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A pena de prisão perpétua do Estatuto de Roma e a Constituição Brasileira

CAPÍTULO IV A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E O ESTATUTO DE ROMA

4.2 A pena de prisão perpétua do Estatuto de Roma e a Constituição Brasileira

Para realizar uma abordagem correta e abrangente das circunstâncias que levaram à inclusão da pena de prisão perpétua no Estatuto de Roma, necessário se faz noticiar a existência de acirrados debates, durante a Conferência, que versavam sobre a inclusão da pena de morte como uma das sanções previstas no Estatuto.

147

A Comissão de Direito Internacional da Organização das Nações Unidas já havia excluído a pena de morte no projeto de Estatuto apresentado em 1994 e não há previsão de pena de morte nos Estatutos dos Tribunais para a ex-Iugoslávia e para Ruanda.

Durante os debates realizados nas sessões da Comissão Preparatória para a Conferência de Roma, diversos países do norte da África, do Oriente Médio e da Ásia manifestaram desejo de que fosse mantida a pena de morte como uma opção. Na Conferência de Roma diversos países propuseram que a pena de morte fosse incluída. Demonstravam preocupação que a pena mais grave prevista em seus países não estivesse disponível no Tribunal Penal Internacional. Argumentavam ainda que os precedentes contra a pena de morte dificultariam a imposição desta pena em seus países.148

Por outro lado, diversos países da Europa, da América Latina, destacadamente os signatários do 2º Protocolo Opcional à Convenção Internacional dos Direitos Humanos, de 1989, opunham-se à inclusão da pena de morte.

Informa Claus Kreβ que os debates a respeito do tema somente foram resolvidos no fim da Conferência, graças à paciência e habilidades diplomáticas do coordenador norueguês Rolf Einar Fife.149

148

LA ROSA, Anne-Marie e KING, Faiza P. Penalties under the icc statute. In: LATTANZI, Flavia; SCHABAS William A. Essays on the rome statute of the international criminal court. v.1. Ripa de Fagnano Alto: Sirente, 1999, p. 319

149 KREβ, Claus. Penas, execução e cooperação no estatuto para o tribunal penal internacional. In: CHOUKR, Fauzi

A solução encontrada foi a inclusão da pena de morte no rol do art. 77 do Estatuto de Roma, mas o registro expresso, no artigo 80, de que isso não impediria a aplicação da pena capital pelos Estados-parte.

Registre-se que tal solução poderá trazer ao Tribunal Penal Internacional situação similar à enfrentada em Ruanda, onde o Tribunal Internacional impôs penas de prisão perpétua para planejadores de genocídios, enquanto praticantes de condutas menos graves foram condenados à pena de morte pelas Cortes nacionais.150

No que diz respeito à prisão perpétua, também estiveram presentes as discussões sobre sua inclusão no Estatuto de Roma.

A Comissão de Direito Internacional havia previsto sua possibilidade na elaboração do projeto do Estatuto. Os Estatutos dos Tribunais para a ex-Iugoslávia e para Ruanda simplesmente prevêem a possibilidade de prisão, tendo sido estabelecido nas Regras de Procedimento e Prova 151de ambos que o condenado poderá ser apenado com prisão perpétua.

Diversos países, entre eles o Brasil, opuseram-se à pena de prisão perpétua, argumentando que ela não se justifica sob o ponto de vista da proteção dos direitos humanos.152

150

LA ROSA, Anne-Marie, KING, Faiza P. Penalties under the icc statute. In: LATTANZI, Flavia; SCHABAS William A. Essays on the rome statute of the international criminal court. v.1. Ripa de Fagnano Alto: Sirente, 1999, p. 320.

151

Regras de Procedimento e Prova do ICTY, Art. 101 (A). “A convicted person may be sentenced to imprisonment for a term up to and including the remainder of his life”

152

JAPIASSÚ,Carlos Eduardo Adriano. O tribunal penal internacional: a internacionalização do direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 199.

