasil  Sem  Homofobia”,   mas  seu  “incremento”.  O  incremento  do  programa  aponta  o  sentido  de   “implementação   ocorrida”,   mas   de   forma   ainda   “pouco   satisfatória”   e   “sem   impacto   real”.   Com   a   eleição de Lula e o aprendizado do funcionamento do Orçamento da União por parte das lideranças LGBTTT, a Educação passou a ser a principal pauta dos movimentos sociais da agenda anti-homofobia.

Há  uma  tensão  nas  políticas  sociais  entre  “programa  de  governo”   e “programa   de   Estado”.   Os   “programas   de   governo”   são   ações   governamentais   que   se   “adequam”   a   determinadas   rubricas.   Os   “programas   de   Estado”   são   ações   governamentais   “rubricadas”.   A   diferença entre estas ações foi foco de conflito na implantação do Brasil Sem Homofobia, tendo sido o primeiro mandato do governo Lula um período de grande tensão para as pautas homossexual e anti-homofobia no Brasil.

CAPÍTULO 4 – ATORES