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CAPÍTULO II – A NECESSIDADE DE UM TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PERMANENTE.

2.1 Antecedentes históricos

2.1.6. O Tribunal Internacional Criminal para Ruanda

Ruanda é um país situado na África oriental cuja população é composta basicamente por duas etnias, quais sejam, os hutus e os tutsis. As relações entre os membros dessas duas etnias nunca foram tranqüilas e a disputa pelo poder econômico e político sempre se mostrou fortíssima. Entre abril e julho de 1994, Ruanda enfrentou um conflito armado, fruto de graves problemas políticos, que causou um número de mortos que oscila entre quinhentos mil e um milhão.62

O conflito em Ruanda teve início no dia 06 de abril de 1994, data em que o avião que transportava os presidentes de Ruanda, Juvenal Habyarimana, e o do Burundi, Cyprien Ntaryamira, foi abatido em circunstâncias não esclarecidas. No dia seguinte, o primeiro-ministro

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As informações sobre o ICTR foram obtidas junto ao site oficial do Tribunal: <http://www.ictr.org>. Acesso em: 09 setembro 2005.

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BAZELAIRE, Jean-Paul; CRETIN, Thierry. A justiça penal internacional: sua evolução, seu futuro: de Nuremberg a Haia. São Paulo: Manole, 2004, p. 57

ruandense e dez militares belgas, que faziam sua segurança, a serviço da Organização das Nações Unidas, foram mortos.63

Reconhecendo o conteúdo das informações da Comissão dos Direitos Humanos no que diz respeito às graves violações ao direito humanitário em Ruanda, e atendendo a pedido do governo daquele país, no dia 08 de novembro de 1994, mediante a Resolução 955, o Conselho de Segurança das Nações Unidas criou o Tribunal Internacional Criminal para Ruanda (ICTR). O propósito do Tribunal é contribuir para o processo de reconciliação nacional em Ruanda e para a manutenção da paz na região.

O Tribunal Internacional Criminal para Ruanda (ICTR) tem competência para o julgamento das pessoas responsáveis pela prática de genocídio, crimes contra a humanidade e violações do art. 3º, comum às convenções de Genebra e ao protocolo adicional, cometidas no território de Ruanda entre 1º de janeiro de 1994 e 31 de dezembro do mesmo ano. Também poderá julgar cidadãos de Ruanda responsáveis por genocídio e outras violações do direito internacional cometidas, durante o mesmo período, nos territórios dos países próximos a Ruanda.

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Noticiam Jean-Paul Bazelaire e Thierry Cretin que: “Tomando este atentado como pretexto, a guarda presidencial e as milícias extremistas hutu, chamadas interahamwe, instalam imediatamente barricadas nas ruas da capital e começam a responsabilizar os tutsis e a minoria hutu moderada. Para alguns, a população hutu, privada de seus líderes, teria se sentido em perigo por causa da política de agressão empreendida desde 1990 pela Frente Patriótica Ruandense (FPR), sustentada pela vizinha Uganda. Outros, consideram que, na realidade, os hutus preparavam havia um ano o genocídio dos tutsis. Nos dias seguintes, o massacre é ampliado e se estende por toda Ruanda, não poupando nenhum santuário. Nem os hospitais, nem as igrejas ou estabelecimentos religiosos são respeitados. Em 23 de junho de 1994, com base em uma Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas votada no dia 17 de maio, os 2.500 soldados franceses da operação “Turquoise” se separam em Ruanda vindos do Zaire, apesar da oposição da FPR e da hesitação da Organização da Unidade Africana. Alguns dias mais tarde, em 30 de junho, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU publica um relatório afirmando o caráter programado e sistemático do genocídio.” Ibidem., p.58

O Tribunal , de acordo com a Resolução 977, de 22 de fevereiro de 1995, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, está situado em Arusha, capital da República da Tanzânia.

Nos mesmos moldes do Tribunal para a antiga Iugoslávia, o Tribunal Internacional Criminal para Ruanda é composto de três câmaras de julgamento e uma câmara de apelação, cada uma delas integrada por três juízes eleitos pela Assembléia Geral das Nações Unidas de uma lista enviada pelo Conselho de Segurança. As nomeações levam em conta uma representação adequada dos principais sistemas jurídicos do mundo e os juízes são eleitos para um mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos.

As câmaras de julgamento e a câmara de apelação são compostas de dezesseis juízes independentes de diferentes nacionalidades.

Atualmente o Tribunal encontra-se composto dos seguintes magistrados, indicados por ordem de antigüidade e com as respectivas nacionalidades:

a) Erik Mose (Noruega);

b) Arlette Ramaroson (Madagascar);

c) Theodor Meron (Estados Unidos);

d) William Sekule (Tanzânia);

f) Florence Mumba (Zâmbia);

g) Mehmet Güney (Turquia);

h) Fausto Pocar (Itália);

i) Andrésia Vaz (Senegal);

j) Jai Ram Reddy (Fiji);

k) Segei Alekseevich Egorov (Rússia);

l) Wolfgan Schomburg (Alemanha);

m) Inés Mónica Weingerg de Roca (Argentina);

n) Khalida Rachid Khan (Paquistão);

o) Charles Michael Dennis Byron (St. Kitts & Nevis);

p) Joseph Asoka Hihal De Silva (Sri Lanka).

São juízes ad litem:

a) Solomy Balungi Bossa (Uganda);

c) Lee Gacugia Muthoga (Quênia);

d) Florence Rita Arrey (Camarões);

e) Emile Francis Short (Gana);

f) Karin Hörborg (Suécia);

g) Taghrid Hikmet (Jordânia);

h) Seon Ki Park (Koréia do Sul);

i) Gberdao Gustave Kam (Burkina Faso).

O início das atividades se deu em novembro de 1995, e após a Segunda Guerra Mundial, pela primeira vez, duas pessoas64 foram condenadas pela prática de genocídio.65

O Promotor para o Tribunal Internacional Criminal para Ruanda é o senhor Hassan Bubacar Jalow, que foi indicado pelo Conselho de Segurança no dia 15 de setembro de 2003 e o seu gabinete está localizado em Arusha, Tanzânia.

O Tribunal chegou a ser acusado de negligência pelo governo de Ruanda quando decidiu libertar Jean-Bosco Barayagwisa, sob a alegação de que a prisão provisória era irregular. A partir de então, Ruanda suspendeu a prática de atos de cooperação e destacou a

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Jean Kambanda e Jean-Paul Akayesu foram condenados a prisão perpétua, respectivamente, nos dias 04 de setembro e 02 de outubro de 1998. Ambos recorreram das condenações.

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BAZELAIRE, Jean-Paul; CRETIN, Thierry. A justiça penal internacional: sua evolução, seu futuro: de Nuremberg a Haia. São Paulo: Manole, 2004, p. 60

disparidade entre o tratamento imposto aos acusados de genocídio julgados pelos tribunais nacionais e o realizado pelo Tribunal Internacional Criminal para Ruanda.

CAPÍTULO III - A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL