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2.   Assimilação e integração: panorâmicas transatlânticas sobre um mesmo objeto 53 

2.2. A perspectiva europeia: a importância do contexto e das análises comparativas

A investigação sobre os grupos etnicamente diferenciados tem, na Europa, repetidamente utilizado a teoria da assimilação segmentada para observar e descrever os processos de mobilidade e integração entre as segundas gerações. Uma posição crescentemente assumida evidencia, no entanto, a incapacidade de transposição directa dos paradigmas desenvolvidos nos EUA, essencialmente por duas razões: o modo diferenciado como se estruturam as perspectivas da assimilação (termo usado predominantemente no contexto norte-americano) e da integração (considerado mais corrente na Europa); e pela necessidade de ter em conta, nas

análises, os contextos institucionais. Esta posição deu origem a um avanço teórico especificamente europeu: a teoria comparativa do contexto de integração (comparative integration context theory).

De forma semelhante à ocorrida nos EUA, em que se assistiu a uma rutura com o conceito de assimilação linear e ao desdobramento das vias de observação (Gordon, 1964), na Europa, a utilização do termo integração generalizou-se a partir dos anos 80 do século passado, recaindo sobre um processo que inclui diferentes dimensões, por vezes contraditórias, entre as quais podem existir intervalos e atrasos, provisórios ou definitivos. Herdado da perspectiva Durkheimiana, o conceito é, do ponto de vista sociológico, problemático – situando-se entre um programa normativo e um processo social. A noção de integração designa os processos segundo os quais os indivíduos participam nas diversas esferas de ação da sociedade.43 Por definição, ninguém está totalmente integrado e a integração não é um "estado". Como afirma Schnapper, "não existe integração em termos absolutos – integração de quê, em quê? –, existem dialécticas e processos complexos de integração, de marginalização e de exclusão" (2007: 68).

A instalação de populações de origem estrangeira por via dos movimentos migratórios desafiou os pressupostos dos Estados-nações, fundados sobre o ideal de sobreposição entre a identidade cultural ou histórica e a organização política. O conceito vai ser marcado pelo debate sobre o direito de expressão das identidades particulares, e pela clivagem entre perspectivas comunitaristas, de defesa de uma política de reconhecimento, no espaço público, das especificidades das culturas de origem, no quadro multiculturalista anglo-saxónico; em oposição à perspectiva integracionista, defensora de modelos onde os problemas de integração são encarados como problemas sociais, mais do que problemas étnicos ou culturais. À política de reconhecimento da singularidade, defendida pelo multiculturalismo, os integracionistas respondem com o risco de comunitarismo, contraditório à liberdade dos indivíduos. Uma clivagem relativa, afirma Schnapper, já que "nem os 'integracionistas' nem os 'multiculturalistas' colocam em causa a igualdade cívica e a cidadania individual" (2007: 90).

Mais do que o termo assimilação, a integração inclui as dimensões estruturais de incorporação na sociedade (Schneider e Crul, 2010). Por exemplo, os enclaves étnicos tendem nas análises a ser associados mais rapidamente aos fenómenos de segregação do que às estratégias de integração. A mobilidade ascendente por via da coesão étnica, um dos

43 Para uma discussão aprofundada do conceito de integração ver Almeida (1993), Machado (2002),

pressupostos da teoria da assimilação segmentada, permanece um fenómeno limitado no contexto europeu (Thomson e Crul, 2007).

Ao nível soberano, as políticas de integração visam a coesão social, e são desafiadas pela persistência de duas dinâmicas: discriminações étnicas e raciais que afrontam sociedades alegadamente igualitárias, e a persistência da etnicidade em gerações continuadas, desafiando identidades nacionais e levando a reequacionar normas e valores (Simon, 2008). A questão da segunda geração criou um forte incentivo para rever modelos e teorias, dentro dos quadros vigentes em cada país. Como refere a este propósito Schnapper:

"O universalismo e o estadismo francês, o multiculturalismo britânico e holandês, a social- democracia alemã, sueca e finlandesa dão formas diferentes a esses processos. Encontramos nos processos de integração dos filhos de migrantes, como de todas as populações particulares, (…) as formas de integração política particulares a cada sociedade nacional" (2007:178).

Os grandes inquéritos transnacionais revelam variações que provam que a especificidade nacional é significativa, mesmo se se encontra em primeiro lugar convergência, decorrente da adesão aos valores democráticos e ao respeito pelos direitos do homem.

