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A perspetiva operacional e a influência dos indicadores financeiros

Capítulo 4 – Estudo do caso Mecwide

4.2 Apresentação e discussão dos resultados

4.2.5 A perspetiva operacional e a influência dos indicadores financeiros

No que diz respeito a esta temática, é importante referir todos os membros do Comité Executivo da Mecwide, independentemente do seu cargo e responsabilidade, tomam parte de todas as decisões no grupo, nas quais se inclui a tomada de decisões operacionais.

As decisões operacionais são tomadas com base em informação financeira e não financeira. No entanto, os gestores podem considerar que determinada decisão operacional é a mais adequada, mas não a adotar devido ao impacto que esta terá nos indicadores nas demonstrações financeiras (Collier, 2015). Para este autor, a informação produzida pela contabilidade de gestão, é extremamente útil, contudo apenas para utilizadores internos à organização. Por outro lado, na ótica dos utilizadores externos, Carneiro (2005) considera que os indicadores financeiros são extremamente importantes para os acionistas, uma vez que traduzem o resultado da gestão da organização e sua consequente satisfação financeira. Fischmann e Zilber (2009), destacam a importância do EVA para a avaliação do desempenho financeiro das organizações, uma vez que o seu resultado aponta para outro indicador, que é o Market Value Added ou Aumento do Valor de Mercado. A existência de uma relação entre estes indicadores, permite facilmente aos acionistas das organizações, perceber se os resultados financeiros da organização foram capazes de aumentar o valor da organização no mercado. Por outro lado, estes autores chamam a atenção para a natureza retrospetiva dos indicadores financeiros. Para Fischamnn e Zilber (2009), os resultados dos indicadores financeiros não são sustentáveis se os seus pilares não financeiros, como a produtividade, a inovação e a satisfação dos clientes sejam constantemente monitorizados e melhorados.

Relativamente a este tema, o Comité Executivo da Mecwide, permitiu a esta investigação a obtenção de dados extremamente ricos em informação, nomeadamente através de exemplos, que explicam, não só o seu ponto de vista e crenças sobre o tema, mas também em relação à forma como

este tipo de processos decorre no Grupo Mecwide. Em relação a esta questão, o Entrevistado 2 (CFO), apresenta através de um exemplo, a sua perspetiva de atuação nestas situações:

Se eu estiver a avaliar numa perspetiva de curto prazo, tendo uma necessidade de fazer um investimento específico para a minha indústria, como adquirir um equipamento específico. Eu tenho duas opções, ou faço uma locação financeira (aluguer financeiro de longo prazo que prevê a aquisição do equipamento), ou eu faço uma aquisição seja feita via fundos próprios ou via financiamento bancário. Em qualquer uma destas situações eu registo o equipamento no meu ativo e aumento o meu endividamento. Tenho também uma outra opção, que é a aquisição numa perspetiva de locação operacional. Se eu tiver uma visão de curto prazo, possivelmente de forma a não prejudicar as minhas demonstrações financeiras, dependendo sempre de como é que os meus

stakeholders avaliem os meus resultados, irei fazer uma locação operacional e pagar uma renda.

Deste modo, numa perspetiva de longo prazo, se a empresa tiver que se endividar ou usar fundos próprios para adquirir o equipamento porque essa é a melhor opção em detrimento de fazer uma locação financeira, e se isso for contra os interesses dos acionistas porque estes pretendiam utilizar esse dinheiro disponível para distribuir dividendos, então é nesse sentido que as empresas devem ir.

O EVA constitui um complemento importante e deve fazer parte do conjunto de indicadores chave a utilizar por qualquer analista financeiro (Arzac, 2004). Segundo este autor, o EVA apresenta-se como um indicador capaz de fornecer informação às organizações, no que diz respeito à criação de valor para os acionistas. Tal como o próprio nome o indica, o EVA calcula o valor económico acrescentado, em relação a um determinado período. Caso o valor do EVA seja positivo há criação de valor, e caso seja negativo considera-se que houve uma diminuição de valor. Deste modo, utilizar o EVA como indicador de desempenho da gestão de uma empresa, é considerado adequado na medida em que, não só este indicador fornece informação útil à gestão de topo, mas também permite aos acionistas, atribuir prémios de desempenho sem que a criação de valor seja colocada em causa (Young e O’Byrne, 2000). Fischamnn e Zilber (2009) afirmam que os indicadores financeiros, nomeadamente o EVA, são capazes de sintetizar o desempenho financeiro da organização para o período em questão, mas não são úteis como medidas previsionais e de planeamento.

