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A Promoção de Portugal no Estrangeiro e para Estrangeiros

A nível externo, o SPN desenvolveu a seguinte atuação: colaboração com todos os organismos portugueses de propaganda existentes no estrangeiro; superintendência em todos os serviços oficiais de imprensa que atuassem fora do país; realização de conferências e incentivo ao intercâmbio com jornalistas e escritores; elucidação da opinião internacional sobre a ação exercida nas colónias portuguesas; e promoção e patrocínio das manifestações de arte e literatura nacionais, nos grandes centros urbanos209.

O diretor do SPN, independentemente da responsabilidade que detinha nas referidas ações internas ou externas, podia ser incumbido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de qualquer missão de propaganda. A partir de 1939, o SPN recebeu as competências do Ministério do Interior em matéria de turismo, considerado um instrumento privilegiado de promoção e propaganda do regime e, em 1940, integrou o Conselho Nacional de Turismo. No ano seguinte, o SPN começou também a registar as informações relativas à atividade desenvolvida por jornalistas estrangeiros em Portugal.

Como consequência da reorganização dos serviços do SPN, operada em 1944, o novo organismo, designado por SNI, concentrou os Serviços de Turismo, os Serviços de Imprensa, a Inspeção dos Espetáculos – que incluíam o exercício da censura –, os Serviços de Exposições Nacionais e os Serviços de Radiodifusão.

Na dependência do SNI foram ainda criados o Fundo do Cinema Nacional e o Fundo do Teatro Nacional, em 1948 e em 1950, respetivamente. Posteriormente, em 1953, as Casas de Portugal, que haviam funcionado na esfera do MNE, transitaram para a tutela do SNI, passando a atuar como delegações suas no estrangeiro. Um tal realinhamento institucional significou, à partida, a tentativa de coordenar melhor as atividades fora do país, colocando o turismo diretamente sob a égide da propaganda nacional. Como se verificará adiante, uma tal mudança coincide com a atribuição de um papel de funções mais acentuadamente políticas à representação da Casa de Portugal em Nova Iorque.

A ação seria levada a cabo através de detalhados mecanismos de propaganda externa, geridos por uma parte do Secretariado que ficou conhecida por Secção Externa. A Secção Externa do SPN é detalhada no Decreto-Lei n.º 23 054, de 25 de setembro de 1933. No artigo 5.º desse mesmo documento são descritas as suas competências, entre elas as de: a) colaborar com todos os organismos portugueses de propaganda existentes no estrangeiro; b) superintender

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todos os serviços oficiais de imprensa que atuem fora do país; c) promover a realização de conferências em vários centros mundiais por individualidades portuguesas e estrangeiras; d) fortalecer o intercâmbio com os jornalistas e escritores de grande nomeada; e) elucidar a opinião internacional sobre a nossa ação civilizadora e, de modo especial, sobre a ação exercida nas colónias e o progresso do nosso Império Ultramarino; e f) promover a expansão, nos grandes centros, de todas as manifestações da arte e da literatura nacionais.

As obrigações que, no campo da propaganda no estrangeiro, cabiam ao Secretariado, bem como as ações que este levou a cabo, incluíam a colaboração com todos os organismos portugueses de propaganda existentes no estrangeiro, tais como Embaixadas, Consulados e Casas de Portugal; a supervisão de todos os serviços de imprensa oficiais fora do país; a realização de conferências e o encorajamento do intercâmbio com intelectuais e jornalistas estrangeiros, com vista a moldar a opinião internacional, entre outros assuntos, sobre a política colonial; e a promoção cultural e artística de Portugal, bem como do seu turismo. Em síntese, a atividade promocional no estrangeiro passou a ser uma atividade em rede, da responsabilidade de um conjunto de instituições.

A publicação era um meio importante para a propaganda no estrangeiro210. Foram também utilizados o cinema e as exposições, mas de forma mais esporádica. Uma das ações de propaganda era feita pessoalmente, na figura dos gerentes das diversas Casas de Portugal, dos embaixadores, ou, em certas situações, do próprio Secretário Nacional, em visitas oficiais. Nestas situações, o Secretariado promovia encontros de cariz social, oferecendo almoços e jantares, organizando concertos e exposições de artistas portugueses, dinamizando conferências e convidando jornalistas e intelectuais a visitar Portugal, encorajando-os a escrever, depois, as suas impressões de viagem. A escolha não era inocente – o Secretariado requeria aos seus agentes no estrangeiro informações minuciosas sobre o posicionamento político dos jornais e dos jornalistas locais, a fim de se proceder a uma seleção cuidada dos indivíduos a convidar.

O mercado internacional foi um alvo preferencial da propaganda portuguesa, realizada através do turismo. Para atrair a empatia estrangeira, Salazar alinhou com os padrões de procura internacional e promoveu um destino micro-turístico rotulado como Costa do Sol, que compreendia a área costeira entre São Julião da Barra e o Guincho. Fausto de Figueiredo tinha identificado as potencialidades da região há vários anos, mas foi sob o regime de Salazar que a

210 Cotrim, João Pedro Caeiro da Silva Bernardo (2010), Tradutores e propagandistas, da tradução

como ferramenta de propaganda do Estado Novo no estrangeiro e da indústria que se desenvolveu em torno desta no Secretariado da Propaganda Nacional/Secretariado Nacional de Informação, Dissertação de Mestrado, Coimbra, Faculdade de Letras de Coimbra, p. 15.

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mesma se tornou no resort internacional que Figueiredo tinha sonhado, em especial na faixa costeira que incluía São Pedro do Estoril, São João do Estoril e Santo António do Estoril211. Em vez de exaltar e promover a humildade e atitudes e práticas modestas, o imaginário da Costa do Sol era o de um local luxuoso e sofisticado, para que a tarefa de atrair mercados estrangeiros fosse mais fácil. Esses turistas, fugindo de conflitos e guerras, como a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, estariam hospedados num ambiente que lhes permitisse continuar as rotinas sociais da alta sociedade que tinham sido forçados a deixar para trás. O programa oferecido a estes para os manter ocupados incluía festas, filmes, desfiles e atividades ao ar livre. Os acessos tinham sido melhorados para que as áreas mais pobres e degradadas não fossem identificadas por aqueles que viajavam em excursão ou a bordo do comboio Sud-Express que viajava de Paris para Santo António do Estoril. Tinha ainda sido inaugurada uma nova estrada costeira que ligava Lisboa a esta Costa do Sol212.

O alojamento para esses estrangeiros diferia consideravelmente das instalações dedicadas a turistas nacionais. Parece claro que houve uma motivação muito válida do regime do Estado Novo para aceitar e autorizar todas as diferenças que aconteciam na Costa do Sol. Essa exceção sugere que, ao permitir que tais padrões de comportamento fossem aceites, esta terá sido, provavelmente, uma estratégia de propaganda do Estado Novo que acabaria por mostrar a sua neutralidade em relação aos conflitos em curso. A Costa do Sol foi procurada por turistas e refugiados das mais diferentes origens nacionais e sociais, que chegaram em busca da paz e tranquilidade. Aqui, foram capazes de continuar uma rotina social semelhante à que, de outra forma, tinha sido abalada pela guerra e testemunhar a tolerância e neutralidade promovida pelo regime português. Por outro lado, este imaginário diferente seria observado de longe pelos nacionais, que foram, assim, ensinados a considerá-los como comportamentos não adequados a serem adotados.

211Cadavez, Cândida (2013b), Tourism in Portugal at the beginning of the Second World War – an

innocent oasis in Europe, or the achievements of disguised propaganda, Estoril, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, p. 209.

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