O debate europeu tem beneficiado da teoria desenvolvida nos EUA, mas, alertam Crul e Schneider, levantam-se questões sobre a sua transposição simples, já que os mecanismos e arranjos institucionais podem não ser convenientemente iluminados por noções como a assimilação segmentada (2010). A teoria comparativa do contexto de integração propõe superar estas limitações, analisando os percursos de mobilidade socioeconómica dos filhos de imigrantes a partir dos conceitos de pertença e participação, defendendo que a participação nas organizações sociais e a pertença às comunidades locais variam de acordo com o contexto de integração, nas cidades europeias (Crul e Schneider, 2010; Crul e Vermeulen, 2003). Chama, desta forma, o território à análise.

A importância do contexto nacional para o entendimento dos percursos é muito maior no contexto europeu, dadas as caraterísticas do mesmo: ele é transnacional, articulando territórios com diferentes arranjos institucionais, nacionais e locais, em termos de educação, trabalho, habitação e legislação reguladora, nomeadamente da nacionalidade (Crul e Vermeulen, 2003; Heckmann, Lederer e Worbs, 2001; Crul e Schneider, 2012; Thomson e Crul, 2007). As práticas de integração são moldadas e pré-estruturadas por contextos institucionais específicos, regras e hábitos, e são estes, e a sua comparação, que constituem um desafio para os investigadores europeus neste domínio. Elas facilitam ou constrangem as várias facetas que compõem os percursos dos jovens descendentes, em configurações variáveis. Ao contrário dos académicos americanos, estes autores defendem que o avanço e a estagnação não

são processos mutuamente exclusivos, e que o padrão geral é, maioritariamente, de mobilidade ascendente.

Ao invés do que acontece na perspectiva norte-americana, o grupo étnico não constitui a força motriz desta teoria, na qual interessa sobretudo compreender as diferenças intraétnicas (frequentemente ignoradas na teoria da assimilação segmentada), nomeadamente as resultantes dos arranjos contextuais (Crul e Vermeulen, 2003; Crul e Schneider, 2012). Distingue-se ainda das abordagens centradas nas políticas de cidadania e dos modelos de integração nacional, que não apresentam, segundo os autores, ligação clara e directa com os indicadores de integração socioeconómica dos filhos de imigrantes, ao contrário do que acontece com as especificidades institucionais dos sistemas de educação, do mercado de trabalho, da habitação, e da legislação (Crul e Heering, 2008; Heckmann, Lederer e Worbs, 2001; Thomson e Crul, 2007). Por exemplo, na teoria comparativa, no domínio das desigualdades escolares dos grupos com origem migrante, analisam-se os factores estruturais institucionais: o modo como as instituições educativas maximizam ou restringem as escolhas e a forma como estas são percorridas; os tempos dos pontos fulcrais de decisão; os procedimentos existentes para o encaminhamento dos estudantes nos programas académicos ou profissionalizantes/vocacionais; a relação entre o sistema educativo e o mercado de trabalho; e a interseção da educação com outras dimensões políticas (Holdaway, Crul e Roberts, 2009).

Estes autores afirmam não negligenciar a capacidade de agenciamento das famílias imigrantes, mas defendem que o papel das instituições tem sido menosprezado e carece de desenvolvimento. Reconhecem adicionalmente que a explicação dos padrões de integração não pode ser puramente estruturalista; que será na ação recíproca entre estrutura, cultura (de que a etnicidade é uma parte significativa) e agência individual que ela se poderá sustentar; e que esta ação conjugada é legível sobretudo num contexto delimitado, local (Thomson e Crul, 2007). Consideramos, no entanto, que será na explicitação desta ação recíproca que existirão espaços de desenvolvimento no quadro desta teoria.

A produção sociológica sobre os filhos de imigrantes é variável entre os países europeus, de acordo com as suas temporalidades e dinâmicas migratórias, quadros políticos vigentes, a dimensão e impacto dos fluxos, entre outros. A produção é mais intensa nos países onde a presença de imigrantes começou a consolidar-se nos anos 60 do século passado, como a Alemanha, a Bélgica, a Dinamarca, a França, a Holanda, a Noruega, o Reino Unido, a Suécia e a Suíça. Em países como Portugal, Itália, Grécia ou a Irlanda os fluxos imigratórios são mais recentes, e a dimensão das gerações de descendentes só agora começam a permitir comparações sistemáticas. Nos países com quantitativos demográficos mais expressivos,

encontram-se grupos de origem europeia (grega, italiana, espanhola e portuguesa, tal como da ex-Jugoslávia), e de outras regiões como a Turquia, Marrocos, Argélia, Índia, Paquistão, Antilhas e outros países das Caraíbas.

