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CAPÍTULO II – A NECESSIDADE DE UM TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PERMANENTE.

2.1 Antecedentes históricos

2.1.5. O Tribunal Internacional Criminal para a ex-Iugoslávia

Em razão das graves violações do direito internacional humanitário - consideradas como efetivas ameaças à paz e segurança internacionais -, cometidas no território da antiga Iugoslávia, desde 199160, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, por meio da Resolução 827, de 25 de maio de 1993, criou o Tribunal Internacional Criminal para a Antiga Iugoslávia.

Trata-se do primeiro tribunal internacional criado, após Nuremberg e Tóquio.

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GONÇALVES, Joanisval Brito. Tribunal de Nuremberg 1945-1946: a gênese de uma nova ordem no direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 232-233

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As informações sobre o ICTY foram obtidas, em 14 de agosto de 2005, junto ao site oficial do Tribunal: <http//www.un.org/icty>. Acesso em: 09 setembro 2005.

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Jean-Paul Bazelaire e Thierry Cretin, expõem da seguinte maneira a seqüência cronológica de fatos que levaram à criação do Tribunal: “Entre 1991 e 1999, período dos últimos acontecimentos em Kosovo, o território da ex- República Federal da Iugoslávia, como no dia seguinte da morte de Tito, conhece um verdadeiro desmantelamento ao longo de uma série de conflitos regionais sucessivos que resulta em cerca de 800 mil mortes e três milhões de pessoas deslocadas. No dia 18 de novembro de 1991, a cidade de Vukovar (Eslavônia Oriental) cai nas mãos do exército federal sérvio (apoiado por milícias sérvias) após um cerco de três meses. A cidade é destruída e suas ruas são cobertas de cadáveres. Os mortos são estimados entre 3 mil e 5 mil, enquanto os desaparecimentos chegam a 4 mil. Mas o episódio mais significativo continua sendo a execução, nos arredores da cidade, a partir de 19 de novembro, de cerca de 200 pessoas retiradas do hospital municipal. Em Sarajevo, as coisas duram mais tempo, já que os habitantes sofrem um cerco de três anos e meio, iniciado em 2 de maio de 1992. Durante todo esse tempo, faltam produtos elementares e a comida só chega graças a uma ponte aérea humanitária. Além disso, eles estão expostos às granadas sérvias que caem sobre as filas de espera diante das lojas ou nos mercados, e aos tiros dos

snippers que os espionam quando se deslocam. Quanto a Srebrenica, ela é um território muçulmano encravado na

Bósnia Oriental. Ela cai nas mãos das tropas sérvias do general Ratko Mladic em 10 de julho de 1995. Imediatamente, uma parte da população foge atravessando a área sérvia para alcançar Tuzla. Os homens são executados sistematicamente, as mulheres e as crianças são seviciadas. O número de vítimas poderia alcançar entre 8 mil e 10 mil pessoas”. BAZELAIRE, Jean-Paul; CRETIN, Thierry. A justiça penal internacional: sua evolução, seu futuro: de Nuremberg a Haia. São Paulo: Manole, 2004, p.

O Tribunal, situado em Haia, nos Países Baixos, tem competência para julgar as graves violações à Convenção de Genebra de 1949, violações às leis e aos costumes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade praticados no território da antiga Iugoslávia desde 1º de janeiro de 1991 e tem como objetivos julgar as pessoas alegadamente responsáveis pelas sérias violações ao direito internacional humanitário, trazer justiça às vítimas, impedir novos crimes e contribuir para a restauração da paz, promovendo a reconciliação na antiga Iugoslávia.

Somente tem competência para julgar pessoas físicas, estando afastada expressamente o julgamento de pessoas jurídicas.

As cortes nacionais e o Tribunal Internacional Criminal para a Antiga Iugoslávia (ICTY) possuem competência concorrente para o julgamento das graves violações ao direito internacional humanitário cometidas na antiga Iugoslávia, mas o Tribunal Internacional poderá reivindicar primazia sobre as cortes nacionais e poderá assumir as investigações e processos nacionais em qualquer estágio que se encontrem, desde que haja interesse da justiça internacional.

