• Nenhum resultado encontrado

1.   Descendentes de imigrantes: lentes e planos médios de observação 7 

1.3. Designações e recortes geracionais

1.3.1. Um universo quantificável?

Os jovens de origem imigrante constituem uma proporção assinalável e crescente da população nas sociedades avançadas. No espaço europeu, em 2009, 2,7 milhões dos 51,5 milhões de crianças residentes possuíam cidadania estrangeira (5,2%) (European Commission, 2011). Os dados relativos ao Inquérito PISA 2009 permitem observar uma distribuição internacional deste segmento, aos 15 anos de idade, segundo a geração (figura 2). Internacionalmente, os estudantes de origem imigrante representam em média 10% dos jovens inquiridos, chegando aos 70% no Dubai e em Macau. Na UE-27, cerca de 9,3% dos jovens têm este perfil. No Luxemburgo esta percentagem atinge os 40%, o valor mais elevado. Nos valores mais baixos situam-se Hungria, Itália, Espanha, Grécia e também Portugal, cuja percentagem é 5,5% (OECD, 2012b). Os jovens de primeira geração constituem em média 4,8% dos alunos inquiridos; e os de segunda geração são o grupo dominante, 6,2%, refletindo movimentos migratórios consolidados, sobretudo em países como a Austrália, o Canadá, França ou Alemanha. Em Portugal, a primeira geração é maioritária. O PISA permite ainda observar um crescimento médio de 2% na proporção de jovens de origem imigrante com 15 anos, entre 2000 e 2009 (OECD, 2010b). Nos 20 países europeus envolvidos no inquérito nos dois anos, as percentagens cresceram de 7 para 10%.

Em Portugal, os jovens descendentes de imigrantes são quantificados através da condição escolar (contabilizados como alunos), por via da nacionalidade estrangeira ou por

serem natos de progenitores de nacionalidade estrangeira (estatísticas populacionais e censitárias).31

Figura 2. Percentagem de estudantes com background imigrante no Inquérito PISA 2009, segundo a geração

Fonte: OECD PISA 2009 Database, Table II.4.1. (OECD, 2012b: 26).

Nos dados censitários relativos a 2011 os jovens entre os 0 e os 14 anos constituíam 12,7% (cerca de 50.100) do total da população residente com nacionalidade estrangeira (394.496 indivíduos, cerca de 3,7% do total da população residente em Portugal). Nesta população destacaram-se (por ordem de importância) a nacionalidade brasileira, cabo-verdiana, ucraniana, angolana e romena (INE, 2012). Na contabilização aponta-se também frequentemente para o número de nascimentos, cujas tendências indicam crescimento: os nascidos com pelo menos um progenitor de nacionalidade estrangeira cresceram de 6900 (ou 6,5% dos nascimentos em 1995) para 12200 (ou 12% dos nascimentos em 2005) (OECD, 2008). Os natos de mães com nacionalidade estrangeira e residência em Portugal duplicaram a sua proporção no período entre 2001 e 2009, alcançando 10,4% (Carrilho e Patrício, 2008).

31 Do ponto de vista oficial, registam-se os dados relativos à nacionalidade estrangeira, tornando

invisíveis os filhos de imigrantes nascidos em Portugal e/ou abrangidos por estatutos legais que lhes conferem a nacionalidade. Durante os anos 90, o levantamento estatístico realizado num primeiro momento pelo Gabinete Entreculturas, junto dos alunos do ensino público, utilizou critérios de classificação em que se entrosavam de forma pouco clara cultura, nacionalidade e etnicidade (organizada numa dicotomia lusos/outros "grupos culturais"). A este organismo sucedeu o GIASE, com uma prática semelhante, mas um enfoque mais claro na nacionalidade do aluno (Seabra, 2010).

Relativamente ao contexto escolar nacional, o Inquérito PISA mostra um aumento da proporção de jovens de origem imigrante entre 2000 e 2009, de 3,1% para 5,5% do total de inquiridos. Apesar de setorial, esta percentagem é um dado comum na referência à presença dos descendentes de imigrantes no sistema de ensino português.32 No ano letivo 2009/2010, o GEPE (ME) indica a presença de 82424 alunos no sistema de ensino, contemplando mais de 180 nacionalidades (quadro 1).

Quadro 1. Alunos matriculados e adultos de nacionalidade estrangeira (20 mais frequentes) em actividades de educação e formação, segundo o nível de ensino e ciclo de estudo (ano letivo 2009/2010)

Nível de ensino e ciclo 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ens. secundário Total

Nacionalidade N % n % N % n % n % Brasil 5514 30,1 4350 30,0 6530 25,4 4269 17,9 20663 25,1 Cabo Verde 1731 9,5 1830 12,6 3719 14,5 4831 20,2 12111 14,7 Angola 1098 6,0 1226 8,5 3024 11,8 3222 13,5 8570 10,4 Ucrânia 884 4,8 890 6,1 1654 6,4 1004 4,2 4432 5,4 Guiné-Bissau 1049 5,7 751 5,2 1213 4,7 1290 5,4 4303 5,2 França 683 3,7 506 3,5 1119 4,4 1165 4,9 3473 4,2