De outro lado, os países que sustentavam a necessidade da previsão da prisão perpétua argumentavam que dada a gravidade das condutas previstas como crimes pelo Estatuto de Roma, não poderiam abrir mão da previsão da prisão perpétua.

Excluir a prisão perpétua e a pena de morte implicaria na inviabilização do consenso para a elaboração do Estatuto.153

O consenso obtido foi fruto da inclusão da chamada revisão obrigatória, por meio da qual, no caso de prisão perpétua, cumpridos vinte e cinco anos, o Tribunal revisará a pena a fim de determinar sua possível redução.154 Caso o Tribunal, na revisão inicial, entenda que não estão presentes os requisitos necessários à redução da pena, examinará a questão posteriormente, com a periodicidade prevista nas Regras de Procedimento e Prova.155

Os autores brasileiros divergem sobre a compatibilidade do Estatuto de Roma em relação à Constituição da República Federativa do Brasil, sustentando, entre outros argumentos, que a previsão da pena de prisão perpétua, contida no art. 77 do Estatuto, mostra-se incompatível com o art. 5º, XLVII, b, da Constituição.

Entre aqueles que sustentam a incompatibilidade encontra-se Luiz Luisi. Para ele, a previsão da prisão perpétua no Estatuto criou embaraços para ratificação a diversos países, entre eles o Brasil. Cita ainda Portugal, Costa Rica, Nicarágua e Bolívia entre os países em que as constituições vedam as penas perpétuas. Argumenta que, no Brasil, a pena de prisão perpétua está

153

KREβ, Claus. . Penas, execução e cooperação no estatuto para o tribunal penal internacional. In: CHOUKR, Fauzi Hasan, AMBOS, Kai (Org.).Tribunal penal internacional. São Paulo: RT, 2000, p. 128.

154

Art. 110 (3)

155

proibida desde a Constituição de 1934 e finaliza apontando o dispositivo constante do art. 5º da Constituição Federal como norma impeditiva da ratificação do Estatuto156.

Cezar Bitencourt também sustenta a incompatibilidade do Estatuto de Roma com a Constituição pátria, informando pena de prisão perpétua está encontra-se entre aquelas vedadas pela Carta Magna brasileira e que essa garantia encontra-se elevada à condição de cláusula pétrea157, não podendo ingressar no ordenamento jurídico pátrio por meio de tratados internacionais e nem mesmo ser objeto de emenda constitucional.158 Destaca que o princípio da humanidade – segundo o qual o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana -, é o maior entrave para a adoção da pena de prisão perpétua.159

Luiz Vicente Cernicchiaro compartilha do mesmo posicionamento, afirmando que é juridicamente impossível introduzir no Brasil, seja a pena de morte fora de guerra, seja a prisão perpétua. Acrescenta que a aceitação do Estatuto de Roma por parte do Brasil equivale, por via oblíqua, à renúncia à soberania.160

No mesmo sentido posiciona-se Humberto Gomes de Barros161, sustentando que a adesão ao Estatuto de Roma extingue a soberania do Poder Judiciário brasileiro. Segundo registra:

“Tribunais penais internacionais – é bom lembrar, são entidades criadas para julgar crimes contra direitos humanos, praticados em determinadas regiões e

156

LUISI, Luiz. Notas sobre o Estatuto da Corte Penal Internacional. In: COPETTI, André (Org). Criminalidade

moderna e reformas penais: estudos em homenagem ao Prof. Luiz Luisi. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

2001, p. 47

157

Art. 60, §4º, IV, CF

158

BITENCOURT, Cezar Roberto. Pena de Prisão Perpétua. In: Revista CEJ, v. 4, n. 11, mai./ago.2000, p. 45-46

159

Idem, p. 46

160

CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Pena de Prisão Perpétua. In: Revista CEJ, v. 4, n. 11, mai./ago.2000, p.38-39