O Tribunal é composto de dezesseis juízes permanentes e no máximo de nove juízes ad litem. Os juízes permanentes são eleitos pela Assembléia Geral das Nações Unidas para um mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos. Já os juízes ad litem são escolhidos de um grupo de vinte e sete juízes. Também são eleitos pela Assembléia Geral das Nações Unidas para um mandato de quatro anos, mas não podem ser reeleitos. O juiz ad litem somente poderá servir no Tribunal após ser recomendado pelo Presidente do Tribunal e indicado pelo Secretário Geral das Nações Unidas para participar de um ou de vários julgamentos por um período de até três anos.

Os juízes estão divididos em três órgãos denominados de Câmaras de Julgamento e uma Câmara de Apelação, sendo que cada Câmara de Julgamento possui três juízes permanentes e o máximo de seis juízes ad litem. Uma Câmara de Julgamento pode ser dividida em até três seções de três juízes cada, compostas de um juiz permanente e dois ad litem, ou de dois juízes permanentes e um ad litem.

A Câmara de Apelação é composta de sete juízes permanentes, sendo cinco juízes permanentes do Tribunal Internacional para Antiga Iugoslávia e dois juízes escolhidos do grupo de onze juízes permanentes do Tribunal Internacional Criminal para Ruanda. Cada apelação é decidida por cinco juízes.

Os juízes representam os principais sistemas jurídicos do mundo e trazem para o Tribunal uma variedade de posicionamentos jurídicos.Durante os julgamentos os magistrados ouvem testemunhos e argumentos jurídicos, decidindo pela condenação ou absolvição dos acusados. A pena mais grave a ser imposta é a prisão perpétua. As sentenças, em casos de condenação, são cumpridas em um dos países signatários do acordo com as Nações Unidas para o recebimento de pessoas condenadas pelo ICTY.

Os acusados são mantidos presos durante o processo na unidade de detenção do Tribunal Internacional da Antiga Iugoslávia, situada em Haia.

Atualmente o Tribunal encontra-se composto dos seguintes magistrados, com as respectivas nacionalidades:

b) Fausto Pocar (Itália)

c) Patrick Lipton Robinson (Jamaica)

d) Carmel A. Agius (Malta)

e) Liu Daqun (China)

f) Mohamed Shahabuddeen (Guiana)

g) Florence Ndepele Mwachande Mumba (Zâmbia)

h) Mehmet Güney (Turquia)

i) Amin El Mahdi (Egito)

j) Alphonsus Martinus Maria Orie (Holanda)

k) Wolfgang Schomburg (Alemanha)

l) O-gon Kwon (Korea do Sul)

m) Inés Mónica Weinberg de Roca (Argentina)

n) Jean-Claude Antonetti (França)

p) Iain Bonomy (Reino Unido)

São juízes ad litem:

a) Joaquín Martín Canivell (Espanha)

b) Vonimbolana Rasoazanany (Madagascar)

c) Bert Swart (Holanda)

d) Krister Thelin (Suécia)

e) Christine Van Den Wyngaert (Bélgica)

f) Hans Henrik Brydensholt (Dinamarca)

g) Albin Eser (Alemanha)

h) Claude Hanoteau (França)

O gabinete do promotor é independente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de qualquer Estado membro, de qualquer organismo internacional ou de qualquer órgão do Tribunal, tendo a suíça Carla Del Ponte como Promotora Chefe, desde 15 de setembro de 1999. A partir de 30 de agosto de 2004, o norte americano David Tolbert passou a exercer a função de Deputy Prosecutor.

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia recebeu grande destaque na comunidade internacional, pois entre os acusados da prática de crimes estão Slobodan Milosevic, então Presidente da República Federal da Iugoslávia, bem como quatro outros ocupantes de cargos de alto escalão, quais sejam, Nikola Sainovic, Primeiro-Ministro adjunto da República Federal da Iugoslávia, Dragoljub Ojdanic, Chefe do Estado-Maior das forças armadas da República Federal da Iugoslávia, bem como Milan Milutinovic, Presidente da República Sérvia e Vlajko Stojilkovic, Ministro do Interior da República Sérvia.