Em geral, os descendentes de grupos vindos de regiões não europeias têm níveis de sucesso e qualificação escolar mais baixos, como é o caso dos alunos de origem turca na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, e Suíça; ou dos alunos de origem marroquina na Bélgica e na Holanda; dos alunos de origem marroquina em França; ou dos alunos com origem caribenha em Inglaterra. Mas os grupos de origem indiana (na Noruega e em Inglaterra) e chinesa (em Inglaterra) tendem a superar o sucesso escolar dos seus pares autóctones (Heath, Rothon e Kilpi, 2008).

Esta diferença é analisada e explicada a partir de dimensões como a origem social, cujo peso parece ser mais explicativo para os grupos de origem europeia (Vallet e Caille, 1996; Kristen e Granato, 2007), mas, também, através do estatuto de nacionalidade, do domínio linguístico, das aspirações e investimento familiar, do contexto social e segregação ou dos fenómenos de discriminação e racismo, tal como os arranjos institucionais, domínios que percorreremos mais aprofundadamente ao longo deste trabalho. Menções em relatórios mais gerais sobre discriminação no espaço europeu, no domínio educativo, salientam a existência de fenómenos de segregação parcial ou mesmo total dos alunos descendentes em algumas regiões da União Europeia (EUMC, 2006).

França é porventura um dos países onde a produção é mais fértil, apesar de relativamente recente (Simon, 2003). O inquérito MGIS44, da responsabilidade de Michéle Tribalat, foi um dos primeiros trabalhos europeus nesta área. Mobilizando o conceito de assimilação e analisando um conjunto vasto de indicadores, mostrou que o processo de assimilação da maioria dos descendentes de imigrantes inquiridos configura-se de forma diferenciada de acordo com as origens, e que o comportamento das famílias tende a alinhar-se progressivamente com as normas locais (Tribalat, 1995). Não é, neste país, consensual o debate sobre o sucesso escolar e mobilidade social dos filhos de imigrantes, em parte devido à complexa categorização deste grupo (Brinbaum e Cebolla-Boado, 2007). Vallet e Caille (1996), num dos estudos mais extensivos e sistemáticos sobre o tema, observaram trajetórias escolares mais irregulares, mas equivalentes ou mesmo mais elevadas quando igualadas as

44 Designa o inquérito Mobilité Géographique et Insertion Sociale, que decorreu em 1992 e procurou analisar o processo de assimilação dos migrantes e seus descendentes, recorrendo a categorias étnicas, e originando um debate nacional sobre as consequências dos processos de categorização.

condições sociais; que, por serem realizadas em maior proporção em vias alternativas, vocacionais e profissionalizantes, tendem a não ser assinaladas ou medidas como trajetórias de sucesso (Brinbaum e Kieffer, 2005, 2008, 2009). Simon (2003), por outro lado, considera que apesar de existir mobilidade social entre gerações, e uma melhoria dos níveis de qualificação escolar e da posição ocupacional, os estatutos sociais destes jovens ainda estão em processo de reprodução. O modelo francês de integração parece estar em escrutínio permanente; e dentro deste chega a considerar-se que a própria noção de uma segunda geração pode não fazer sentido.

As questões da perda de força do modelo francês de integração cruzam-se com a predominância de fenómenos de discriminação que as instituições não conseguem endereçar, e que são ilustradas pelas revoltas suburbanas e pelos processos de "islamização". Silberman, Alba e Fournier (2007) questionam a existência de assimilação descendente entre os filhos de imigrantes magrebinos em França, e concluem positivamente. Mas salientam uma diferença na aplicação da teoria da assimilação segmentada na Europa: mais do que o racismo com base na cor da pele, é a diferença religiosa que, no caso francês, suscita discriminação e exclusão. Ou seja, os mecanismos que produzem a assimilação descendente podem ser distintos na Europa (Kirszbaum, Brinbaum e Simon, 2009; Vermeulen, 2010).

A investigação no Reino Unido (sobretudo em Inglaterra) tem-se focado nos descendentes de imigrantes a partir essencialmente no conceito de minorias étnicas, na sua maioria "não-brancas". Ela recai especialmente na ligação entre a dimensão étnica e o aproveitamento escolar, revelando um percurso de superação de desvantagens iniciais ao longo do percurso escolar (Cassen e Kingdon, 2007; Kingdon e Cassen, 2010). Mas também na inter- relação entre classe social e etnicidade na educação, em que a primeira tende a sobrepor-se à segunda em quase todas as análises, excepto as que observam rapazes afro-caribenhos (Gilborn, e outros 2012; Rothon, 2006; Modood, 2004). Visa ainda o racismo e discriminação na escola, como as percepções sobre os estudantes e as baixas expetativas (Modood, 2004; Gillborn, 1997).

Outros países como a Bélgica, ou a Holanda, têm também património consolidado na investigação neste domínio, que não iremos desenvolver (Van de Werfhorst e Van Tubergen, 2007). Regra geral, ao explicarem os padrões de desvantagem, os investigadores europeus recorrem a variáveis muito semelhantes às utilizadas pelos investigadores norte-americanos, com a excepção dos contextos institucionais. O debate transatlântico é, no entanto, endereçado directamente num conjunto de projetos europeus de caráter transversal. A visibilidade e as problemáticas associadas aos jovens descendentes de imigrantes impulsionaram, a partir do

final dos anos 90 do passado século, a realização de um conjunto de projetos de investigação intereuropeus, e mesmo intercontinentais, importantes na análise comparativa dos contextos institucionais de acolhimento e dos modos de adaptação diferenciados dos jovens descendentes.45

O projeto EFFNATIS comparou processos de integração na Alemanha, em França e na Grã-Bretanha.46 Os resultados confirmam que estes se configuram de forma diferente nos diversos países. Os jovens revelaram uma aculturação rápida graças à frequência escolar, e convergência com os pares autóctones no domínio da frequência, aquisições escolares e lazeres. Os padrões de escolarização tendem (com a excepção da Alemanha) a alinhar-se com os padrões dos colegas autóctones, e representam um progresso notável face ao percurso dos progenitores. Dominique Schnapper (2007: 117) afirma a respeito das conclusões deste projeto que:

"longe de formar uma juventude específica ou 'à parte' ou de participar numa 'cultura dupla', os filhos de imigrantes crescem com os jovens de outras origens, e incluídos entre os jovens autóctones, que vivem nos mesmos bairros. Frequentam as mesmas escolas, têm cada vez mais o

45 Iremos destacar apenas os que consideramos mais importantes, mas registam-se outros como as iniciativas que antecedem os dois projetos aprofundados: ESF – "International Migration and the Cultural Sense of Belongingness of the Second Generation" (anos 80) e ISCEY – "International Comparative Study on Ethnocultural Youth" (1994-2006); e aqueles desenvolvidos posteriormente: EMMME – "Education for Migrant, Minority, and Marginalized Children in Europe" (2007- 2008);TRESEGY – "Trans-national Research on Second Generation Youths" (2006-2009); CILS4EU – "Children of Immigrants Longitudinal Study in Four European Countries" (2009-2012); e o projeto UP2YOUTH (2006-2009), onde os jovens descendentes são um dos grupos estudados. Outros ainda são fruto de colaborações entre instituições europeias e norte-americanas, como "The Transition from School to the Labor Market in France and the U.S.", "Feasibility Study for an International Comparative Empirical Project on the Second Generation of Immigrants in Europe and the USA"; PIRE – "The Children of Immigrants in Schools", ou ILSEG – "Investigación Longitudinal de la Segunda Generación". Em curso atualmente está o projeto ELITES, sucessor do projeto TIES (que iremos seguidamente referir), e em contra tendência, já que se dedica aos descendentes de imigrantes em posições de elite.

46 O projeto "Effectiveness of National Integration Strategies Towards Second Generation Migrants" (1998-2001), realizado sob a coordenação de Friedrich Heckman, Roger Penn e Dominique Schnapper, inquiriu cerca de 1308 jovens filhos de imigrantes (e também autóctones, perfazendo 2227 indivíduos no total), entre os 16 e os 25 anos, nascidos nos três países ou chegados até aos 6 anos de idade (Heckmann, Lederer e Worbs, 2001; Schnapper, 2007; Penn e Lambert, 2009; Worbs, 2003). Foi posteriormente enriquecido com contributos de parceiros holandeses, suecos, finlandeses, espanhóis e suíços (Aparício, 2007).

mesmo tipo de escolaridade e diplomas, laços amicais e, frequentemente, amorosos com os mesmos, os mesmos gostos e praticam os mesmos lazeres, seja em França ou na Alemanha".