São Tomé e Príncipe 538 2,9 475 3,3 852 3,3 1595 6,7 3460 4,2

Roménia 1188 6,5 569 3,9 725 2,8 425 1,8 2907 3,5 Moldávia 613 3,3 509 3,5 851 3,3 674 2,8 2647 3,2 Alemanha 532 2,9 383 2,6 593 2,3 529 2,2 2037 2,5 Suíça 293 1,6 292 2,0 592 2,3 538 2,3 1715 2,1 Reino Unido 600 3,3 312 2,2 494 1,9 291 1,2 1697 2,1 Espanha 602 3,3 287 2,0 403 1,6 288 1,2 1580 1,9 China 391 2,1 331 2,3 430 1,7 211 0,9 1363 1,7 Moçambique 100 0,5 117 0,8 323 1,3 467 2,0 1007 1,2 Rússia 121 0,7 143 1,0 218 0,8 185 0,8 667 0,8 Venezuela 80 0,4 62 0,4 172 0,7 261 1,1 575 0,7 Bulgária 236 1,3 113 0,8 127 0,5 83 0,3 559 0,7

Estados Unidos da América 170 0,9 91 0,6 142 0,6 147 0,6 550 0,7

Holanda 170 0,9 76 0,5 138 0,5 100 0,4 484 0,6

Outros 1715 9,4 1190 8,2 2387 9,3 2332 9,8 7624 9,2

Total nacionalidade estrangeira 18308 100,0 14503 100,0 25706 100,0 23907 100,0 82424 100,0 Total de alunos* 452236 4,0 257464 5,6 480298 5,4 462784 5,2 1652797 5,0 Fonte: GEPE-ME (2011). Dados relativos ao ensino de natureza pública e privada, Portugal Continental.

* A percentagem apresentada nesta linha corresponde à proporção de alunos de nacionalidade estrangeira no total de alunos. Estes dados devem ser observados com precaução, tendo em conta que também incluem adultos, e que alguns dos grupos com maior quantitativo são os vulgarmente designados como de origem emigrante, ou luso-descendentes (França, Alemanha e Suíça). A proporção de alunos de nacionalidade estrangeira varia entre os 4% (1º ciclo) e os 5,6% (2º ciclo), segundo o nível de ensino. O grupo de origem maioritário é proveniente do Brasil (25,1%), seguido de Cabo Verde (14,7%) e Angola (10,4%) (GEPE, 2011). Os alunos com origem nos PALOP

32 Sobre as práticas de classificação dos alunos de origem estrangeira no sistema de ensino português, com início dos anos 90, ver Seabra (2010).

assumem 36% do total de alunos de origem estrangeira matriculados no mesmo ano, e quase atingem os 40% se não considerarmos os alunos com origem nos países da emigração.

Em 2010/11, num inquérito realizado aos alunos à entrada do secundário, cerca de 21,8% (14000 alunos) apresentavam uma origem étnico-nacional diferenciada, onde o grupo luso-africano era o mais expressivo (Machado e outros, 2011a). A larga maioria destes alunos tinha nacionalidade portuguesa, deixando prever que, nos números apresentados anteriormente para o sistema de ensino, baseados na nacionalidade, os descendentes de imigrantes estarão subavaliados.33

A distribuição geográfica destes jovens concentra-se em três distritos: Lisboa, Faro e Setúbal. Os concelhos de Sintra, Lisboa, Amadora e Cascais são aqueles que concentram mais população de origem estrangeira (INE, 2012). A sua presença no sistema de ensino segue, naturalmente, a mesma disposição, mas o peso que assumem no total da população escolar altera, por caraterísticas demográficas, a ordem: Faro é o que apresenta maior proporção de alunos de nacionalidade estrangeira (12,7%), seguido de Lisboa (10,5%) e de Setúbal (8,4%) (CNE, 2011). Se tivermos em conta apenas a partição da população de origem estrangeira, ela recai sobretudo nos distritos de Lisboa e de Setúbal.

***

O acento tónico colocou-se, no capítulo 1, na configuração do quadro concetual de entendimento, as grandes lentes que estão na raiz da observação sociológica dos jovens descendentes de imigrantes. Esclareceu-se a terminologia e encetou-se uma circunscrição do universo. Percorreremos, seguidamente, as linhas analíticas e tendências que emergem na literatura internacional e nacional que tem os descendentes de imigrantes como objeto.

33 Levando em conta a percentagem provável, ainda que subestimada, de 5% de alunos descendentes de imigrantes no 9º ano do 3º ciclo do ensino básico, onde situaremos a nossa pesquisa, e considerando que a mesma se realizou no ano letivo de 2006/2007, poderemos depreender que eles alcançariam aproximadamente, no terceiro ciclo do ensino básico, nesse mesmo ano, os 18000 alunos matriculados (num universo global de 364982 jovens) (GEPE, 2010).

2. Assimilação e integração: panorâmicas transatlânticas sobre