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O anteprojeto de lei que define o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra a administração da justiça do

CAPÍTULO IV A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E O ESTATUTO DE ROMA

4.5 O anteprojeto de lei que define o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra a administração da justiça do

Tribunal Penal Internacional, bem como dispõe sobre a cooperação judiciária

com o Tribunal Penal Internacional e dá outras providências.

Com a finalidade de adaptar a legislação brasileira ao Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, possibilitando o exercício da jurisdição do Estado brasileiro aos crimes nele previstos e viabilizando a cooperação com o Tribunal Penal Internacional, foi constituído um grupo de trabalho, por meio da Portaria nº 1.036, de 13 de novembro de 2001, do Ministério da Justiça.

O texto do anteprojeto de lei elaborado pelo mencionado grupo foi apresentado ao Ministro da Justiça e em seguida encaminhado à Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República, oportunidade em que, foram sugeridas modificações no seu texto.183

Com a finalidade de dar continuidade aos trabalhos e adequar o anteprojeto de lei às observações realizadas pela Casa Civil da Presidência da República, o Secretário Especial de Direitos Humanos, por meio da Portaria nº 58, de 10 de maio de 2004, instituiu novo grupo de trabalho, que se encontra composto pelos seguintes membros:

Adriana Lorandi (coordenadora);

Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros;

183

Carlos Eduardo de Oliveira Vasconcelos;

Carlos Frederico de Oliveira Pereira;

Carolina Yumi de Souza;

Denise Figueiral;

Eugênio José Guilherme de Aragão;

Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró;

Raquel Elias Ferreira Dodge; e

Tarciso Dal Maso Jardim.

Faz-se necessário destacar que o Brasil assumiu o compromisso de implementar, no direito interno, as normas do Estatuto de Roma, tornando imperiosa a tipificação dos delitos e a criação das normas que disciplinam o processo, com o encaminhamento breve do anteprojeto de lei ao Congresso Nacional, possibilitando o exercício primário da jurisdição pelo Estado Brasileiro e viabilizando a cooperação com o Tribunal Penal Internacional.184

184

MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. Implementação do estatuto de Roma na América Latina. In: Boletim do

CONCLUSÃO

O Tribunal Penal Internacional é um importante passo da sociedade moderna para a apuração e punição dos mais graves crimes praticados contra a humanidade e que corriam o sério risco de ficarem impunes. Sua função é importantíssima para o futuro da humanidade, pois tem por objetivo punir e retirar do convívio social os responsáveis pela realização dos piores e mais bárbaros crimes praticados, não se admitindo o esquecimento.

O Estatuto de Roma, por ser fruto de tratado multilateral, respeitar o princípio da legalidade e da irretroatividade da lei penal, bem como por estabelecer um devido processo legal, vem revestido de respeitabilidade e está apto a fazer com que o Tribunal Penal Internacional possa superar críticas como as que foram impostas aos tribunais de Nuremberg e Tóquio, que embora importantes, carregam a mácula de terem sido criados pelos vencedores para julgarem os vencidos em conflitos armados.

A Corte permanente também estará protegida de críticas como as que atingem tribunais “ad hoc”, como os da ex-Iugoslávia e o de Ruanda, pois a constituição prévia e a tipificação dos comportamentos impedem a pecha de tribunais de exceção.

Por trazer previsões como a proteção de vítimas e testemunhas, reparação dos danos experimentados pelas vítimas e seus familiares, e por exercer o papel de sancionador de comportamentos que atentam contra a humanidade, o Estatuto de Roma revela sua natureza de norma de direitos humanos.

O Brasil registrou expressamente a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental registrado na Constituição de 1988. No âmbito das relações internacionais, nosso

país tem como princípio a prevalência dos direitos humanos, conforme bem registra o artigo 4º, inciso II, da Carta Magna.

Não bastasse isso, foi expressamente consignado no artigo 7º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que o Brasil é uma nação favorável e que propugnaria pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos.

Sem dúvida alguma, é do interesse da humanidade que no mundo moderno, onde o cidadão se sente permanentemente ameaçado, os autores das condutas mais graves que atingem a coletividades sejam exemplarmente punidos. Uma nova concepção de soberania precisa estar presente nas mentes dos líderes dos Estados. O poder soberano não está diminuído nos países que ratificaram o Estatuto de Roma. Ao contrário, a soberania sai fortalecida.

Na era da alta tecnologia, das economias interdependentes, das comunicações globais imediatas, não se pode admitir que o cometimento de crimes contra a humanidade, genocídios, ou qualquer outro tipo de crime que ameace a paz e a segurança da humanidade possa permanecer impune.

Sistemas jurídicos isolacionistas não podem mais ser tolerados, sob pena de prosperarem a desorganização do sistema punitivo internacional e os grandes criminosos continuem a encontrar santuários para prepararem suas atividades ou refúgios seguros.

Em assim sendo e observando que os Poderes Legislativo e Executivo já adotaram as providências que lhes eram cabíveis para a adoção do Estatuto de Roma em nosso país, entendo que não será o Poder Judiciário que irá impedir que estejamos entre as nações que

abominam aqueles que praticam crimes contra os direitos humanos e que tornam seu território espaço inseguro para tais delinqüentes.

Registre-se que o Poder Legislativo pátrio, por meio da recente Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, introduziu em nosso ordenamento jurídico duas inovações que vêm confirmar o posicionamento acima exposto. Em primeiro lugar, sustentou que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, desde que aprovados pelo mesmo processo legislativo que as emendas constuticionais, serão equivalentes a estas. Não bastasse isso, registra expressamente que nosso país se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional.

Se existe alguma aparente incompatibilidade entre o Estatuto de Roma e nossa Constituição, devemos lutar para que os dispositivos questionados sejam suprimidos ou modificados na revisão prevista pelo Estatuto. Contudo, não se pode conceber que nosso país se torne um local de destino seguro para os criminosos internacionais.

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