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Os relatórios financeiros tradicionais versus os indicadores do Balanced Scorecard

Capítulo 4 – Estudo do caso Mecwide

4.2 Apresentação e discussão dos resultados

4.2.3 Os relatórios financeiros tradicionais versus os indicadores do Balanced Scorecard

De acordo com Prieto, Pereira, Carvalho e Laurindo (2006), devido à necessidade de absorver toda a complexidade da avaliação de desempenho numa organização, o Balanced Scorecard foi desenvolvido, por Kaplan e Norton em 1992. Para Ribeiro (2008), o modelo do BSC tem como base da sua criação o princípio balance e measurement. O balance, ou equilíbrio, traduz a importância de conjugar ambos os tipos de indicadores para melhorar o desempenho da organização. De acordo com Ribeiro (2008), terá de existir um equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazo, entre indicadores de resultado e atividade, entre a utilização de indicadores financeiros e não financeiros, e a perspetiva interna e externa à organização. Relativamente ao measurement, Ribeiro (2008) fala da necessidade do modelo ter variáveis totalmente objetivas e mensuráveis. Para este autor, o BSC distingue-se dos demais, porque permite a tradução da visão e da estratégia definidas para a organização, em indicadores que abrangem as perspetivas: financeira, do cliente, perspetiva dos processos internos e a perspetiva de aprendizagem e crescimento. Caso seja implementado numa organização da forma adequada, o BSC permite a composição e visualização das medidas de avaliação de desempenho na organização, através da criação de uma rede de indicadores que seja transversal a todos os níveis organizacionais (Prieto, Pereira, Carvalho e Laurindo ,2006).

Se o Balanced Scorecard for implementado com sucesso numa organização, as vantagens para a organização, são inúmeras em relação aos relatórios financeiros tradicionais, uma vez que facilita o processo de mudança devido à quantidade de informação que passa a estar à disposição do gestor (Quesado, Guzmán e Rodrigues, 2018). Isto porque, o Balanced Scorecard permite avaliar o desempenho da organização em áreas chave, como o desempenho dos próprios colaboradores, o desempenho comercial, nomeadamente ao nível da satisfação dos clientes, o desempenho financeiro, bem como os processos de gestão e melhoria interna (Kaplan e Norton, 1997). Deste modo, através da definição de um conjunto de indicadores, financeiros e não financeiros, o Balanced Scorecard aumenta a capacidade das organizações em implementar a estratégia definida e desencadeia processos de criação de valor, destacando o papel dos ativos intangíveis para o processo. Esta ferramenta ajuda a ultrapassar as limitações de uma avaliação de desempenho baseada apenas nos indicadores financeiros e não só se distingue das tradicionais ferramentas de gestão estratégica, uma vez que não se baseia apenas em indicadores financeiros, mas também permite ultrapassar as limitações criadas por um sistema de avaliação de desempenho baseado em indicadores financeiros. Como evidência dos benefícios que a implementação do Balanced Scorecard, ao passar a considerar outras perspetivas e utilizar indicadores, o Entrevistado 3 (Executive DIrector) explica:

Como gestor, concordo que é de facto verdade que no passado os indicadores financeiros eram os únicos a ser considerados, contudo está mais que provado que os indicadores financeiros são na verdade o somatório dos resultados de um conjunto de processos intermédios que influenciam o resultado global da empresa. Por exemplo, ao nível do processo de cliente, o objetivo do nosso BSC essencialmente receber feedback em relação ao que o cliente espera de nós. Por outro lado, permite- nos, internamente, perceber se nós estamos a dar ao cliente o acompanhamento correto, perceber quais são os objetivos estratégicos do próprio cliente para que nós possamos estar ao lado do cliente e acompanhar os seus objetivos estratégicos de forma a satisfazer as suas necessidades.

A implementação do Balanced Scorecard permite aos gestores, que a quantidade e qualidade de informação à sua disposição aumente, no entanto, Prieto, Pereira, Carvalho e Laurindo (2006), chamam à atenção para o facto de que, a criação dos indicadores per si, não é útil, uma vez que não desencadeia um processo de melhoria contínua. Para estes autores, é importante que a gestão seja capaz de utilizar a informação que o Balanced Scorecard proporciona e agir em conformidade com a visão e a estratégia da empresa. Deste modo, justificando a importância dos indicadores para o processo de tomada de decisão, o Entrevistado 1 (CEO) afirma:

Recentemente verificamos que a nossa quantidade de trabalho num futuro próximo estava a diminuir e decidimos a nível comercial atuar, para que possamos reforçar a área comercial uma vez que estamos já a preparar o budget de 2020 e queremos atingir as vendas que estamos a prever. Mesmo a nível da área do Safety, ver o resultado de incidentes que temos, permite-me concluir que a possibilidade de termos acidentes graves existe, daí que estamos a ter uma atuação mais forte nesta área para melhorarmos e eliminarmos este risco. Através destes indicadores, conseguimos obter a informação acerca do que falhou, as áreas que temos a melhorar e permite-nos também planear o futuro.

Através desta afirmação, é possível concluir que os indicadores são extremamente importantes para o processo de tomada de decisão, uma vez que proporcionam informação que permite avaliar a situação atual da organização e planear para o futuro. Em resposta às questões de partida, como é que a informação fornecida pelos indicadores financeiros influencia o processo de tomada de decisão levado a cabo pelos gestores empresariais? e como e porquê, no processo de tomada de decisão, os indicadores financeiros e não financeiros são utilizados, e como é feita a ponderação por uns em detrimento de outros?, as respostas obtidas para esta temática, respondem não só á questão colocada, mas também são capazes de responder às questões de partida. Como evidenciado anteriormente, a informação tem influência no processo de tomada de decisão. Nesta medida, a implementação do Balanced Scorecard numa organização aumenta o fluxo de informação e permite expor e avaliar falhas. Deste modo, o BSC traz à equipa de gestão mais informação que permite aos gestores avaliar o desempenho da sua organização em níveis para além do financeiro, distanciando-se assim das ferramentas utilizadas no passado. Deste modo, em relação à importância da informação e do papel do BSC, devido à utilização dos dois tipos de indicadores, o Entrevistado 2 (CFO) defende que:

No passado, a avaliação das empresas era feita somente com base em indicadores financeiros. O que é que o BSC tem a mais relativamente aos indicadores financeiros? Os indicadores financeiros são

retrospetivos, ou seja, dizem-te o que é que aconteceu no passado. O BSC tem conforme diz o seu nome um conjunto balanceado de indicadores, entre indicadores que tem haver com pessoas e processos, indicadores que tem haver com aprendizagem e crescimento, indicadores que tem haver com os clientes como um ambiente externo, e como um corolário do que acontece nos restantes surgem os indicadores financeiros. E aliás nas nossas reuniões do BSC é esta a ordem que seguimos, uma vez que os indicadores financeiros dizem-te o que aconteceu no passado.

Perante estes resultados, é correto afirmar que, enquanto parte do processo de tomada de decisão da Mecwide, a informação é uma peça chave para decidir. Quanto mais informação os gestores tiverem à sua disposição maior é a probabilidade do seu sucesso. De acordo com Quesado, Guzmán e Rodrigues (2018), a adoção do BSC constitui uma mais valia para a gestão da empresa. Através do Balanced Scorecard, os gestores podem obter mais informação em relação às diferentes áreas da empresa, de forma a que seja possível decidir com base no resultado dos indicadores atuais, para criar valor e sustentabilidade para o futuro.