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As Casas de Portugal em Debate na Assembleia Nacional

O papel das Casas de Portugal e o desenvolvimento do turismo, bem como a atração de visitantes, eram preocupações do país, tal como atesta documentação existente no Arquivo dos Debates Parlamentares, no seguimento de intervenções proferidas em várias sessões realizadas na Assembleia Nacional.

Os deputados argumentavam que não eram suficientes as belezas naturais, a amenidade do clima ou a hospitalidade do povo português para atrair estrangeiros e aumentar o movimento turístico para “números anteriores à última guerra” 391. Entendiam que, embora a Europa estivesse a viver um período pós-guerra conturbado, não podia ser este considerado a única desculpa para não se verificar um aumento de entradas turísticas em Portugal. Ao contrário de Portugal, na Suíça, na Bélgica, na Espanha, na Inglaterra e na França verificava-se um “aumento extraordinário” de entrada de estrangeiros. A França, em 1949, recebia visitantes na ordem dos três milhões. Algumas causas indicadas para a falta de turistas a Portugal apontavam para a quase total interdição da saída dos espanhóis do seu país, bem como para limitações cambiais para que os turistas ingleses pudessem usufruir de uma estada suficientemente longa que justificasse o encargo de viagens a um país distante392.

Como resultado, foi proposta a reorganização dos serviços de turismo. Algumas das medidas incluíam o aumento da propaganda de Portugal, através da representação diplomática, nomeadamente através das Casas de Portugal, bem como da radiodifusão, dos documentários cinematográficos, da imprensa, das agências estrangeiras de viagem, de uma maior tiragem e divulgação de folhetos, e de fotografias e cartazes de propaganda393.

Nesta altura, há uma posição crítica relativamente ao trabalho desenvolvido pelas Casas de Portugal, assumida pelo deputado na Assembleia Nacional, Paulo Cancela de Abreu, declarando que a organização e a ação, bem como os serviços do turismo, neste aspeto, “deixam muito a desejar”394. Considerava o deputado que a propaganda gráfica no estrangeiro era, em

geral, boa em qualidade, mas insignificante, quer em quantidade, quer na divulgação de folhetos, cartazes e fotografias. Considerava que, na radiodifusão e na cinematografia, o seu

391 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

Nacional, V Legislatura, Sessão Legislativa 22, de 28 de janeiro de 1950.

392Idem. 393Idem. 394Idem.

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trabalho era “quase nulo”, reforçando que as mesmas deficiências se notavam na atividade consular. Reiterava que, por vezes, não existiam quaisquer meios de propaganda, exemplificando que, em Nova Iorque, não havia, sequer, a “indicação dos hotéis e dos seus preços e categorias! E todas é claro, estiolam à míngua de recursos”395.

O mesmo deputado concluía a sua análise com sugestões de reforma, nomeadamente o aumento de dotações, devendo constituir-se um fundo especial de propaganda para a qual, além do Estado, contribuíssem as entidades nela interessadas, e que “hoje a fazem dispersamente, com mais encargos e menos eficiência”. Afirmava a necessidade de se criarem mais Casas de Portugal, e que as mesmas fossem fornecidas de todos os elementos que pudessem “cumprir eficazmente o seu dever”. Através destas Casas, e por meio da imprensa, da rádio e do cinema, o resultado seria “eficaz e compensador”. Por outro lado, defende que as agências de viagem portuguesas e estrangeiras se constituíam como meios excelentes de propaganda 396.

Outras medidas incluíam a atribuição de crédito hoteleiro, bem como o desenvolvimento, aperfeiçoamento e fiscalização rigorosa da indústria hoteleira e criação de escolas de hotelaria, com frequência obrigatória, garantindo o mínimo de exigências e o máximo de facilidades burocráticas, fiscais e aduaneiras, nas fronteiras e nos portos, em relação às pessoas e aos transportes automóveis, particulares ou coletivos, bem como a simplificação e unificação das taxas de aterragem ou de desembarque, trânsito e embarque nos aeroportos e a redução, particularmente no que se referia à incidência no preço total das passagens, desde o país de origem até ao de destino. Propunha-se ainda a simplificação e a descida do preço dos vistos e sua supressão quando possível. Além disso, através do Plano Marshall, sugeria aumentar o fluxo de estrangeiros (turistas Marshall) como instrumento de redistribuição internacional de divisas397.

No ano de 1954, seria enviada à Assembleia Nacional a proposta do Estatuto do Turismo, e foi também anunciada a criação de novas Casas de Portugal no estrangeiro, bem como a remodelação das existentes e a integração destas casas nos serviços do SNI398. Neste mesmo ano, é referido que:

395 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

Nacional, V Legislatura, Sessão Legislativa 01, n.º 027, 8 de agosto de 1950.

396 Idem.

397 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

Nacional, V Legislatura, Sessão Legislativa 22, de 28 de janeiro de 1950.

398 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, 4 de fevereiro

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Às Casas de Portugal está reservado um papel do maior relevo nessa propaganda, e o Secretariado Nacional da Informação, onde elas, felizmente, foram integradas, que tão brilhantemente tem desempenhado a função que em boa hora lhe foi confiada e que tão eloquentes provas tem dado do seu valor, da sua competência, da sua ação na valorização de tudo quanto represente fator de engrandecimento e interesse nacional, realiza com a propaganda do vinho do Porto, tarefa digna do melhor e mais sincero aplauso. E aqui deixo ao Secretariado Nacional da Informação essa lembrança, como mais um dos grandes e valiosos serviços a prestar à Nação399.

Foi proferido no Parlamento que, através do SNI e dos órgãos locais de turismo, e no sentido de valorizar as condições de atração turística, era importante garantir representação em reuniões e conferências internacionais, entre outras realizações de maior projeção e eficiência, que possibilitassem a participação portuguesa no estrangeiro. Era ainda fundamental a organização de estatísticas de turismo e a organização da publicidade e propaganda no país, bem como a manutenção das agências e postos de informação. Destaca-se a organização de concursos e a colaboração nos mesmos por parte de entidades privadas; a concessão de prémios e o estudo do aproveitamento de locais com potencialidade turística; a assistência, instalação e exploração dos estabelecimentos hoteleiros do Estado; a orientação das Casas de Portugal em Londres, em Paris e em Nova Iorque, no que respeita à divulgação dos valores nacionais400.

No ano de 1958, é referido que a iniciativa privada teria de aproveitar e reforçar o apoio da rede de Casas de Portugal, dos Centros de Informação e dos serviços comerciais anexos às missões diplomáticas, para criar uma organização comercial técnica e financeiramente capaz de, com oportunidade e persistência, alargar o número de mercados compradores e esclarecer os produtores sobre os gostos e preferências do público. A Comunidade Económica Europeia, acrescida da European Free Trade Association (EFTA), tornava indispensável uma organização comercial idónea para a luta pelos mercados, não só para exportar, mas, até, para venda no mercado interno 401.

399 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, 26 de fevereiro

de 1954.

400 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, Parecer n.º

36/VI Projeto de Proposta de Lei n.º 35/515, de 14 março de 1956.

401 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, 15 de outubro

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Tendo em conta um número elevado de instituições que teriam incumbências similares, no ano de 1964, deu-se a intervenção do deputado Nunes Barata, que referiu que a existência das Casas de Portugal e Centros de Informação e, por outro lado, o recurso a organizações especializadas, como a U. I. O. O. T. (União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo), a F. I. A. V. (Federação Internacional das Agências de Viagens) e a Associação Internacional de Hotelaria, poder-se-ia dizer que com “todo este cabedal de organismos e recursos as coisas corressem o melhor possível; mas, talvez, seja também por tamanha multiplicidade que o nosso esforço é descoordenado e incompleto”402.

Ainda, nesse mesmo ano, é referenciado como fundamental atingir o nível de expansão turística que legitimamente se procura, para que a “‘Voz de Portugal Turístico’ se faça ouvir com autoridade competitiva em todos os países em que se revelam tendências de potencial alimentador do turismo nacional”403. Esta voz seria ecoada através de ações de propaganda,

persistente e aliciadora, distribuída e controlada pelos vários órgãos que representavam a promoção do turismo nacional, entre estes, as Casas de Portugal e Centros de Informação. Entre os meios de ação propostos, destacam-se os cartazes, impressos desdobráveis, e os roteiros. Propunha ainda o deputado, publicar, de forma insistente, anúncios em jornais e revistas e de impulsionar demonstrações ocasionais “de elevada e característica expressão nacional de atração turística e ampla projeção coletiva”. No espaço nacional, sugere o mesmo deputado uma organização que se pauta pela:

Receção de simpatia e regozijo por coloridos cartazes, de boas-vindas, em várias línguas, à entrada da fronteira; sinalização perfeita e atraente ao longo das estradas, evidência dos roteiros turísticos, de acesso a monumentos, castelos, locais panorâmicos – tudo quanto selecionado como valor turístico; e nos centros urbanos – cidades e vilas – orientação convidativa às zonas centrais e ao órgão local do turismo. A ação dos órgãos locais de turismo (comissões regionais, juntas de turismo e comissões municipais) – que em muitas zonas se limita a pouco mais que existência – deve ser: prontidão em auxiliar o turista; fornecer esclarecimentos sobre equipamento hoteleiro local, preçários, dominância

402 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, Diário das

Sessões, n.º 136, 28 de fevereiro de 1964.

403Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, n.º 21, 5 de

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comercial local; exercer propaganda, distribuir impressos elucidativos e convidar à visita de atrações turísticas regionais404.

Ao analisar o comentário acima transcrito, verificamos que o turismo, aqui, parece estar a ganhar uma importância acrescida, havendo a perceção das mudanças em curso na Europa que implicam uma mudança de escala nos meios promocionais. A credibilização do país começa a ser vista como uma atividade geradora de receitas, certamente atraída pelos desenvolvimentos internacionais da nova era de turismo de massas.

Ainda no ano de 1964, a atuação destas Casas de Portugal e Centros de Informação é alvo de elogios no que diz respeito a trabalho a desenvolver. Refere que, no seguimento da sua estada em algumas das cidades, nomeadamente, Nova Iorque, Paris (Casas de Portugal) e Genebra (Centro do Informação), têm sabido cumprir com o importante papel que lhes é destinado e afirmava que o “aumento substancial ultimamente verificado no número de turistas americanos que visitaram o país se deve, em parte, à boa e meticulosa propaganda que o pessoal da Casa de Portugal em Nova Iorque e os agentes diplomáticos e consulares nos Estados Unidos vêm fazendo do nosso país” 405.

No que respeita o turismo externo ou internacional, desde que este passou a constituir um meio eficaz para se obterem divisas de forma a se equilibrarem as balanças de pagamento de certos países, passou a ser considerado como uma indústria de exportação de grande relevância e com reflexos palpáveis na valorização social e económica das populações406.

A partir de meados dos anos 60, a defesa do bom nome de Portugal no exterior, no que diz respeito à sua posição relativamente à política ultramarina, torna-se também uma prioridade. As Casas de Portugal, especialmente a Casa de Portugal em Nova Iorque, passam a desenvolver um trabalho mais acentuado nesse sentido. De acordo com as atas de 1970 encontradas no Arquivo dos Debates Parlamentares, realizou-se uma intervenção, no dia 5 de fevereiro, que referia ao tipo de literatura que convinha publicar era aquela que dava a conhecer a posição de Portugal em relação a África com objetivo de “zelar, explicar e defender a nossa política ultramarina”. Como forma de levar a cabo este objetivo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em colaboração com o do Ultramar, iniciou ações de sensibilização, que incluíam o convite a diversas personalidades estrangeiras, entre eles, políticos, intelectuais, jornalistas

404 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, n.º 21, 5 de

fevereiro de 1970, 11 de março de 1964.

405Idem. 406 Idem.

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para visitarem os territórios ultramarinos e observarem a realidade portuguesa. No entanto, entendeu o deputado de que esta política, embora considerada como útil, acabava por ser onerosa e nem sempre correspondeu às suas intenções, admitindo que “não basta para combater a muita ignorância e a série de mentiras que no estrangeiro se propagam acerca do ultramar português [...]”407.

Essencialmente, o deputado defende como imprescindível uma ação de coordenação na difusão, através de um único órgão do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Esse organismo deveria coordenar-se com as Casas de Portugal. O ultramar passaria a ter um papel cada vez mais central em relação à promoção do Portugal metropolitano.

Defende ainda que se torna necessário acentuar que, além da informação através do livro e da imprensa, é importante equacionar soluções válidas para os demais meios de informação, especificamente o cinema, a rádio e a televisão. As Casas de Portugal deverão trabalhar de forma acentuada a fim darem a conhecer no estrangeiro a imagem do nosso país. Era um desejo que os diferentes aspetos da vida ultramarina, turísticos e outros fossem mais propagados, para que o público estrangeiro ficasse com uma visão global do todo nacional, e as Casas de Portugal deveriam também funcionar em íntima ligação com o órgão coordenador a criar408. Longe de diminuírem a sua importância no quadro de instituições do Estado Novo, assiste-se, pois, a um reforço da sua legitimidade e utilidade pública. A esta tendência não é estranho o reforço de verba orçamental verificado na segunda metade da década de 1960.

Nos anos sessenta é avaliado o trabalho de promoção por parte das estruturas que existem no estrangeiro a promover Portugal. As atas dos debates da Assembleia Nacional deixam-nos um outro testemunho relativamente a este assunto. O deputado Nunes Barata questiona, em 1964, a presença do turismo português nos centros estrangeiros e conclui que presença no exterior é modesta quando comparada com outras grandes cidades mundiais, como, por exemplo, na França ou na Espanha. Em 1961, os serviços franceses de turismo no estrangeiro tinham representação em dezasseis grandes cidades da Europa, dezoito da América, duas da Oceânia, duas da Ásia e uma de África 409. Adianta que os serviços de representação

407Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, n.º 21, 5 de

fevereiro de 1970, 14 de março de 1964.

408 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Diário das Sessões, n.º 21, 5 de

fevereiro de 1970, Diário das Sessões, n.º 21, 5 de fevereiro de 1970.

409 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

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diplomática, no estrangeiro, poderiam também dar o seu contributo no que se refere à propaganda turística de Portugal.

Contrariando os elogios de Nunes Barata, um outro deputado, Pinto Bull, sublinhará anos depois o facto de existirem, efetivamente, deficiências nos serviços prestados devido ao reduzido quadro de pessoal, não deixando, porém, de realçar também o trabalho do SNI em prol do turismo. Por outro lado, louva o “esforço que se vem fazendo no sentido de se melhorar este sector da actividade [sic] do S. N. I. através das Casas de Portugal e dos Centros de Turismo no Estrangeiro espalhados por várias capitais da Europa e da América”410. Refere ainda o mesmo

deputado que, no seguimento das suas estadas em Nova Iorque, Paris e Genebra, os responsáveis souberam cumprir “o importante papel que lhes cabe” e nota ainda o aumento substancial ultimamente verificado no número de turistas americanos que visitaram o país, o qual “se deve em parte à boa e meticulosa propaganda que o pessoal da Casa de Portugal em Nova Iorque e os agentes diplomáticos e consulares nos Estados Unidos vêm fazendo do nosso país”411.

No entanto, nos anos 70, surge o problema referente à falta de qualidade na promoção impressa que se mantinha. O deputado David Laima lamenta que as informações conseguidas relativamente ao trabalho desenvolvido “conduziu-nos às mais desoladoras conclusões”. Refere que na Casa de Portugal em Nova Iorque, sobre Angola, só existiam três folhetos diferentes, antigos, e que estavam “mal elaborados, mal redigidos, constituindo o tipo de documento que não deve ser divulgado por conter erros, anacronismos e imperfeições que o condenam inexoravelmente”412. As atenções críticas quanto à promoção de Portugal no estrangeiro

surgem, principalmente, centradas na Casa de Portugal em Nova Iorque. Na dinâmica do Estado Novo, esta perceção traduz a maior valorização da promoção política e do carácter subordinado na promoção turística e comercial desta delegação.

Deste modo, e considerando as várias intervenções realizadas ao longo do período de análise, podemos concluir que esta matéria nem sempre reunia consensos. Por um lado, todos reconheciam a importância da existência deste tipo de estrutura no estrangeiro. No entanto, há efetivamente uma crítica, por vezes feroz, relativamente à forma como estas funcionavam. Verifica-se uma grande falta de investimento na promoção, especialmente de folhetos

410 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

Nacional, VIII Legislatura, Sessão Legislativa 03, n.º 145, 13 de março de 1964.

411Idem.

412 Arquivo Histórico Parlamentar, Atas dos Debates Parlamentares, Estado Novo, Assembleia

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atualizados e em quantidade e, por vezes, alguma inércia em relação à atuação de alguns diretores. Podemos ainda deduzir que a postura assumida por parte de alguns dos deputados transmitia que, embora estas estruturas existissem e fossem fundamentais para a promoção de Portugal no estrangeiro, muitas vezes não eram devidamente aproveitadas. Sente-se ainda alguma frustração relativamente ao trabalho das mesmas, nomeadamente através das repetidas declarações “criem-se mais Casas de Portugal”. Por um lado, podemos analisar esta expressão de forma elogiosa, mas também interpretada à luz de quem não estava a cumprir os requisitos exigidos e que seria necessário a criação de outras para poder cumprir eficazmente o trabalho.

C

APÍTULO

4. A Propaganda e o Turismo

Tal como assistimos em regimes nacionalistas no mundo, o regime de Salazar utiliza a propaganda como meio de propagar e promulgar as suas políticas, ideais e objetivos413. Está presente em qualquer situação onde é necessário definir uma relação entre os que exercem o poder e os restantes, seja este obtido de forma autoritária ou democrática. A propaganda e publicidade são dois instrumentos usados para fins persuasivos que, por vezes, utilizam as mesmas técnicas. A publicidade, tal como a conhecemos hoje, aprendeu com a propaganda as técnicas primárias da persuasão e foi também herdeira dos mecanismos apelativos das frases feitas e da influência do uso dos adjetivos e dos exageros. Assim, conforme Ferrer Rodríguez afirma:

Uma glorifica os homens e suas ideias; outra, as coisas que o homem consome e necessita. Ambas oferecem generosamente felicidade e caminham, entre emblemas e lemas, sobre a borda escorregadia das meias verdades. Quer dizer que o publicitário está prefigurado no propagandista e que as primeiras mensagens que fizeram proselitismo foram o berço das mensagens publicitárias414.

Concebida a partir de uma perspetiva psicossociológica, a propaganda, ou persuasão ideológica, é, de acordo com Ash, “a intenção deliberada, realizada por agentes especializados, para provocar a adesão, não somente na opinião, mas também no sentimento dos indivíduos”415.

Com um grande poder de influência na sociedade moderna, devido ao facto de o seu desenvolvimento estar associado ao das técnicas de difusão social vinculadas aos modernos meios de comunicação, desde os meios gráficos aos eletrónicos, ela entrelaça-os com os porta- vozes das necessidades ideológicas de agentes persuasivos, tais como governos, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais institucionalizados, igrejas e seitas, entre os principais. Estas instituições têm necessidade de utilizar as técnicas de propaganda, não apenas em crises ou conflitos, mas para situar hegemonicamente as suas posições e aspirações e

413 Gomes, Neusa Demartini (2010), “Propaganda”, em J.C. Correia et al., Conceitos de Comunicação

Política, Covilhã, Livros LabCom, pp. 107-114.

414 Ferrer Rodríguez, E. (1992), De la lucha de clases a la lucha de frases. De la propaganda a la

publicidad, Madrid, El País Aguilar, p. 17.

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procuram, através dela, modificar os símbolos do mundo social em seu favor, para que se produzam ações favoráveis aos seus fins, como mudanças políticas ou económicas416. Por