161

situações. Atualmente, um desses tribunais trata de crimes praticados nas guerras de secessão Iugoslava. Obediente a tal corte, a Iugoslávia entregou seu ex- presidente, Slobodan Milosevic, para ser processado no exterior. Em assim fazendo, aquele país retirou de seus juízes a competência para julgar crimes praticados por um iugoslavo, em seu território. Tal restrição tem como escopo assegurar a isenção nos julgamentos. Há risco de que, em seus julgamentos, os magistrados daquele país sejam contaminados pelo ódio resultante da guerra. Em tempos não muito distante, um tribunal internacional, dedicou-se à apuração de crimes, ocorridos em Ruanda.162

O autor critica ainda o fato de que os tribunais penais internacionais cultivam uma característica comum, qual seja, o julgamento exclusivo de países derrotados ou de baixo potencial militar e econômico, e afirma desconhecer a existência de tribunais criados para o julgamento das atrocidades francesas praticadas na Argélia ou dos Belgas, no Congo. Por fim, citando Pierre Hassner, menciona que “os abusos russos na Chechênia são notórios, mas ninguém pensa em julgar o presidente Vladimir Putin, pois o que importa é sua aprovação à política externa dos EUA.”163

Destaca Humberto Gomes de Barros, ao comentar o então projeto de reforma do Poder Judiciário, no qual já se mencionava, no § 6º do art. 109 da Constituição Federal, que o Brasil se submeteria à jurisdição do Tribunal Penal Internacional.:

“Para os defensores das cortes criminais, o mal é temporário. Para eles, a tendência é o pleno funcionamento do Tribunal universal, que julgará delitos ocorridos em qualquer lugar, não importando quem os tenha praticado. Para tais corifeus, o Brasil deve assumir a vanguarda na luta pelos direitos humanos: as grandes potências virá a reboque. A força retórica de semelhante argumento e as boas intenções que o inspiram não me impressionam. Em primeiro lugar, o novo preceito não se refere ao Tribunal Penal Permanente, mas a qualquer tribunal penal; depois, nada justifica tão apressada modificação em nosso texto constitucional. Semelhante pressa corresponderia a reformar nossa Constituição

162

BARROS, Humberto Gomes de. Alienação de soberania. Diário da Tarde, Belo Horizonte, 18 jun. 2002.

163

Federal para dizer que o Congresso brasileiro não pode legislar em contrário aos tratados da ALCA – instituição à qual nosso país inda vacila em aderir.”164 Por sua vez, entre aqueles que sustentam a perfeita compatibilidade do Estatuto de Roma com a Constituição Brasileira, pode-se mencionar o raciocínio desenvolvido por Flávia Piovesan. Sustenta a autora que a Carta Magna brasileira estabeleceu um regime jurídico diferenciado no que diz respeito aos tratados internacionais de proteção aos direitos humanos e que, de acordo com ela, os tratados de direitos humanos são incorporados automaticamente pelo direito nacional, passando a apresentar status de norma constitucional.165 Em assim sendo, considerando que o Estatuto de Roma é destinado à constituição de um Tribunal que tem por função a proteção dos direitos humanos, a ratificação do tratado em nada violaria a Constituição Brasileira.

Merece destaque o posicionamento da autora quando, fazendo referência a Norberto Bobbio, argumenta que não há direitos fundamentais absolutos, mas relativos. Sendo assim, estando de um lado o direito à justiça e o combate à impunidade em relação aos mais graves crimes da humanidade, e, de outro, a hipótese de aplicação da prisão perpétua, deve a balança pesar em prol do direito à justiça e do combate à impunidade. Registre-se que Flávia Piovesan demonstra peremptoriamente não ser simpatizante ou defender esse tipo de pena, mas prefere vê-la aplicada a conviver com a impunidade dos autores dos mencionados crimes.166

O consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros, ao abordar o tema, informa que o Supremo Tribunal Federal tem deferido

164164

BARROS, Humberto Gomes de. Alienação de soberania. Diário da Tarde, Belo Horizonte, 18 jun. 2002.