Deste modo, não é plausível que os indicadores financeiros tenham um papel prejudicial no processo de tomada de decisão, uma vez que estes proporcionam aos gestores informação que os vai ajudar a decidir qual é a melhor opção a tomar e não o contrário. Como tal, não é adequado considerar que estes produzem um efeito negativo sobre a tomada de decisão. Contudo, através dos dados recolhidos, é notório que estes têm um caráter que condiciona o processo de tomada de decisão. Nesta medida, é correto considerar que os indicadores financeiros fazem o gestor ponderar uma decisão que parecia óbvia em primeira instância. Relativamente a esta problemática, o Entrevistado 1 (CEO) considera:

Os indicadores financeiros influenciam-me porque me obrigam a ser mais racional perante uma determinada questão. Se não tivermos disponibilidade em termos de orçamento para investir, e existir necessidade de efetuar um investimento ficamos limitados e não o conseguimos fazer. Mesmo assim, muitas vezes são tomadas decisões de investir acima do valor que estava previsto para uma

determinada natureza de custo. Isto porque, após análise verificamos o retorno e com base nessa informação decidimos, independentemente de a questão financeira muitas vezes não permitir. Nestes casos específicos, abrimos exceções e tomamos a decisão com base nessa exceção. Em certas situações, investir em novos equipamentos é a melhor decisão operacional, contudo é algo que não estava previsto em orçamento. Nestes casos, nós decidimos fazer o investimento na mesma porque acho que o benefício que pode trazer é superior ao custo. Apesar de tudo isto, considero que os indicadores financeiros podem efetivamente condicionar algumas destas decisões operacionais.

Relativamente a esta temática, o Entrevistado 3 (Executive Director), conclui o tema da seguinte forma:

Os indicadores financeiros influenciam sempre a tomada de decisão. Nós quando definimos critérios e objetivos dos nossos indicadores financeiros, consideramos parâmetros que são muito importantes para a consolidação da empresa, como por exemplo o endividamento. Quando nós temos, ao nível do endividamento, limites definidos, nós temos que olhar para a nossa viabilidade de negócio dentro destes limites. Não podemos tentar angariar novos clientes, quer a nível da tipologia do negócio, quer a nível da localização, se estes não se enquadrarem dentro dos limites por nós definidos para investir. Nesse sentido, eu não diria que os indicadores financeiros possam prejudicar o processo de tomada de decisão, contudo no nosso ponto de vista, os indicadores financeiros acabam por ser o alicerce sobre o qual tomamos as decisões, na medida em que nos condicionam a perseguir determinadas decisões, uma vez que nos impõem que quebremos pressupostos definidos no nosso planeamento estratégico. Quebrar estes pressupostos, é algo que só acontece em casos excecionais.

Em resposta às questões de partida, como é que a informação fornecida pelos indicadores financeiros influencia o processo de tomada de decisão levado a cabo pelos gestores empresariais, e como e porquê, no processo de tomada de decisão, os indicadores financeiros e não financeiros são utilizados, e como é feita a ponderação por uns em detrimento de outros?, os dados recolhidos e apresentados através das entrevistas permitem obter conclusões claras acerca desta temática. De acordo com o Comité Executivo da Mecwide, não é correto utilizar os conceitos beneficiar e prejudicar no que diz respeito à informação financeira fornecida pelos indicadores, no processo de tomada de decisão. Para estes, é adequado afirmar que a informação financeira tem influência no processo de tomada de decisão, uma vez que fornece à gestão informação acerca do desempenho da organização no final de um determinado período. Esta informação é útil, porque que proporciona aos gestores uma visão do trabalho realizado anteriormente e proporciona dados sob os quais planeará medidas futuras. Nesta perspetiva, o Entrevistado 5 afirma:

Se definimos um plano estratégico para trabalharmos e nos focarmos num determinado país, porque se prevê que a curto, médio prazo que irá haver investimento que justifique a nossa presença e o nosso investimento, em contrapartida podemos ter indicadores financeiros relativamente ao nosso histórico naquele país, em que as coisas não correram bem, isto é, o desempenho financeiro não correspondeu às nossas expectativas. Penso que devido a esta referência histórica, os indicadores financeiros, podem de certa forma condicionar a tomada dessa decisão, uma vez que condicionados por esse resultado menos bom, poderemos não estar a ter em conta outros fatores não financeiros, como por exemplo as condições do mercado, a própria aptidão dos colaboradores que pode à data ser superior ao passado e também a nível dos nossos processos internos, uma vez que poderemos estar mais capazes de atacar novos clientes e novos mercados, contudo podemos sentir-nos condicionados por esses resultados menos bons.

Relativamente à utilização de ambos os tipos de indicadores, o Comité Executivo da Mecwide considera que só através da conjugação dois tipos se obtêm resultados financeiros satisfatórios. Para o COMEX da Mecwide, se a empresa atingir a excelência nas componentes não financeiras, o seu resultado financeiro será positivo. Como tal, seria correto atribuir a mesma ponderação a toda a informação como parte de um sistema equilibrado, no qual é considerada como útil ao processo toda a informação fornecida por indicadores financeiros e não financeiros. No entanto, o COMEX da Mecwide considera que através de maior enfâse na monitorização e análise dos objetivos dos indicadores não financeiros, os resultados financeiros serão satisfatórios no futuro. Para o COMEX da Mecwide, é claro que este é o caminho a percorrer para que a satisfação dos acionistas seja completa.

4.2.6 Os indicadores não financeiros como medida previsional dos indicadores