As práticas religiosas, os sistemas de valores, tal como a integração política, muito dependente das especificidades jurídicas e concepções de nação dos países recetores, estão menos alinhadas face aos pares. O relatório contesta a ideia destes jovens como "bombas-relógio", imagem divulgada pelos media, revelando em vez disso padrões de mobilidade social relativamente aos seus progenitores, pouca adesão a expressões religiosas radicalistas, pouca expressão de racismo reportado (colocando em causa a eficácia da legislação preventiva neste domínio), consumos de média transversais aos seus pares autóctones – que de resto sustentam a hipótese de que a integração cultural se faz muito mais rapidamente do que a integração estrutural, através do consumo massificado de bens culturais transnacionais (Penn e Lambert, 2009) – e competências linguísticas generalizadas (Heckmann, Lederer e Worbs, 2001).

As modalidades de integração têm especificidades nacionais, ligadas a uma originalidade herdada da história do país, não sendo possível afirmar que um contexto nacional é sistematicamente mais efectivo que outro na promoção da integração – esta varia segundo constelações específicas de dimensões (Schnapper, 2007). Como grande conclusão, alega-se que a hipótese da diferença nacional (ou seja, o contexto jurídico e social específico de cada país) se sobrepõe à influência dos recursos familiares, do género e da pertença étnico/nacional (Heckmann, Lederer e Worbs, 2001). Constata-se ainda pouca evidência de hibridismo, ou seja, a assimilação política, cultural e linguística é fortemente assimétrica (Penn e Lambert, 2009). O foco em grupos de origem e países diferentes impossibilitou, no entanto, a realização de comparações que permitissem compreender as respostas de adaptação de um mesmo grupo em diferentes contextos institucionais, limitando as comparações transnacionais.

Colmatando esta lacuna desenvolveu-se, posteriormente, o projeto "The Future of the Second Generation in Europe" (2000-2003), utilizando os dados no EFFNATIS para comparar jovens de origem turca e marroquina em 6 países europeus (Crul e Vermeulen, 2003). A análise reforçou o impacto determinante dos contextos institucionais – prevalecentes em cada país, não especificamente orientados para grupos vulneráveis – nas trajetórias dos descendentes de imigrantes, e a importância de variáveis como a idade de início da escolaridade obrigatória, o número de horas de contacto professor/aluno, a precocidade dos pontos de transição escolar e a existência de programas de profissionalização (Crul e Vermeulen, 2003).

Foi esta iniciativa que lançou as bases para o projeto TIES, que reforçou as mesmas conclusões (Crul e Schneider, 2012). 47 Comparou, através da aplicação de um questionário, a posição de 3 grupos de origem imigrante – turca, ex-jugoslava e marroquina, em 15 cidades de 8 países. Procurou aferir as diferentes vertentes dos processos de integração dos jovens, nos domínios económico, social, educacional e identitário, tendo como ponto de partida uma abordagem institucionalista, e procurando testar a hipótese de uma assimilação segmentada no contexto europeu. As conclusões apontam para um cenário discordante com esta hipótese. Como afirmam os autores:

"as segundas gerações na Europa não estão a viver uma realidade nem segmentada nem assimilada. A sua realidade é a super-diversidade das grandes cidades e, cada vez mais, também das pequenas cidades. Elas podem afirmar posições diferentes, dependendo dos contextos e circunstâncias específicas" (Crul e Schneider, 2012: 29).

O padrão dominante entre os jovens é o de mobilidade social ascendente: entre metade a dois terços dos jovens turcos encontram-se numa posição melhor que a dos seus pais. E isto é significativo sobretudo para as raparigas. Aliás, o género revela-se como uma variável de grande impacto nas trajetórias (Crul e Schneider 2009, 2012). No entanto, há um grupo considerável de jovens que ocupam uma posição marginal, com participações precárias e intermitentes na educação ou no mercado de trabalho (na Alemanha são cerca de um terço dos jovens de origem turca), a face mais visível da (des)integração na opinião pública e na investigação. Como afirmam os autores, relativamente aos resultados globais do inquérito: "alguns membros deram um passo impressionante apenas numa geração. Este mais positivo – e, de facto, predominante – quadro tem consideravelmente menos atenção que o mais negativo, relativo a um grupo mais pequeno" (Crul e Schneider, 2012: 397). São também encontradas na pesquisa sobre-representação nos níveis mais baixos de qualificação e taxas de abandono mais elevadas que os pares autóctones, mas não abrangem a maioria dos jovens. Quanto mais diferenciado for o sistema de ensino, por exemplo, maiores serão as desigualdades nas

47 No projeto TIES (2005-2008) coordenado por Maurice Crul e Jens Schneider, inquiriram-se cerca de 10000 indivíduos (3750 dos quais autóctones) entre os 18 e os 35 anos, descendentes de, pelo menos, um progenitor imigrante, nascidos no país recetor, ou que aí fizeram todo o seu percurso escolar. Decorreu na Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça (Crul e