165

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5.ed.,São Paulo: Max Limonad, 2002, p.313

166

PIOVESAN, Flávia. Princípio da complementaridade e soberania. In: Revista CEJ, v. 4, n. 11, mai./ago.2000, p.72

extradições para Estados onde a pena de prisão perpétua poderá ser imposta aos extraditandos. Acrescenta que o entendimento da colenda Corte é no sentido de que a proibição constitucional é dirigida apenas ao legislador brasileiro, não constrangendo, portanto, os legisladores estrangeiros, nem aqueles que atuam na criação de um sistema jurídico internacional. Destaca que não existia o Estatuto de Roma no momento em que foi promulgada a Constituição brasileira e, nestes moldes, não poderia o legislador constituinte ter apreciado a questão da pena de prisão perpétua quando aplicada por um tribunal internacional. Finaliza registrando estar convencido pela tese que:

“[...] sustenta que a colisão entre o Estatuto de Roma e a Constituição da República, no que diz respeito à pena de prisão perpétua, é aparente, não só porque aquele visa a reforçar o princípio da dignidade da pessoa humana, mas porque a proibição prescrita pela Lei Maior é dirigida ao legislador interno para os crimes reprimidos pela ordem jurídica pátria, e não aos crimes contra o Direito das Gentes, reprimidos por jurisdição internacional.”167

Sylvia Steiner também nos fornece o argumento acima mencionado como sendo uma das razões pelas quais não haveria incompatibilidade entre o Estatuto de Roma e a Constituição brasileira. A autora chega a citar dois julgamentos do egrégio Supremo Tribunal Federal168 nos quais se pode constatar que eram deferidas extradições de estrangeiros, sem quaisquer condições, nas hipóteses em que se poderia aplicar a pena de prisão perpétua.169

167

MEDEIROS, Antônio Paulo Cachapuz. O tribunal penal internacional e a constituição brasileira. In: O que é o

tribunal penal internacional. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2000, p. 15 168

Extradição no. 426 – U.S.A. e Extradição no. 669-0 – U.S.A.

169

STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. O tribunal penal internacional, a pena de prisão perpétua e a constituição brasileira. In: Escritos em homenagem a Alberto Silva Franco. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 454

Contudo, no dia 26 de agosto de 2004, o Supremo Tribunal Federal modificou seu posicionamento ao realizar o julgamento de pedido de extradição formulado pela República do Chile.170

A partir de então, ao apreciar o pedido, o Ministro Celso Mello, votou pelo deferimento do pedido extradicional, com a ressalva de que o Estado requerente deveria assumir o compromisso de comutar em pena de, no máximo, trinta anos de reclusão, as penas de prisão perpétua impostas ao extraditando. Os ministros Carlos Velloso e Nelson Jobim, presentes à sessão, concordaram com o deferimento do pedido de extradição, mas divergiram do relator no que diz respeito à comutação.171

Vê-se, pois, a mudança recente de posicionamento da Suprema Corte brasileira, que anteriormente entendia que o Brasil não poderia impor:

“[...] no plano das relações extradicionais entre Estados soberanos, a compulsória submissão da parte requerente ao modelo jurídico de aplicação de penas vigente no âmbito do sistema normativo do Estado a quem a extradição é solicitada.”172

Tem-se, ainda, a argumentação no sentido de que a ordem constitucional brasileira, em seu rol de direitos e garantias do art. 5º, prevê hipótese de aplicação da pena de morte, nos casos de crime militar ocorrido “em caso de guerra declarada”.173

170

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Tribunal Penal. Ext 855/República do Chile. Ementa: [...]. Relator: Min. Celso de Mello. Brasília, DF, 26 ago. 04, DJ de 01.7.05.

171

Idem.

172

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Tribunal Penal. Ext 669-0/EU. Ementa: [...]. Relator: Min. Celso de Mello. Brasília, DF, 06 mar. 96. DJ de 29.3.96.

173

Analisando essa previsão legal, Sylvia Steiner mais uma vez nos esclarece que o Código Penal Militar brasileiro nos apresenta uma série de crimes que, cometidos em tempo de guerra, poderão ser punidos com a pena de morte. Enumera crimes como traição, fuga, dano e abandono de posto como comportamentos que poderão ser sancionados com a pena capital. Finaliza a autora argumentando que nossa legislação prevê pena muito mais severa do que a constante do Estatuto de Roma para algumas figuras típicas análogas.174

Valério de Oliveira Mazzuoli, após lembrar que no art. 7º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias já consigna que o Brasil “propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos”, registra que a incompatibilidade entre as disposições do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional e a Constituição brasileira é apenas aparente, seja pelo fato de que a existência de um tribunal internacional de direitos humanos assegura o princípio da dignidade da pessoa humana, mas também em razão de que o texto constitucional brasileiro é dirigido ao legislador pátrio, não atingindo os crimes cometidos contra o Direito Internacional e sancionados pela jurisdição do Tribunal Penal Internacional.175

Prossegue o autor, consignando que:

“[...] não obstante a vedação das penas de caráter perpétuo ser uma tradição constitucional entre nós, o Estatuto de Roma de forma alguma afronta a nossa Constituição (como se poderia pensar numa leitura descompromissada de seu texto), mas ao contrário, contribui para coibir os abusos e as inúmeras violações de direitos que se fazem presentes no planeta, princípio esse que sustenta corretamente a tese de que a dignidade da sociedade internacional não pode ficar à margem do universo das regras jurídicas.

174

STEINER, Sylvia Helena F. O tribunal penal internacional, a pena de prisão perpétua e a constituição brasileira.

In: O que é o tribunal penal internacional. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2000,

p. 40

175

MAZZUOLI, Valério da Oliveira. O Tribunal Penal Internacional e o direito brasileiro. São Paulo: Premier Máxima, 2005, p. 73.

De outra banda, o condenado que se mostrar merecedor dos benefícios estabelecidos pelo Estatuto poderá ter sua pena reduzida, inclusive a de prisão perpétua. Nos termos do art. 110, §§ 3º e 4º, do Estatuto, quando a pessoa já tiver cumprido dois terços da pena, ou 25 anos de prisão, em caso de pena de prisão perpétua, o Tribunal reexaminará a pena para determinar se haverá lugar a sua redução, se constatar que se verificam uma ou várias das condições seguintes: a) a pessoa tiver manifestado, desde o início e de forma contínua, a sua vontade em cooperar com o Tribunal no inquérito e no procedimento; b) a pessoa tiver, voluntariamente, facilitado a execução das decisões e despachos do Tribunal em outros casos, nomeadamente ajudando-o a localizar bens sobre os quais recaíam decisões de perda, de multa ou de reparação que poderão ser usados em benefício de vítimas; ou c) quando presentes outros fatos que conduzam a uma clara e significativa alteração das circunstâncias, suficiente para justificar a redução da pena, conforme previsto no Regulamento Processual do Tribunal.”176

Por sua vez, André de Carvalho Ramos, após sustentar que o Estatuto de Roma constitui norma de proteção aos direitos humanos e destacar a primazia dos direitos humanos na Constituição de 1988, afirma que a compatibilização entre o Estatuto de Roma e a Constituição poderá ser encontrada mediante a aceitação da compatibilidade entre as normas constitucionais e a normatividade internacional de proteção aos direitos humanos como presunção absoluta. Destaca que a solução estará em encontrar:

“[...] uma interpretação da Constituição conforme os tratados de direitos humanos nos casos de conflito aparente entre normas dos tratados e as normas constitucionais. Este tipo de interpretação, longe de ser contrária à soberania do Estado-nação, cumpre os desígnios estabelecidos pelo próprio legislador constituinte pátrio, que estabeleceu uma Constituição cujo espírito é a promoção dos direitos humanos.”177